Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes - 1888

transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi

Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes. Transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi. Texto com grafia atualizada, disponível em: http://www.dezenovevinte.net/

* * *

BRASIL, MINISTÉRIO DO IMPÉRIO

MINISTRO ANTONIO FERREIRA VIANNA

RELATÓRIO DO ANO DE 1888 APRESENTADO À ASSEMBLÉIA GERAL LEGISLATIVA NA 4a SESSÃO DA 20a LEGISLATURA EM MAIO DE 1889.

[62]

ACADEMIA DAS BELAS ARTES.

No ano de 1888 matricularam-se nas diversas aulas da Academia 55 alunos e foram admitidos 25 ouvintes.

Para exames das aulas teóricas inscreveram-se 26 alunos. O resultado foi o seguinte:

Aprovados com distinção em uma só aula....................................................................2

Aprovado plenamente em uma aula e simplesmente em outra........................................1

Aprovados plenamente em uma aula, não comparecendo ao exame de outra................3

Aprovado plenamente em uma só aula.........................................................................2

[63]

Aprovados simplesmente em uma aula, não comparecendo ao exame de outra.............2

Aprovados simplesmente em uma só aula.....................................................................3

Reprovado em duas aulas............................................................................................1

Reprovado em uma aula, não comparecendo ao exame de outra..................................2

Não compareceram....................................................................................................10

Durante os dias 20, 21 e 22 de dezembro fez-se no edificio do Academia a exposição pública dos trabalhos escolares dos alunos, realizando-se no último daqueles dias a entrega solene dos prêmios.

Foram premiados 16 alunos, sendo um em duas aulas. Os prêmios foram:

Pequenas medalhas de ouro.....................................3

Medalhas de prata...................................................4

Menções honrosas...................................................10

Por Decreto de 9 de março foi nomeado Diretor da Academia das Belas Artes, na vaga deixada pelo Conselheiro Antonio Nicolau Tolentino, a quem se concedera, a 30 de maio do ano findo, a exoneração que tinha pedido, o Vice-Diretor Conselheiro Ernesto Gomes Moreira Maia, jubilado em 30 de agosto no lugar de professor de desenho geométrico.

Continuam na Europa com licença os professoras Victor Meirelles de Lima e Pedro Américo de Figueiredo e Mello.

Foram nomeados professores honorários: da seção de arquitetura, o Engenheiro civil Paulo Cirne Maia, por Decreto de 25 de outubro; da seção de pintura, José Ferraz de Almeida, Décio Villares e Pedro José Pinto Peres, por Decreto de 2 do corrente mês.

A Academia adquiriu por compra uma cópia antiga de um quadro de Nicolau Poussin que representa o Sacramento da Extrema-Unção; quatro paisagens modernas, sendo três de H. Vinet e uma de Buvelot; um original de Belmiro Barbosa de Almeida, intitulado “Arrufos”; outro de Rodolpho Amoêdo, intitulado “A Narração de Philetas” e dois originais antigos representando marinhas, de AntonioTempesta.

Pelo Dr. Joaquim José de Menezes Vieira foi oferecido à Academia e a ela recolhido o quadro de Oscar da Silva, denominado “A palavra aos surdos-mudos”.

O serviço da restauração de quadros é digno do maior desvelo. Abstraindo dos considerações que se refererem à conservação das obras antigas dos mestres, basta atender a que por meio dele se evita a perda de grandes valores, representados por

[64]

quadros importantes, para não hesitar em realizar as despesas que permitiam dar-lhe o aperfeiçoamento de que dependem os seus resultados.

Para isso muito proveitoso seria mandar à Europa um dos nossos artistas afim de estudar especialmente os melhores processos de restauração. Por falta de meios na Lei do orçamento, não me foi possível, fazê-lo.

Por Aviso de 4 do corrente mês recomendei ao Diretor que mandasse preparar as salas de exposição afim de serem franqueadas ao público nos domingos e dias santificados, acautelando-se de excessiva curiosidade as obras d'arte, e publicar, para ser distribuída aos visitantes, uma indicação, em resumo, dos nomes dos autores, da idade em que floresceram e da escola a que pertencem, sem crítica ou análise, porquanto as obras de mérito real falam de si com mais vida do que poderiam fazer as palavras mortas dos catálogos, e sobretudo porque convêm deixar livre de prevenções o sentimento espontâneo que a presença de uma concepção estética inspira.

Pelo último Relatório deste Ministerio [cf. Relatório de 1887] tivestes conhecimento de que o Governo resolvera sobrestar no concurso para concessão dos prêmios de viagem à Europa, até que, feita a reforma de que carece a Academia, pudessem ser observadas regras mais consentâneas à boa escolha dos candidatos.

Considerando que a reforma depende de autorização legislativa, e estudo demorado, pareceu-me que não se deveria adiar por tanto tempo o cumprimento da promessa feita nos Estatutos aos alunos que mais se distinguem.

Pareceu-me também que convinha dar começo aos concursos para provimento das cadeiras vagas.

Tendo ouvido a tal respeito o Corpo Acadêmico, foi ele favorável ao alvitre de se proceder aos concursos, adotadas, em vez das instruções que hoje vigoram, outras que melhor consultem os interesses do serviço, e na mesma ocasião, mantendo a opinião que por várias vezes tem manifestado e com a qual sempre concordou a Diretoria, pediu novamente o restabelecimento da antiga cadeira de gravura de medalhas e pedras preciosas, substituída pela de xilografia em virtude do art. 2.o n.34 da Lei n. 3141 de 30 de outubro de 1882.

Na conformidade deste parecer, com o qual está de acordo o Diretor de Academia, providenciei afim de que se organizem as instruções e programas para os concursos de que dependem a concessão dos prêmios de viagem e o provimento das cadeiras, e peço que, se não for desde logo autorizada a reforma, decreteis a indicada substituição, porque, em verdade, a primeira daquelas cadeiras não pode deixar de fazer parte de um curso regular para o ensino das belas-artes, ao passo que a segunda, pelo seu caráter verdadeiramente industrial, é impropria de figurar em semelhante curso.

[65]

No relatório, Anexo sob a letra C, que me apresentou o Diretor, e onde encontrareis mais desenvolvida noticia a respeito do estado da Academia, sustenta esse funcionário a necessidade de uma larga reforma da instituição, indicando as bases em que deve assentar a mesma reforma.

Reconhece o Diretor que, por obrigar a despesa crescida, a reorganização completa da Academia não poderá ser autorizada agora; mas, alvitra que se faça desde já o que comportarem as nossas circunstâncias financeiras para que tenhamos uma verdadeira escola de belas-artes.

O Governo ficaria habilitado a tratar deste melhoramento mediante a votação da quantia de mais 35:000$000, para os vencimentos do pessoal.