Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes - 1884, Anexo
transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi
Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes. Transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi. Texto com grafia atualizada, disponível em: http://www.dezenovevinte.net/
* * *
BRASIL, MINISTÉRIO DO IMPÉRIO
MINISTRO JOÃO FLORENTINO MEIRA DE VASCONCELLOS
RELATÓRIO DO ANO DE 1884 APRESENTADO À ASSEMBLÉIA GERAL LEGISLATIVA NA 1a SESSÃO DA 19a LEGISLATURA EM MAIO DE 1885.
*
ANEXO D
RELATÓRIO DO VICE-DIRECTOR DA ACADEMIA IMPERIAL DAS BELAS ARTES
Ilm. e Exm. Sr.
Na qualidade de Vice-Director da Academia das Belas Artes e Conservatório de Música, substituindo o digno Diretor Conselheiro Antonio Nicolao Tolentino, cujo estado enfermo o retêm longe desta capital e em uso das águas medicinais de Poços de Caldas, na província de Minas Gerais, cabe-me a honra do, ainda desta vez, dar conta a V. Ex. dos resultados obtidos pelo ensino artístico daqueles estabelecimentos e do que neles houve de notável durante o ano de 1884 próximo findo.
Atividade escolar. - Matricularam-se 56 alunos nas aulas do curso diurno, compreendidas as de modelo-vivo e de história das belas artes, estética e arqueologia, que funcionaram em horas do dia; as outras aulas do curso noturno deixaram de funcionar, não sõ por não haver no edifício distribuição de aparelhos para luzes artificiais, como por não só terem apresentado pretendentes à matricula.
Foram admitidos 12 indivíduos em algumas aulas na qualidade de amadores ou ouvintes,
[2]
Os 56 alunos matriculados freqüentaram as seguintes aulas:
1a de matemáticas (elementos de aritmética, geometria e trigonometria, mecânica e ótica).....25
2a dita (desenho geométrico, perspectiva e teoria das sombras)............................................21
Desenho figurado.................................................................................................................32
Desenho de ornatos.............................................................................................................2
Desenho e pintura de paisagem, flores e animais...................................................................4
Pintura histórica...................................................................................................................15
Arquitetura..........................................................................................................................l
Estatuária............................................................................................................................2
Anatomia e fisiologia das paixões.........................................................................................14
Modelo-vivo.......................................................................................................................16
História das belas artes, estética e arqueologia.....................................................................41.....36
Abatem-se:
alunos que freqüentaram mais de uma aula e por isso vão repetidos em cada uma delas, sendo:
31 em três aulas.....................................................................62
18 em duas aulas....................................................................18.....80
Alunos matriculados........................................................................56
Destes 56 alunos, inscreveram-se para exame das aulas teóricas, isto é, matemáticas aplicadas, perspectiva e teoria das sombras, anatomia e fisiologia das paixões, e história das belas artes, estética e arqueologia, 26 alunos.
Destes 26 alunos inscritos para exame foram:
aprovados plenamente em uma aula e com distinção em outra.....................................l
aprovados com distincção em uma e simplesmente n'outra..........................................l
aprovados com distincção em uma e reprovado n'outra..............................................l
aprovados com distincção em uma e não comparecendo n'outra.................................l
aprovados com distincção em uma só aula.................................................................2
aprovados simplesmente em duas aulas......................................................................l
aprovados simplesmente em uma e reprovado n'outra.................................................l
aprovados simplesmente em uma e não comparecendo n'outra ...................................l
aprovados simplesmente em uma só aula....................................................................l
Reprovado em uma aula e não comparecendo n'outra................................................l
alunos examinados.....................................................................................................11
Não compareceram a exame.....................................................................................15
alunos inscritos para exame........................................................................................26
[3]
Distribuiram-se 26 prêmios a 20 alunos que mais só distinguiram, seis dos quais em duas aulas, sendo os prêmios :
Grandes medalhas de ouro....................................4
Pequenas ditas do dito..........................................7
Medalhas de prata................................................9
Menções honrosas................................................6.....26
O prêmio “Imperatriz do Brasil”, fundado e mantido pelo benemérito Conselheiro Leonardo Caetano de Araújo para o aluno mais distinto da aula de arquitetura, foi conferido ao aluno João Ludovico Maria Berna.
Pensionistas. - É com viva satisfação que consigno aqui aos dois pensionistas desta Academia o escultor Rodolpho Bernardelli e o pintor Rodolpho Amoêdo, um voto de bem merecido louvor: quer um, quer outro continuaram a estudar com a mesma assiduidade e a fazer iguais progressos, cumprindo seus deveres como nos anos anteriores.
O primeiro destes pensionistas, que já é um artista completo, está a chegar ao Rio de Janeiro: precedem-no seus últimos trabalhos que, em três caixas vindas de Gênova, se acham já na Alfândega da Corte; e consta-me que pelo superior merecimento de um deles, que figurou na Exposição de belas Artes de Turim no ano passado, foi seu autor condecorado por Sua Majestade o Rei da Itália.
O outro ocupa-se atualmente, em Paris, na execução do quadro de grande máquina, cujo esboceto, prometedor de uma boa produção, enviara à Academia, alcançando por ele a prorogação por dois anos no prazo de sua pensão afim de executá-lo em grande proporção: representará ele “Jesus Cristo em Capharnahum”, assunto fecundo em motivos para exaltar uma imaginação de poeta e bem próprio para desenvolvimento dos bons princípios da arte clássica e da escola idealista.
Os últimos trabalhos quo enviou e que foram recebidos durante a Exposição Geral das Belas Artes, justificam o juízo que em princípio emiti sobre este pensionista. Todavia me parece que um desses trabalhos (estudo de mulher de grandeza natural), conquanto bem observado e cuidadosamente feito, não lhe teria valido a recompensa que obteve na prorogação da pensão; porque nele, arrastado pelo furor da moda e pela onda do realismo exagerado, afastou-se muito dos bons princípios da escola clássica, que não cessamos de recomendar aos nossos alunos; em compensação, porém, o seu quadro intitulado “Partida de Jacob”, inspirado por um espirito mais sério, composto e executado segundo os severos preceitos da pintura histórica, mereceu-lhe todos os sufrágios e apagou a má impressão que causara o outro.
Além destes dois pensionistas do Estado, outros alunos laureados desta Academia aperfeiçoam e desenvolvem seu talento na Europa; distinguindo-se Henrique Bernardelli, que tem estado em Roma, na companhia de seu irmão o esculptor Rodolpho; mas que agora vai ali ficar só e talvez sem recursos para continuar a estudar; e no entretanto é ele merecedor de toda a proteção. Competidor do pensionista Amoêdo no
[4]
concurso de viagem, ele distinguiu-se tanto quanto o seu êmulo e no julgamento desso concurso, nem a commissão que analisou os trabalhos elaborou “parecer” sobre o seu merecimento e nem a Congregação dos professores pode decidir qual dos dois devia receber o prêmio e teve de recorrer-se ao voto de “qualidade”, declarando o digno Diretor da Academia que, sem dar preferência a qualquer dos dois, desempatava em cumprimento de dever.
Este jovem e laborioso artista, a quem sempre distinguiu o melhor comportamento, mandou-nos, além de algumas aquarelas cheias de merecimento e de duas “Vistas de Roma” pintadas a óleo com a proficiência de um bom paisagista, uma cópia à encáustica moderna, do afamado quadro de Raphael d'Urbino, que decora uma das salas do Vaticano e representa “A Missa de Bolsena”.
Na opinião competente dos professores que tiveram ocasião de examinar de perto o famoso original, é esta cópia de uma verdade daguerreotipica, e por isso deveria ser conservada nesta Academia, onde ainda se acha, afim de apresentar aos nossos alunos, desde a sua iniciação na arte, um modelo incontestável do caráter da pintura a fresco e da grandeza e sublimidade da escola de Raphael.
Infelizmente a escassez de nossos recursos não permittiu ainda fazer aquisição de uma obra tão útil e cuja compra produziria dois resultados, ambos dignos de algum sacrificio: aquele que acabo de consignar e a obtenção de meios para continuar a estudar em Roma tão talentoso aluno.
Ouso esperar que V. Ex. se dignará de tomar este assunto debaixo de sua valiosa proteção,
Cadeiras vagas e em concurso. - Acham-se vagas as cadeiras de paisagem, flores e animais, esculptura de ornatos, estatuária; e em concurso a nova cadeira de xilografia criada em substituição da de gravura de medalhas e pedras preciosas.
A primeira destas cadeiras está regida interinamente pelo provecto professor de pintura histórica Victor Meirelles de Lima enquanto não regressam à pátria diversos alunos desta Academia que na Europa estão concluindo seus estudos à custa do Estado ou do Imperial bolsinho, com seus próprios recursos ou por meio de subscripção de amigos, afim de abrir-se então o concurso, que assim poderá ter valentes competidores.
A aula de escultura de ornatos, que já era pouco seguida no tempo do seu último professor, não tem tido aspirantes a seu curso.
A de estatuária vagou pela jubilação concedida a seu professor o distinto escultor brasileiro Francisco Manoel Chaves Pinheiro, que faleceu, pouco, depois, no dia 19 de outubro do ano próximo passado.
Foi uma perda sensível para a estatuária brasileira o passamento deste artista inteligente e trabalhador que lecionou nesta Academia durante 33 anos; que, legando a sua viúva e filhos extrema pobreza, deixou entretanto nas Igrejas de S. Francisco de Paula e da Nossa Senhora da Gloria, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, no Asilo de Inválidos da Pátria, na Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, no Paço da Ilustríssima Camara Municipal, no Imperial Conservatório de Música, no Palácio desta Academia, etc. provas tangíveis de aua atividade e do seu talento.
[5]
O que, porém, mais honra a sua memória é ter dirigido em princípios os estudos de seu talentoso discípulo e natural sucessor, o pensionista Rodolpho Bernardelli, em quem fulgura com dobrado esplendor o talento do mestre.
A Congregação dos professores já se manifestou no sentido desta successão, propondo-o para professor da cadeira de estatuária e a sua nomeação só depende agora de despacho imperial: será esta uma das melhores acquisições conquistadas pela Academia das Belas Artes nestes últimos tempos; e entretanto, Exm. Sr., estremeço ainda ao escrevê-lo, pronto a partir de Roma, foi este pensionista acometido de violenta febre tifóide, que o prostrou no leito e o reteve durante 28 dias entre a vida e a morte; abaixo de Deus, cuja bondade infinita nô-lo conservou, devemos à perícia de dois hábeis facultativos que nunca o abandonaram, velando dia e noite à sua cabeceira, e aos cuidados de seu estremoso irmão Henrique, que lhe foi inteligente e caritativo enfermeiro, não terem sido fatal e inopinadamente perdidas as esperanças que com orgulho nele tem depositado a Academia das belas Artes.
Ha um mês entrou ele em franca convalescença e é de esperar que a satisfação antecipada de beijar seus velhos pais, abraçar o irmão, amigos e colegas que ansiosos o esperam e a viçosa idade dos 30 anos, lhe restituam brevemente as forças e a saúde.
No concurso a que se esta procedendo para professor de xilografia inscreveram-se três candidatos; logo que esteja provida esta cadeira é provável que lhe não faltem alunos nos primeiros tempos; creio, porém, que esta aula, que estaria perfeitamente colocada em uma escola de artes industriais, seria mais profícua em bons resultados se se achasse anexa a um grande estabelecimento tipográfico, à Imprensa Nacional por exemplo, onde não seria de mais uma oficina de gravura em madeira.
O que, porém, será sempre lastimável é a supressão da cadeira de gravura de medalhas, que constitui uma disciplina indispensável em Academia de Belas Artes; e é tal a convicção que tenho desta verdade, que, certo como estou de seu restabelecimento mais tarde ou mais cedo, não deixarei de o solicitar sempre por mim e em nome da Congregação dos professores.
Exposição Geral das Belas Artes. - No dia 23 de agosto inaugurou-se solenemente a melhor e a mais importante e variada Exposição Geral de Belas Artes que se tem feito nesta Academia e creio poder afirmar sem hipérbole, que não só nesta Academia, como em todo o Império do Brasil. Este ato, que V. Ex. presenciou, foi honrado por Sua Majestade o Imperador o por Suas Altezas a Princesa Imperial e Seu Augusto Consorte.
A exposição, que constava quase exclusivamente da pintura em suas diversas representações, contava 399 trabalhos, afora os 98 quadros de propriedade do Estado, que na Pinacoteca formam a nascente Escola Brasileira. A arquitetura foi apenas lembrada por dois expositores; e a escultura, poucos mais contando, achava-se representada principalmente pelas produções do pensionista Rodolpho Bernardelli, que são dignas de figurar nas exposições que fazemos grandes centros artísticos.
O total dos expositores subiu a 75, sendo mais de metade brasileiros. ou filhos da nossa escola. Nos estreitos limites deste relatório não emitirei juízo sobre o real merecimento de boa parte das produções expostas, por quanto ele está de perfeito acordo com o
[6]
“parecer” da commissão de professores que julgou a exposição e, tendo sido aprovado unanimemente pela Congregação, foi remettido ao Governo Imperial com ofício do Conselheiro Director de 18 de dezembro do ano passado.
Em consequência foram premiados 39 artistas, dos quais 11 com distinções honorificas, sendo duas de elevadíssimo valor e que dão aos agraciados o tratamento que compete aos Ministros e Conselheiros de Estado; 4 com a primeira medalha de ouro, 9 com a segunda. 6 com a medalha de prata e 9 com menção honrosa. Dos artistas condecorados 8 são brasileiros, 2 dos quais naturalizados, e 3 estrangeiros; excepto o gravador Leopoldo Heck e os fotográfos José Ferreira Guimarães e Marcos Ferrez, todos os mais são filhos da nossa Escola. Os 4 premiados com a primeira medalha de ouro são 3 estrangeiros, sendo um filho da nossa Escola. D'entre os da segunda medalha, 4 são brasileiros e 5 estrangeiros, um dos quaes e os 4 brasileiros são filhos da nossa Escola. D'entre os 6 premiados com a medalha de prata são 3 brasileiros e também filhos da nossa Escola e 3 estrangeiros. Dos 9 que tiveram menção honrosa, são brasileiros 7 e só 3 filhos da nossa Escola.
Resumindo: dos 39 artistas que mereceram e obtiveram recompensas são 23 brasileiros e 16 estrangeiros; 22 saíram das nossas aulas e 17 vieram de outras escolas.
Pela primeira vez nesta Academia fez-se pagar a entrada no palácio da Exposição, como o determinara o Governo Imperial deferindo a representação neste sentido feita pela quase totalidade dos nossos artistas; mas infelizmente o amor do público pelas produções das belas artes não correspondeu à expectativa dos opositores; assim pois, em 100 dias que permaneceu aberta a exposição, foi ela apenas visitada por 20.154 pessoas que pagaram entrada, entretanto que a ultima exposição geral em 1879, cuja entrada era gratuita, foi concorrida em 62 dias por 292.286 visitantes.
A receita arrecadada com o pagamento das entradas, reunida ao produto da venda dos catálogos da exposição e de um catálogo ilustrado à imitação do que há poucos anos se faz em Paris, que elaborou e generosamente ofereceu à Academia o honrado negociante e intelligente artista o Sr. Luiz Devilde a quem aqui tributo os devidos agradecimentos, apenas se elevou à quantia de sete contos setecentos e cinquenta e dois mil e quatrocentos réis (7:752$400), da qual, deduzidas as despezas com empregados extraordinários admittidos para o serviço da exposição e com a impressão dos catálogos, cartas, bilhetes, talões, etc. que montaram a dois contos quatrocentos e sessenta e três mil cento e doze réis (2:463$112), ficou um saldo de cinco contos duzentos e oitenta e nove mil duzentos e oitenta e oito réis (5:280$288), ao qual, reunida a quantia de três contos de réis (3:000$000), resto da verba destinada a prêmios aos artistas nas exposições gerais, que V. Ex. mandou empregar na aquisição das melhores produções que haviam sido expostas, permitiu à Acadomia adquirir alguns trabalhos de merecimento, cuja compra está já realisada e outros sobre que há ainda dúvidas; entretanto que tudo o que a Academia desejava comprar e o merecia, subia a mais de setenta contos de réis (70:000$000), compreendidos, entre outros, os valiosos quadros dos professores Dr. Pedro Américo de Figueiredo e Mello e Victor Meirelles de Lima, os quais pela escassez daVerba a empregar não puderam entrar no número dos adquiridos para o Estado.
[7]
E' este um fato bem pouco animador para os artistas que tem a coragem de empreender e executar, sem prévia encomenda, obras d'arte que consomem anos de trabalho e avultadas despesas.
Os quadros do Dr. Pedro Américo, quase todos próprios só para galerias por suas dimensões, formam uma coleção de grande merecimento, tanto pela sua perfeita execução, como pelo sentimento da composição toda idealista; e embora os detractores do artista procurem neles imaginários defeitos, os quadros permanecerão para glória de seu autor e da escola d'onde saiu o honra daqueles que lhes derem o devido apreço.
O “Combate naval de Riachuelo” do professor Victor Meirelles de Lima, é um quadro que, quando não tivesse o grande merecimento que o distingue, de uma execução magistral, bastava o feito glorioso que ele commemora para dar-lhe o direito de não ser mais retirado das galerias do Estado. Mais do que a história escrita, ele recomenda à gratidão da pátria os valentes guerreiros que tanto se esforçaram naquelle passo e excita nos que o contemplam o desejo de imitá-los.
Outr'ora foi a Academia das Belas Artes menos escassamente dotada na Lei do orçamento; e é assim que para “prêmios aos artistas” e “aquisições de obras artísticas”, podia o Ministro do Império empregar por três rubricas a quantia de trinta e dois contos de réis (32:000$000): atualmente esse recurso se acha reduzido a uma só rubrica de quatro contos de réis (4:000$000); e no atual exercício tinha o Governo empregado dela a quantia de um conto de réis (l:000$000) na compra de uma colecção de aquarelas representando parasitas, pintada por uma distinta amadora, que as oferecera ao Estado mediante quantia muito mais elevada, mas que uma Commissão de professores desta Academia, por ordem do Conselheiro Director, avaliara naquele preço.
Exposição escolar. - Nos últimos dias do mês de dezembro fez-se a exposição anual das produções dos alunos desta Academia e por ela se podia bem julgar da assiduidade deles e do zelo dos professores: entre aquelas produções sobressaiam principalmente as da classe de pintura histórica que é seguida por alguns alunos talentosos e que devem tornar-se com o prosseguimento do estudo e a aplicação ao trabalho, artistas de superior merecimento.
Restauração de edifício. - Para completar a restauração deste edifício e dar à Academia todos os comôdos compatíveis com a estreita área em que foi construída, acaba V. Ex. de ordenar que no espaço ocupado pela Pinacoteca, da qual a má construção ameaçava ruína e reclamava urgente conserto cuja despesa não seria menor de trinta contos de réis (30:000$000), se levante um sobrado, como se fez no resto do edifício: esta medida de alta economia, pois que com uma quantia comparativamente pequena vai ter o palácio da Academia mais uma vasta galeria no mesmo plano das duas que já tem e duas grandes salas no pavimento térreo, é prova de que para a Academia das belas Artes vão correr dias mais felizes e de que o Governo Imperial a tem tomado debaixo de sua proteção.
Até ao fim do corrente ano estará esta obra concluída, despendendo-se com ela apenas sessenta contos de réis (60:000$000).
A reconstrucção do edifício em dois pavimentos nos anos de 1882 a 1884 havia custado duzentos quarenta e seis contos duzentos e dezesssete mil setecentos e oitenta réis
[8]
(246:217$780), compreendidas as obras de esgoto, a pintura, os acréscimos provenientes principalmente da má construção primitiva e de obras no pátio do Tesouro contíguo ao edifício, para dar luz e ar a uma das salas; com a de sessenta contos (60:000$) autorizada para a nova obra, que não é senão complemento da primeira, montará toda a despesa a trezentos e seis contos duzentos e dezesete mil setecentos e oitenta réis (306:217$780); em troca, porém, terá o Estado um vasto edifício em dois pavimentos, elegante e solidamente construído, satisfazendo por enquanto a todas as necessidades do Estabelecimento.
Disciplina escolar. - O procedimento dos alunos desta Academia tem sido quase sempre pautado pelos ditames de uma boa educação e no ano de que dou conta nenhum fato veio desmentir este justo conceito.
Sobre a conduta dos professores e empregados da Academia, tenho grande satisfação em constatar que uns e outros souberam cumprir com zelo e dedicação os seus deveres.
[...]
Academia Imperial das Belas Artes, em 13 de abril de 1885.
Conselheiro Dr. Ernesto Gomes Moreira Maia.
Diretor interino.