Oscar Guanabarino: Críticas as Exposições Gerais de 1894, 1897, 1898 e 1899

contribuição de Fabiana Guerra Granjeia

Disponível em: http://www.dezenovevinte.net/

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O Paiz - Edição no 3653 - 1 de outubro de 1894 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Escola Nacional de Bellas-Artes

EXPOSIÇÃO GERAL

Foi grande a nossa surpresa e grande o nosso contentamento ao entrarmos hontem na sala em que estão reunidos os trabalhos de pintura enviados á exposição de bellas-artes.

A pintura progride, como nenhuma das outras artes, no dominio da Republica; e basta comparar a actual exposição com a melhor que conseguiu o antigo imperio em 1884, quando a academia tinha conselheiros e commendadores a dirigil-a, para vermos o quanto temos caminhado.

A pintura historica, tão recommendada e exigida, apresentava sempre factos historicos, que nenhuma relação tinham com a nossa vida. Pedro Americo, professor de archeologia, caindo em constantes erros dessa materia, dava-nos Joanna d’Arc, Moysés, Judith, Heloisa e Abelardo,Voltaire, e tantos outros quadros de assumpto estrangeiro, quando a nossa historia ainda estava, como está, por explorar; e como esse pintor era quem dava a nota naquella época, todos os outros seguiram-lhe nas aguas e lá vinham as collecções biblicas, em que o S. Jeronymo não falhava[1].

Actualmente apparece uma arte, que, se não é francamente nacional, accentua bem a tendencia para isso.

Nesse ponto temos tres artistas notaveis, que pintam scenas brazileiras, produzindo quadros magnificos - Almeida Junior, Brocos[2] e Weingärtner.

O pintor ituano, autor de alguns quadros existentes nas galerias da escola nacional, taes como - O modelo, Caipiras negaceando, Derrubador brazileiro, e mais dois outros biblicos - A fuga para o Egypto e Remorso de Judas apparece-nos agora com tres télas brazileiras - A pescaria, A queda do Votorantim, Amolação interrompida e O caipira [Picador de fumo].

Na Pescaria a scena passa-se em um rio pouco caudaloso, com as margens alagadas e invadidas pelo tabual; na barranca estão os dois pescadores. É um quadro bem de scena vulgar; sem o espectaculoso do pannejamento e sem o grito das cores pomposas arrumadas para fazerem effeito.

Na Queda do Votorantim ha pouco estudo da agua; parece uma quéda de gesso, sem transparencia, sem humidade, sem ruido. Almeida Junior não está no seu elemento, mas em compensação lá temos o Caipira, typo exacto do sertanejo paulista, indolente, sentado a picar fumo para cigarro com a grande faca de ponta. Ha muita observação nesse typo, aliás difficil.

O Amolador interrompido tambem é um typo brazileiro e bem brazileiro. A téla tem grandes dimensões e obriga o pintor a muitos detalhes, que prendem a attenção do observador.

Almeida Junior é sempre o mesmo artista de traço largo, fiel desenhista e de colorido natural, banindo da palheta cores inuteis, que só servem a quem quer produzir o agradavel á vista, sem se importar com a verdade.

Brocos, perfeitamente identificado com a nossa natureza, apresenta uma série de paizagens mineiras, salientando Os bateadores[3]; mas o seu melhor trabalho é o Arqueducto, quadro que já esteve exposto antes de partir para Chicago.

Entre os artistas que procuram nacionalisar a arte, estudando os nossos costumes e surprehendendo a côr do nosso ambiente, tão difficil de ser apanhada pela inconstancia da luz, devemos collocar em um dos primeiros logares este pintor, de grande actividade e sempre fiel á verdade.

Weingärtner não se limita a ser brazileiro - torna-se bairrista. Actualmente os seus quadros são scenas do Rio Grande, ou pelo menos do Sul.

A exposição ainda não está catalogada, de modo que é difficil citar os quadros pelos seus titulos ou pelo menos indicar o seu numero; mas entre muitos que attrahiram a nossa attenção, recordamo-nos de um piquete de lanceiros em plena campanha[4].

O assumpto presta á variedade; os soldados só têm uniformisados os armamentos, e o pala e as bombachas dão o tom caracteristico dos trajes do sul onde todos querem passar por guascas, procurando effeitos na gaúchada.

O brazileirismo obrigou-nos a deixar para o fim o quadro que mais sympathia nos despertou - A feiticeira[5], de Henrique Bernardelli; esse quadro, que figurou na exposição de Chicago, é de grande merecimento, qualquer que seja o lado por que se encare. Verdade é que o assumpto tambem é dos melhores para chamar a attenção dos visitadores e dos criticos - a mulher preparada para o baile - e dizemos para os criticos, porque a mulher é a mais perfeita manifestação do bello, e é o bello a constante indagação da critica.

Felix Bernardelli[6] exhibe um quadro de grande sentimento, Uma espera á janela, mas falta-nos espaço e deixaremos para outra occasião não só esse quadro como tambem um outro identico, mas exercido pela criada, assim como uma dansarina que finge ouvir os conselhos de sua mãe.

Deviamos citar nesta primeira noticia uma cabeça envolta em véo roseo, trabalho magnifico de Rodolpho Amoêdo, e destinado, segundo nos consta, a um jornalista fluminense[7]; mas o espaço priva-nos desse intento e por essa mesma razão não falamos hoje no Jaca de laranjas de Pedro Alexandrino[8], nos trabalhos de L. Rodrigues[9], pensionista do Estado; na Escrava de Oscar P. da Silva e tantos outros em cuja frente estivemos parados algum tempo.

OSCAR GUNABARINO

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O Paiz - Edição no 4722 - 7 de setembro de 1897 - página 3

ARTES E ARTISTAS

Exposição de Bellas Artes

A quarta exposição, organizada pela Escola Nacional de Bellas Artes, foi pouco concorrida.

Muitos artistas que mandavam seus trabalhos áquelle certamen estão fóra da capital e além disso, a pequena classe de pintores está dividida formando dissidencia contra o programma de ensino official.

No entanto, apezar do pequeno numero de obras d’arte ali exposto, notam-se trabalhos excellentes que reunem todas as boas qualidades exigidas pela esthetica.

Pretendemos fazer rapida analyse, senão de todos os trabalhos ao menos da maior parte, e começaremos pelo fim, salientando um desenho a crayon, estudo feito para os frescos da cathedral de Genova, de Cesar Machari[10], professor, senador e artista italiano. Foi exposto pelo proprietario, um dos irmãos Bernardelli, e deve ser bem observado principalmente pelos alumnos do curso de desenho para que vejam o que se póde chamar perfeição, independencia e certeza.

A secção de gravura de medalhas e pedras preciosas é occupada pelo professor da escola - Augusto Girardet[11], artista consciencioso, trabalhador e modesto.

É um genero este em que os artistas quasi que desapparecem. Um quadro excita logo a curiosidade do observador no sentido de conhecer o nome do autor; outro tanto não se dá com a gravura em pedras preciosas - o artista poucas vezes é relembrado, e ainda mesmo que se trate de uma celebridade os seus productos somem-se nas mãos dos entendedores, são conservados como preciosidades dentro dos cofres e o nome do artista esquecido.

As agathas de Girardet são de uma perfeição rara. De desenho rigoroso e talhadas com delicadesa, apresentam todas as minuciosidades que uma forte lente póde descobrir em trabalhos desta ordem. Ao lado das agathas figuram as conchas e um topasio gravado para ser visto por transparencia, trabalho esse de muito valor e que merece ser observado com cuidado para ser apreciada a paciencia do artista, em obter todos os traços do modelo.

Na secção de esculptura apenas apparece o modelo em gesso de um retrato que vai ser fundido em bronze; é de Rodolpho Bernardelli, e dir-se-hia vivo aquelle busto, em que o gesso, apezar das suas más qualidades para exprimir a fórma humana, parece ter adquirido a flacidez da carne e o avelludado cutaneo.

Rodolpho Bernardelli procura sempre nas suas esculpturas obter, juntamente com o desenho meticuloso da fórma, a mais perfeita expressão; e o resultado desses dois cuidados combinados é conseguir a vida nos seus productos artisticos, collocando-se assim entre os grandes esculptores.

Não é o primeiro retrato que esse artista exhibe; muitos existem nesta capital, mesmo em casas particulares, e nelles ha sempre o sopro do idealismo, um que de seductor, de attrahente, que fascina ainda mesmo em se tratando de bustos de homens, e nessa qualidade, que revela a alma do artista e o seu justo sentimento do bello, repousa o seu merecimento esthetico.

Sem taes condições não ha arte, e a prova, para não sairmos da exposição de que nos occupamos neste momento, basta citar os quadros vindos de Paris, de D. Diana Cid[12], sobre tudo um dos retratos, que qualquer artista teria deixado no cavalete como um esboço. No entanto, essa fórma indecisa e antipathica, tem hoje não só grande numero de cultores como até apreciadores e defensores - é a maldita escola symbolista, invadindo o cerebro dos artistas, produzindo uma loucura suigeneris que ameaçaria arruinar a arte se espiritos esclarecidos não lhe tivessem saído ao encontro para dar-lhe decisiva batalha.

O n. 60, Estudo do nú, é mais bem trabalhado do que qualquer dos dois outros, mas ainda assim nota-se não o cunho do acabado, do completo e do definitivo, sente-se que falta ali qualquer coisa, que o corpo humano não tem aquella fórma duvidosa e que esses velados são simples pretexto para evitar a difficuldade do desenho rigoroso, emprestando ao quadro um tom de esboço.

O. G.

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O Paiz - Edição no 5081 - 2 de setembro de 1898 - página 2

ARTES E ARTISTAS [13]

Inaugurou-se hontem a exposição regulamentar da Escola Nacional de Bellas Artes.

É a quinta festa, a quinta exposição geral, que ali se realiza; e quando menos se esperava, em uma época de verdadeiro desanimo, reuniram-se quadros de alto valor e em quantidade bastante para attestar o amor com que um vasto grupo de artistas se dedica ao trabalho nesse terreno de actividade espiritual e esthetica.

Os pintores brazileiros, que viam com pezar o frio acolhimento dos seus quadros na sociedade fluminense, esquecida do dever de proteger essas artes com o mesmo enthusiasmo com que recebe a musica, devem estar animados com os resultados da exposição retrospectiva[14] que ante-hontem se encerrou naquelle mesmo local. Aquelle agrupamento de objectos raros e custosos veiu demonstrar que existe no Rio de Janeiro uma roda perfeitamente educada que procura a sua convivencia com os objectos que receberam a vida dos artistas e que traduzem o sentimento de uma alma pura.

Se a arte estrangeira mereceu dessa roda o apoio que se póde avaliar em somma superior ao capital de alguns bancos, claro está que ha um mercado franco para os productos da arte nacional, dependendo isso, apenas, de uma intervenção intelligente que saiba estabelecer relações entre os artistas e os collecionadores.

A imprensa fluminense é talvez culpada nesse atrazo da pintura; os jornaes fazem enorme propaganda da musica, em todos os seus terrenos, havendo mais criticos musicaes do que musicos, deixando-se, entretanto, no olvido as outras artes.

As exposições da Escola de Bellas Artes, no seu principio, eram escoimadas. Lucrava com isso o agrupamento das telas, evitando-se as botas; mas os recusados adquiriam as sympathias de amigos que os tinham desde então como victimas de preferencias odiosas.

Isso não se deu agora, pois a commissão resolveu aceitar tudo quanto fosse enviado á exposição, deixando ao publico visitante e á crítica imparcial o cuidado de fazer a selecção.

É nesse terreno que desejamos entrar, com poucas luzes, é certo, mas com toda a sinceridade, acreditando que beneficos serão os resultados, desde que a critica seja severa e conscienciosa.

Comecemos pelo expositor, cujo nome se encontra em primeiro logar no catalogo - Angelo Agostini, que apresentou 10 quadros, alguns dos quaes muito bem observados, havendo, porém, desigualdade na collecção.

O n. 10, Tropeiros paulistas, por exemplo, é um primor de technica, inda que a composição não seja das mais graciosas; mas é bastante o fundo da paizagem, um capoeirão brasileiro, com a verdade que póde ser attestada por todos aquelles que sabem observar a nossa natureza, para que o quadro se imponha immediatamente.

Os tropeiros estão bem estudados e os cavallos são feitos por mão de mestre, movimentados, vivos e nessa confusão natural e commum na vida do campo.

Esse quadro tem alto valor, pois lembra o estylo dos bons mestres, se bem que o autor tenha usado de um artificio para realçar o seu trabalho, e vem a ser o pouco detalhe do terreno do primeiro plano, obrigando o observador a se extasiar com a scena viva dos tropeiros esbatida na floresta de além.

Mas ao lado dessa obra prima de Angelo Agostini apresenta-se o seu quadro n. 7 - O Dr. Rodrigues Barbosa mostrando aos indios do Amazonas o uso dos phosphoros, cujo titulo, como um programma que é, se desvirtua diante do trabalho.

Quem, longe da exposição, ler no catalogo o titulo desse quadro, julgará que terá de ver um estudo dos nossos selvicolas, quando apenas encontrará uma phantasia - uma bella floresta com umas figurinhas que tanto podem ser Chavantes como Bororós ou Crichanás, entre os quaes está uma figura, que será o Dr. Barbosa Rodrigues, porque lá está o phosphoro em combustão; mas desde que se percebe o erro do titulo fica-se em duvida sobre a authenticidade da floresta do Amazonas e da piroga.

No mesmo caso está a Caçada de antas, na serra de Therezopolis. Angelo Agostini não é caçador e nunca viu uma anta perseguida pela matilha - verdade é que se o illustre pintor se perdesse na floresta virgem no momento de ser levantáda a fera, com certeza fugia e adeus quadro.

A situação desse quadro é falsa - ou pelo menos pura phantasia do autor.

Outro tanto não acontece com o n. 8 - Pequenos engraxates, quadro interessante e verdadeiro como scena diaria.

Lembramo-nos ainda de dois magnificos estudos desse mestre - Marieta e Petite parisiènne, merecendo preferencia o segundo, bem expressivo e de effeito.

Perdem-se na exposição, não deixando boa nem má impressão, os tres quadros A paraguaya, Carro de bois e Leitura; mas em compensação fica perfeitamente gravada na memoria do visitante o n. 4 - Cavallaria brazileira perseguindo paraguayos.

Angelo Agostini desenha bem os seus cavallos e dá-lhes muito movimento, conseguindo vencer enormes difficuldades.

Nesse quadro, de valor historico, ha muito estudo e muita arte na composição dessa brilhante gaúchada dos lanceiros, havendo muita harmonia em tudo.

Em resumo - Angelo Agostini é um artista que honra a nossa exposição de Bellas Artes.

OSCAR GUANABARINO

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O Paiz - Edição no 5083 - 4 de setembro de 1898 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição

ESCOLA NACIONAL DE BELLAS-ARTES

Seguindo a ordem do catalogo da exposição geral de bellas-artes, encontrámos, depois do nome do artista Angelo Agostini, o de D. Alina Teixeira[15], que expõe cinco quadros, com os respectivos preços marcados em lista especial, o que prova estarmos em presença de uma pintora profissional.

Vê-se que a autora dos quadros expostos avalia os seus trabalhos com mais desembaraço do que pinta: 500$ pela Avózinha, 350$ pelo Flamboyants em flor e 400$ por qualquer dos intitulados Inverno ou Ponteando meias - o que nos parece excessivo, e isso porque a  Avózinha é um quadro feio, inda que desenhado com certo cuidado.

Os velhos e velhas são, não o negamos, bons estudos - mas como assumpto só é arte nas mãos habeis de artistas amestrados, capazes de dar a sua individualidade a uma tela; no Flamboyants em flor ha falta de perspectiva e uma pilastra fóra do prumo; o Ponteando meias, uma velha que examina a linha com que cose - é uma figura parada, e finalmente o que se intitula Lendo, é acanhado. Essa collecção lucraria muito, apresentada como trabalhos de amadora, sem preços no catalogo, pois chamaria sobre si as indulgencias da critica e dos pretendentes.

Encontra-se, depois desse nome, o do pintor paulista Almeida Junior, que expõe seis quadros, entre os quaes a Partida da monção (n. 20) com a seguinte legenda no catalogo:

“Os antigos paulistas assim denominaram (partida da monção) a caravana que sahia do Porto Feliz, descendo o Tieté, para Cuyabá. As de que se trata eram organizadas simplesmente por destemidos e ousados sertanejos, que, inspirados pelo amor do desconhecido, descoberta de minas e civilisação dos bugres, em toscos batelões cobertos de palha e simples canôas, partiam conscientes de que iam arrostar com sacrificios inauditos toda a sorte de aventuras, constituindose por isso uma tradição. O quadro exposto representa a partida desses heroes que, depois da missa na igreja de Nossa Senhora da Mãi dos Homens, acompanhados do padre, capitão- mór e povo, embarcavam-se, no Porto Geral, recebendo a solemne benção da partida.”

A grande dimensão do quadro do pintor paulista devia trazer-lhe, como realmente se deu, uma serie de difficuldades que nem sempre foram vencidas.

Artista intelligente, conseguiu muitas figuras que se tornam notaveis no seu quadro; o agrupamento é harmonioso, no meio daquella porção de gente, e o effeito da garôa bem apanhado - mas entre muitas bellezas nota-se, em primeiro logar, o tom de esboço na grande tela, além de muitas figuras que não foram estudadas com modelo vivo, servindo para isso o manequim, que dá durezas insupportaveis e ás vezes impossiveis!

Veja-se, por exemplo, o negro que no primeiro plano procura carregar uma canastra, que evidentemente está vasia, e indague-se se aquella é a posição que tomaria um homem em tal mister.

Não queremos entrar em pequenas minuciosidades, taes como o enorme chapéo do capitão-mór, capaz de abrigar uma familia inteira, ou o padre, em praça publica, sem o solideo - são coisas que passam, inda que se tornem essenciaes em quadro historico - mas ha figuras que se destacam e que não estão convenientemente dispostas.

Á prôa de uma das canôas, promptas a partir e em plano saliente, ha, por exemplo, um sertanejo que procura avançar a sua embarcação espiada sobre uma estaca. Achando-se a canoa em um remanso, bastava pequena tensão da retenida para o deslocamento do corpo fluctuante, e no emtanto lá se vê um sujeito em posição de quem procura, com o laço, estacar um animal em disparada. A posição é a mesma - escorado.

Quem ignorar o nome do autor desse quadro, difficilmente descobrirá nelle o pintor do Negaceando. É que o artista, além de querer contrariar o seu estylo, não tem, em S. Paulo, elementos para dar execução a um quadro daquella ordem.

São boas as suas duas telas Velha beata e Cabeça de estudo; o Futuro artista é bem desenhado e fórma um quadrinho sympathico, mas nenhuma impressão trouxemos das Lavadeiras.

Restam dois quadros: Água reprezada e S. Jeronymo (esboceto); no primeiro ha o defeito de estar deserta a paizagem, quando ali tudo se animaria com uma lavadeira e alguns animaes; no segundo, apezar de esboceto, exposto por 400$, erro de titulo - aquillo não é S. Jeronymo, e muito lucraria o quadro, se no catalogo se lesse - Velho maluco querendo apanhar uma mosca pousada no alfarrabio.

Porque, evidentemente, o supposto S. Jeronymo vai-se levantando cautelosamente de mão prompta, e a gente percebe-lhe a intenção...

Só falta a mosca.

OSCAR GUANABARINO

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O Paiz - Edição no 5087 - 8 de setembro de 1898 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição

ESCOLA NACIONAL DE BELLAS ARTES

Seguindo sempre a ordem do catalogo, teremos hoje, em primeiro logar, os tres quadros do Sr. Rodolpho Amoedo, cujo talento se attesta com muitos trabalhos de valor que esse artista tem exposto.

Trata-se de um pintor que parece desconfiado de si mesmo e anda em busca de qualquer coisa que nos seus quadros revele uma qualidade sua, exclusivamente sua, e d’ahi a continua preoccupação de procurar effeitos exquisitos, verdadeiras gymnasticas entre as côres, sendo, ao que parece, fito seu vencer as difficuldades que elle proprio estabelece, de modo que ha uma especie de sacrificio da idéa á virtuosidade do pintor.

O resultado dessa preoccupação é contrario ás leis estheticas, e a prova é que o observador, diante de um desses quadros do Sr. Amoedo, deixa de se extasiar em presença de um producto de sua actividade artistica para admirar a habilidade com que resolveu o problema que elle proprio lançou no arranjo do ambiente em que collocou o seu modelo e nas roupagens deste.

Ha, porém, nos quadros deste artista muita suavidade, um tom geral de sympathia e muita variedade.

A Faceirinha está neste caso. Pertence ao Sr. João Ribeiro, que o obteve em um concurso litterario com o seu conto em prosa S. Bohemundo, e é uma tela delicadissima, pintada ao ar livre com bons resultados.

Com o título Fim da intriga, apresenta o Sr. Amoedo um quadro, em que um dominó amarelo desafivela a mascara e deixa ver a metade do rosto.

A difficuldade foi habilmente vencida e a intriga dá-se, porque o desejo da gente é puxar a mascara e ver por completo a boca do modelo, uma morena de olhos bregeiros.

O retrato do pintor Aurelio de Figueiredo é uma judiaria do digno sub-director da Escola Nacional de Bellas Artes. Tudo ali é bem feito, bem desenhado, bem disposto e bem pintado - mas a côr do artista retratado é exactamente a da laranja da China. Disseram-nos que havia nisso um epigramma malicioso do Sr. Amoedo, que não é novo entre collegas que pintam.

Deixemos, porém, o illustre artista, que daria para muitas paginas de apreciação, e passemos ao expositor, cujos quadros receberam os ns. de 26 a 30 - o Sr. Armando Affonso de Azevedo Mendonça[16], mineiro e residente em Ouro Preto.

Ninguem, parece-nos, chegará a comprehender os trabalhos deste senhor; e ao vermos o seu Crepusculo, chegámos a pensar que se tratasse de um homem infelicitado pela falta de juizo; mas não - é systema seu.

O quadro alludido póde ser feito com duas panelas de tinta e duas brochas. Dá-se o vermelhão da China e por cima o verde-negro, fingindo arvores de papelão recortado.

Os pintores, ás vezes, quando são interpellados a respeito da inverdade dos seus coloridos, impossiveis e exageradissimos, respondem: - Eu vejo assim e assim pinto.

Não é exacto.

Póde ser que a sensação de côr varie conforme o individuo; mas se o pintor em questão vê a natureza de um modo diverso, claro está que, pintando tal como sente, deve-nos dar um quadro em que o effeito seja, para nós, igual ou identico ao que vemos na natureza. Ou então temos uma aberração, isto é, um individuo que sente o colorido natural de modo diverso á sensação que recebe quando esse colorido se traduz na tela.

Se existe esse defeito, taes individuos, privados da perfeição do sentido visual, não são aptos para a arte da pintura, como não o são os cegos.

As arvores de papelão deste autor se reproduzem no quadro - Tarde, com as mesmas durezas da Tarde de verão, este com umas nuvens impossiveis, como as que vemos na Tarde depois da chuva.

Dos cinco quadros apresentados por este autor, em que o de n. 29 é offerecido aos amadores por um conto de réis (1:000$), não ha nenhum que se aproveite ...

Ou tudo aquillo, quem sabe, será troça?

Talvez - pelo menos parece.

OSCAR GUANABARINO

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O Paiz - Edição no 5092 - 13 de setembro de 1898 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição

ESCOLA NACIONAL DE BELLAS ARTES

O pintor brazileiro Aurelio Figueiredo apresenta, na actual exposição, duas paizagens, sob os ns. 31 e 32, Paizagem brazileira e Sol da tarde.

Gostamos mais da segunda, onde se encontra um tom de poesia peculiar ás nossas paizagens ao cair da tarde.

Esse quadro merecia no emtanto a animação de algumas figuras para accentuar a verdade do quadro.

Outro tanto não diremos da Paizagem brazileira. É certo que na natureza do Brazil tropical ha grande abundancia de gradações de varias cores, mas a tonalidade geral adoptada pelo artista em questão no quadro alludido é falsa, como exaggerado é aquelle céo, que não é nosso.

O pintor tratou todos os planos desse seu quadro com o mesmo vigor de colorido, de modo que a perspectiva aérea se prejudica.

No primeiro plano as pedras brutas que ali se encontram exigiam, além de uma côr mais verdadeira, muito mais vigor de pincel, de modo a se perceber pelo toque a aspereza daquelle terreno.

Esse mesmo defeito notámos no coqueiro que ali está, um dendê pouco mareado e suave de mais para a situação do quadro, cujo ambiente é amplo e selvagem.

Pareceu-nos que o artista procurou a nota melodiosa para a sua composição, e é caso de se lhe dizer que ali é preciso menos Bellini e mais Wagner, muito Wagner.

Seguindo o programma estabelecido para estas linhas, encontramos logo depois do Sr. Aurelio Figueiredo o pintor Carlos Balliester[17], discipulo de Augusto Petit[18] e expositor dos quadros de ns. 33 e 37.

Pelo conjunto dos quadros vê-se ou desconfia-se que se trata de um amador que evita o desenho e que ainda tateia; tem no emtanto algumas telas que são muito sympathicas, e neste caso estão a Marinha e Effeito de manhã.

Este segundo é bem arejado e muito agradavel.

O quadro intitulado Ao sair da lua é pura fantasia, mas ainda assim mais acceitavel do que o de n. 36 - Almirante Barroso ancorado no porto do Rio de Janeiro, o que negamos, pois nada indica que esse navio esteja na nossa bahia, com um horizonte de alto mar, que não póde ser o da barra, pois nesse caso lá estariam as montanhas de pedra, que estreitam a passagem das águas do oceano.

A exposição desse amador lucraria com a retirada do quadro em discussão, pintado sem arte, lambido, acanhado e chato. Não parece trabalho do autor das duas marinhas que citamos como boas e aceitaveis.

Quizeramos prosseguir; mas encontramos as notas dos quadros do Sr. Henrique Bernardelli, que expõe nada menos que 23 trabalhos, o que tomaria muito espaço e alongaria demasiadamente esta simples apreciação.

Guardemo-nos para a primeira occasião.

OSCAR GUANABARINO.

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O Paiz - Edição no 5099 - 20 de setembro de 1898 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição

ESCOLA NACIONAL DE BELLAS-ARTES

Os trabalhos de Henrique Bernardelli valem, por si só, uma exposição, não tanto pelo valor, como pela quantidade de quadros apresentados, pois occupam a numeração de 38 a 60, o que prova grande actividade, exercicio continuo e amor á sua profissão artistica.

Duas são, portanto, as relatividades que se impõem no estudo da exposição desse talentoso artista - a que se nota em referencia á exposição em geral e a que não se evita dentro da sua própria collecção.

Qualquer dos seus trabalhos lhe daria logar saliente entre os expositores, inda mesmo as pequenas paizagens feitas com rapidez, com aquella febre que se manifesta no artista quando elle quer surprehender um momento da natureza, um effeito passageiro de luz que caprichosamente torna phantastico este ou aquelle ponto da paizagem tropical.

Henrique Bernardelli não teve preoccupação de produzir quadros para uma exposição publica; deu o que tinha, e isso traz á critica a grande vantagem de conhecer o artista, que sente, em qualquer recanto da natureza, a nota poetica da fórma agreste e o tom melodioso que se destaca das harmonias do colorido; sente e traduz com a calma do seu temperamento e pinta sempre de accôrdo com a sua indole artistica, sem visar a originalidade que ás vezes degenera em maluquices e sem outra filiação de escola que não seja a que lhe é inherente.

A relatividade intima dos seus quadros é manifesta por isso mesmo, e é assim que, no meio delles, tornam-se indifferentes O Dedo de Deus e o Fundão, que ali figuram modestamente sem que se lhes possa salientar boas nem más qualidades. 

Tornam-se interessantes, porém, áqueles que conhecem o artista em questão e apreciam a delicadeza do seu trato, a sua modestia e ar bondoso, a descoberta de certos movimentos de impaciencia de pincel e verdadeiros arrebatamentos seus, prejudicando o quadro da mesma fórma pela qual o tempo prejudica, ás vezes, a harmonia a que estamos habituados em determinados panoramas. D’ahi o céo sujo que vemos no Tempo encoberto (60), na Garoa (51) e no Prenuncio de tempestade (54).

Repare-se na coincidencia desses defeitos sempre nas perturbações da natureza. Vê-se que ha phenomenos que alteram o bom humor do nosso Henrique, revoltoso com os revoltosos e brutal com os selvagens que lhe invadem o theatro de suas contemplações.

O n. 43, Caminho da senzala, é bello como paizagem; mas ha um ponto difficil, o negro, difficuldade que foi vencida, mas que deu em resultado ficar o preto como se fosse de pedra; ainda faremos reserva quanto ao Calhambola[19] bellissimo, mas deixando ver que um outro céo traria mais suavidade ao quadro.

Agrada-nos muito quando esse artista produz no genero da téla n. 44, Céo em cumulus, quadro excellente, rapido e bem tocado. A mesma impressão deixaram-nos os de ns. 52, Margens do Parahyba; 59, Solidão; 47, Enchente do Parahyba, e 46, Em pleno sol, com um canto por acabar, o que dá pouco vigor aos lyrios dos pantanos que ali estão.

É de mestre a aquarella n. 39, Baccho tabaco e Venere, valentemente desenhado com largueza e muita flexibilidade; e o mesmo se dirá da Beata, quadro que achou logo comprador de bom gosto.

Nos retratos, Henrique Bernardelli tem sempre a sua nota artistica, quer se trate de um trabalho de tamanho natural, como o do major Suckow, quer no de Mme. M..., de pequenas dimensões.

O auto retrato parece um condemnado e dizem que elle assim se pintou para fazer realçar o bello retrato de seu irmão Rodolpho Bernardelli, retrato esse que talvez seja o melhor quadro da exposição.

E effectivamente lá se vê o grande estatuario vivo no seu atelier e elevado pela idealisação de um artista superior que n’um retrato impõe a figura pela superioridade da arte, deixando o visitante na contemplação de uma obra prima em que tanto se admira a expressão de um ente vivo como os detalhes de todo o ambiente, a factura larga da roupagem e a quantidade de ar que circumda o vulto distincto do digno director da Escola Nacional de Bellas-Artes.

OSCAR GUANABARINO.

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O Paiz - Edição no 5103 - 24 de setembro de 1898 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição

ESCOLA NACIONAL DE BELLAS-ARTES

Dentre os sete quadros expostos por Felix Bernardelli, o talentoso moço que actualmente se acha no Mexico, só um, o de n. 67[20], deixa de agradar immediatamente.

Nesses quadros, assignados Lix Bernardelli, não só se apreciam as qualidades thecnicas do pintor, sempre minucioso no desenho, bem detalhado e colorido sympathicamente, como tambem o assumpto, não vulgar e procurado.

Ha pintores que, por mero passa-tempo, fazem uns exercicios reproduzindo telhados velhos, paredes de fundo de quintaes, casas partidas ao meio e outras esquisitices, e que expõem essas coisas em que a arte foi excluida por um realismo impossivel e mesmo inadmissivel. Nem tudo quanto é verdadeiro e existente na natureza merece attenção do artista, que no seu trabalho tem de dar a parte mais nobre da sua alma - o sentimento artistico, a idealização de um facto.

Saber pintar é uma questão thecnica; o resto depende da educação do artista, e este o que deve procurar, quando se apresenta em publico, é justamente o seu modo de interpretar e de exprimir.

Felix Bernardelli, entretanto, pecca ás vezes, justamente por não ligar grande importância á thecnica, procurando apenas a scena que o impressionou, como bem se deprehende ao examinar attentamente o quadro n. 61 - A cancella do sitio, em que ha tão pouca tinta que se chega a ver a téla; mas o effeito desejado, esse não lhe escapou.

Ao vermos o n. 62, Aguas mortas, anotámos o catalogo com o adjectivo - bello, e cremos que isso acontecerá á maioria dos visitantes daquella exposição.

São muito apreciaveis as suas qualidades de paizagista, como na Rua principal do povoado, com um punga cansado, e no Lago da Chapada.

Trouxemos magnica impressão do quadro O filho de meu filho, uma scena encantadora, bem disposta e digna de um artista.

Depois de Felix Bernardelli é difficil tratar do Sr. Bolato[21], com 16 quadros expostos.

Póde-se dar parabens ao pintor pela quantidade exhibida; mas quanto ao valor, é muito pouco, basta dizer que em tão grande collecção só nos satisfez o de n. 68 - A casa do cão. Os outros, ou são sujos com emplastro verde (Morro da Providencia), ou feios (Cancela), ou palidos (Fructas), ou máo assumpto (Quintal), ou pouco observados (Rancho), ou de côr falsa (Tronco de jaqueira).

Mas se ha ali um quadrinho bom, por que não virão outros?

O remedio será pintar menos, procurando produzir melhor.

Deixamos de citar outros quadros deste pintor, mas assim tem acontecido com outros, e para não irmos muito longe basta lembrar que, tratando da exposição de Henrique Bernardelli, não mencionámos o seu Estudo (n. 49), um cavallo e um asno de escorso.

Dizem que aquillo é uma allusão, mas não atinamos com ella. O quadrinho deixa a impressão de uma anca de cavallo e uma cabeça de asno. No emtanto talvez fosse clara se lá estivesse, em vez disso, uma corcova de camello e uma cabeça de asno.

E basta por hoje, ficando para o proximo artigo o pintor Brocos[22].  

OSCAR GUANABARINO.

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O Paiz - Edição no 5444 - 1 de setembro de 1899 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição de bellas-artes[23]

Inaugura-se hoje, ao meio-dia, a exposição geral de bellas-artes; na Escola Nacional, solemnidade essa que foi, como de costume, precedida da visita prévia para o envernizamento das telas, o que de facto se realizou hontem com bastante concurrencia de artistas, amadores e representantes da imprensa fluminense.

A actual exposição, posto que apresente quadros de alto valor artistico, é, na sua feição geral, muito pobre, mórmente em si fazendo uma comparação com a grande affluencia de trabalhos que acudiram ao ultimo certamen ali realizado.

Com a sua recommendavel assiduidade, figuram, como sempre, os finos trabalhos do professor Girardet, cujas medalhas e gravuras em pedras finas são exemplares modelos no seu genero.

A falta do catalogo, que só hoje será distribuido, nos impede de entrar em minuciosidade sobre os objectos expostos; mas da visita que fizemos hontem, trouxemos a mais agradável impressão deixada pelos quadros do pintor paulista Almeida Junior, cujo talento, sempre em exercicio, tem aperfeiçoado o artista de um modo digno de louvor.

A tela n. 10[24], uma velha pobre, nos degráos de uma escada de pedra, com a mão estendida á caridade publica, é a sua obra prima nesse torneio artistico.

A cabeça da velha é um estudo admiravel e todo o quadro apresenta uma nota harmonica, suave e serena.

Na mesma parede está collocado um outro quadro desse mesmo autor, sob o n. 12[25], em que ha uma mulher que contempla, com os olhos razos de lagrimas, a photographia de um ente querido.

O effeito de luz nesse quadro é bellissimo.

Ainda de Almeida Junior é o n. 13[26], um caipira sentado ao peitoril tange a viola, acompanhando uma mulher da roça que canta. O quadro é bom, é nacional, genuinamente brazileiro em todos os seus detalhes, mas a maior das difficuldades não foi vencida - a mulher cantando.

Lá está ella de boca aberta em attitude languida de quem se enternece com a melodia das nossas modinhas - mas não canta, não se sentem as contracções dos musculos que entram no phenomeno da emissão de sons vocaes.

No fundo da sala, occupando quasi toda a parede, está o quadro - Tentação de Santo Antonio, de R. Frederico[27], que se acha em Roma.

Muitas bellezas encontram-se nessa téla bem combinada e com os grupos em magnífica disposição; mas o Santo Antonio não responde á tradição e mais se parece com um pandego, disfarçado em frade, do que com o lendario sacro do christianismo.

Citaremos ainda o quadro de J. Baptista[28] n. 35, um açude em meio de floresta.

Poucas vezes temos visto agua assim, dando perfeita idéa do liquido estagnado, dando á gente vontade de apanhal-a.

É um primor de paysagem.

Benjamin Parlagreco occupa logar honroso nessa exposição. O seu quadro n. 114[29], um carro de bois, carregado e exposto ao sol, ao sol dos nossos campos, tudo inundando de luz intensa, tem atrelada a junta do cabeçalho.

São dois animaes vivos, perfeitamente destacados, envolvidos em ar, o que é sempre difficil de obter, e desenhados com muita observação.

O dia de hoje não se presta para uma visita com o fim de ver os quadros de modo a tratar delles, inda que em chronica ligeira.

Começaremos, portanto, esse trabalho amanhã.

OSCAR GUANABARINO

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O Paiz - Edição no 5446 - 3 de setembro de 1899 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição de bellas-artes

Quando, a proposito da visita prévia da exposição geral de bellas artes, escrevemos algumas linhas citando os quadros que nos tinham impressionado mais, deixamos de citar os seus titulos por não termos o catalogo, só distribuido no dia da inauguração do certamen.

Convém, portanto, citar ainda uma vez o nome do pintor paulista Almeida Junior, que se recommenda não só pelos quadros que tiveram referencias nestas columnas, mas ainda pelos estudos ns. 5 e 6, duas bellas cabeças pintadas com largueza e independencia.

A Estrada apresenta notavel contraste com o quadro n. 11 - Pic-nic: quando tem aquelle de natural, espontaneo e verdadeiro, tem este de convencional, rebuscado e falso. Dir-se-ia uma tela feita de encommenda, a gosto do freguez. Esse peccado do sympathico e fertil artista é resgatado pelo Importuno, uma sessão de modelo vivo interrompida, quadro bem observado e dotado de movimento.

Vem a proposito os dois quadros ns. 21 e 22, de D. M. E. Arruda[30], discipula do digno artista cujo nome acabamos de citar.

O Toucador servido tem coisas muito bem feitas, está bem combinado e deixa ver que ali não andou o dedo do mestre, que se tal houvesse acontecido, com certeza teria desapparecido o defeito flagrante de perspectiva nas linhas da taboa mais alta do traste, borda do marmore e quinas vivas das gavetas, linhas essas que não se dirigem todas para o mesmo ponto, dando, por isso, a sensação de um objecto torto.

Seguindo a numeração do catalogo encontramos sete trabalhos do pintor nacional Aurélio de Figueiredo, dos quaes apenas nos agradaram a Tarde serena e Paizagem mineira.

O de n. 35, Ilha Fiscal é falso, não só na cor como em todo o fundo; abreviaremos a critica apontando o seguinte defeito. A vista é tomada da praça das Marinhas, nesta capital. A ilha fica, portanto, a 4 kilometros da Armação, em Nitheroy, e no emtanto parece que essa distancia não existe senão na boa vontade do artista. É que o fundo está detalhado de mais, muito cheio e de colorido muito carregado. A correcção é facil: - velar o fundo e obter assim a distancia que effectivamente existe.

No dia da inauguração daquella festa artistica falou-se muito da Rhapsodia das ondas, quadro do autor em discussão.

É uma téla agradável, sem dúvida, mais chic do que verdadeira e um tanto dura nas ondas que se quebram; mas os pontos bons do quadro desapparecem desde que se consulta a lista de preços que acompanha o catalogo, onde esse quadro está marcado por 5:000$, a maior cifra que ali se acha estampada.

Analysando-se o trabalho de accôrdo com a exigencia pecuniaria do autor accentua-se a falta de modéstia do pintor, e lembra uma anecdota talvez não conhecida e que tem applicação ao caso.

Um caipira contemplava a exposição de chapéos de senhora, em uma vitrine de casa bem conhecida no Rio de Janeiro. O proprietario do estabelecimento quiz divertir-se á custa do pobre homem fazendo ao mesmo tempo uma tentativa de negocio.

Entabolada a conversação o caipira foi forçado a entrar na referida casa de modas e no fim de poucos instantes estava elle em frente ao grande espelho e com um bello chapéo na cabeça.

Bem que percebeu o roceiro a figura ridicula do seu traje encimado por aquelle objecto de faceirice. Mas não deu o braço a torcer; mirou-se, confessou que o chapéo era muito bonito e que iria muito bem na cabeça de nhã Chica, sua mulher.

- E por que não o compra? perguntou o dono da casa.

- Quanto custa?

- Noventa mil réis e não é caro.

O caipira tirou lentamente o chapéo da cabeça, mirou-o de novo, por dentro e por fóra, tocou em todas as fitas, nas flores e nas plumas e por fim disse:

- Não é feio, não; mas faltam aqui, aos lados, dois buracos...

- Dois buracos? E para que isso?

- Para metter as orelhas do burro que der 90$ por isto!

É o caso dos 5:000$ pelo quadrinho Rhapsodia das ondas. É muito bonito: mas faltam-lhe os buracos.

OSCAR GUANABARINO.

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O Paiz - Edição no 5452 - 9 de setembro de 1899 - página 2

ARTES E ARTISTAS

Exposição de Bellas-Artes

Quando appareceu pela ultima vez, nestas columnas, o mesmo titulo destas linhas, foi para acolher uma carta do pintor Aurelio de Figueiredo, a quem torturamos, por espaço de três dias, deixando-o á espera da nossa resposta.

Mas o artista queixou-se da nossa perseguição e quizemos demonstrar-lhe que eram infundadas as suas suspeitas; por isso concordámos na inserção da sua carta, pois nella, e pela primeira vez, revelou o seu autor talento para alguma coisa.

O Sr. Aurelio de Figueiredo em toda a sua vida artistica não produziu, na nossa humilde opinião, um unico quadro de merecimento, mas provou que sabe escrever uma diatribe; é mestre e nesse genero póde se gabar que produziu uma obra prima, á qual démos o nosso proprio espaço.

Perverso seriamos se nos oppuzessemos á manifestação do seu talento, trancando logar á carta. D’ora em diante, porém, desapparece a nossa piedade pelo pobre autor da Francesca de Rimini visitando o tumulo do pai (?) quadro que, se não é a mais notavel producção da arte nacional, é, pelo menos, a mais das botas (gyria de pintores) que têm apparecido em exposições.

Já agora vale a pena ser amigo do pintor que, apezar do talento para esvurmar doestos, ignora que ninguem se arvora em critico, pois é crítico toda a gente.

Quem olha para um quadro e diz - gosto ou não gosto - exerce a critica. Terá ou não meios de dar as razões da sua impressão; conhecerá ou não os defeitos ou as boas qualidades do quadro, saberá ou não discutir essas qualidades; disporá ou não de um jornal para publicar as suas opiniões; mas a critica foi feita e não é condição indispensavel ser profissional para exercer essa missão.

Se não entramos, ás vezes, em detalhes, a proposito dos quadros de que damos noticia, fazemol-o assim para evitar a semsaboria da analyse; mas já que o Sr. Aurelio de Figueiredo o quer, em logar das anecdotas, saiba que o seu quadro está errado: o mar, da Rhapsodia das ondas, é mar de atelier, falso, de algodão, de palha, de tudo quanto quizerem - menos d’agua.

Os passaros que lá estão, ninguem os conhece - são imaginados pelo pintor - aves marinhas com bicos de pombos e por ahi além.

Sabem todos que um objecto branco collocado entre a objectiva de uma machina photographica e a luz intensa, como a do sol, torna-se escuro, pois a parte clara, o lado illuminado é o opposto - o que não é visto; mas o Sr. Aurelio tem dois sóes no seu quadro: um, no fundo da téla, no oriente, e outro, que são os seus bellos olhos meridionaes.

A figura do Orpheo não é má; mas já vimos em outra exposição um quadro do Sr. Aurélio copiado de chromos de caixinhas de lenços, e d’ahi a nossa duvida se será delle ou não o inquinado Orpheo.

A nossa perversidade nos diz que aquillo é copiado de uma estampa qualquer, e isso porque, evidentemente, o pintor daquella figura não é o mesmo desenhista da - Doce perfume.

O maior defeito do pintor em questão é não saber desenhar, defeito que se estende aos seus discipulos, como, alias, é natural.

Vêm a proposito os quadrinhos de D. Alina Teixeira, que estuda com o rhapsodista.

A téla n. 1 - Flores, além de mal combinada, tem uns ratinhos com orelhas de lebre, mas não se atina se esses bichinhos são de louça ou se procuram reproduzir os damninhos roedores chamados camondongos.

O n. 2 é intitulado Parasita; mas na actualidade o artista não tem o direito de ser ignorante. A arte exige conhecimento variadissimo e o mestre consentiu que sua discipula désse á bella flor de uma orchidéa o nome de parasita!

A parasita que dá flor capaz de ser reproduzida na pintura é a herva de passarinho.

Na Praia do Flamengo a côr é suja, defeito proveniente de má organização da palheta e falta de conhecimento da combinação das cores, de modo que aquillo vem a ser consequencia de tentativas.

No Scismando, n. 4, a perspectiva está errada - tudo torto.

Além disso o titulo do quadro nada exprime, a menos que a figura que lá se vê esteja scismando se deve ou não lavar o rosto, empastado de carvão ou fuligem.

Melhor seria que o mestre indicasse á alumna o professor Treidler[31], que tem naquella exposição o attestado de sua competencia nos quadros das discipulas que apresenta: DD. Anna[32] e Maria da Cunha Vasco[33], a primeira com seis aquarelas, de ns. 47 a 52, e a segunda, com cinco, de ns. 53 a 57.

Nota-se-lhes talvez um pouco de frieza no colorido, mas ha desenho, vida, animação e verdade.

Os de ns. 50 e 56 - Troncos de mangueiras, são dois trabalhos que honram o talento da mulher brazileira.

OSCAR GUANABARINO.

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O Paiz - Edição no 5463 - 20 de setembro de 1899 - página 2

Exposição de bellas artes

Voltando ao assumpto que se prende ao titulo destas linhas, falaremos de dois trabalhos do Sr. Rodolpho Amoedo, vice-director da Escola Nacional de Bellas-Artes.

Expõe pouca coisa, mas é preciso levar em linha de conta os seus trabalhos executados no Cassino Fluminense, em que o illustre professor empregou muito tempo para bem poder imprimir um cunho artistico á ornamentação decorativa daquelle edificio.

Os dois quadros expostos são - Um retrato e Festão de magnolias, sob os ns. 15 e 16, ambos pintados pelo processo denominado tempera envernizada, em que a tinta em pó é humectada com a gemma e clara d’ovo, recebendo o quadro, depois de terminado, uma camada de verniz que vai fixar duradouramente todas as cores empregadas.

No Retrato ha uns artificios ou, antes, umas certas manhas de artista, como seja a ornamentação do quadro, sobre tudo no pannejamento ao fundo, preparado não só para dar mais effeito ao trabalho como tambem para evitar difficuldades de relevo; mas apezar disso existem ali boas qualidades, sobresaindo o desenho que é franco e faz perdoar o estardalhaço de cores vivas habilmente escolhidas, além de todos os accessorios que se encontram á esquerda, accessorios esses em que o pintor se deleitou em reproduzir todas as minuciosidades aos objectos que ali se encontram.

Agradou-nos, sem reservas, o Festão de magnolias, em que a côr é exactamente a da natureza.

Sente-se nesse trabalho do Sr. Rodolpho Amoedo a espessura das folhas, a dureza do seu tecido, a parte aveludada e a lustrosa, além da transparencia das flores.

Augusto Petit, que todos nós conhecemos, depois de haver explorado durante muitos annos a rendosa industria de retratista, que lhe forneceu meios de educar suas filhas, que são hoje artistas de merecimento, conforme temos noticiado nestas columnas, transcrevendo por vezes os seus triumphos em Paris; Augusto Petit, diziamos, tem se dedicado ultimamente á arte, tanto que no anno passado occupou logar saliente na exposição annual de bellas artes.

As suas fructas são realmente bem estudadas, e algumas chegam a uma perfeição tal que illudem, como acontece com uma laranja que se acha na divisão da sala.

Muito lucrariam os seus trabalhos nesse genero, se, em vez de pintados no atelier, o fossem ao ar livre, á luz franca do sol.

Afastando-se dos seus processos antigos, apresenta ainda um bom retrato de Mlle. M. G.; mas o seu melhor trabalho, ainda que um pouco carregado no tom, é o quadro intitulado Um apreciador (n. 131), estudo bem tratado, largo, tocado sem preoccupação e de bom effeito.

Progride; e esse é o dever do artista.

OSCAR GUANABARINO.


[1] Aqui Guanabarino provavelmente se refere ao concurso de pintura histórica dos alunos de Zeferino da Costa em 1883, que apresentaram telas representando São Jerônimo.

[2] MODESTO BROCOS y Gomez (Santiago de Compostela, Espanha, 1852 - Rio de Janeiro, RJ, 1936). Pintor, mudou-se para a Argentina em 1870 e em 1872 foi estudar na Academia das Belas Artes do Rio de Janeiro como aluno de Victor Meirelles e Zeferino da Costa. Em 1877 foi a Paris, estudando na Escola Nacional e Especial de Belas Artes, ao lado de Sorolla y Bastida (que o retratou) e Seurat, como aluno de Henri Lehmann. Volta a Madri, onde freqüenta a antiga Academia de Belas Artes de São Fernando e o ateliê de Federico Madrazo (1879 e 1880). Em 1881 volta a Paris como aluno de Hebert na Escola de Belas Artes. Em 1883 vai a Roma com bolsa de estudos de sua província natal, permanecendo ali por quatro anos e frequentando a Academia Chigi. Em 1890, após viagens pela Europa, volta ao Brasil e vai lecionar na Escola Nacional de Belas Artes, a convite do diretor Bernardelli, como professor de Desenho Figurado na vaga de Weingärtner. Em 1892 expôs na Escola Nacional de Belas Artes sua primeira individual, com destaque para os retratos, e cuja vedete era Engenho de Mandioca, adquirida pela Pinacoteca da Escola. Conquistou uma medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes de 1895. No ano seguinte realiza nova viagem a Roma e retorna definitivamente em 1900, quando naturaliza-se brasileiro. Torna-se professor extraordinário em 1911 e catedrático em 1915. Publicou “A Questão do ensino de Belas-Artes” (1905), “Retórica dos Pintores” (1933) e “Viagem a Marte”. Foi também professor de gravura no Liceu de Artes e Ofícios do Rio, núcleo de onde se desenvolveria a arte da gravura no Brasil, com orientação, já então, de Carlos Oswald.

[3] No catálogo consta Garimpeiros.

[4] No catálogo consta Corridas na campanha do Rio Grande.

[5] No catálogo consta A faceira.

[6] FELIX Atiliano BERNARDELLI (Porto Alegre, RS, 1866 - Guadalajara, México, 1905). Pintor, irmão caçula de Rodolfo e Henrique Bernardelli, ingressou na Academia Imperial das Belas Artes do Rio de Janeiro em 1877. Passou longo período na Europa, aperfeiçoando-se em música e pintura na Itália. Voltando ao Brasil participou assiduamente das exposições gerais da Escola Nacional de Belas Artes do Rio, entre 1894 e 1898. Depois seguiu para o México, terra de seus pais, onde faleceu.

[7] Provavelmente, Arthur Azevedo.

[8] PEDRO Borges ALEXANDRINO (São Paulo, 1864 - São Paulo, 1942). Pintor, de início foi ajudante em projetos de decoração de interiores em São Paulo, dos franceses Brandier e Estiveau, do português Adriano Ferreira Pinto, de José Lucas Medeiros e João Boaventura. Ingressou na Academia Imperial das Belas Artes do Rio de Janeiro em 1887, agraciado com uma pensão concedida pelo governo paulista. Regressando a São Paulo estudou e colaborou com Almeida Junior durante oito anos, com o qual viaja a Paris em 1897 com nova pensão do governo paulista. Na França estuda por nove anos com Fernand Cormon, René Chrétien e Antoine Vollon. Voltando ao Brasil realizou exposição individual onde apresenta 110 quadros, sendo 84 naturezas-mortas. Mesmo com seu regresso continuou expondo em salões estrangeiros, conquistando os títulos de “Oficier de L’Academie de Paris” e “Acadêmico de Mérito” em Gênova. Recebeu a Ordem da Corôa da Itália em 1936. Participou de ccoletivas em Paris, Baden-Baden, Monte Carlo e Versalhes. Participou ativamente da vida artística paulista, comparecendo a partir de 1912 nas coletivas do Liceu de Artes e Ofícios. Um de seus discípulos particulares foi Tarsila do Amaral.

[9] Manoel LOPES RODRIGUES (Fonte Nova do Desterro, BA, 1860? - Salvador, 1917). Desenhista e pintor, filho do pintor João Francisco Lopes Rodrigues, com quem iniciou sua aprendizagem artística, aos 17 anos já era professor de Desenho do Liceu de Artes e Ofícios e na Escola de Belas Artes de Salvador, da qual foi um dos fundadores. Em 1882 mudou-se para o Rio a fim de cursar a Academia Imperial das Belas Artes, mas não conseguiu. Colaborou com artigos de crítica de arte na Gazeta Literária e realizou ilustrações para livros de Medicina. Com suas economias viaja em 1886 para Paris, onde teve como primeiro mestre Raphael Collin. Matriculou-se em seguida na classe de Leon Bonnat na Escola Superior de Belas Artes. Foi também aluno de Jules Lefebvre e Tony-Robert Fleury, tendo ainda cursado a Escola Superior de Artes Decorativas. Mantido na França graças a alguns mecenas baianos, em 1889 solicita proteção financeira a D. Pedro II, o que consegue tendo o próprio Bonnat escrito ao Imperador para reforçar o pedido. Quando a República foi proclamada a pensão foi mantida graças, novamente, a Bonnat, que escreveu a Rui Barbosa. Em 1895 volta à Bahia por 3 meses por causa da morte do pai e realiza trabalhos para o Mosteiro de São Bento. Em junho segue para Roma, onde três meses depois recebe a notícia de suspensão da pensão. A Assembléia Geral da Bahia concede-lhe a soma de 3 mil francos para a execução de uma tela destinada a adornar o novo Palácio do Governo, simbolizando A República. Regressa à Bahia e abre em 29 de julho de 1896 uma importante mostra de 87 pinturas e desenhos, nos salões do Teatro São João. Seguindo para o Rio, realiza nova exposição, partindo logo depois à Europa. Volta depois, definitivamente, à Bahia. Escreveu o drama “13 de Maio” com Manoel de Brito. Praticou o retrato, o nu, o interior, a natureza-morta, a pintura histórica, a paisagem e o gênero. Participou da Exposição Universal de 1889 e em 1890, 1892, 1894 e 1895 do Salon des Artistes Français.

[10] Cesare MACCARI (Siena, 1840 - Roma, 1919). Estudou decoração no Instituto de Arte de Siena tendo observado o escultor Tito Sarrocchi (1824-1900). Tornando-se amigo de Luigi Mussini (1813-1888) e de Alessandro Franchi (1838- 1914), um especialista na execução de frescos, decidiu dedicar-se à pintura. Ganhou uma bolsa de estudo e foi estudar em Roma. Ganhou notoriedade com Fabiola, começando depois a trabalhar na decoração da igreja do Sudário. De 1882 a 1888 pintou afrescos com cenas da história romana na salla giala do Senado de Roma. No Palazzo Pubblico de Siena, atual Museu Cívico, pintou também a fresco, em 1887, A apresentação do Plebiscito a Vítor Manuel II e O funeral de Vítor Manuel II. Maccari esteve em contato com o pintor Nino Costa (1826-1903) e participou das exposições organizadas por paisagistas em Roma. É possível que também tenha exposto com o grupo de paisagistas In Arte Libertas em Londres em 1890. Realizou também alguns trabalhos para a Igreja tendo trabalhado em Genova, de 1886 a 1889, e na Basílica de Loreto, em 1888-89 e em 1907. 

[11] AUGUSTO Giorgio GIRARDET (Roma, Itália, 1855 - Rio de Janeiro, 1955). Gravador, iniciou-se com o pai Antonio e estudou com Massini, Alegretti e Giulio Monteverdi no Instituto Real de Belas Artes San Lucca (Roma), entre 1875 e 1882. Veio para o Brasil em 1891, contratado pela ENBA para ocupar a cadeira de Gravura de Medalhas e Pedras Preciosas, até 1912, quando passou por concurso a professor extraordinário efetivo, tornando-se catedrático em 1917 e ocupando a cadeira até 1934. Regeu interinamente, em 1899 e 1900, a cadeira de Escultura e foi professor de gravura de medalhas e moedas, entre 1912 e 1922, na Casa da Moeda do Rio de Janeiro. Executou a medalha destinada à premiação nos salões da ENBA, com anverso e reverso idealizados respectivamente por Henrique e Rodolfo Bernardelli. Em 1898, gravou as primeiras medalhas de sua própria composição, comemorativas da inauguração dos monumentos ao general Osório e ao duque de Caxias, criados por Rodolfo Bernardelli, no Rio de Janeiro. Criou o modelo para a medalha de comemoração do IV Centenário do Descobrimento do Brasil. Entre seus trabalhos mais importantes no campo da gravação de medalhas destaca-se a Série Presidencial; para a Casa da Moeda executou inúmeras peças. Além de inúmeras medalhas comemorativas executou também sinetes, camafeus e gravuras sobre preciosas (anéis em ágata e ametista). Foi membro do Conselho Superior de Belas Artes e da Academia Brasileira de Belas Artes.

[12] Não foram encontrados dados sobre essa artista. Consta apenas que residia em Paris.

[13] Contém ilustração alegórica onde se lê: “De Setembro a Outubro - Quinta Exposição Geral de Bellas-Artes - Escola Nacional de Bellas Artes”.

[14] Exposição de Arte Retrospectiva promovida pelo Círculo Artístico, inaugurada em 1º de julho de 1898, reunindo principalmente quadros estrangeiros de colecionadores brasileiros.

[15] ALINA TEIXEIRA (Rio de Janeiro, 18? - 19?). Pintora ativa no Rio de Janeiro em fins do século XIX e início do século XX, estudou com Pereda e Aurélio de Figueiredo.

[16] Não foram encontrados dados sobre esse artista.

[17] Carlos BALLIESTER (Pernambuco, 1870? - Rio de Janeiro, 1927?). Pintor, fixou-se no Rio de Janeiro no final do século XIX e tornou-se aluno de Augusto Petit, destacando-se porém como paisagista e marinhista, na trilha aberta pela geração anterior, sendo devedor de Castagneto. Entre 1896 e 1925 participou com freqüência das Exposições Gerais de Belas Artes, obtendo em 1916 menção honrosa.

[18] Auguste PETIT (Chatillon-sur-Seine, França, 1844 - Rio de Janeiro, 1927). Pintor, radicou-se no Brasil em 1864 e desenvolveu toda a sua carreira no Rio, participando com freqüência das exposições gerais de belas artes (obtendo menção honrosa em 1882 e medalha de prata em 1884). Retratista, paisagista, pintor de naturezas-mortas e professor, com destaque para o primeiro gênero, ganhou medalha de ouro de 3a classe no Salão Nacional de Belas Artes de 1898 e em 1901 mantinha ateliê, tendo como ajudante Guttmann Bicho.

[19] Carambola, segundo o catálogo.

[20] Pescando, segundo o catálogo. 

[21] Pedro BOLATO (Montevidéu, Uruguai, 18? - ?, 19?). Pintor naturalizado brasileiro. Estudou na Academia Imperial com Aurélio de Figueiredo e Rodolfo Amoedo.

[22] Não encontramos mais nenhum artigo comentando a exposição, a partir dessa data.

[23] Este artigo não está assinado, mas é citado posteriormente por Oscar Guanabarino.

[24] Mendiga, segundo o catálogo.

[25] Saudades, segundo o catálogo.

[26] Violeiro, segundo o catálogo.

[27] RAFAEL FREDERICO (Rio de Janeiro, 1865 - Rio de Janeiro, 1934). Pintor, estudou na Academia Imperial do Rio onde foi discípulo de Victor Meirelles e Agostinho José da Mota. Em 1893 obteve o prêmio de Viagem da Escola Nacional de Belas Artes, aperfeiçoando-se em Paris e Roma. No Salão Nacional de Belas Artes de 1899 obteve a primeira medalha de ouro. Voltando ao Brasil se tornou professor também do Liceu de Artes e Ofícios do Rio. 

[28] João BAPTISTA DA COSTA (Itaguaí, RJ, 1865 - Rio de Janeiro, 1926). Pintor de origem humilde, se tornou órfão aos oito anos e pouco depois fugiu para o Rio, onde internou-se no Asilo de Menores Desamparados e iniciou seu aprendizado de desenho com Antônio Araújo de Souza Lobo, que o estimulou a ingressar na Academia, o que ocorreu em 1885. No ano seguinte obteve a medalha de ouro e tornou-se discípulo de Zeferino da Costa e Rodolfo Amoedo, formando-se em 1889. Em 1894 obteve o prêmio de viagem com Em Repouso,em 1894, viajando para a Europa em 1896. Na Academia Julian de Paris estudou com Robert Fleury e Jules Lefebvre, indo ainda à Alemanha e fixando-se em Capri. Voltou ao Rio em 1898 e em 99 expôs os trabalhos realizados no exterior. Em 1906 substituiu Rodolfo Amoedo na cadeira de Pintura da ENBA, continuando a lecionar até o fim da vida. 

[29] Lac des Minimes, segundo o catálogo.

[30]  Maria Elisa de ARRUDA Botelho (São João de Capivari, SP, 18? - 19?). Pintora, participou das Exposições Gerais de 1899 e 1900. Estudou com Almeida Júnior. 

[31] Benno TREIDLER (Berlim, Alemanha, 1857 - Rio de Janeiro, RJ, 1931). Pintor e cenógrafo, fixou-se no Rio em 1885. Estudou por cinco anos na Academia de Berlim, tendo sido aluno dos paisagistas Wilberg e Lechner, este último também cenógrafo. Era cenógrafo do Teatro Imperial de Berlim quando veio para o Brasil. Dominava com maestria a técnica da aquarela, ainda pouco difundida no Brasil na época; e com uma conquistou uma medalha de ouro de 1a classe na exposição geral de 1894. Participou dos salões da Associação dos Aquarelistas em 1905, 1906 e 1907. Teve como alunos Ana e Maria Vasco e França Júnior.

[32] ANNA da CUNHA VASCO (Rio de Janeiro, 18? - 19?). Pintora, residia no Rio e estudou com Benno Treidler. Participou de várias exposições gerais a partir de 1898, deixando 66 obras.

[33] MARIA da CUNHA VASCO (Rio de Janeiro, 18? - 19?). Pintora, estudou com Benno Treidler. Participou de várias exposições gerais a partir de 1898.1