Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes - 1882, Anexo

transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi

Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes. Transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi. Texto com grafia atualizada, disponível em: http://www.dezenovevinte.net/

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BRASIL, MINISTÉRIO DO IMPÉRIO

MINISTRO PEDRO LEÃO VELLOSO

RELATÓRIO DO ANO DE 1882 APRESENTADO À ASSEMBLÉIA GERAL LEGISLATIVA NA 3a SESSÃO DA 18a LEGISLATURA EM MAIO DE 1883.

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ANEXO E

RELATÓRIO DO DIRETOR DA ACADEMIA DAS BELAS-ARTES

ILM. E EXM. SR.

Tenho a honra de apresentar a V. Ex. o relatório dos trabalhos da Academia das Belas-Artes e do Conservatório de Música, durante o ano escolar de 1882, e por ele verá V. Ex. que estes úteis estabelecimentos satisfazem quanto cabe em seus escassos recursos às vistas do Governo Imperial na manutenção deles, e na solicitude com que procura o seu melhoramento.

Se o resultado escolar não foi tão feliz como o tem sido em alguns outros anos, esse fato encontra a sua explicação natural - para as aulas da Academia - no incômodo disciplinar e administrativo causado pela aglomeração de todas as aulas em uma só ala do edifício; e para as do Conservatório de Música na aplicação das novas regras pré-escritas nos Estatutos decretados era agosto de 1881, que estabeleceram normas restritivas para a admissão à matricula, e para os exames finais e prêmios anuais.

Atividade escolar. - Matricularam-se 55 alunos no curso diurno, compreendidos os das aulas de modelo-vivo, de história das belas-artes, estética, e arqueologia, que funcionaram em horas do dia, não tendo as outras do curso noturno tido exercício, não só em consequência da falta de lugar por motivo das obras de reconstrucção do edifício, como também pela ausência de pretendentes à matrícula em algumas delas.

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Foram admitidos como amadores ou ouvintes 14 indivíduos que solicitaram essa permissão.

Os 55 alunos matriculados freqüentaram as seguintes aulas:

1a de matemáticas (elementos de aritmética, geometria e trigonometria, mecânica e ótica)........25

2a de matemáticas (desenho geométrico, perspectiva e teoria das sombras) .............................18

De desenho figurado...............................................................................................................35

De desenho de ornatos..........................................................................................................3

De desenho e pintura de paisagem, flores e animais.................................................................22

De pintura histórica.................................................................................................................13

De arquitetura.........................................................................................................................4

De anatomia e fisiologia das paixões........................................................................................17

De modelo-vivo (curso noturno)..............................................................................................19

De história das belas-artes, estética e arqueologia (curso noturno)............................................8.....164

Abatem-se:

alunos que freqüentaram mais de uma aula, e por isso vão acima repetidos em uma delas, sendo :

2 em 5 aulas............................................8

8 em 4 aulas............................................24

35 em 3 aulas..........................................70

7 em 2 aulas............................................7.....109

alunos matriculados.........................................55

Destes 55 alunos inscreveram-se para exame das aulas teóricas, isto é, matemáticas. anatomia e fisiologia das paixões, e história das belas-artes, estética e arqueologia 37 alunos.

Destes 37 alunos inscritos para exame:

Foram aprovados plenamente em duas aulas.....................3

Idem, idem em uma só aula...............................................4

Idem simplesmente em duas aulas.....................................3

Idem idem, em uma, não comparecendo na outra..............l

Idem idem, e reprovado na outra......................................l

Idem em uma só aula........................................................2

Reprovado em uma aula, não comparecendo na outra.......l

Alunos examinados...........................................................15

Não compareceram a exame............................................22.....37

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Distribuiram-so 25 prêmios a 21 alunos que mais se distinguiram, sendo:

Grande medalha de ouro ..................................1

Pequenas medalhas de ouro..............................6

Medalhas de prata............................................9

Menções honrosas............................................9.....25

Não havendo quem o merecesse, não foi conferido este ano o prêmio “Imperatriz do Brasil”, fundado pelo Comendador Leonardo Caetano de Araújo.

Foi pelo Exm. Sr. Barão de Massambará oferecida uma grande medalha de ouro comemorativa da inauguração desta Academia no ano de 1826, para ser conferida com o titulo de “Prêmio D. Pedro I” ao aluno que mais se distinguisse no concurso do ano escolar.

Três alunos foram indicados como os mais aproveitados nos estudos e concursos do ano, a saber: Jorge Mirandola Júnior, Domingos Garcia y Vasques e Hyppolito Boaventura Carron; a este coube o prêmio pelo voto unânime da Congregação dos professores. Pelo Exm. Sr. Deputado Dr. Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira foi doada uma caderneta da Caixa Econômica com o valor de cinquenta mil réis (50$000) para ser oferecida como prêmio ao aluno que mais se houvesse distinguido no ano escolar de 1881: dois alunos disputaram esse prêmio - João Vieira Damasceno Ribeiro e Jorge Mirandola Júnior; a esse aluno foi aquele prêmio conferido.

Pensionistas. - Continuam satisfatoriamente seus estudos na Europa os dois pensionistas desta Academia.

Rodolpho Amoêdo estuda com proveito a pintura histórica na Escola de Belas-Artes de Paris, e sob as lições particulares e direção do notável artista Alexandre Cabanel: seus últimos estudos não foram ainda recebidos por se lhe ter permitido demora-los lá, afim de serem exibidos na Exposição geral das belas-artes, que se deve inaugurar naquela capital no dia 1° de maio do corrente ano. A admissão deles naquele certame será um titulo de recomendação em favor do seu merecimento e dos progressos do pensionista, constituindo uma prova de que aproveita ele os sacrifícios do Estado.

Rodolpho Bernardelli, que se acha ainda em Roma, em virtude da prorogação do prazo da pensão que, em conformidade de disposições das respectivas instruções dos pensionistas, lhe foi com justiça concedida, é já um artista de merecimento, pois que, como talentoso escultor, começa a ser conhecido naquela capital das belas-artes.

Dentro em alguns dias poderá ser julgada a cópia em mármore, de grandeza natural, da belíssima Vênus Calipgia do Museu de Nápoles, por ele executada no ano próximo passado, e que se acha na Alfândega desta Corte desde o dia 24 do mês passado. D'aqui a um ano provavelmente chegará o seu último trabalho de pensionista - o grupo, também em mármore, de grandeza natural, representando “Jesus Cristo e a mulher adúltera”, cujo esboceto por ele enviado a esta Academia obteve da congregação dos professores plena aprovação, e do qual o estudo em barro lhe tem merecido os mais lisongeiros encômios de provectos professores da Academia de Roma, conforme fidedignas informações e recomendação oficial do Ministro do Brasil junto à Corte de Itália.

Para completar a educação artística deste digno pensionista, conviria que, terminando aquele trabalho, fizesse ele, antes de recolher-se à pátria, uma viagem de in-

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strução pelas cidades da Europa mais ricas de monumentos artísticos e mais adiantadas na cultura das belas-artes, demorando-se em cada uma delas o tempo necessário para que seja essa viagem, não um recreio, mas sim uma lição.

Está também estudando em Roma, com grande aproveitamento, segundo informações dignas de crédito, um outro aluno desta Academia, Henrique Bernardelli, pintor histórico, em companhia de seu irmão Rodolpho, pensionista do Estado, e seria sem dúvida proveitoso dar-lhe os meios de poder ali continuar mais algum tempo, quando expirasse o prazo da pensão daquele, visto como fora mais um artista brasileiro de merecimento completando na Europa a sua educação artistica, com pequeno dispêndio do Estado. Há quatro anos segue ele os estudos da Academia de Roma, morando em casa de seu irmão, que com ele reparte também o seu prato, e para acudir às outras indispensáveis despesas, vende como pode as obras que produz em seus estudos! Tão louvável conduta, tanto amor à arte e ao trabalho merecem certamente uma recompensa, e nenhuma me parece mais condigna, nem mais útil do que conceder-lhe uma pensão por dois ou três anos.

Outros jovens que foram discípulos desta Academia avigoram seu talento na Europa. Décio Villares, que veio passar algum tempo com seus parentes nesta cidade, voltou para Paris a continuar no estudo da pintura histórica; Francisco Villaça ali cultiva a pintura de gênero e o desenho a pastel; nesta especialidade algumas de suas produções têm sido apreciadas por amadores e artistas naquele grande centro artístico; e Antônio Firmino Monteiro, que possui uma palheta esmaltada das brilhantes harmonias do céu dos trópicos, dedica-se todo ao estudo da paisagem. Serão mais três artistas de cultivado talento, para reforçar o número dos nossos pintores de merecimento superior.

Voltou no ano próximo passado de concluir em Paris seus estudos de pintura histórica o ex-aluno desta Academia José Ferraz de Almeida Júnior, que estudara a principio com pensão concedida pela Assembléia Provincial de S. Paulo, sua província natal, e depois à custa do imperial bolsinho. Os melhores trabalhos que executou quando estudava, e que o acompanharam ao Rio de Janeiro, estiveram expostos em uma das salas desta Academia, onde, depois de receberem a honrosa visita de Suas Majestades e Altezas Imperiais, e de V. Ex., foram devidamente apreciados pelos amadores desta capital e pela imprensa da Corte, que unânime lhe teceu merecidos louvores.

D'entre esses trabalhos destacava-se o quadro histórico, de grandes dimensões, representando “A Fugida da Sagrada Família para oEgito”, oferecido pelo artista a Sua Majestade o Imperador, em testemunho de sua gratidão e profundo respeito. Esta tela, de um efeito de luz belíssimo, vai enriquecer a nossa galeria nacional, em virtude de graciosa dádiva que dele se dignou fazer a esta Academia o mesmo Augusto Senhor.

Por proposta do seu autor, e sob informação desta Academia, dignou-se V. Ex. de fazer aquisição de três daqueles trabalhos; são eles: “O Trabalhador da roça”, de grandeza natural; “O remorso de Judas”, de igual dimensão; e “O Repouso do modelo”, belíssimo quadro de gênero, de figuras de meia natureza. Esta acertada medida, satisfazendo o justo amor-próprio do artista, e dando-lhe ao mesmo tempo os meios pecuniários de poder empreender outros trabalhos, será sem dúvida de muito profícuo exemplo. Outros artistas se animarão provavelmente a empreender a execução de obras d'arte, na bem

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fundada esperança do as ver do mesmo modo apreciadas, e de obter por elas condigna retribuição.

Creio igualmente que vantajoso seria fazer aquisição dos trabalhos mais bem acabados e mais conscienciosamente estudados, produzidos pelos alunos da Academia durante cada ano escolar, que fossem escolhidos pela congregação dos professores, por occasião da exposição anual escolar. Seria isto um incentivo de animação farto de bons resultados.

No tempo e na sociedade em que vivemos, parece-me utopia pretender tudo conseguir só pelo amor da glória e pela conquista de aplausos e louvores.

Por deliberação do 1° de julho, dignou-se o antecessor de V. Ex. comprar para esta Academia uma fotografia em placa de porcelana pelo processo inalterável, reprodução do quadro do professor Victor Meirelles de LimaCombate naval de Riachuelo”, perdido por ocasião da Exposição Universal do Philadelphia. Para execução desta fotografia serviu-se o habilíssimo fotógrafo José Ferreira Guimarães da placa denominada pclos fotógrafos “negativo”, que sobre o quadro original havia tomado aquele artista em 1872, e da qual foram tirados e distribuídos nessa época alguns “positivos” sobre papel albuminado, representando o quadro hoje perdido, com aquela fidelidade que dão os processos fotográficos.

Cadeiras vagas. - Acham-se vagas as cadeiras de escultura de ornatos, de paisagem, flores e animais, e de xilografia.

Foi esta ultima criada pelo Decreto n. 8802 de 16 de dezembro último, em substituição da de gravura de medalhas e pedras preciosas, que vagara a 8 de dezembro de 1869 e não fora mais provida, tendo-se aberto concurso no ano de 1871, em que se inscreveram dois candidatos, ambos conhecidos gravadores de medalhas, mas que desistiram do concurso, tendo chegado um deles a produzir as duas primeiras provas.

Aumentar o número das disciplinas escolares é a marcha natural dos estabelecimentos de instrução que procuram adiantar-se acompanhando o progresso do tempo; e por isso a criação daquela aula foi um ato de boa administração; conquanto seja a xilografia só uma das espécies em que se divide a “gravura” propriamente dita: esta arte, cujo fim é produzir o que vulgarmente se chamam estampas, compreende, além da xilografia ou gravura em madeira, empregada nos livros ilustrados pela facilidade da impressão, e por isso hoje muito generalizada, a gravura em pedra litográfica, ou litogravura, utilizada principalmente pelo comércio; a gravura à água-forte, que melhor conserva a individualidade do artista; a gravura à agua-tinta ou maneira negra, de processo fácil e bonito efeito, e por isso geralmente preferida pelos mercadores de estampas, que para elas encontram numerosos consumidores; e enfim a gravura a buril sobre aço ou sobre cobre, a traços ou a pontos, a mais dificil, valiosa e importante das espécies, na qual se imortalisaram os Morghen e Volpatos. Não seria, pois, descabido criar também aulas de gravura sobre aço ou cobre e em pedra litográfica, acrescentando à Academia das belas-Artes mais uma seção - a seção de gravura.

Quanto à cadeira de gravura de medalhas e pedras preciosas, que pertence á seção de escultura, e cujos processos e resultados são inteiramente diversos da gravura, não pôde ser substituída pela nova cadeira criada, e sendo um de seus nobres fins perpetuar por meio dos metais ou da glíptica os fatos mais notáveis da história contemporânea, é para lastimar que seja suprimida por simples razão de economia.

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A gravura do medalhas é arte que sempre fez parte inseparável o imprescindível das Academias do Belas-Artes, e eliminá-la hoje deste estabelecimento, é torná-lo inferior ao que foi; nem me parece estar isto de acordo, nesta época do movimento e de progresso, com as idéias dominantes, que tendem ao maior desenvolvimento e propagação da instrução popular em todas as suas diversas especialidades.

Solicito, pois, que, sem prejuízo da criação da aula de xilografa, seja restabelecida nesta Academia a cadeira de gravura de medalhas e pedras preciosas.

Para reger provisoriamente a cadeira de paisagem, flores e animais, foi contratado por ordem do digno antecessor de V. Ex. o paisagista alemão Jorge Grimm, o qual desempenha com inteligente zelo as obrigações do seu contrato.

As cadeiras de pintura histórica e de historia das belas-artes, estética e arqueologia continuam a ser regidas por professores interinos, em consequência de se acharem ainda na Europa os respectivos proprietários.

A primeira é dirigida pelo professor honorário João Zeferino da Costa, e a outra pelo professor também honorário Bacharel Theophilo das Neves Leão, cuja proficiência é notória.

Professores ausentes. - O professor Victor Meirelles de Lima, durante a sua ausência na Europa, tem continuado a trabalhar com dedicação pela arte nacional. Há poucos dias chegou a agradável noticia de haver ele concluído um quadro de grandes dimensões, repetição de sua famosa tela “Combate naval de Riachuelo”, perdida na volta dos Estados Unidos em 1878.

Esse quadro vai ser exibido na Exposição geral de belas-artes do corrente ano em Paris, e nutro a lisongeira segurança de que ele honrará naquele grande concurso de artistas a arte nacional e o seu talentoso autor.

O professor Dr. Pedro Américo de Figueiredo e Mello, nos intervalos de suas enfermidades, também se dedica com amor ao exercício da pintura histórica, em que tão virentes louros tem colhido. Fui informado de que que no principio do corrente ano fez ele uma exposição de seus trabalhos em seu “atelier” em Florença, merecendo suas obras o louvor dos entendidos, e realçando por esta forma o crédito, na Itália, da arte brasileira.

Curso noturno. - Este curso não funcionou em consequência das obras de reconstrução do edifício. É', porém, minha opinião que deste curso, sensatamente criado para os artesões e mesteirais no ano de 1859, a conservação na Academia das Belas-Artes não tem mais razão de ser, depois que a Sociedade Propagadora das Belas-Artes, com o auxilio do Governo, e com os constantes e avultados donativos particulares conseguiu dar ao seu Liceu de Artes e Ofícios as vastas proporções em que se acha, e que é devido principalmente ao zelo intelligente e inexcedivíel dedicação de seu fundador, o professor de arquitetura desta Academia Francisco Joaquim Bethencourt da Silva.

N'esse estabelecimento encontram os alunos que a ele concorrem salas vastíssimas, bem iluminadas à luz do gás e perfeitamente ventiladas, comôda mobília, ótimos modelos, e mais de 70 professores, entre os quais muitos alunos e alguns professores desta Academia, que alternam entre si o serviço escolar com a mais louvável dedicação.

N'esta Academia apenas três salas, e essas mesmas de pequenas dimensões, tem podido servir ao curso noturno; entretanto, com o tempo, os gessos originais colocados em uma delas ficaram estragados pela fumaça.

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Um estabelecimento como este, que pela sua natureza deve ter as paredes de suas salas cobertas do valiosas produções das belas-artes - quadros, estátuas, baixos-relevos, projetos arquitetônicos, gravuras, litografias, etc. -, e que deve caprichar em mostrar em tudo o maior asseio e beleza, não pode estar sujeito aos inevitáveis estragos que produz a fumaça do gás da illuminação pública; julgo, pois, que a extinção do curso noturno nesta Academia seria uma medida acertada, tanto mais quanto a sua criação não passou de provisória; pois que estabeleceu apenas algumas aulas e não nomeou para elas professores especiais. Confiando-as à competência de alguns professores do curso diurno, sem serem por isso dispensados das cadeiras que regiam, ficaram estes mais sobrecarregados de serviço, sem perceberem outras vantagens por esse aumento de trabalho.

Estes professores, alguns dos quais regem, naquelas condições, há mais de vinte anos as aulas noturnas, tem sempre cumprido zelosamente os seus deveres.

A supressão do curso nocturno não impedirá a continuação da aula de modelo-vivo, indispensável aos artistas, nem a de história das belas-artes, estética e arqueologia, também de reconhecida utilidade, pois que ficarão no curso diurno, como estava estabelecido antes do Decreto de 25 de maio de 1859.

Exposição escolar. - Durante os dias 15, 16 e 17 de dezembro fez-se a exposição pública dos trabalhos escolares, que V. Ex. se dignou visitar, e foi honrada por Sua Majestade o Imperador; então teve V. Ex. ocasião de certificar-se do zelo dos professores e da assiduidade dos alunos, pelas obras expostas, algumas das quais de reconhecido merecimento, apesar da irregularidade com que foi feito o serviço, em consequência das obras de edificação do sobrado nesta Academia.

No último dia da exposição, sob a presidência de V. Ex., e perante Sua Majestade o Imperador, realizou-se a sessão publica de distribuição dos prêmios aos alunos desta Academia, exibindo os do Conservatório de Música nessa ocasião provas públicas de seu aproveitamento nas peças concertantes de bem escolhida música, que executaram debaixo da direção de seus respectivos professores.

Novos empregados. - A Lei n. 3141 de 30 de outubro de 1882 criou dois lugares de guarda nesta Academia, e foram para eles nomeados os cidadãos Francisco Maria Mafra e André Marques Nogueira. Acha-se, pois, o número dos empregados desta repartição elevado a seis, sem contar o chefe e o corpo docente; são eles: l secretário, ao mesmo tempo bibliotecário e arquivista, lugar occupado por um dos professores, que percebe por esses serviços a escassa gratificação de 75$000 mensais; l conservador da pinacoteca, que é também restaurador de quadros; l porteiro e 3 guardas, um dos quais se acha encarregado do serviço das aulas da Academia, outro do Conservatório de Música, e o terceiro cuida da biblioteca e auxilia o serviço da escrita. Não deixarei de fazer notar que a gratificação do secretário é inferior ao vencimento do porteiro, e só igual ao de cada um dos guardas.

Móveis. - A biblioteca da Academia, que tem tido algum aumento nestes últimos tempos, necessita de dois armários mais para melhor acomodação dos livros. E, terminadas as obras a que se está procedendo, será necessário comprar outros armários para conveniente arrumação do arquivo, e bem assim substituir, por outra melhor, parte da mobília atual das aulas, pois há algumas peças que, por servirem constantemente há mais de cinquenta anos, estão quase imprestáveis.

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Construção do sobrado. - As obras de levantamento do sobrado nos corpos laterais do edifício, fiscalizadas pela seção d'arquitetura, estão em regular andamento, e a sua construção tem sido feita até o presente com a maior segurança e perfeição, e com materiais só de primeira qualidade, sem que se tenham suscitado questões nem conflitos entre a dita seção d'arquitetura e o empreiteiro das obras, o qual se esmera em corresponder à honrosa confiança nele depositada.

Infelizmente têm aparecido algumas obras com que se não contava, e por isso não foram contempladas no orçamento de 218:625$050, feito pela seção d'arquitetura e aprovado pelo Governo; é assim que foi necessário afastar da parede dos fundos da Academia pequenas edificações no pátio do Tesouro, que impediam a iluminação e ventilação de algumas salas do pavimento térreo, privadas agora das clarabóias que as iluminavam, pela construção do sobrado; e bem assim a demolição e reconstrução da referida parede dos fundos, em uma extensão de mais de cinquenta metros, por não ter ela a espessura indicada na antiga planta de Grandjean de Montigny, que presidira a sua edificação e pela qual se guiara a seção d'arquitetura no seu orçamento: esta parede, contra o que estava indicado naquela planta, achou-se com menos de cerca de 33 centímetros em sua espessura, e por isso, e pela má qualidade da argamassa com que fora feita (como se verificou na demolição), não podia suportar a carga das galerias laterais a construir.

Espero, porém, que esses acréscimos, e os mais que possam aparecer durante a execução da obra, não elevarão a despesa total além de 5% sobre o orçamento feito.

Conto que até o fim do corrente ano estarão terminadas todas as obras, e então se fará a exposição geral das belas-artes, que por motivo delas não se tem podido efetuar.

Disciplina escolar. - É sempre grato ao chefe de um estabelecimento de instrução, dando contas ao Governo Imperial, poder dizer, como agora o faço, que seus educandos portaram-se em geral de um modo louvável. Com a mesma satisfação acrescentarei que os empregados cumpriram o seu dever, e o corpo docente conservou-se digno da sua missão.

[...]

Rio de janeiro, 26 de abril de 1883

Antonio Nicolao Tolentino