Revista do Brasil (1916-1918) - Artigos e Críticas de Arte
transcrição de Marcelo Augustinho Paulo
VALLE, Arthur (org.). Revista do Brasil (1916-1918) - Artigos e Críticas de Arte. 19&20, Rio de Janeiro, v. IV, n.2, abr. 2009. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/revista_brasil.htm>.
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N. Resenha do Mês. Belas Artes, Revista do Brasil, São Paulo, ano I, fev. 1916, n. 2, p.p.205-206 [Texto com grafia atualizada].
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PINTURA
Dentre os pintores estrangeiros que deram ao Brasil a sua preciosa colaboração artística, o nome de Thomas Driendl deverá ser lembrado com carinho. O simpático pintor alemão que acaba de falecer aos 68 anos, no seu retiro de Boa Viagem, Niterói, passou no Brasil grande parte da sua vida, aqui constituiu família e produziu a maior parte de sua obra artística.
Nasceu em Munique em abril de 1849 e foi educado pelos jesuítas de Lanterach, na Baviera, para seguir a carreira comercial. Mas, a sua vocação para a pintura era irresistível; a pinacoteca de Munique era a sua maior atração e ali passava a copiar quadros e desenhos, até entrou para a Academia.
Veio para o Brasil em 1879 e logo depois expôs no Rio seu quadro “Cena de família na Baviera” - que foi vendido na galeria Ferreira de Araújo, por 1.8000$000, e hoje pertence à galeria da viúva do conde Pinto.
De Munique também trouxe outro quadro de gênero - “Uma dama do tempo de Luiz XV, lendo uma carta”, que está com o Sr. João Pinto Vieira.
No Rio, Thomas Driendl em pintura deixou os seguintes trabalhos: restauração do teto da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência; restauração da antiga Capela Imperial; dois retratos do falecido conselheiro Ferreira Vianna, um no consistório da Igreja da Candelária (que talvez esteja estragado) e outro corpo inteiro, na Ordem Terceira de São Francisco da Penitência; uma Nossa Senhora, que pertenceu ao conselheiro Ferreira Vianna; outro retrato do Dr. Ferreira Vianna, que pertence ao Dr. Pires Brandão; retrato do Dr. Joaquim Murtinho, corpo inteiro, que pertence a família desse falecido estadista; retrato da senhora D. Isabel, condessa d’Eu, que se achava com o conselheiro José Bento de Araújo; retrato do Sr. Conselheiro Rodrigues Alves, no Palácio do governo da cidade de Fortaleza; retrato do falecido Comendador Laranja; retrato de uma filha do Conde de Pinho; retrato do Sr. Dr. Nilo Peçanha no edifício do Tesouro e retrato do Sr. Conselheiro Dr. José Carlos Rodrigues. Além destes, deixou mais os seguintes quadros do gênero: “O ourives” que fazia parte da coleção do falecido Visconde de Antunes Braga; “Depois da Procissão”, pertencente ao Sr. Gomes Brandão; “Caçador infeliz”, que foi adquirido quando exposto pelo falecido Sr. Augusto Weguelin, sem contar diversas cabeças de expressão.
Era muito apreciado como retratista, pela sua faculdade de produzir a feição espiritual dos seus modelos.
Driendl era também arquiteto, e alguns prédios do Rio, foram construídos sob sua direção. Não lhe era estranha a escultura, tendo trabalhado por algum tempo na Faculdade de Medicina como modelador de cera de peças anatômicas.
Thomas Driendl, pintor notável, era um artista de grande sinceridade, não só na sua obra, como nas relações com os outros artistas, aos quais não regateava elogios, quando eles os mereciam. Assim procedeu com Belmiro de Almeida, Henrique Bernardelli, Eliseu Visconti, João Batista da Costa, Latour e Raul Paderneiras, cuja feição caracteristicamente nacional lhe era muito simpática.