Coleções de pintura e de fotografia em ateliês - Comentários
publicados nos periódicos do século XIX
Maria
Antonia Couto da Silva
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1. Neste
artigo, gostaria de comentar sobre coleções de pinturas e de fotografias
descritas em artigos de periódicos do século XIX, mencionadas em visitas a
ateliês, “em estado de preparação, como em um laboratório.”[1] Os amadores, críticos de arte e
escritores, próximos aos artistas, costumavam descrever nos jornais da época os
ateliês de pintores, escultores e fotógrafos, bem como as obras reunidas no
local. Enquanto apreciavam obras recém-terminadas e outras ainda não
acabadas, podiam, de certa forma, argumentar sobre o processo criativo e também sobre uma espécie de coleção de obras que só
existiria e só poderia ser apreciada em um curto intervalo de tempo.
2. Na
pintura do final do século XIX no Brasil, poucas obras trazem representações do
pintor em seu ateliê. Por outro lado, na imprensa da época, os ateliês de
artistas foram objeto de vários artigos, principalmente nas duas últimas
décadas do século XIX, quando se intensificaram as exposições em locais
alternativos, como galerias e também estúdios de pintores e de fotógrafos, fora
do ambiente da Academia de Belas Artes. Articulistas, críticos de arte e também
literatos trataram em seus textos da descrição dos ateliês e, principalmente,
comentaram as obras mais recentes dos pintores que visitaram, contribuindo para
a construção da imagem do artista. Os locais também foram associados à
comercialização de obras de arte e se tornaram ponto de encontro de artistas e
intelectuais.
3. Sobre
o tema, gostaria de comentar um artigo que descreve o ateliê de Rodolfo
Amoedo e outros que mencionam ateliês de fotógrafos, onde era possível
apreciar a produção recente em retratos e paisagens. Os textos correspondem a
uma literatura sobre a descrição de ateliês e, ao mesmo tempo, comentam de
forma interessante sobre as obras ali reunidas.
4. A Gazeta de Notícias publicou, em 1888, um
artigo no qual o autor procura, por meio da descrição do ateliê de Amoedo,
traçar uma espécie de retrato moral do artista. O autor menciona uma abordagem freqüente na época, que associa a personalidade de um
intelectual ou artista ao aspecto do gabinete de trabalho. Na opinião do
articulista, seria possível definir um espírito ou um temperamento observando
5.
A ordem, o sistema, o gosto no arranjo
mantido, a regularidade do luxo da mobília, na simplicidade discreta; a
promiscuidade turbulenta de um caráter de imprevisto e inconstância,
especificada pelo descuido geral de colocação dos objetos, pela incoerência da
escolha dos livros, estantes e teorias desmanteladas e incompletas, pelo
capricho a esmo do bibelot, que é a arte do disparate
decorativo.[2]
6. Nos
ateliês de artistas, era possível observar também “os projetos, as tentativas,
as intenções anotadas, compendiadas no tempo, as antigas, mais apagadas; as
recentes vivas,” levando em conta que “ali estão os estudos perdidos, os
aproveitados, os abandonados, recordações, saudades, desânimos...”[3]
O autor revela o interesse e certa emoção em visitar ateliês, onde algumas
vezes encontra-se o último painel concluído e o artista retocando os últimos
efeitos, onde era possível presenciar a conclusão de um projeto, uma ideia
acabada, o vigor da representação.
7. No
ateliê de Amoedo, de maneira diversa de outros relatos que enumeram coleções de
obras acabadas, afirma ter encontrado apenas esboços:
8.
Uma tela de dois metros, onde deve haver
um dia uma festa de crianças numa sala de luxo. A mais velha ao piano,
graciosamente voltada; o irmão pequeno sentado no tapete agride um tambor,
divertido com o estardalhaço; duas outras irmãs preparam-se para rir do
desordeiro, encapelando-o num enorme chapéu de gazeta... As figuras mal
aparecem.
9.
Outro esboço é um quadro de meditação
religiosa. Cristo em oração, curvado, fervoroso, no momento amargurado do
horto. A figura é estampada em perfil escuro sobre o céu; no céu triste
devasta-se a púrpura do crepúsculo, como um agouro da Paixão iminente.[4]
10. O
trecho seguinte é ainda mais interessante, porque nele o autor evocou também a
memória da paleta de cores utilizada pelo artista em obras já expostas e
conhecidas do público:
11.
As paredes estão cobertas de telas
utilizadas ou condenadas.
12.
Uma belíssima composição de nu feminino,
nudez morena, apenas púbere, espreguiçando-se sobre cetim cor de rosa. Junto do
leito, uma ventarola de palha lembrando a temperatura sensual da hora. Estudos
rápidos de paisagem. Reconhecem-se as cores ensaiadas da Marabá, o áspero verde
sombrio da solidão e a pele sadia, quente da índia, tonificada no ar livre; as
cores do Estudo, cores que dormem, brandas na encarnação da figura, na
tapeçaria em roda; as cores do Cristo em Cafarnaum, ofuscadas pelo esplendor da
divina presença, as cores idiliais de Daphinis e Chloe, da Narração [....] [5]
13. Devemos
observar como foram destacadas em várias obras a paleta do artista, com cores
muito elaboradas. O autor exaltou também o ateliê como o ambiente no qual o
crítico de arte teria a oportunidade de observar várias obras reunidas de um
mesmo autor, concluídas ou não, e inclusive de analisar a maneira de elaboração
das mesmas.
14. O
autor, que assinou como R., seria, segundo os estudiosos de literatura, o
escritor Raul Pompeia, autor da coluna Pandora do jornal Gazeta de
Notícias. O escritor redigiu poucos textos no campo das artes. Entretanto,
integrou um círculo de artistas e intelectuais ligado à redação do jornal, participando
também do grupo ligado ao Centro Artístico (1893-1899). A instituição, que
defendia a “arte nacional”, reuniu professores do Instituto Nacional de Música
e da Escola Nacional de Belas Artes. O Centro Artístico reuniu nomes como Artur
Azevedo na Comissão de Teatro, e vários intelectuais ligados à Gazeta de Notícias, como Ferreira de
Araújo, seu fundador; os artistas Henrique
Bernardelli, Rodolfo Amoedo, Angelo Agostini, Rodolfo
Bernardelli e os escritores Araripe Júnior e Coelho Netto.[6]
15. Considero
o comentário de Pompéia interessante pela abordagem psicológica do ambiente do
ateliê e também por evocar a memória das cores
empregadas pelo artista, em uma época em que o acesso às obras de arte e às
reproduções era restrito. O texto de Raul Pompéia é interessante ainda por ser
de um autor pouco conhecido no campo das artes e pela forma como foi
construído, evocando um conjunto de obras reunidas apenas momentaneamente.
16. As
descrições de ateliês de artistas, campo de investigações recentes por parte
dos pesquisadores, representavam para os articulistas e críticos de arte uma
oportunidade de analisar obras em andamento, acabadas ou não, e de elaborar um
comentário elaborado sobre um conjunto de obras fora do contexto das exposições
da Academia.
17. Um
dado interessante é que também os fotógrafos expunham retratos realizados e
pelo menos Juan Gutierrez (1859-1897) mereceu um comentário publicado
na Revista Ilustrada. Considerado um
dos melhores fotógrafos de seu tempo, o autor do breve texto elogiou a
naturalidade dos seus retratos e comentou que vários destes estavam expostos em
seu estúdio: retratos quase todos de jornalistas e homens de letras conhecidos.
O articulista elogiou a produção de Gutierrez: “[...] uma disposição magnífica
de luz e de sombra,” concluindo que ele estaria destinado a ser “o retratista
da moda”, a ter o ateliê constantemente frequentado pelas pessoas elegantes da
sociedade.[7]
18. O
autor do texto, assinado como Nemrod, seria o
escritor Olavo Bilac, que redigiu uma série de artigos sobre artes e
colaborava frequentemente com poemas publicados na Revista Ilustrada. Juan Gutierrez foi retratista e paisagista e,
segundo estudiosos, sua contribuição mais importante foi a documentação da Revolta da Armada, ocorrida na Baía de
Guanabara entre 1893 e 1894. Sobre o fotógrafo Gutierrez, gostaria de mencionar
ainda um texto de Artur Azevedo, datado de 1894, que comentou:
19.
Não perderá o seu tempo quem for ao estabelecimento
fotográfico do Gutierrez, na rua Gonçalves Dias, apreciar a interessante
coleção, que ali se acha exposta, de fotografias de grandes dimensões,
representando a fortaleza de Vilegagnon e suas
dependências, tal qual se acham atualmente.[8]
20. Azevedo
elogiou as fotografias pelo discernimento artístico e, ao mesmo tempo,
reconheceu nelas valor histórico incalculável. Na imprensa do final do século
XIX no Brasil, são raros os comentários sobre fotógrafos, o que reforça a
importância do texto de Azevedo. Em uma associação entre Gutierrez e
Artur Azevedo, gostaria de analisar, em especial, a revista O Álbum, publicada entre 1893 e 1894.
Dirigida por Azevedo, a revista teve vários colaboradores ligados ao grupo de
intelectuais atuantes nos jornais O Paiz e Gazeta de
Notícias, entre eles Olavo Bilac, e fototipias da Companhia Fotográfica
Brasileira, de João Gutierrez. Cada número traria um retrato, constituindo ao
final uma galeria. No texto do número inicial, Azevedo comentou: “A fotografia
matou a gravura desde que se conseguiu imprimi-la em grandes tiragens,
dando-lhe ao mesmo tempo uma inalterabilidade indiscutível. A fototipia é, como
se vê, o triunfante processo dos nossos retratos, que não hesitamos em
recomendar como verdadeiros modelos do gênero.”[9]
21. Aqui
está implícita também a ideia da coleção de imagens que poderia ser feita pelo
público assinante. O título da publicação remete às coleções de fotografias,
tão frequentes na época. Entre os retratos, treze são de políticos, oito de
músicos e ou compositores, seis de atores, três são de jornalistas, entre
outros. Entre os retratos podemos destacar aqueles de Carlos Gomes [Figura 1], Machado de Assis [Figura 2], Ismenia dos Santos (atriz teatral) [Figura 3],
Assis Pacheco (músico), Arthur Napoleão (músico), e Aluísio de Azevedo.
22. Pouco
se sabe sobre o fotógrafo Juan Gutierrez. Na coleção Ermakoff,
estão presentes setenta e cinco fotografias, em sua maioria paisagens do Rio de
Janeiro. As fotografias presentes na Coleção Brasiliana Fotográfica, da
Biblioteca Nacional, também são paisagens. A sua produção de retratos é,
portanto, pouco conhecida. Acredito que o estudo da publicação O Álbum, assim como outros periódicos do
período, poderá ampliar o conhecimento sobre o assunto.
23. Ao
tratar de fotógrafos no século XIX e coleções de fotografias em ateliês, saindo
do ambiente artístico do Rio de Janeiro, gostaria de comentar, ainda que
brevemente, sobre o fotógrafo Militão Augusto de Azevedo. Ele
tornou-se conhecido pela documentação fotográfica de São Paulo, a partir da
década de 1860. Boa parte da produção do fotógrafo consistiu na documentação
das mudanças urbanas na cidade, realizada em 1862 e novamente em 1887, em fotos
nas quais o fotógrafo procurou retomar os mesmos ângulos registrados
anteriormente.
24. Um
dado interessante é a coleção de fotografias que era apresentada no ateliê do
fotógrafo Militão, em São Paulo. Após deixar as
atividades como fotógrafo, consciente do papel histórico de sua produção, Militão procurou preservar a memória de sua imensa coleção
de retratos. Elaborou uma lista de mais de quinhentas pessoas fotografadas
entre 1865 e 1885. O manuscrito intitulado “Índice das fotografias de antigos
paulistas” era acompanhado de um anexo, o “Maço de clichês,” uma relação de
negativos organizada pelo fotógrafo. Como nota Íris Araújo, o Índice permite
uma reflexão sobre sua produção fotográfica, e em alguns casos possui
comentários sobre os retratados. As fotografias foram realizadas por Militão durante seu trabalho nos ateliês Fotografia
Acadêmica (Carneiro & Gaspar) e Fotografia Americana. Ele reuniu mais de
doze mil imagens, com dados sobre os retratados, que constituem um material
muito instigante, que podia ser consultado pelos interessados. Como nota
Araújo, no verso das fotografias, Militão anunciava
que guardaria o clichê por dois anos, caso o cliente desejasse obter mais
cópias dos retratos.
25. Esse
conjunto de imagens nos permite tecer uma série de considerações de ponto de
vista sociológico e também artístico. A análise das
fotografias nos permite ampliar o conhecimento sobre os recursos empregados e a
forma de retratar pessoas de várias classes sociais. Em relação aos cenários,
por exemplo, Araújo menciona que os clientes poderiam escolher aquele que
“imitava uma sala de estar ou uma floresta tropical. Ou adornar a fotografia
com objetos como mesa, cadeiras, cortinas ou pedra artificial. Havia a opção de
ser retratado de pé, apoiando-se, talvez, em um balaústre ou um apoiador, ou
sentado (em cadeira, na mesa ou na pedra artificial).”[10]
26. Os
retratos, em sua maior parte, são sóbrios, raramente mais descontraídos, e um
pouco teatrais. As anotações que acompanhavam os clichês traziam nome, idade
dos retratados, profissão, abrangendo personalidades de famílias abastadas,
como Eduardo Prado, e o primeiro vendedor de jornais da cidade, o francês
Bernard Gregoire. Como nota Boris Kossoy,
os retratos de Militão “[...] denotam a visão crítica
de um fotógrafo que vai além do simples ato repetitivo de operador da câmera,
ao retratar os mais diferentes tipos humanos de uma sociedade em formação e
constituem um documentário único da paisagem urbana de São Paulo da época.”[11]
A documentação sobre o fotógrafo integra hoje o acervo do Museu Paulista da
Universidade de São Paulo
27. Procurei
discutir algumas questões relacionadas a coleções de pintura e fotografias,
através, principalmente, do levantamento de artigos publicados na imprensa. Os
artigos que descreveram ateliês e as obras ali reunidas constituem um material
importante não apenas do ponto de vista artístico, mas também social. No caso
dos fotógrafos, a ideia de expor no próprio ateliê parte dos retratos realizados
é interessante do ponto de vista da divulgação de uma certa visualidade pautada
pela fotografia. Indica também a ambição de preservar e expor a produção
fotográfica, levada adiante no projeto de preservação da memória, como no caso
do fotógrafo Militão. A reflexão expressa neste texto
insere-se em um projeto de pesquisa sobre os temas, autores e questões
artísticas debatidos nos principais periódicos do fim do século XIX e busca
colaborar para o debate sobre novas abordagens das questões artísticas no Brasil
do período.
Referências bibliográficas
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VALLE, Arthur; DAZZI, Camila; PORTELLA, Isabel;
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CEFET/RJ; DezenoveVinte, 2017. Disponível em: <http://dezenovevinte.net/800/tomo4/>.
Acesso em: 1 jun. 2018.
______________________________
[1] O texto se inseriu em
uma pesquisa de Pós-Doutorado realizada no IARTE-UFU com supervisão do Prof.
Dr. Alexander Miyoshi e bolsa PNPD-CAPES (2016-2018). Uma primeira versão do
artigo foi publicada nos Anais do VIII Seminário do Museu D. João VI / IV
Colóquio Internacional Coleções de Arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e
XX [edição digital], 08-10 novembro 2017, Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
[2] R. [Raul Pompeia].
Ateliê Amoedo. Gazeta de Notícias, n. 256, 13 de setembro de
1888, p.1.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem.
[6] ANDRADE, Débora.
Intelectuais no século XIX. In: ENGEL, Magali Gouveia (org).
Os
intelectuais e a imprensa. Rio de Janeiro, Mauad,
2015.
[7] NEMROD [Olavo Bilac]. Photographia União. Revista Illustrada,
n. 533, 26 de janeiro de 1889, p. 6.
[8] AZEVEDO, Artur.
Palestra, O Paiz, n. 2458, 4 de abril de 1894,
p. 1.
[9] A. A. [Artur Azevedo].
“Cavaco preliminar”. O Álbum, n. 1, 1893, p. 1.
[10] ARAÚJO, Iris Morais.
Versões do progresso: a modernização como tema e problema do fotógrafo Militão Augusto de Azevedo. São Paulo, Anais do Museu
Paulista, v.18, n.2, jul-dez 2010, p. 180.
[11] KOSSOY, Boris. Militão Augusto de Azevedo e a documentação
fotográfica de São Paulo (1862-1887): recuperação da cena paulistana através da
fotografia. Dissertação (Mestrado), Escola de Ciências Sociais da Fundação
de Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1978, p. 12.