Mulheres Reais - Modas e Modos no Rio de Dom João VI [1]
Larissa
Sousa de Carvalho [2]
CARVALHO, Larissa Sousa de. Mulheres
Reais - Modas e Modos no Rio de Dom João VI. 19&20, Rio de
Janeiro, v. III, n. 4, out. 2008. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/resenhas/Resenha_Mulheres_Reais.html>. [English]
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* *
1.
A
exposição “Mulheres Reais - Modas e Modos no Rio de Dom João VI” [Figura 1] realizada
na Casa França-Brasil no período de 27 de maio à 06 de
julho de 2008 foi um projeto da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro em
comemoração aos 200 anos da chegada da Corte portuguesa ao Brasil (1808-2008),
com curadoria de Cláudia Fares e Emilia Duncan e
consultoria de Julio Bandeira (historiador da arte), Raul Lody
(antropólogo) e João Braga (historiador da moda), entre outros profissionais
envolvidos no projeto .
2.
A
partir do duplo sentido atribuído a “Mulheres Reais” logo no título da exposição,
é possível perceber como o adjetivo funciona tanto para “Mulheres da Realeza”
como para “Mulheres da Realidade”, sendo fundamental destacar sua importância,
já que presente na separação dos modulos da
exposição. A esses dois soma-se um terceiro modulo - “O passado no presente” -,
evidenciando a origem da moda que ainda se mostra presente até os dias atuais,
através de releituras e criações contemporâneas.
3.
Embora
o espaço físico da instalação não seja muito amplo, foi bem aproveitado. Cabe
ressaltar, ainda, como este espaço se transforma a cada exposição realizada na
Casa França-Brasil, através, principalmente, da utilização do compensado, já
que provoca outra dinâmica ao ambiente. Assim sendo, tal alteração no interior
da edificação era percebido pela fragmentação do espaço em pequenos ambientes
que funcionavam de acordo com o intuito estabelecido pela exposição. Um exemplo
disto era a divisão entre a parte da frente das “Mulheres da Realeza” e a parte
de trás das “Mulheres da Realidade”, que se relacionava à própria organização
de um ambiente doméstico da colônia. Ademais, especificamente em relação à
utilização do compensado logo na abertura da exposição, ainda que
desfavorecesse os portadores de necessidades especiais, vale destacar o efeito
cênico atribuído às escadas de madeira, pois além de elevar o visitante a uma
posição privilegiada e ainda possibilitar uma outra
visão do espaço, também o conduzia da entrada ao módulo do primeiro módulo,
denominado “Teatro da Realeza”.
4.
Nesse
espaço, o percurso do visitante estava apenas sugerido (não era imposto por
setas ou marcações), permitindo, ao mesmo tempo, certa liberdade, mas também a
constituição de uma narrativa lógica. Assim sendo, de maneira circular, o
visitante entrava pelo módulo das Mulheres da Realeza, se dirigia para o lado
direito, conhecendo na parte dos fundos as Mulheres da Realidade e em seguida
visitava o terceiro módulo já do lado esquerdo terminando no mesmo hall em
que entrara. A música - modinha e música de câmara - era um elemento presente
em todos os ambientes, assim como, mais um fator que contribuía para a
ambientação da exposição. No entanto, os guias tinham que disputar com ela, em
alto volume, a atenção dos visitantes...
5.
Inicialmente,
o visitante se deparava com a projeção horizontal na altura dos joelhos de
imagens antigas, e, principalmente, de imagens do mar. Este mar - “Mar de
Mundos” - é a representação da comitiva portuguesa chegando ao Rio de Janeiro,
com diversas imagens do mundo que ficou para trás e do novo mundo encontrado (atualmente
Botafogo, Corcovado, Lagoa Rodrigo de Freitas etc).
Vale lembrar que esta cidade encontrada pela Corte era repleta de influências
árabes e africanas, mas com a abertura dos portos, as influências passaram a
ser européias - inglesas e francesas. Ademais, era um lugarejo fortemente
marcado pela presença da escravidão, com dois terços da população de escravos.
6.
Descendo
as escadas, começava o módulo das “Mulheres da Realeza”, sendo representado por
três rainhas: D. Maria I, D. Carlota Joaquina e D. Leopoldina, contando a
partir delas, um pouco da história, dos modos e da moda presente na época
(quase 100 anos entre o nascimento da primeira e a morte da última) em que cada
uma delas exerceu sua função em comum, o poder. Embora sejam mulheres da realeza,
os traços da figura humana como mulheres reais não foram esquecidos na
exposição, na verdade, evidenciou-se o espírito da época que se refletia na
personalidade de cada uma delas através dos figurinos criados sem a intenção de
reproduzir os trajes verdadeiros, mas sim de mostrar o que era característico a
cada uma delas - módulo segmento “Ópera da Realeza” [Figura 2].
7.
Assim
sendo, no caso da D. Maria I o figurino à direita de cor negra, se referia
diretamente a todas as perdas familiares sofridas por ela, que fizeram com que
enlouquecesse e se tornasse uma pessoa de luto e com forte carga emocional. Os
cacos de azulejos portugueses na parte inferior do vestido são referências ao
Terremoto de Lisboa de 1755 e o coração vermelho em seu peito, indica sua
devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Já o figurino à esquerda, de Carlota
Joaquina, exibia todo o exagero e eloqüência próprios da personagem, sendo
fortemente influenciado por suas raízes espanholas, cujo vestido se compunha
pela sobreposição de leques da cor bordô. Contrastando com ambos os modelos, o
figurino de D. Leopoldina era muito mais suave, leve e
em tons pastéis. Por ser muito culta e ter deixado vários escritos que narravam
seus sentimentos pessoais, seu vestido lembra rolos de pergaminhos
completamente escritos, evidenciando ainda uma outra
característica: certa fluidez na barra como se o vestido estivesse dilacerado.
Segundo os escritos deixados pela rainha, a sua alma também o estava, já que
sofria com a distância de sua família na Europa, com a falta de fidelidade de
seu marido (futuro D. Pedro I) e com a morte de seu filho.
8.
Entretanto,
além desses três figurinos criados para cada uma das rainhas, a exposição
também exibia a recriação de três trajes de D.Maria I
(lado direito), três trajes de Carlota Joaquina (lado esquerdo) e quatro trajes
de D. Leopoldina (centro), que se baseavam em retratos oficiais e em gravuras
da época, posicionados atrás de cada um dos vestidos [Figura 3]. Todavia,
esse segmeno chamado “Teatro da Realeza” - organizado
em forma de “U” ao contrário - se mostrava um pouco confuso, já que o
posicionamento desses trajes nem seguia uma ordem
cronológica das rainhas nem fazia uma possível correspondência com os figurinos
criados para cada uma das personagens. Talvez os quatro trajes de D. Leopoldina
estivessem no centro por ela ser considerada mais importante historicamente
(primeira Imperatriz) ou ainda por uma simples questão de montagem simétrica,
já que as outras duas rainhas contavam apenas com três trajes, restando para
elas, portanto, as laterais. No entanto, tal organização não deixava de
ocasionar certa desorientação ao visitante menos atento, que possivelmente
esperava que os trajes de D. Carlota Joaquina
estivessem no centro, já que esta era considerada uma “mulher entre dois
tempos”, como afirmava também os textos fixados nas paredes da exposição.
9.
Através
da recriação desses trajes foi possível proporcionar a percepção de mudanças
tanto político-econômicas, como sociais, além da própria transformação da moda,
evidenciada claramente nesses trajes que servem como testemunho de todas essas
alterações. Os trajes de D. Maria I [Figura 4], por exemplo, representam todo o luxo e
exuberância que as vestimentas poderiam alcançar nesse período, refletindo os
valores da monarquia e ratificando a medida de seu poder e de sua distinção
social. Sendo assim, o primeiro traje de D. Maria I ainda quando
jovem, já mostrava um excesso de estruturação, através do espartilho, de
armações na saia, de mangas bufantes e da pesada e
longa calda posterior (tom azul claro porque também era devota da Virgem
Maria). No segundo, D. Maria I já era rainha, exibindo, portanto, excessivas
jóias para ostentar sua riqueza e poder. Mostrava, ainda, um novo tipo de
armação na saia, denominado “paniers”, que
aumentava a saia apenas para as laterais. Outro item que também se modificou
foram as mangas, agora totalmente rendadas e em
conformidade com a moda francesa (estampas também entraram em vigor). Seu
último traje mostra claramente como as mudanças políticas eram sentidas também
pela moda, pois com a Revolução Francesa e a iminência da guilhotina, os trajes
tiveram que adquirir certa sobriedade, retornando ao panejamento
liso e a saias com pouca armação (apenas algumas almofadas davam volume à
saia).
10.
Já
D. Carlota Joaquina [Figura 5] nos é apresentada
primeiramente ainda como infanta, vestida em um modelo primaveril (tons de
rosa e azul) com forte estruturação, tanto no espartilho como na saia, pois
também adere a moda dos “paniers”.
Seu segundo traje é influência direta do modelo de Josefina Bonaparte da
França, sendo completamente desestruturado: cintura alta, caimento reto e com
calda. O último traje desta rainha evidencia ainda um de seus principais
hábitos: andar a cavalo. Logo, nos é apresentado seu traje de montaria, com
calça e mangas compridas justas (alfaiataria masculina). Além disso, como
citado anteriormente, não três, mas os quatro trajes de D. Leopoldina [Figura 6] refletem o período de simplicidade pelo qual passa, sendo
agora suavizados e marcadamente inspirados na Antiguidade clássica, na Idade
Média e também no Renascimento[3]. Deste modo, vestia-se mais
despojadamente, com saltos baixos, poucos ornamentos nas golas e mangas, com
jóias discretas e cabelos ao natural. Usava cores claras como o branco e o
amarelo, já que este último também representa a cor de sua família (Habsburgos).
11.
Um
pouco escondido à esquerda estava ainda “À mesa como convém” [Figura 7], segmento de certa maneira secundário e
irrelevante na trama da exposição, pois ainda que se relacione com os novos
modos adquiridos com a chegada da Corte, o visitante apenas olhava de uma certa distância e seguia adiante, já que não era
permitido se aproximar da mesa. Tal fator é ratificado até mesmo pelo panfleto
da exposição, visto que não faz nenhuma referência a esse segmento
especificamente.
12.
Como
último componente do módulo das “Mulheres da Realeza”, soma-se a “Caixa de
Memórias” [Figura 8], apresentando trajes e acessórios originais
(leques, chapéus, sapatos, bolsas etc), com mais de
200 anos de existência, vindos de diversos museus europeus[4]. Esse acervo enriquece certamente o
conteúdo da exposição, pois são verdadeiras provas da história, corretamente
identificadas e armazenadas. Na parede dos fundos um vídeo ainda mostra a evolução
da indumentária através dos anos.
13.
À
direita do salão principal começava o segundo módelo
da exposição - “Mulheres da Realidade” - sendo composto por três segmentos
denominados: “Modos Velados”, “Modos Desvelados” e “Modas Reveladoras”. O
primeiro dividia-se em dois momentos, primeiramente “A Casa”, evidenciando a
forte influência dos costumes orientais[5] no cenário urbano carioca, através
da utilização de grades de ripas entrecruzadas (rótula ou gelosia),
por onde a luz entrava sem que se perdesse a privacidade conferida ao interior,
conhecida pelo nome de muxarabi. Deste modo, foi recriada
ainda uma típica casa de colônia [Figura 9], mostrando em seu interior uma sala sem muito
luxo e com influência oriental igualmente em seu mobiliário e costumes. Também
é interessante destacar a performance que acontecia em
seu interior, como por exemplo, a encenação de uma “sinhazinha” vestindo seu
largo camisolão (devido ao calor), que bordava ou lia um livro com uma mucama
penteando seus cabelos ou servindo-a de outras formas. Vale notar que embora
esse tipo de encenação seja novidade nas exposições, o pacato cotidiano de
outrora não exigia grandes performances dos atores. Logo, ainda que essa
inovação seja interessante, não era marcante na experiência do espectador. Já o
segundo momento deste módulo, chamado “A Rua - Vultos Encobertos”, mostrava como essas mulheres saiam à rua, encobertas
totalmente por uma mantilha pesada e escura. É possível perceber como esta
indumentária remete as burcas árabes, não somente por sua aparência, mas por
seguirem o mesmo intuito, de guardar e proteger quem as vestia.
14.
Neste
mesmo corredor, existiam ainda dois mapas da cidade do Rio de Janeiro, um
anterior a vinda da Corte e o outro dez anos mais tarde, assim sendo, o
primeiro (1808) mostrava a cidade entre quatro morros (do Castelo e de Santo
Antônio - ambos demolidos - e também o morro de São Bento e da Conceição -
ainda existentes) e o segundo mapa (1818), apresentando diversas intervenções,
já que o Rio precisou se modernizar e, principalmente, se organizar para
abrigar cerca de 15 mil pessoas que chegaram com a
Corte portuguesa. Ainda era possível ver uma maquete que reproduzia livremente a Rua Primeiro de Março (antiga Rua Direita) e suas
importantes atividades comerciais do cotidiano.
15.
Em
seguida vinha o segundo segmento (“Modos Desvelados”), mostrando as “Negras Semidesnudas” [Figura 10], uma vez que elas eram as únicas mulheres
vistas do lado de fora das casas até o momento. Além disso, as escravas se
vestiam com trajes simples de algodão, tingidos ou não, e com roupas folgadas
para facilitar o movimento em suas atividades, já que geralmente recebiam
roupas usadas e maiores do que seu corpo, amarrando as pontas para ajustar
melhor.
16.
O
último segmento deste módulo, chamado “Modas reveladoras”, queria evidenciar as
transformações ocorridas no contato com o europeu, mostrando essa passagem da
sombra para a luz, através, principalmente, da moda e dos modos. (“A cidade
transformada” - os muxarabis são
proibidos, assim como as mantilhas caem em desuso). Assim sendo, “Brancas
emergentes” mostra como as mulheres brancas passam neste momento a copiar as
modas européias, para se mostrarem cada vez mais civilizadas, fazendo, ainda,
de suas mucamas o espelho de sua posição social em as “Negras Bonecas” [Figura 11], já que estas eram enfeitadas como simples
bonecas, segundo suas senhoras. Outros dois momentos desse segmento são “Negras
Multiculturais” e “Negras Jóias”, evidenciando como as escravas de ganho e
negras alforriadas improvisavam sua vestimenta a partir da sobreposição de
peças de roupas e pedaços de panos com cores e texturas diferentes. É mostrado em seguida, os únicos bens permitidos às
escravas, isto é, suas jóias [Figura 12]. Tal riqueza pode ser conhecida graças às
peças originais vindas do Museu Carlos Costa Pinto de Salvador, que enriquecem
o conteúdo da exposição, exibindo diversos exemplares dessas “jóias de crioula”
(tanto em ouro como em prata). Além disso, cabe observar como esses acessórios
ainda carregam uma marca muito forte das crenças africanas (muitos amuletos e
representações simbólicas de orixás), apesar de terem se somado a técnicas da
joalheria portuguesa.
17.
Finalmente
do lado esquerdo encontra-se o terceiro módulo da exposição (“O Passado no
Presente”), sendo constituído a partir de três segmentos: o primeiro, “Re-Debret”, é uma nova visão sobre a obra desse artista,
que além de exibir alguns vestidos inspirados nas aquarelas de Debret, também mostra através de um telão multimídia,
imagens da encenação desse passado a partir de mulheres contemporâneas (do
grupo Nós do Morro e anônimos) que se vestem e posam com esses trajes; já
“Desfile Antropológico” [Figura 13], busca decifrar no passado a origem das modas
que ainda hoje estão presentes entre nós, apresentando diversos figurinos
criados por estilistas contemporâneos. Estes lançam um novo olhar a essa
herança do passado e também convidam o visitante a desfilar na passarela com um
espelho ao fundo, para que ele perceba a si mesmo como partícipe de todas essas
transformações; e ainda completa com “Os Triunfos Monárquicos e as Escolas de
Samba”, que relaciona a origem dos carros alegóricos aos carros enfeitados dos
Triunfos Monárquicos (festejo tradicional das monarquias européias), realizados
quando os reis entravam nas cidades. Portanto, de acordo com o dito popular de
que “tudo no Brasil acaba em samba”, com a exposição não foi diferente, mas que
esta associação não seja encarada de modo literal e denotativo, já que a
intenção é despretensiosa, assim como, a própria licença poética empregada
neste segmento
18. Por conseguinte, para finalizar
cabe ainda ressaltar algumas considerações gerais como, por exemplo, reconhecer
a enorme pesquisa e a preocupação constante das curadoras com os mínimos
detalhes – os textos da exposição estavam pendurados por cabides, completamente
relacionados ao contexto da mesma –, além disso, a ambientação também estava de
acordo, através da decoração, da música, das projeções na cúpula do salão
principal (imagens relacionadas ao universo das rainhas) etc. Entretanto, o
planejamento poderia ser melhor em relação aos catálogos da exposição, pois uma
mostra que tem início no mês de maio, ficando aberta por quase dois meses, mas
que só prevê disponibilizar o catálogo a partir de agosto, bem depois do
término da exposição, é de certa maneira decepcionante para o visitante mais
interessado (o atraso poderia ser contornado ao viabilizar e encaminhar
previamente o que era referente a pesquisa
iconográfica e demais informações, completando, em seguida, apenas com as fotos
e imagens – já que os objetos foram construídos exclusivamente para a
exposição, sem que fosse possível fotografá-los antes mesmo de existirem). Vale
lembrar a atenção dada a publicação de panfletos,
folders e almanaques durante o período da mostra, por sinal, bastante completos
e elucidativos. Da mesma forma, a exposição também se mostrou muito coerente e
preocupada em constituir uma narrativa lógica capaz de evidenciar todos os
pontos a que se propôs.
__________________________
[1] A resenha, que agora sai publicada em 19&20,
é uma versão melhorada e ampliada do Trabalho Final apresentado para a
disciplina História da Arte no Brasil II, ministrada no 1º semestre/2008 pela Profa. Drnda. Camila Dazzi, então vinculada ao Departamento de História da Arte
do Instituto de Arte da UERJ.
[2] Larissa Sousa de Carvalho é aluna do 5º período do
Bacharelado em História da Arte da UERJ.
[3] A indumentária do século XVII é marcada pela transição
do estilo espanhol (até então predominante em vários países europeus) para o
estilo francês. É, portanto, a partir de 1650 que a França passa a liderar a
moda européia, fazendo com que os trajes rígidos, justos e encorpados da
indumentária espanhola cedessem lugar a trajes mais agradáveis e naturais. É
interessante observar que por volta da década de 1760, as escavações na Grécia
ocasionam o retorno de trajes inspirados na Antiguidade Clássica, introduzindo
deste modo, a imitação dos modelos gregos na Europa, denominados à la Grècque.
Assim sendo, no período de turbulência política gerada pela Revolução Francesa,
as influências da antiguidade passam a ser altamente valorizadas, já que tornam
os trajes mais simples e não ostensivos. No caso de D. Leopoldina, essas
influências podem ser percebidas, por exemplo, no estilo mais solto das vestes,
assim como, no “balonê” das mangas (típico de uma
releitura do Renascimento) e na utilização de renda nos decotes.
[4] Essas peças originais fazem parte da coleção do Museu
Nacional do Traje e da Moda de Lisboa, do Museo del Traje de Madri e do Wien Museum/Mode
Depot de Viena. Vale observar que a escolha dos
museus está relacionada a cidade onde cada rainha
nasceu.
[5] Mostra-se necessário um lembrete relativo a essa influência oriental aqui no Brasil. Em 711 os muçulmanos atravessaram o estreito de Gibraltar e invadiram a Península Ibérica, aproveitando as riquezas desse novo território e, principalmente, pregando sua própria religião (islamismo). Permanecendo por quase 800 anos, os mouros tiveram grande influência na população existente, deixando fortes marcas de sua cultura na região. Deste modo, após a Expansão Marítima, Portugal transmite para suas colônias resquícios dessa influência oriental, podendo ser percebido, sobretudo, no Brasil, visto que este ainda adquire costumes vindos das outras colônias portuguesas - africanas e asiáticas - principalmente com o tráfico negreiro.