Mãe Preta, de Lucílio de Albuquerque: uma obra de arte, suas
motivações e seu poder de representação *
Suzana
Alice Silva Pereira **
PEREIRA, Suzana Alice Silva. Mãe Preta,
de Lucílio de Albuquerque: uma obra de arte, suas motivações e seu poder de
representação.
19&20, Rio de Janeiro, v.
XVI, n. 2, jul.-dez. 2021. https://doi.org/10.52913/19e20.xvi2.02
* * *
1. A obra
Mãe Preta, do pintor Lucílio de
Albuquerque [Figura
1], foi apresentada ao público brasileiro em 1912, durante a 19ª
Exposição Geral de Belas Artes, que se realizou na Escola Nacional de Belas
Artes, no Rio de Janeiro, então capital da República. É uma pintura de grande
dimensão, produzida em óleo sobre tela, atualmente exposta ao público como
parte do acervo do Museu da Arte da Bahia - MAB, em Salvador.
2. Ao
longo desses 110 anos, o quadro resistiu a deslocamentos geográficos, passou
por restauração, ganhou uma cópia em pintura, inúmeras reproduções fotográficas
em meios impressos e digitais, e gerou repercussões diversas que, no conjunto,
atestam a sua capacidade de permanência e o seu poder de representação na vida
brasileira dos séculos XX e XXI.
3. Trata-se
de obra referencial sobre esta temática na pintura. São escassas as
representações da mulher negra na pintura brasileira até o início do século XX
e, dentro desse universo, é de ocorrência ainda mais rara a representação da
mãe preta, que existiu durante o Brasil Colônia e o Brasil Império, no tempo
correspondente à duração da escravidão, como mulher negra - escrava da família
ou alugada para a tarefa - responsável pelos cuidados e amamentação dos filhos
brancos do senhor.
4. As
razões para o seu represamento enquanto temática até o século XIX e, sobretudo,
as motivações para o deslocamento temporal da sua representação pictórica para
além da Abolição, o seu afloramento no início do século XX, constituem a
questão central a ser explorada neste artigo, sob uma abordagem que busca
identificar e compreender a dinâmica das relações de gênero, raça e classe no
Brasil.
A obra
5. Mãe
Preta apresenta uma cena, a amamentação, com três figuras humanas:
uma mulher negra, jovem, esguia e forte, trajando saia longa rodada e blusa
decotada, tendo ao seio uma criança branca, e à sua frente, no chão, sobre um
pano ou pele de animal, uma criança negra. Os dois meninos, ambos trajando
somente camisa, aparentam ter a mesma idade.
6. O
ambiente, que ocupa quase 2/3 da tela, é desprovido de móveis ou decoração,
composto unicamente pelo assoalho e paredes, tendo ao fundo uma porta. A cena,
num cômodo semiobscuro, recebe iluminação externa e é
colorida em tons terrosos amarelados, róseos e brancos.
7. Os
efeitos de luz, as vibrações cromáticas e as manchas de cor prevalecendo sobre
o desenho, sem preocupação com a nitidez do contorno, revelam as influências
dos contatos que o pintor estabeleceu com a pintura impressionista durante a
temporada de estudos que realizou na Europa, entre 1906 e 1911.
8. O
artista representou a figura da mãe preta no momento da amamentação do filho do
senhor, compondo, na construção desse momento, um triângulo visual em que o
próprio filho se encontra excluído, localizado abaixo do vértice direito na
tela.
9. Os
registros históricos apontam que, muitas vezes, a mãe preta ou ama-de-leite era
obrigada a se separar ou mesmo renunciar ao filho para assegurar a amamentação,
exclusivamente, do filho do senhor.[1] Em
vez da ausência, Lucílio optou por reunir os três na composição, porém
enfatizando o afastamento entre mãe e filho.
10. Assim,
a mulher e a criança branca ocupam a metade esquerda do quadro, enquanto o
filho biológico ocupa a metade inferior direita. Entre eles, o artista inseriu
uma coluna, bem iluminada, demarcando a separação, motivada pela
renúncia/abandono compulsórios.
11. Na
criação do rosto da personagem que dá título ao quadro, em vez de uma
exuberante beleza negra ele optou por um rosto comum, anguloso, marcado por
cicatrizes que tomam parte da face direita, e cabelos curtos, quase rentes. O
olhar triste, direcionado para o filho, abaixo, constitui o ponto dramático do
quadro.
12. A
veste é singela - blusa e saia de tecido sem adornos ou detalhes. Ela própria
também não ostenta qualquer adorno no colo, nos braços, cabelos ou orelhas. É
apresentada na posição sentada - não sobre uma cadeira ou poltrona, mas
diretamente sobre o chão. E está descalça, com o pé direito exposto, em
primeiro plano. Como é sabido, usar sapatos, na época da escravidão, era
“privilégio e marca distintiva dos livres e libertos” (ALENCASTRO, 1997, p.
18).
13. Dessa
forma, Lucílio caracteriza a condição humilde da mulher no exercício da função
de criada, exposta a uma situação cruel, imposta pelo regime da escravidão.
Mas, se registra a humilhação e o sofrimento da separação, expressos na
tristeza do olhar, o artista recorre a efeitos expansivos para criar o
contraste: confere luminosidade à figura, recobrindo-a no busto com um branco
imaculado, irradiante, e, em complemento à blusa alva, espalha uma quase nuvem
rosa sobre o restante do corpo, configurando a saia.
14. A
mortificação no olhar, destacando e conferindo nobreza ao sofrimento materno, e
os recursos utilizados para iluminar a figura principal, sugerem que a obra
incorpora, a um só tempo, o caráter de denúncia e de homenagem.
15. Efetivamente,
naquele início do século XX, Mãe Preta quebrou com a estética que até então
apresentava a ama-de-leite na pintura, ao incluir (ou não excluir) o filho
biológico na composição, e ao introduzir a nota de sofrimento, em contraste com
a atmosfera de harmonia e bem-estar das representações anteriores.
Repercussões
16. Quatro
anos depois da estreia no Rio, Mãe Preta foi levada ao público de São
Paulo em 1916, na exposição conjunta de Lucílio de Albuquerque e da pintora Georgina
Albuquerque, sua mulher[2]. A Revista
do Brasil, periódico paulista então dirigido por Monteiro
Lobato, registrou, na resenha sobre pintura de março daquele ano, que a
tela foi uma das duas mais apreciadas da exposição do casal, e vaticinou que “é
um quadro de museu.” A obra mereceu o único registro visual da resenha, e
rendeu elogios aos méritos do artista, com as impressões muito particulares do
autor do texto:
17.
Nesta scena,
perfeitamente natural, quase um aspecto trivial da nossa vida, soube Lucilio pôr uma tal simplicidade de execução, “num quadro
simbólico da dedicação da raça negra, na feliz evocação do tocante sacrifício
das nossas “mamans-pretas”, cujo afeto materno
conseguia dividir-se entre o filho do branco e a sua criatura. (REVISTA,
1916, p. 333-337).
18. Em
1920, a tela aparece numa fotografia da família Albuquerque, sem moldura,
fixada na parede do ateliê, na residência do casal no Rio de Janeiro [Figura 2]. Na
imagem, Georgina está junto à filha mais velha e ao filho caçula, e à frente de
Mãe Preta. Embora a artista e os filhos se posicionem sobre a parte
inferior do quadro, a parte visível da tela na fotografia permite identificar
nitidamente a cena da amamentação.
19. A
imagem foi a terceira de uma sequência de três fotografias produzidas por/para Moysés Nogueira da Silva, em que Georgina aparece com a
família no ateliê, tendo ao fundo obras que evocam a maternidade, conforme
registrado no estudo de Manuela Henrique Nogueira (2017, p. 153-160).
20. Em
abril de 1921, Lucílio obtém do Museu Nacional permissão para abrigar Mãe
Preta na ampla sede da Quinta da Boa Vista. O acerto evoluiu para uma
proposta de aquisição, conforme revela a correspondência particular do artista
(PORTAL). O então diretor do museu, Bruno Lobo, responde ao “professor” -
Lucílio era então catedrático na Escola Nacional de Belas Artes -
transmitindo-lhe o parecer do então chefe da Seção de Antropologia e
Etnografia, Roquette Pinto:
21.
Trata-se de um quadro digno de um Museu Historico, mas nenhum caracteristico
anthropologico ou ethnographico
accentuado possue, ao contrario de todos os que o Museu
Nacional tem adquirido. Creio mesmo que o Museu lucraria mais encomendando,
pelo mesmo preço, ao illustre pintor, uma ou mais,
telas de caracter definitivamente anthropologico
ou ethnographico referente a raça negra e sua influencia no Brasil. (MUSEU,
1921)
22. Em
1924, seria a vez de o público baiano conhecer Mãe Preta, incluída por Lucílio
e Georgina na seleção de 48 obras expostas na Biblioteca Pública do Estado da
Bahia, então funcionando numa ala do Palácio do Governo, na Praça Municipal, em
Salvador. A exposição do casal, prestigiada pelo então governador Góes Calmon,
entre outras personalidades, obteve ampla repercussão nos jornais locais, que
saudaram particularmente a tela de 1912 entre os trabalhos “importantíssimos:”
“Admirável tela, genuinamente nacional”, comentou o jornal A Tarde (27
set. 1924, p.1).[3]
23. Na
ocasião o governador adquiriu pessoalmente duas obras - Paysagem,
de Georgina, e Velhas mangueiras, de Lucílio -, conforme registrado em A
Tarde (30 set. 1924, p. 3). Na tabela de preços do catálogo da exposição [Figura 3a e Figura 3b],
vê-se que, entre todos os quadros, Mãe Preta era o de valor mais elevado:
9:000$ em moeda da época (o mil réis, ou conto de
réis).
24. Não se
sabe sobre os resultados financeiros da exposição, mas a biografia do pintor
preparada para o Museu Lucílio de Albuquerque, que Georgina tentou viabilizar
após a morte dele,[4]
registra que do ponto de vista artístico a ida a Salvador foi exitosa: “O ano
de 1924 foi fundamental em sua trajetória, pois sua estadia na Bahia,
acompanhada de uma exposição, marcou uma transformação na sua técnica
artística. A estadia neste local marca uma fase de evolução transformadora de
sua arte e técnica de pintura.” (PORTAL)
25. A nova
fase do artista se traduziu na obra Rua da Bahia, exposta no Salão
Internacional de Los Angeles (EUA) em 1926. Nesse ano, no Rio de Janeiro, o
jornal A Notícia deflagrava uma campanha para a criação de um monumento
à Mãe Preta, com o propósito de marcar a contribuição dos negros à sociedade
brasileira e afirmar a ideia de fraternidade racial. A iniciativa, que
repercutiu e conquistou apoios entre negros e brancos, utilizou a obra de
Lucílio como ilustração (ALBERTO, 2017, p. 108 e 202).
26. Três
anos depois, em Salvador, Mãe Preta estaria no centro dos acontecimentos
que marcaram a vida da cidade naquele 28 de setembro de 1929, quando foi
instituído na Bahia o Dia da Mãe Preta, na data em que se completaram 58
anos da promulgação da Lei do Ventre Livre (Lei nº 2.040, de 28 de setembro de
1871), que declarou livres os filhos de mulheres escravas nascidos no Brasil
desde então.
27. A
programação foi ampla, se estendendo desde a madrugada, com alvorada de salva
de tiros, até a tarde, com Te Deum na Catedral Basílica seguido de
“romaria cívica.” Incluiu sermão, orquestra, hino, poesias e discursos, com a
participação do então governador, Vital Soares, além de prefeito, secretários,
vereadores, representantes do clero, de associações de classe, professores e
alunos de escolas públicas.
28. Especialmente
para aquela ocasião, conforme noticiaram os jornais,[5] o
pintor baiano Presciliano Silva produziu uma
cópia do quadro de Lucílio [Figura 4]. Na véspera, a obra ficou exposta na loja Duas
Américas, de onde foi transferida à noite para a catedral. No dia seguinte,
após o ato religioso, foi conduzida à frente do cortejo cívico pelas ruas, ao
lado de quadros retratando abolicionistas como Castro Alves, Visconde do Rio
Branco, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e a Princesa Isabel [Figura 5].
29. O
cortejo fez paradas na praça Castro Alves, para homenagens ao poeta
abolicionista, e no Largo de São Pedro, junto à estátua do Barão do Rio Branco,
para homenagens ao pai, o baiano José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio
Branco, autor da Lei do Ventre Livre. Daí seguiu até o Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia - IGHB, onde o governo baiano fez a doação de
Mãe Preta.[6]
Supõe-se que, para aquele momento, não foi possível, por alguma razão, dispor
da obra original de Lucílio. Apelou-se então ao recurso da cópia – prática não
característica da produção de Presciliano Silva.
Um
símbolo entre visões
30. A
despeito da ampla e destacada cobertura, o noticiário local se limitou a
noticiar factualmente o evento de Salvador, sem abordagem que permitisse
aprofundar o significado da iniciativa, inclusive sem mesmo contemplar as falas
e propostas das lideranças negras responsáveis.
31. O
evento fora articulado por líderes negros ligados ao Centro Operário, tendo à
frente Ascendino Bispo dos Anjos. Essas lideranças
mantinham ligação com os intelectuais negros paulistas, que sustentavam uma
ativa imprensa negra em São Paulo. Mais especificamente, eram ligados aos
editores do jornal O Clarim d´Alvorada, que em 1928 haviam lançado na
capital paulista a ideia do Dia da Mãe Preta, apelando a ativistas negros e à
imprensa de todo o país para que aderissem àquela homenagem à raça negra,
simbolizada na “figura amoravel e dolorosa da Mãe
Preta.”
32. As
homenagens do Dia da Mãe Preta em Salvador em 1929 foram “imponentes,” como
definido por um jornal local, e sua importância foi reconhecida pela imprensa
negra paulista, como atestou O Clarim d´Alvorada em título de edição
posterior: “A Bahia assistiu no dia 28 de setembro uma manifestação inédita no
Brasil” (A BAHIA).[7] O
texto fala de “grandiosa manifestação” e “jornada cívica e memorável.”
33. Embora
tenha sido um passo importante naquele momento histórico, o feriado na Bahia
teve caráter muito mais reverencial do que reivindicatório, como se pode notar
no tom geral do evento e nas narrativas da imprensa, como a seguinte, de “um
dos importantes organs da imprensa bahiana”, reproduzida em O Clarim:
34.
Toda a Bahia, sem
distinção de classe, celebrou, sabbado, com grandes
festas, o epilogo dos soffrimentos da raça negra plasmadora da nossa nacionalidade, que teve na abolição dos
escravos, o grito da sua independencia e o echo da victoria definitiva da
raça.
35. Como
registrado na pesquisa de Paulina L. Alberto (2011) sobre intelectuais negros
brasileiros no século XX, a imagem da Mãe Preta passou a ser utilizada a partir
da década de 1920 como símbolo da mãe de todos os brasileiros, para invocar a
fraternidade racial, em oposição ao racismo e às ideologias de branqueamento, e
para afirmar a contribuição negra num momento em que era expressiva a imigração
de trabalhadores brancos europeus.
36. As mobilizações
se concentraram no Rio de Janeiro, que deflagrou a campanha por um Monumento à
Mãe Preta em 1926, e em São Paulo, que propôs a criação de um feriado, o Dia da
Mãe Preta, em 1928. Havia convergência de propósitos, porém com significativas
diferenças de visão quanto às projeções do símbolo.
37. No
Rio, onde a população afrodescendente era bem maior que em São Paulo, a ação
partiu de um jornalista branco, Cândido de Campos, editor de A Notícia,
e trazia implícita um pacto: “Colocaria uma mulher negra no centro simbólico da
nação brasileira, mas em troca desse ato de tolerância e generosidade os
proponentes brancos da homenagem esperavam gratidão, perdão e conformidade dos
negros.” O monumento, portanto, passaria a ser uma prova definitiva da ausência
de preconceito: “Essa visão de fraternidade racial como fato consumado deixava
pouco espaço para reclamações eficazes contra a discriminação” (ALBERTO, 2017,
p. 114).
38. Já em
São Paulo, a mobilização partiu da própria imprensa negra, tendo à frente José
Correia Leite, editor de O Clarim d´Alvorada. Vinculado desde a origem
ao ativismo racial, o jornal estabeleceu as diferenças de visão em relação à
proposta do Rio: comungava da ideia de fraternidade racial, porém inserindo a
distinção racial e a alusão ao sofrimento do passado como reivindicação para
inclusão na vida nacional.
39. O
governo da Bahia adquiriu a obra Mãe Preta em 1925 (ano seguinte à exposição do
casal em Salvador) conforme registrado na ficha catalográfica do Museu Lucílio
de Albuquerque (MÃE PRETA, ver IMAGEM), que informa também o valor (avaliação)
atribuído então à obra: Cr$ 200:000,00, em moeda da época (o cruzeiro, o que
indica ser o documento posterior a 1942). Em 1931, a
obra original de Lucílio dava entrada no Museu de Arte da Bahia,[8] em
cujo acervo se encontra até hoje. Ali foi restaurada em 1994.[9]
40. Em
1971, quando se rememorou no país o centenário da promulgação da Lei do Ventre
Livre, a Mãe Preta de Lucílio foi escolhida para ilustrar a homenagem
prestada pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT: um selo
comemorativo da data, que passou a compor o acervo de filatelia brasileira dos
Correios [Figura
6].
41. Recentemente,
a tela foi citada em duas publicações de universidades norte-americanas, em razão
da presença no Dia da Mãe Preta de 1929 em Salvador: Terms
of Inclusion - Black Intellectuals in Twentieth-Century
Brazil, da historiadora Paulina L. Alberto,
publicada em 2011 pela Universidade da Carolina do Norte (ALBERTO, 2011, p.
144)[10] e Progressive Mothers, Better Babies, da historiadora Ozeki
T. Otovo, lançada em 2016 pela Universidade do Texas
(OTOVO, 2016, p. 71).
Motivações
42. Considerando
a data em que foi criada, uma pergunta emerge da contemplação da tela de
Lucílio de Albuquerque: o que levou o artista a criar a obra em 1912, mais de
duas décadas após a abolição da escravatura e da proclamação
da República, já em outro contexto sociopolítico, com diferentes formas
de governo e de regime de trabalho, em um outro contexto cultural?
43. A
indagação remete a uma questão anterior: a sub-representação da Mãe Preta na
pintura do século XIX, os poucos registros pictóricos dessa figura que
concentra em si uma alta carga dramática, simbolizando valores como doação,
sofrimento e resiliência.
44. Como
sabido, a pintura acadêmica que vigorou no XIX não privilegiou os temas
sociais, encontrando na escravidão um obstáculo efetivo à construção de
iconografias exemplares, instrutivas, que funcionassem como ideais, conforme
recomendava o programa então adotado.
45. No
ensaio que denominou A forma difícil, o crítico e historiador de arte
Rodrigo Naves aborda, entre outras questões, a dificuldade do artista francês Jean-Baptiste
Debret em aplicar no Brasil a fórmula neoclássica, com seu ideário
edificante. “Decididamente, a existência da escravidão impedia de vez qualquer
tentativa de transpor com verdade a forma neoclássica para o Brasil,” conclui,
perguntando: “Onde encontrar virtudes exemplares numa sociedade toda assentada
no trabalho escravo, a não ser por meio de um inaceitável falseamento?” (NAVES,
1997, p. 71).
46. Para
efeito de comparação, observe-se, em relação à Mãe Preta de Lucílio, uma
pintura do século XIX de autor desconhecido [Figura 7],
integrante do acervo do Museu Imperial, localizado em Petrópolis (RJ). O pintor
de Mucama com criança ao colo retratou-a com o filho do senhor numa cena
idílica que transmite completude, harmonia e beleza, emoldurada por uma
natureza exuberante.
47. Durante
muito tempo, se cogitou que a criança seria D. Pedro II. Em 1977 um
esclarecimento formal foi encaminhado à direção do museu, para afastar
equívocos. Trata-se de uma imagem da denominada “civilização do café
fluminense”: a criança, Nhozinho (diminutivo de “senhor”, abreviatura de
“senhorzinho”) é Luis Pereira de Carvalho e a mucama,
Catarina, “lhe foi dada por sua madrinha, D. Maria Isabel de Jesus Vieira, mãe
do Barão da Aliança.” Ambas as famílias, do afilhado e da madrinha, eram de
fazendeiros de café na região de Valença, no Rio (MACHADO SOBRINHO,
correspondência, 1977).
48. Cabe
assinalar que a tela foi objeto de crítica ostensiva por parte dos intelectuais
negros que militavam na imprensa paulista no início do século XX (ALBERTO,
2017, p. 136-137). Em protesto contra a imagem idealizada de uma cena da
escravidão, essas lideranças se apropriaram da imagem, estampando na primeira
página do jornal O Clarim d´Alvorada, em 1928, uma ilustração idêntica,
porém acrescentando à iconografia o filho negro [Figura 8].
49. Independentemente
do tipo de interação estabelecida entre a mucama e a família de fazendeiros de
café no Rio, a carta que esclarece a identidade da criança branca revela o que
está ocultado na tela: a condição de objeto da mulher, dada como presente para
servir à criança, num processo de coisificação típico do sistema escravocrata,
como assinalado pelo historiador Joel Rufino dos Santos (1985, p. 8):
50.
O negro africano, antes de vir escravo
para a América, era um ser inteiro: corpo e alma livres. Os escravistas não
tinham interesse na sua alma - ou na sua cultura, se se preferir. Queriam
apenas o seu corpo. Para ter o africano como escravo, era preciso lhe suprimir
a cultura - a alma - transformando-o em bicho ou coisa.
51. Em
relação à mulher escrava, africana ou afrodescendente, a animalização ou
coisificação objetivava a disponibilidade da força física para os serviços
domésticos e, no caso da ama-de-leite ou mãe preta, o fornecimento de leite
humano - o mais indicado para o desenvolvimento físico da criança.
52. A
despeito de compulsória, fruto de opressão, a relação estabelecida com os bebês
brancos amamentados geralmente envolveu também a doação de afeto, elemento
essencial ao desenvolvimento emocional da criança, o que acaba por
evidenciar a elevada estatura humana da mãe preta, numa circunstância que
valida as considerações do sociólogo Clóvis Moura (1988, p. 191,194) sobre a
condição escrava:
53.
O escravo ainda conserva os elementos
humanos do seu ser, embora social e economicamente seja tido como coisa. Mesmo
alienado, o escravo ainda tinha condições de reencontrar a sua humanidade
existencial como ser. O escravo pode atuar também como agente ativo do processo
de dinâmica social, pois não perdeu a sua interioridade humana.
54. Outro
tipo de representação visual da mãe preta, este muito comum a partir da segunda
metade do século XIX, foi as fotografias produzidas em estúdio [e.g., Figura 9]. De
forma semelhante à tela da mucama, essas imagens igualmente ocultam os indícios
de opressão e coisificação, romantizando essa modalidade de escravidão com a
eliminação, ao máximo, de sinais de tensão ou inconformidade.
55. No seu
estudo sobre os negros de Salvador na fotografia oitocentista, Sofia Olszewski Filha (1989, p. 82) apontou a coisificação no
próprio registro fotográfico: “Não eram retratos de indivíduos, mas de
representações ideais. Junto com abacaxis ou tabuleiros, o negro foi
fotografado como objeto de exposição das qualidades exóticas da Bahia.”
56. Estudando
as amas-de-leite na fotografia brasileira, Sandra Sofia Machado Koutsoukos (2007) observou:
57.
Nos estúdios dos
fotógrafos da segunda metade do século XIX, as amas foram colocadas a posar
eretas, elegantemente vestidas, algumas mesmo ricamente
vestidas à moda européia ou à africana, com
tecidos finos, xales, às vezes portando jóias, com os
cabelos e/ou turbantes arrumados, sentadas em cadeiras de espaldares
rebuscados, tendo, geralmente, a criança ao colo ou ao seu lado. Eram
representações simples em termos de cenário, para que a atenção do observador
da foto não se desviasse do que interessava: a criança e a ama retratadas de
uma forma que se pretendia positiva. Naquele tipo de foto tentava-se passar uma
idéia de harmonia e afeto.
58. Pode-se
considerar, assim, que as pinturas e fotografias das mães pretas com crianças
brancas produzidas no século XIX foram, essencialmente, uma forma de
autorrepresentação da família senhorial. Resta, então, compreender por que
Lucílio de Albuquerque retoma essa temática em 1912, quando a escravidão, com
suas mães pretas, já era formalmente extinta.
59. A
busca de pistas pede uma aproximação da figura do próprio artista. Lucílio
nasceu em Barras, Piauí, em 1877, filho de desembargador de tradicional família
nordestina. Destinado a também abraçar a carreira jurídica, acompanhou os pais
na mudança para São Paulo, mas abandonou os estudos na Faculdade de Direito,
radicando-se no Rio para dedicar-se aos estudos da arte. Naquele ano de 1912
ele acabava de retornar de uma viagem de estudos de cinco anos a Paris - um
prêmio pelo desempenho como aluno na Escola Nacional de Belas Artes - ENBA
(PORTAL).
60. Lucílio
pintou Mãe Preta em Icaraí, localidade de Niterói (RJ), na Baía de
Guanabara, como deixou registrado no alto da tela, à esquerda. Também em
Niterói morava o pintor e amigo Antonio Parreiras. Ele morou aí desde 1912,[11] após o
retorno da Europa, quando promoveu no Rio, juntamente com Georgina, uma
exposição em que predominavam os registros
pictóricos de cenários europeus.
61. Em
Paris, no bairro boêmio de Montparnasse, Lucílio e Georgina montaram um ateliê
na própria residência, frequentado por amigos brasileiros pintores também em
viagens de estudo. Entre estes, Arthur Timótheo da Costa, um dos raros pintores negros no
Brasil naquele começo de século. É o que atesta um pequeno quadro, identificado
como No ateliê de Lucílio de Albuquerque,
que Timótheo ofereceu a Parreiras em 1910.[12]
62. O
perfil conhecido de Lucílio oferece poucas pistas sobre as motivações para a
criação do quadro. Não há, disponíveis ou conhecidas, muitas informações sobre
o pensamento dele - pelo menos não suficientes para identificar, por exemplo,
orientação política ou adesão a causas sociais. Mas há dois registros que
ajudam na compreensão das possíveis inclinações.
63. Um
depoimento de Georgina informa que “a plena posse da matéria plástica permite,
na segunda etapa da sua arte, expansão aos dons de artista e à sua capacidade
de poeta e pensador. Nobres e arrojadas, as composições giram em torno de
ideias.” Essa fase, a que cronologicamente corresponde Mãe Preta, é
marcada pelas “grandes idéias,” que parecem desafiar
a sensibilidade do artista, como expresso nesta declaração: “Todavia
confesso-lhe que fico mais satisfeito toda vez que realizo um quadro de ideia,
que faz pensar” (GRINBERG, 2008).
64. Pode-se
então buscar no contexto sociopolitico a ambiência
que inspirou a ideia de pintar Mãe Preta. Embora ela, como tal, fosse já
uma figura do passado, o presente que se configurava no Brasil no início do
século XX não se desvinculara da escravidão e do período abolicionista. A
frustração das expectativas de transformação da situação anterior marcou o
período pós-Abolição, deixando patente o abandono de parte significativa da
população que havia contribuído para o desenvolvimento do país, com elevado
grau de sacrifício pessoal – e a mãe preta era um dos emblemas mais fortes
disso.
65. O
sentimento de decepção com os rumos da República no pós-Abolição pode, assim,
explicar por que Lucílio realizou a primeira pintura a representar a mãe preta
com o filho branco do senhor e também com o seu filho
negro. Pode explicar a tristeza que o artista fez constar no olhar da mãe, em
direção ao filho abandonado - detalhes reveladores das estratégias de uma
composição visual que posicionou a obra de forma singular naquele momento,
diferenciando-a definitivamente das representações anteriores da mãe preta e
explicando, talvez, a capacidade de permanência e o poder de representação da
obra há mais de um século.
66. O
sociólogo Antonio Sérgio Guimarães (2012, p. 313)
compreende que aquele momento histórico foi frustrante e decisivo para o
destino do país:
67.
A Abolição garantiu, em 1888, depois de
anos de lutas, a liberdade pessoal a todos os africanos e seus descendentes,
mas a República de 1889 claudicou até mesmo para institucionalizar a
fraternidade racial que havia sido um dos motes da retórica do movimento
abolicionista. Mergulhamos, assim, como nação, nas trevas da desigualdade
racial e da institucionalização de suas linguagens e etiquetas - intricada rede
de sentidos em que o tratamento deferencial, a
arrogância e as hierarquias de cor se perpetuaram.
68. O
contexto cultural da época registra outras manifestações artísticas que
expressam o sentimento de desconforto com a situação da população negra no
pós-Abolição, inclusive evocando a questão da dívida social. No mesmo ano de
1912 em que Lucílio expunha Mãe Preta, o poeta Augusto dos Anjos
publicava, também no Rio de Janeiro, o livro de poesias Eu
e outras poesias, incluindo o poema Ricordanza
della mia Gioventù,
sobre a ama-de-leite da sua infância (ANJOS, 2004, p. 90):
69.
A minha ama-de-leite Guilhermina
70.
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
71.
Sinhá-Mocinha, minha Mãe, ralhava...
72.
Via naquilo a minha própria ruína!
73.
Minha ama, então, hipócrita, afetava
74.
Susceptibilidades de menina:
75.
“- Não, não fora ela! –“
E maldizia a sina,
76.
Que ela absolutamente não furtava.
77.
Vejo, entretanto, agora, em minha cama,
78.
Que a mim somente cabe o furto feito...
79.
Tu só furtaste a moeda, o oiro que
brilha...
80.
Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
81.
Eu furtei mais, porque furtei o peito
82.
Que dava leite para a tua filha!
83. É curioso
notar como o poeta avaliou o tipo de doação realizada pela ama-de-leite,
situando-a em termos de valor incomensurável, numa aferição que lembra uma das
formas como a escritora moçambicana Paulina Chiziane
sintetizou o valor da mulher para a humanidade: “É alimento no princípio de
todas as vidas” (CHIZIANE, 2013, p. 199).
84. Mas a
mensagem poética não ficou somente aí. Além do valor, Augusto dos Anjos
introduz as noções de legitimidade e direito, ao se valer de uma suspeição de
furto para construir uma comparação, inquirindo sobre as apropriações em
questão - a da moeda em ouro e a do alimento essencial. Conclui, finalmente,
que são valores incomparáveis. O que resta, então, é um débito da parte do
suposto credor, ele próprio; e, consequentemente, um crédito para a suposta
devedora.
A
permanência
85. Duas
obras de arte, nas linguagens da música e do cinema, assinalaram,
contemporaneamente, a permanência desse impasse na sociedade brasileira. Quase
um século após a abolição, o compositor Gilberto Gil lembraria, na canção “A
mão da limpeza,” que “mesmo depois de abolida a escravidão | negra é a mão de
quem faz a limpeza” (A MÃO, 1984). A música, conforme o depoimento do autor,
foi inspirada no trabalho doméstico das mulheres negras:
86.
Ocorriam-me imagens de lavadeiras lavando
roupa nas beiras de rios, inúmeros, por que eu passei no interior da Bahia e
outros lugares; de cozinheiras negras, jovens e velhas, espalhadas pelas
cozinhas do Brasil; de várias faxineiras limpando as casas (GIL, 2017).
87. Mais
recentemente, no filme Que horas ela volta? (QUE HORAS, 2015), a
cineasta Anna Muylaert apresentou a personagem Val,
interpretada pela atriz Regina Casé, que encarna uma espécie de mãe preta
contemporânea.
88. Trata-se
de uma mulher não negra, uma sertaneja, que deixa a filha em Pernambuco para
tentar a vida em São Paulo, onde passa a se dedicar à criação do filho da
patroa, como empregada doméstica (ocupação predominante das mulheres negras no
Brasil).[13] A
redenção acontece com a tomada de consciência da situação, que ocorre a partir
da reaproximação com a filha, já adulta. Ela decide então abandonar a patroa
para tentar salvar a relação com a filha e ajudá-la a criar o neto.
89. Emblemático
no filme é o momento em que Val retorna à própria família, isto é, retoma as
rédeas da própria vida. É quando exibe à filha, sorrindo, o conjunto de xícaras
elegantes que decidiu furtar da patroa. A cena remete àquela da moeda de ouro
no poema de Augusto dos Anjos e a tudo o mais que envolve a questão levantada
pelo poema.
90. É um
“detalhe” indigesto que chega já no final do filme para lembrar que, um século
e três décadas depois da Abolição, persistem na sociedade brasileira o
mal-estar, os impasses e os prejuízos, como sequelas de contas mal formuladas e
mal resolvidas.
91. A cena
das xícaras no filme de Muylaert, a contundência da
música de Gil, a confissão do poema de Augusto dos Anjos, a tristeza no olhar
da Mãe Preta de Lucílio são manifestações desse mal-estar na arte e
sinalizações de um desejo persistente por uma nação solidária.
Referências
A BAHIA assistiu no dia 28 de setembro uma
manifestação inédita no Brasil. O Clarim d´Alvorada, São Paulo, ano VI,
n. 22, 24 nov. 1929, p.
4.
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ano 17, n. 5.848, 30 set. 1929, p. 1.
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Maternidade negada. In: PRIORE, Mary del (org.). História
das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2002, p.
189-222.
______________________________
* Este artigo foi
apresentado originalmente no segundo semestre de 2019 na disciplina Dinâmica
das Relações de Gênero, Raça e Classe, ministrada pela Profa. Dra. Rosângela Janja Costa Araújo no Programa de Pós-Graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM da Universidade
Federal da Bahia - UFBA.
** Doutoranda no Programa
de Pós-Graduação em Artes Visuais - PPGAV da Universidade Federal da Bahia -
UFBA, linha de estudos História e Teoria da Arte, com apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - Fapesb
[1] No seu estudo sobre as amas-de-leite
na amamentação das crianças brancas em São Paulo no século XIX, Robson Roberto
Silva (2016, p. 307) registra o espanto dos
missionários metodistas norte-americanos Daniel
P. Kidder e James C. Fletcher com a
prática de alguns senhores de escravas de obrigá-las a depositar os filhos na
Roda dos Enjeitados, também denominada Roda dos Expostos, que funcionou nas
Santas Casas de Misericórdia em Salvador, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo.
[2] Georgina de Albuquerque
é autora, entre outras obras, de Sessão do Conselho de Estado, pintura
em óleo sobre tela de 1922, que é considerada a primeira pintura histórica de
autoria de uma mulher no Brasil. A obra apresenta uma mulher, a princesa
Leopoldina, protagonizando a histórica reunião do Conselho dos Procuradores
Gerais das Províncias do Brasil, no Paço Imperial, às vésperas da declaração da
Independência. O quadro evidencia o papel decisivo de Leopoldina na decisão de
Pedro I de romper relações com Portugal.
[3] Também os jornais Diario de Notícias e O Imparcial
noticiaram a exposição.
[4] Após a morte do pintor,
em 1939, Georgina fundou o museu na casa da família, no bairro de Laranjeiras,
no Rio, em 1943. Porém, diante da falta de apoios necessários, posteriormente o
acervo acabou sendo distribuído entre a Prefeitura do Rio e o Museu Antonio Parreiras, em Niterói.
[5] A Tarde, 27 set.
1929, p. 1; Diario da Bahia, 27
set. 1929, p. 3.
[6] No inventário do IGHB
consta que na parte inferior, presa à moldura, havia uma placa de prata com a
inscrição “Homenagem da Bahia a Mãe Preta. Em 28.9.1920”. O registro preciso do
ano foi comprometido por algum fator, como desgaste da placa ou mesmo falha de
redação (INVENTÁRIO, p. 208-209).
[7] O Clarim d´Alvorada,
24 nov. 1929, p. 4.
[8] A ficha da tela no
inventário do MAB, à p. 122, informa que procedeu da Biblioteca Pública.
[9] A pintura foi
restaurada pelo Studio Argolo, com recursos da Fundação Vitae.
[10] O livro de Paulina foi
traduzido para o português em 2017, pela Editora Unicamp.
[11] A família residiu na
casa de Icaraí até aproximadamente 1938, quando problemas de saúde levaram o
pintor a deixar a direção da Escola Nacional de Belas Artes e mudar-se para uma
casa no Rio de Janeiro, no bairro de Laranjeiras.
[12] Óleo sobre tela,
medindo 22 x 38cm, traz no canto superior direito a inscrição: “Ao amg e colega Parreiras, off o Timótheo
Paris 910”. A obra, que mostra uma mulher lendo um livro, recostada num divã,
integra o acervo do Museu Antônio Parreiras, em Niterói.
[13] Em meados da década de
1990 o emprego doméstico era a ocupação de 48% das mulheres negras no Brasil,
informava Sueli Carneiro, com base no estudo de Márcia Lima Trajetória
educacional e realização sócio-econômica
das mulheres negras, de 1995 (CARNEIRO, 2003, p. 121). Em 2018, os dados da
PNAD Contínua apontaram que 63% das mulheres atuantes no serviço doméstico eram
negras (FONTOURA et al., 2019).