Victor Meirelles, o jovem pensionista na Itália: anotações sobre a formação do artista no século XIX

Mara Rúbia Sant’Anna [1]

SANT’ANNA, Mara Rúbia. Victor Meirelles, o jovem pensionista na Itália: anotações sobre a formação do artista no século XIX. 19&20, Rio de Janeiro, v. XVI, n. 2, jul.-dez. 2021. https://doi.org/10.52913/19e20.xvi2.06

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1.     Victor Meirelles de Lima, o maduro professor da Academia Imperial de Belas Artes e do Liceu de Artes e Ofícios,[2] consagrado pela sua grande obra Primeira Missa do Brasil (1860), louvado por sua Batalha dos Guararapes (1879) e, igualmente, por sua Moema (1866) - entre tantas outras obras que compõem o acervo brasileiro de pintura histórica ufanada em exposições, prédios públicos e livros didáticos -, possuiu uma formação artística desfrutada a partir de 1847, que simboliza um ideal de artisticidade do século XIX.[3] Tal formação foi citada em muitos estudos que se centraram sobre esse artista, em especial, os desenvolvidos por Ângelo Proença Rosa,[4] Jorge Coli[5] e Sônia Gomes Pereira.[6]

2.     Neste texto, propomos compreender a formação do pintor Victor Meirelles a partir da coleção de trajes italianos, acervada no Museu Victor Meirelles - MVM (Florianópolis) e Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro). Tal abordagem não invalida os demais estudos já consolidados sobre professores, escolas e estilos artísticos associados à formação de Victor Meirelles de Lima, porém, busca revisitar as informações difundidas e trazer novas compreensões a partir da própria obra tomada como ponto de reflexão.

3.     As pranchas catalogadas como “estudos de trajes italianos” foram produzidas por Meirelles, provavelmente, entre 1853 e 1856 na Itália. O corpus da pesquisa se compôs de 104 pranchas.[7] Diante desta coleção se observa figuras femininas e masculinas pintadas com cuidado e com minuciosa atenção aos trajes.[8] Na maioria são aquarelas, feitas sobre papel, em torno de 20 x 30 cm de extensão. Predominam as figuras femininas, muitas frontais, outras de lado, sentadas ou de pé que, supostamente, representam um tipo humano próprio da península itálica [Figura 1 e Figura 2].

4.     Ao observar tais imagens não há um estranhamento, mas uma identificação rápida e fácil dos gêneros humanos e de traços e volumes que representam trajes e adereços localizados temporalmente no século XIX ocidental. Esta familiaridade, por um lado, e a busca de compreender a formação usufruída, por outro, encaminhou a pesquisa a partir de uma premissa conceitual: a condição da própria imagem como documento, percurso e indício. Para abordar a imagem nesta premissa é preciso acionar cada prancha como agente dos sentidos que “emanam,” pensar que ao serem produzidas foram carregadas de outros olhares e desejos, dialogando com outras imagens e outros textos. São pranchas “brasas,” contidas de pathosformel,[9] produzidas mediante intericonicidades e intertextualidades[10] próprias de uma formação e época, contendo traços entre o ver e o visto de outra hora, mas que se tornam perceptíveis neste momento pelas possibilidades do ver aqui e agora.[11]

5.     O tempo vivido por Victor debruçado nestes papeis, apoiando seu pincel, escolhendo suas cores, definindo seus traços, sobrevive e mantém-se latente como ponte entre um antes dele e um muito depois dele. Neste prazo de sobrevida, cada obra é vislumbrada por pesquisadores que sopram, de tempo em tempo, essas brasas e as deslocam e realocam em importância e visibilidade, em sentidos e possibilidades de uso às narrativas que entrelaçam tempos e, também, talentos. Logo, se propõe como objetivo discutir a formação artística usufruída no século XIX colocando a composição das pranchas produzidas por Meirelles, que compõem a coleção “estudos de trajes italianos,” como parâmetro de análise das informações já recolhidas sobre o pintor e sua formação acadêmica. O objetivo implica numa proposição teórico-metodológica que não busca revisar informações sobre o ensino formal oferecido, mas atentar para os meandros sensíveis do artista que se expressam na poética compositiva.

6.     Portanto, ouço soprar as cinzas[12] e reacender as brasas, não para elas se tornarem chama outra vez, mas para dar combustão a outras narrativas sobre estes tempos que se entrecruzam e fomentam novos agenciamentos do ver e do narrar sobre o século XIX, os artistas e, sobretudo, ele, Victor Meirelles.

7.     Neste intuito, o artigo se organiza em sua argumentação nas seguintes partes, após situar a abordagem do tema: (a) a estrutura das academias e a exigência do aprendizado do panejamento e da representação dos costumes nesta formação, o que deveria se refletir nestes estudos de trajes analisados; (b) em seguida, trata-se das vertentes artísticas da época e os debates em torno delas, contrapondo suas proposições à produção estilística de Meirelles observada nas pranchas; confrontam-se neste aspecto o romantismo, o grupo dos nazarenos e dos puristas, a importância das paisagens e dos tipos humanos; (c) Ao final, salienta-se como o estudo das pranchas traz novas questões para pensar o próprio percurso de formação de Victor Meirelles e quão importante são essas obras para refletir a respeito da poética do artista.

O domínio do desenho

8.     As pranchas em estudo aparecem pouco em textos dedicados ao pintor Victor Meirelles. Inversamente, em abundância são usadas nas ilustrações dos catálogos e livros dedicados ao artista. Quando assim ocorre, as ilustrações se conectam na intertextualidade dos artigos com as considerações sobre a sua formação na Itália como pensionista da Academia Imperial de Belas Artes e sobre a importância do desenho na formação do artista.

9.     Ângelo Proença Rosa e Elza Peixoto afirmam, no clássico texto “Biografia,” algumas páginas antes de figurarem dois exemplares de trajes italianos em reprodução colorida: “[...] da Academia de São Lucas, onde muito aproveitou no estudo do modelo vivo e de costumes [...].”[13]

10.   Mônica Xéxeo, por sua vez, afirma: “Os ensinamentos recebidos de seus mestres italianos e franceses foram fundamentais para a sua formação artística e o influenciaram por toda a vida.” Mais à frente, discutindo sobre os esboços para a grande obra Batalha dos Guararapes, reafirma: “Victor Meirelles era um cultor do desenho, da forma. Para ele, o desenho era a base, a forma primeira de expressão” (XÉXEO, 2009, p. 70).

11.   No mesmo livro, Sônia Pereira Gomes, analisando a formação usufruída por Meirelles retoma suas considerações sobre a centralidade do desenho na formação de todo artista do período:

12.                                 Primeiro, o ensino do desenho, começando pelas cópias de estampas; depois moldagens em gesso; e, finalmente, o desenho de modelo vivo. Só depois do domínio do desenho, o aluno poderia passar para a pintura, iniciando pela figura humana isolada, para, em seguida, enfrentar composições com várias figuras e detalhamento do ambiente cenográfico.[14] 

13.   Um dos poucos textos dedicados a considerar as produções de “estudos de trajes italianos” foi redigido por Jorge Coli para o catálogo da Exposição “Vitor Meirelles - um artista do Império,” realizada em 2004 no Museu Oscar Niemayer, em Curitiba. Dois anos após, o Museu Victor Meirelles organizou uma exposição exclusiva com as obras da coleção “estudos de trajes italianos,” com o catálogo assinado por Charles Narloch, Raul Antelo e Fernando Lindote. Estes três autores associam as pranchas ao realismo encontrado por Meirelles na Europa e dão a elas um “caráter antropológico”[15] ou, ainda, provas da genialidade de Meirelles por “seu não pertencimento a si e a sua época, ao nos mostrar imagens que têm e não têm a cara dele, que são sua glória e sua ruína ao mesmo tempo;”[16] por último, Lindote[17] articula a produção pictórica de trajes ao mercado de moda e de arte, concluindo seu texto com as seguintes palavras:

14.                                Os estudos de trajes italianos de Victor Meirelles parecem trazer escondidos sob as dobras de sua roupagem, questões que vão além das determinações de seu tempo e lugar. Aparentemente mergulhado nos problemas da linguagem gráfica e pictórica, Victor Meirelles talvez tenha vislumbrado, entre seus devaneios, alguns dos liames que seriam estabelecidos ao longo do tempo entre arte, moda e mercado.

15.   Coli, por se dedicar à análise da poética constituída nestes anos iniciais de formação em Roma, não sugere condições excepcionais e a-históricas para Meirelles, mas o considera, igualmente genial na solução manifestada das influências puristas nas pranchas compostas:

16.                                 Meireles, seja por seu gênio próprio, seja por influxo da tradição purista, ou melhor, certamente pela conjugação dessas duas determinantes, produz em Roma admiráveis imagens que partem de uma cuidada observação, mas que se resolvem, estritas, concentradas, despojadas, com escolhas plásticas e cromáticas incisivas e simplificadas, numa concepção sintética que as fixa, em maneira grave, icônica. Foi banida a citação circunstancial e divertida que o pitoresco pode trazer. Ele transforma tudo pela linha cuidados e abstrata, aprendida teórica e praticamente com os puristas.[18]

17.   Ladeando o texto, encontra o desenho em grafite do pescador sentado (MNBA, 7964)[19] e, nas páginas seguintes, em grande formato e colorido, duas outras aquarelas da mesma coleção (MNBA 1620 e 1576).

18.   Assim, as primeiras referências acima indicam o desenho como uma marca da formação e, também, da especialidade de Victor Meirelles mesmo sem tomar os estudos de trajes como fundamento argumentativo. Enquanto, por outra entrada, os poucos textos que tomam as pranchas em estudo como temática central não se estendem em demasia sobre o percurso formativo do desenho na formação do artista do século XIX. Nem, em qualquer um deles, os estudos de panejamento foram considerados como algo próprio daquela formação.

19.   Conjugando especialmente os argumentos de Jorge Coli e Mônica Xéxeo, avança-se enfatizando a presença do desenho na formação acadêmica do artista desde os seus primórdios e o lugar do panejamento nesta questão.

20.   A criação de academias de arte é algo moderno, nascido após o humanismo europeu e a separação da arte do universo da produção artesanal. A mais antiga que se tem notícia é a de Marsílio Ficino (1433-1499), criada em Florença em 1460, intitulada, mais tarde de Academia Platônica.[20] Todavia, a denominação de academia de arte é mais bem apadrinhada pela instituição criada por Vasari (1511-1574) em 1563, já no século XVI. Nesta se encontravam aprendizes do desenho, cujo domínio era entendido como meio de uma formação artística a ser conquistada no decorrer dos anos, pelo exercício da cópia e a obediência às diretrizes técnicas. Por isto, quando a teorização sobre o desenho foi estabelecida fala-se num aprendizado e num propósito acadêmico de formação de artistas. Tais teorias da representação nasceram com os grandes artistas do Renascimento e formularam, cognitivamente, uma estratégia que distanciou o artesão do artista. Na medida em que o desenho se complexou e foi firmado em teoremas e concepções de ótica, perspectiva e proporção, passando pelo entendimento da anatomia e da cinética, ele ganhou status de expressão artística autônoma e exigiu um aprendizado formalizado em academias.[21]

21.   Nesse processo o desenho era a base e o ápice de toda uma formação. Inspirados nas recomendações de Leonardo da Vinci (1452-1519), cujo Tratado da Pintura data de 1490-1517,[22] o ensino começava com a perspectiva, a teoria e prática da proporção, para ser em seguida praticado na execução de cópias dos grandes artistas e na observação da natureza, só depois chegando o momento da concepção e criação. A cor, consequente do domínio da pintura, era uma fase final e de consagração do aprendiz, a partir de então, admitido como artista. Leon Battista Alberti (1404-1472), nos tratados destinados à pintura, assevera que ela se trata de uma ciência, firmada na ótica e capaz de produzir a ilusão de realidade que todo artista deveria alcançar.[23] Nas instituições acadêmicas, uma parte importante era a livraria ou biblioteca, na qual se encontravam repositório de desenhos, modelos de estátuas, plantas de edifícios, instrumentos e tratados que servissem à aprendizagem dos jovens. A representação de corpos vestidos fazia parte deste aprendizado e consistia no domínio do panejamento.

22.   Quando em 1853 Victor Meirelles partiu em direção à Roma, ele encontrou muito deste modelo ainda em vigor, apesar dos séculos transcorridos. Segundo Ângelo Proença Rosa,[24] como citado acima, o jovem brasileiro participou da Academia de São Lucas. Nela as práticas do ensino firmaram-se no desenho, no estudo teórico e exercício prático, com uma importante diferença daquilo que Da Vinci e Federico Zuccari (1539-1609) haviam proposto desde os primórdios: ao invés de cópias diretas do natural, de humanos, paisagens ou objetos, o que prevaleceu foi cópia de desenhos e estampas e, um pouco mais avançada, a cópia de modelos em gesso. O exercício de modelo vivo foi se firmar mais tarde e correspondia a um momento mais avançado da formação.

23.   Além disso, Zuccari definiu um sistema de emulação entre os estudantes, estabelecendo prêmios para diversas categorias. A partir de 1702, na Academia de São Lucas surgiu, “Clementine,” nome derivado de seu patrocinador o Papa Clemente XI, a mais importante das competições acadêmicas. Todos os anos, prêmios eram atribuídos a pintores, escultores e arquitetos, além de medalhas, durante cerimônias solenes no Capitólio romano, na presença do Pontífice.[25] Poucas décadas antes da chegada de Meirelles à Roma, essas cerimônias perderam o prestígio e, a partir de 1844, passaram a ser realizadas nas salas acadêmicas ou no prédio da academia. A competição “Clementine” ocorreu até 1869. Outra importante mudança que Victor encontrou foi a instalação definitiva da academia num edifício próprio, construído por Pietro Camporese na Via Ripetta, em 1845.[26]

24.   Portanto, o ensino artístico encontrado pelo jovem catarinense em Roma encontrava-se numa fase de renovação, em suas relações com o Pontífice, com o prestígio dos concursos e com sua estrutura física. Todavia, a centralidade da formação no domínio do desenho ainda permanecia mesmo em tempos de tantos risorgimentos.[27] Segundo pesquisa de Jorge Coli (2004), junto à Academia de São Lucas Meirelles nunca constou como aluno inscrito. Frequentou apenas o ateliê privado de Nicola Consoni (1814-1884), seguidor de Tommaso Minardi (1787-1871), durante os anos em Roma. Todavia, Consoni foi aluno, professor e diretor da Academia de São Lucas,[28] o que leva a admitir que em seu ateliê fosse adotado o mesmo modelo de ensino da instituição.

25.   Antes de desfrutar do modelo acadêmico em Roma, Meirelles foi preparado na Academia Imperial no Rio de Janeiro, fundada nos moldes da Academia francesa, que por sua vez descendeu do modelo italiano defendido por Charles Lebrun (1619-1690) e pelo Cardeal Mazzarino (1602-1661), e instalada no reinado de Luís XIV (1638-1715).[29]

26.   Félix-Emile Taunay (1795-1881), descendente de um dos artistas que fundaram a academia de belas artes no Brasil, era o diretor da academia brasileira quando o jovem catarinense Meirelles se tornou aluno da instituição, em meados de 1847. A Academia de Belas Artes brasileira, apesar de ser muito mais recente que as italianas ou francesas, seguia a mesma tradição formativa e trazia em sua estrutura essa tradição longamente cultivada.

27.   Por dois anos Meirelles esteve matriculado na Classe de Desenho, ministradas por Manoel Joaquim de Melo Corte Real (1810-1848) e Joaquim Inácio da Costa Miranda (1818-1878). Comprovando sua agilidade no manejo do desenho, a partir de 1849 até 1852 frequentou as Classes de Pintura Histórica, tendo como professores José Correia de Lima (1814-1857) e Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), este um dos discípulos de Jean-Baptiste Debret (1768-1848).[30]

28.   Mesmo sem constar nos registros dos programas de ensino uma atenção particular para o aprendizado do panejamento e da representação de trajes tanto no Brasil como na Europa, o jovem Victor Meirelles pode observar em seus mestres acadêmicos e nas grandes obras da história da pintura europeia, a quem deveria render devoção, um tipo de exercício obrigatório: a representação dos trajes, com suas peculiaridades e tradições.

29.   Tal formação centrada no desenho, mesmo quando ganhou o Prêmio de Roma em 1852, não foi rompida. Ao contrário, como todas as academias existentes no século XIX se mantiveram depositárias do modelo nascido nos primórdios dos quinhentos, Meirelles encontrou em Roma ou em Paris as mesmas diretrizes como parâmetros da sua condição de artista, ou seja, a destreza do desenho.

30.   Portanto, mesmo no século XIX, o lugar privilegiado do desenho é mantido e indica a formação centrada num estilo clássico, no qual o domínio da técnica consistia num regime escópico renascentista (JAY, 1993), em que a perspectiva e a representação deviam corresponder ao natural do corpo humano ou da natureza, a partir de um ponto pré-determinado e fixo.

31.   Essa concepção se mantinha viva mesmo após tantos séculos e reformas existentes nas academias de arte, porque quem se consagrava nelas eram aqueles que não ousavam contestar os modelos provindos da tradição, dos grandes Mestres e, assim, continuavam a reproduzir tais ideais, como é o caso do referido Minardi, que exacerbou essa obediência.[31]

32.   Numa publicação rara, intitulada Dalla qualità essenziale della pittura italiana dal Rinascimento al tempo del discorso perfetto,[32] Minardi defende que é preciso ser atento à natureza e justifica a espontaneidade da produção do desenho como um processo gradativo de amadurecimento da capacidade de geometrizar o natural, o que é observável. Minardi cita como exemplo um vaso etrusco e a representação da figura humana ali presente e, principalmente, exalta a obra de Giotto. Dentre o domínio que caracterizaria a verdadeira arte diz Minardi:

33.                                 Assim, desde o início, a arte da pintura foi ressuscitada, maravilhosamente estabelecida pelos grandes princípios fundamentais e reguladores da própria arte: a criação e a composição do assunto[33] mais interessante do coração humano, a expressão mais vívida e conveniente, os personagens e os costumes os mais verdadeiros e justos, em tudo simples e único; por conseguinte, tudo moderado pela economia do mais belo, proporcional ao lugar, ao tempo e ao assunto mesmo.[34] (grifos nossos).

34.   O traje serve, como defendeu Minardi, em sua representação minuciosa e atenta, para caracterizar o personagem e alcançar a expressão ideal do belo. Numa verve de exaltação dos grandes mestres como Da Vinci e Raphael de Sanzio (1483-1520), Minardi defende o ideal de uma arte capaz de elevar o homem (p. 16 e 17) e se cumplicia com os propósitos românticos da arte e do artista, sob a defesa de um purismo que se discutirá mais adiante.

35.   Como primeiro professor de Meirelles em Roma e de Consoni, que o orientou na continuidade de sua estada, essas concepções de Minardi são caminhos de reflexões a respeito da produção das pranchas do jovem pensionista.

36.   Outro aspecto relevante é a exigência do aprendizado do panejamento, que, nos tempos contemporâneos, quando as fronteiras do desenho e da pintura tendem a se fundir, como diz Nathan Goldestein,[35] e as formas se constituem em grandes massas sobre as quais os conceitos e valores se exprimem subjetivamente, o panejamento não tem mais a mesma valorização e nem as mesmas exigências do tempo de Victor Meirelles. O panejamento é o substantivo que designa o vestuário das figuras desenhadas, pintadas ou esculpidas. Mas é, também, a forma pela qual o artista representa as roupas das figuras, obtendo efeitos plásticos de suas cores e texturas, de seu pregueado, caimento entre outros, conforme a postura da figura e, mesmo, a densidade do tecido ou aviamento representado. Tecnicamente, o trabalho artístico do desenho consiste na representação dos trajes por meio de meticuloso trabalho de tracejar simples ou cruzado, cujo resultado de sombra e luz dará a amplitude do volume e as condições de movimento e textura dos têxteis. Como afirma Patrick Le Chanu: “A representação do drapeado não é uma proeza, mas um exercício plástico.”[36]

37.   Da Vinci reprovava o uso de manequins em madeira por não expressar o verdadeiro efeito do tecido sobre o corpo, e foi com Antoine Watteau (1684-1721), com suas damas sentadas, que o panejamento expressou ricamente o domínio da técnica, obtida pelo estudo cuidadoso e preliminar da observação do tecido verdadeiro sob determinadas condições de luz, de movimento e apresentação. Conforme Le Chanu: “Os artistas dos séculos XIX e XX não esqueceram um dos exercícios mais antigos, esse do drapeado excepcional, prova de destreza na representação dos volumes, sombras e cores tal como elas são.”[37] Logo, seja no Brasil ainda, ou na Europa depois, Meirelles teve o dever de dominar a expressão do tecido, envolvido num corpo, especialmente após o parecer de Porto-Alegre[38] a respeito do envio do primeiro trabalho em Roma - Degolação de São João Batista (1855)[39] -, no qual é questionado: “que sombra é essa, do braço de Salomé, que segue seu próprio caminho linear, invés de se conformar com o relevo das dobras do tecido sobre o qual se projeta?” Entre outros “erros,” como o relacionado à anatomia dos corpos representados, Porto-Alegre destacou o detalhe da sombra sobre a túnica da personagem, alertando o jovem pensionista para o exercício do panejamento.

38.   Portanto, a formação oferecida pelas academias europeias e a brasileira, cuja inspiração vinha do Renascimento e de uma visão tratadística do aprendizado da arte, contextualizam a produção de tantas pranchas que o jovem pensionista realizou no espaço de três anos na Itália. Talvez, por não ter a dimensão precisa desta coleção, outros pesquisadores de Meirelles não deram grande atenção a ela enquanto discutiam a “maestria” do desenho detida pelo pintor ou, mesmo, não consideram naquelas texturas pictóricas assinalado o quanto os preceitos puristas influenciaram o jovem catarinense.

39.   Segundo Monica Xéxeo, apenas no Museu Nacional de Belas Artes há mais de setecentos desenhos de Meirelles que perpassam seu período como pensionista, professor e artista consagrado. Estes desenhos, tão numerosos e muitos de uma intensidade ímpar, caracterizam um artista que tinha no seu processo criativo a presença indispensável do desenho, talvez como uma ponte fundamental entre o desejo e a realização. Nos termos de Xexeo “Para Vitor Meirelles o desenho é essencial e permanente forma de expressão. Muitos dos seus desenhos, por seu refinamento, podem ser considerados obras autônomas, sem caráter auxiliar.”[40] 

Do desenho a busca do traço subjetivo

40.   O desenho como aspecto central na formação do artista, especialmente nesta formação herdada do modelo clássico, é uma noção consolidada nos estudos relacionados. Porém o que caracteriza o desenho de Meirelles - como sintetizou Coli (2004, p.24), “a linha tendia para uma extraordinária leveza, para uma abstração ideal” - vai além da formalidade da aprendizagem do desenho na formação em discussão.

41.   A “abstração ideal” indicada por Coli, possivelmente, levou Antelo e Narloch a conduzir suas considerações sobre as pranchas com trajes italianos para um campo inusitado de interpretação, quase de caráter surreal ou de puro diletantismo.

42.   Sem considerar a possibilidade de uma influência do movimento artístico realista, cogita-se pensar a dimensão do romantismo nesta questão. Como diz J. Guinsburg, tudo que foi criado nos últimos séculos deve em alguma instância algo ao romantismo, tido como “espírito mágico, que, buscando as esferas mais profundas do homem, reptou o consagrado, o estabelecido, o modelado, efetuando uma revolução fundamental na conceituação e na realização de todas as artes [...].”[41]

43.   Dentre os muitos artistas filiados na história da arte ao romantismo e que possuíram alguma aproximação com a trajetória de Meirelles, identifica-se, no cenário francês, Horace Vernet (1789-1863), Paul Delaroche (1797-1856) e Léon Cogniet (1794-1880). Os três produziram com os ímpetos do romantismo sob as normas estéticas do classicismo em muitos aspectos. Vernet realizou grandes pinturas históricas, tal como Victor fará para a sua consagração, enquanto Delaroche era um modelo a ser seguido na opinião de Porto-Alegre, e Cogniet foi o responsável por sua orientação em Paris. Do outro lado da Mancha, J. M. W. Turner (1775-1851) e John Constable (1776-1837), junto com Camille Corot em solo francês, se consagraram com a intensidade de suas paisagens e emoções deste efeito do sublime sob o humano,[42] algo que repercute na obra de Meirelles quando as brumas e fumaças se elevam em meio às batalhas representadas.

44.   Como insiste Guinsburg, o romantismo não se resume ao movimento artístico a que estes e outros pintores se filiaram no século XIX. Ele se constitui num fato histórico que marcou a expansão da consciência histórica, fundamental diante das ideologias nacionalistas em pleno vigor naquele mesmo século, conjugando-se com as diferentes revoluções e disputas por direitos civis, ideais de liberdade e governo. Em meio aos cenários revolucionários e de radicais mudanças econômicas e sociais, com o avanço da industrialização e do comércio voltado para as grandes massas, surgiu a figura do ser humano com uma personalidade psicológica, única, individual e exclusiva que, quando investido de uma missão e sensibilidade aguçada, constituía-se na figura do herói, às vezes anônimo, mas sempre trágico e sofrido.

45.   Mais que uma temática ou estilo, o que se impõe com o romantismo é outro regime escópico, no qual as normas estabelecidas nos tratados de perspectiva e anatomia são barateadas em favor de um não visível,[43] que corresponderia ao que é percebido pela alma e não mais pela vista. Desestabilizando a forma em sua estrutura matemática e racional, os valores estéticos inaugurados com o romantismo permitem uma apreensão do sensível. Dessa forma, os “valores tácteis” de David e Ingres são transformados segundo Robert Jay, numa “visão ótica” expressa em contornos evanescentes e efeitos espaciais do tempo e do clima, mediando apreensões do humano e de seus sentimentos.

46.   Como Hugh Honour esclarece,[44] o romantismo é um conjunto de conceitos, de temas fundamentais como a vida artística, a busca incessante da liberdade, de um ideal, de algo não palpável como o passado, a história e as nações e, inclusive, de um não tempo e espaço, que são tão bem expressos nas paisagens. A própria origem do romantismo alemão se dá por uma ânsia de viajar, de se deslocar, uma imersão no mar e no encontro de si, que o próprio isolamento da viagem produz. Segundo Isabelle Julia, “com o romantismo começa o tempo do mundo finito, mas também esse do espaço explorado.”[45] Submerso numa ideia de progresso e conquista mundial devido ao capitalismo e sua expansão industrial, o século XIX institui a ideia da viagem e descoberta de novas paisagens como uma aventura, nada perigosa ou restritiva, mas necessária e culturalmente enriquecedora. Contudo, não de um enriquecimento restrito à cultura erudita e consagrada de lugares santos ou grandiosas obras, mas de um preenchimento existencial que, supostamente, se daria no entendimento e conhecimento de outros lugares e gentes. Para a formação do artista, tais viagens se constituíram num verdadeiro rito: “Expressão de uma alegria de viver e de uma curiosidade sem limites, o ‘Grand Tour’, périplo na Europa em que a Itália é a etapa culminante e a gloriosa Roma o objetivo último da peregrinação iniciática, se impõe como maneira de formação.”[46] Victor Meirelles foi abarcado neste espírito. Aos 15 anos viaja para o Rio de Janeiro, aos 20 chega à Europa, aos 24 está em Paris, aos 29 anos havia concebido a Primeira Missa e retorna ao Brasil com a certeza de sua consagração. Diante dessa circulação, o olhar muda e com ele a forma de ver o universo, descortinando, além dos fatos, as emoções que as descobertas ensejaram. Toda a experiência é fator multiplicador de emoções, fontes de encantamento e de prazer, numa concepção artística romântica do período.

47.   É sob este propósito de formação que os prêmios das academias consistiam em viagens. A Academia de Belas Artes de Paris tinha em Roma a sua sede na Villa Médicis desde 1803, aberta aos eleitos pelo Grand Prix de Rome. Neste local, tanto os premiados como outros artistas franceses que se auto custeavam, iam passar meses e até anos. Os diretores supervisionavam o aprendizado e organizavam passeios pelo mundo rural e, especialmente, para Nápoles, onde “eles são seduzidos pela natureza e pelo povo simples italianos, cuja alegria e traje em cores vivas e intensas os surpreendem.”[47] Enfim, a vida e povo mediterrâneo pareciam, aos conceitos artísticos daquele momento, mais apropriados para se aproximar da história antiga e de uma supostamente mais intacta origem humana. Marie-France Cussinet, ao estudar sobre a boemia do século XIX, destaca: “O tema [das viagens] retorna com força no século XIX, trazido pelo gosto do deslocamento. E se os artistas sempre viajaram, eles o fazem a partir de então com frenesi.”[48]

48.   Um texto de 1800, Éléments de perspective pratique à l’usage des artistes ..., recomenda em diversas partes que o artista realize viagens, observe atentamente todos os objetos, tipos humanos, cores e formas; se caso o aprendiz não dispusesse de recursos para fazer viagens mais longas, que então viajasse ao interior do pais onde encontraria “lugares verdadeiramente interessantes e quase tudo que a natureza pode espargir de grande e de vantajoso e de imponente em seu conjunto, de rico, de amável e de delicioso em todos os seus detalhes.”[49] Ou seja, viajar era preciso também para artista do século XIX e, nesse percurso, o registrar de cores, de formas e dos tipos encontrados garantiria um aprendizado, considerado indispensável mais à sensibilidade do que ao domínio técnico. A paisagem é, enfim, meio e fim de uma conceituação de arte própria aos românticos.

49.   Compreender a paisagem na produção da sensibilidade romântica leva ao começo do movimento em fins do século XVIII. No contexto europeu da época, escritores e poetas se abrem para o mundo físico: a natureza, suas cores, seus sons, luzes e “mensagens;”[50] posteriormente, os pintores descobrem os mesmos encantos e são atraídos para as regiões remotas ou mesmo outros cantos da cidade e da história, onde buscam a revivescência de outras épocas e lendas, misturando razão e utopias, o sagrado e o profano, entre mistérios e segredos e, assim, se apegam às concepções encharcadas de sentimento e anedotário pitoresco, próprios do estilo troubadour.[51] Essa variante do romantismo, mais voltada à Idade Média, encontrou suas vertentes na Lukasbrüder ou Confraria de São Lucas, cujos membros foram apelidados em Roma de nazarenos; nos puristas surgidos na Itália sob a inspiração destes primeiros e, ainda, na Inglaterra num agrupamento denominado Pre-Raphaelite Brotherhood (P.R.B), fundado em 1848.[52]

50.   Para além dos que cultivaram o medievalismo como fonte primordial de inspiração, como no caso de Alexandre-Évarites Fragonard (1780-1850) na França, os nazarenos reunidos no Convento de Santo Isidoro em Roma, provindos das regiões a leste do Reno, deram, a partir de 1810, um novo impulso às ideias de Wilhelm H. Wackenroder (1773-1798) e Novalis (1772-1801), buscando muita inspiração em Albrecht Dürer (1471-1528)[53] e na pintura italiana do século XIII ao XV, como Cimabue (1240 -1302) e Raphael (1483-1520). Com esse repertório e imbuídos da missão de reabilitar a arte pela religião e, conjuntamente, as tradições germânicas, os nazarenos valorizaram o desenho e contribuíram para a “riqueza imagística do pathos romântico alemão.”[54] Segundo os escritos deixados por J. F. Overbeck (1789-1869), era preciso dar novamente à arte “o coração, a alma e o sentimento,”[55] devolvendo-lhe a verdade religiosa, nacional e popular como havia sido na Idade Média. O cristianismo tinha, segundo os nazarenos, pervertido os trajes e a arte, durante o seu desenvolvimento, de uma "sujeira" pictórica, contra a qual caberia fazer a reparação, voltando às formas mais limpas, como as observadas na maioria das aquarelas de Meirelles aqui em estudo. O movimento dos nazarenos se desdobrou para um agrupamento chamado Puristas, cuja denominação já indica a preocupação com temas simples, apresentados “com limpeza extrema, com formas cromáticas concisas e brilhantes,”[56] conforme Barilli.[57]

51.   Na liderança dos puristas italianos encontra-se, nada menos que Tommaso Minardi já apresentando acima. As contribuições estritamente pictóricas de Minardi foram sempre mantidas em busca do reducionismo, em uma chave "menor," negando as realizações de grande formato e realmente confiadas à pintura, segundo Barilli. Ele era um excelente desenhista, também usando inteligentemente os recursos de tinta e realce adequado com pastéis e gizes. Os temas que ele tratou estão localizados ao longo da trajetória da antiguidade greco-romana, bem ao gosto do temário de trovadores e nazarenos, mas sob os ímpetos de um nato italiano. Também abordou as histórias de santos e temas religiosos em pequenos formatos,

52.                                [...] confirmando as melhores prerrogativas estilísticas: torcendo as figuras, tratando-as de maneiras regressivas, quase infantis, como se fosse hora de encontrar algum tipo de teatro folclórico de marionetes: simplicidade, pureza do coração, retorno aos valores primários, quase como um humilde copista das graças que consta na Madonna do século XV.[58]

53.   Em 1843, Minardi, Pietro Tenerani e Overbeck assinam juntos o manifesto Del purismo nelle arti, publicado por Antonio Bianchini, que consistia numa defesa diante das acusações dos “outros” liderados por Francesco Hayez, que criticavam o estilo purista. Apesar do embate de concepções artísticas, o purismo teve uma longa posteridade na arte italiana, especialmente na Toscana, com Luigi Mussini (1813-88), nascido na Alemanha de pais italianos. Mussini estudou na Academia de Belas Artes de Florença e, em 1840, realizou um pensionato em Roma. Oito anos mais tarde viveu em Paris e se aproximou de Ingres, entre outros. Ao retornar, mudou-se para a Toscana, trabalhou em Siena, onde fundou uma escola de artes e nesta criou um centro purista que, apesar de todas as mudanças vividas, resistiu até ao simbolismo fin-de-siècle. O naturalismo de Ingres, portanto, manteve atualizado o convite de uma arte mais “pura” que os nazarenos do começo do século XIX haviam sugerido.

54.   O romantismo italiano traz, portanto, a marca indiscutível do purismo, de um desejo de fidelidade aos primeiros tempos do Renascimento, uma adoração à Raphael que, por sua vez, contemplou o surgimento das tratadísticas de arte e da própria tradição acadêmica. Em busca deste tempo áureo, como na Inglaterra dos pré-rafaelitas, há uma contestação à vida industrializada, ao pragmatismo dos tempos urbanos e uma atitude pessimista que nega o presente para lançar uma evocação espiritual do passado. Concebem, assim, com simplicidade e contenção, a figura humana e sua ambiência, dando ao traço uma função central em cenários cujos detalhes compõem narrativas.

55.   Neste mix de avanços tecnológicos, revoluções e heróis, no qual um novo regime escópico se constituía, não apenas as paisagens com seus encantos e seus nadas - como dizia Corot, “tu não pões nada e está lá tudo”[59] - ganharam voz, assim como a gente simples e os costumes típicos regionais. Logo, nada mais consequente que um jovem como Meirelles se dedicar à execução de pranchas para registrar os costumes vestimentares de uma sociedade que ele observava sob um prisma romântico.

56.   Isso se encontra bem exemplificado na prancha da Figura 3. Se as duas figuras femininas são anônimas em suas fisionomias e expressões, os trajes que portam narram uma origem geográfica e uma marca temporal. Os volumes, a composição e as poses das figuras indicam um tempo de reclusão, de conversa e confissão - talvez - mas, sobretudo, um ritmo, aquele próprio de uma região distante da cidade, dos modismos e das mudanças bruscas. São apenas “mulheres” investidas de seus trajes próprios e, consequentemente, segundo a concepção estética vigente, mais puras porque simples. Nem bíblicas ou públicas, apenas “mulheres” de uma vila qualquer do interior italiano. Essa é uma narrativa e, como nos ensina Sônia Gomes Pereira: “Para compreender a insistência do ensino acadêmico no domínio técnico da representação da figura humana, é preciso lembrar que toda a tradição da pintura ocidental, desde o Renascimento, está ligada à função narrativa.”[60] Por isso, a singeleza de uma prancha aquarelada com duas figuras femininas não perde em narratividade visual.

57.   Segundo Louis Hourticq, Delacroix, potencializou a cor incorporando-a de sentimento e liberou o traço para além das normas, dando-lhe força impulsiva, enquanto Ingres, voltado para o natural entendido como o essencial, colocou sua imaginação a serviço da realidade, permitindo que ao mesmo tempo se observasse “uma simples boca entreaberta e se admirasse uma ingenuidade pensativa,” de modo que, “com sua linha abstrata e apesar de sua arte totalmente imaterial, [Ingres] incorporou em suas belas curvas até mesmo o calor da carne.”[61]

58.   Como Hourticq ao se referir aos efeitos estésicos dos artistas românticos consagrados, Jorge Coli, escrevendo sobre Meirelles em Roma, enfatizou o vínculo do artista ao purismo e registrou: “a pintura linear dos nazarenos e puristas não desdenhava, de modo nenhum, a paisagem.” Neste mesmo sentido, Coli completa: “Por Minardi, e pelo estímulo oferecido pelo ambiente romano, Meirelles chegou à soberba maestria da fusão das cores na espessura do ar.”[62]

59.   Percorrendo a formação realizada em Paris, Coli considera a influência sobremaneira de Andrea Gastaldi (1826-1889), no estilo de Meirelles que superou o empenho narrativo e rigoroso de Cogniet. Mônica Xéxeo compartilha da visão de Coli sobre a importância da formação auferida por Meirelles entre 1853 e 1861. Ela diz que “seu aperfeiçoamento europeu o marcou profundamente [...] foram fundamentais para a sua formação artística e o influenciaram por toda a vida”[63] e segue, em seu texto de 2004, tratando das grandes obras do artista.

60.   Contudo, Coli ou Xéxeo não chegaram as suas conclusões remontando às pranchas da coleção de trajes italianos e sim considerando as obras consagradas. Todavia, é mais evidente na argumentação de Coli em que consistiu o purismo e como ele se manifestou na produção de Meirelles, mesmo após o pensionato:

61.                                 É o ambiente romano que contribui para enfraquecer a materialidade das linhas, para a simplificar os volumes, para definir a nitidez das superfícies, para submeter o traço à regência das formas abstratas, para tornar discreto o colorido sensível, sem violências, de sua pintura.[64]

62.   Assim, Coli conduz seu leitor a compreender a extraordinária leveza da linha que marca a produção de Meirelles, o que torna impalpável os limites da forma. Tal maestria diz respeito ao exaustivo exercício decorrido na execução das pranchas coloridas observadas, nas quais a leveza do traço e a singeleza da gradação de tons da aquarela impecável faturam a poética compositiva de Meirelles.

63.   As experiências criativas, de estesia e de revisão das próprias normas vigentes no campo artístico tanto envolveu o jovem Victor como semeou as inovações conceituais que ocorreriam, como a “objetividade de visão do Realismo e o purismo impressionista”, pois, no final do século XIX, “as tendências simbolistas mostram a perseverante infiltração dos conceitos românticos no pensamento e na sensibilidade europeus.”[65]

64.   Assim, compreendendo as pranchas de Victor Meirelles flutuando entre estudos de panejamentos, exercícios de desenho impecável e concepções puristas do pitoresco, se arrisca também a compreendê-las como uma paisagem romântica.

65.   Ao se dizer paisagem romântica não se restringe o termo às telas suaves, cheias de arbustos e vastos céus e horizontes que pintores como Corot assinaram, o que nem seria o caso de ser observado nas pranchas estudadas. Afinal, basta lembrar que se, nas diversas telas dos paisagistas românticos, as categorias estéticas do sublime se fazem evidentes, ao caráter de Meirelles, no silêncio de suas figuras, a paisagem semântica[66] que predomina é a da consistência de um corpo completo, vestido em todos os detalhes, caracterizados por seu gênero, condição de trabalho e origem.

66.   Pierre Levy considera o texto como uma paisagem móvel e acidentada, sendo ele esburacado, riscado e semeado de brancos, no qual os leitores não são obrigados a percorrer um único caminho, mas têm a possibilidade mesmo de “produzir dobras interditas,”[67] fazendo com que outros efeitos de sentidos entre os sujeitos se estabelecem. Portanto, mediante essa ideia de Levy, considera-se os “estudos de trajes italianos” de Meirelles como textos sempre aptos à atualização, uma viagem por contornos e formas que levam a um campo textual maior, móvel e também reconfigurável. Tanto que as pranchas em que a figura não possui o olhar desenhado, por exemplo, reafirmam a proposta que é o traje - na composição daquela posição corporal que produz um panejamento próprio e registra um tipo social particular - a paisagem móvel e acidentada, porém intacta, pela qual o olho deve passar.

Algumas palavras finais

67.   A despeito da consagração da Academia Francesa e de ter sido nela que Meirelles esboçou, compôs e foi encaminhado à exposição de sua obra inaugural - a Primeira Missa no Brasil - foi imerso numa proposição de arte pictórica firmada no purismo, que o pensionista brasileiro cunhou sua poética e, logo, nada mais emblemático dessa sua trajetória formativa do que as 104 pranchas coloridas de trajes italianos.

68.   A maestria do desenhista, do pintor da memória nacional, das batalhas com suas comoções e singeleza foi conquistada a partir do exaustivo exercício decorrido da execução das pranchas coloridas observadas, nas quais a leveza do traço e a singeleza da gradação de tons da aquarela impecável faturam a poética compositiva de Meirelles, dando a sutileza indizível daquelas narrativas silenciosas em composições uníssonas de corpos vestidos.

69.   Essas pranchas sempre ocuparam uma clave menor nos estudos e discussões sobre a obra de Victor Meirelles de Lima. Por vezes, ilustraram alguns textos posteriores, estiveram presentes em muitas exposições como complemento das grandes telas, mas até então nunca foram tomadas como objeto de estudo da expressão formativa do artista que as compôs. Espera-se que o presente texto tenha dado o seu devido relevo a esse trabalho exaustivo; afinal, são mais de uma centena de pranchas, excelentes na qualidade representativa de trajes e tipos populares italianos e de uma harmonia compositiva que ultrapassa muitas de suas similares, produzidas por outros artistas do século XIX.

70.   Também é certo que uma tradição associada à representação de trajes regionais, vigente no século XIX e, especialmente, na Itália reforçava a motivação de Meirelles para tal produção, o que se discutiu na obra resultante da pesquisa.

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[1] Doutora em História (UFRGS, 2005), professora efetiva da Universidade do Estado de Santa Catarina e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da mesma instituição. Realizou pós-doutoramento em História na Université de Strasbourg (2011) e em Artes Visuais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017)

[2] BIELINSKI, Alba Carneiro. O “senhor do desenho” no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, 2009. In: TURAZZI, Maria Inez (org.). Victor Meirelles: novas leituras. São Paulo: Studio Nobel Museu Victor Meirelles, 2009.

[3] PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São Paulo, Martins Fontes, 1989.

[4] ROSA, Ângelo Proença da, et al. Victor Meirelles de Lima (1832-1903). Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 1982.

[5] COLI, Jorge; XEXÉO, Mônica F. Braunschweiger. Vitor Meireles, um artista do império. Rio de Janeiro: MNBA, MON, 2004.

[6] PEREIRA, Sonia Gomes. Victor Meirelles e a Academia Imperial de Belas Artes. In: TURAZZI, Maria Inez (org.). Victor Meirelles: novas leituras. São Paulo: Studio Nobel Museu Victor Meirelles, 2009.

[7] O corpus documental da pesquisa foi o total de 104 pranchas coloridas e 66 com desenhos não coloridos, sendo assim distribuídas: 72 coloridas pertencentes ao Museu Nacional de Belas Artes, 21 do Museu Victor Meirelles e 11 de colecionadores particulares.

[8] Ver estudo completo em: SANT’ANNA, Mara Rúbia. O jovem Victor Meirelles: tempos, traços e trajes. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes; Florianópolis: Museu Victor Meirelles, 2021.

[9] BURUCÚA, José Emilio. Las pathosformeln de lo cómico y el grabado europeo a comienzos de la modernidad. In: Encantos da imagem: estâncias para a prática historiográfica entre história e arte. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2010. p. 19-79.

[10] PIROTTE, Jean. Images et critique historique. In: JADOULE, Jean-Louis. L’histoire au prisme de l’image. Vol.1: L’historien et l’image fixe texte. Louvain/BG: Université Catholique de Louvain, 2002.

[11] DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el tiempo: historia del arte y anacronismo de las imágenes. - 4ª. ed -  Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2015.

[12] ANTELO, Raul. A imanência histórica das imagens. In: Encantos da imagem: estâncias para a prática historiográfica entre história e arte. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2010, p. 9.

[13] ROSA, op. cit., 1982, p. 31

[14] PEREIRA, op. cit., p. 48-49

[15] NARLOCH, Charles. Trajes italianos, poesia na formação de um neoclássico. In: ROSSETTO, Lourdes et al. Victor Meirelles: Estudos de Trajes italianos. Florianópolis: Museu Victor Meirelles, 2006, p. 8.

[16] ANTELO, Raul. Um desejo vacilante. In: ROSSETTO, Lourdes et al. Victor Meirelles: Estudos de Trajes italianos. Florianópolis: Museu Victor Meirelles, 2006, p. 22

[17] LINDOTE, Fernando. Academia, moda, mercado…  In: ROSSETTO, Lourdes, et al. Victor Meirelles: Estudos de Trajes italianos.Florianópolis: Museu Victor Meirelles, 2006,.p. 29

[18] COLI, Jorge. Meirelles em Roma. In: Victor Meirelles, um artista do império. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 2004, p. 25

[19] Numeração da catalogação das pranchas no acervo do Museu Nacional de Belas Artes e operadas neste sistema na pesquisa que ensejou o presente texto.

[20] PEVSNER, Nikolaus. Les académies d’art. Paris: G. Monfort, 1999.

[21] LISBOA, Maria Helena. As academias e escolas de belas artes e o ensino artístico. Lisboa: Ed. Colibri IHA/Estúdios de Arte Contemporânea, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2007.

[22] Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k134521m.r=pintura%20pintura?rk=21459;2 Acesso em: 28/02/2020.

[23] LISBOA, op. cit., 2007.

[24] ROSA, op. cit., 1982.

[25] GOLDSTEIN, Carl. Teaching Art: Academies and Schools from Vasari to Albers. Cambridge, New York: Cambridge University Press, 1996.

[26] Atualmente, a Academia de São Lucas se encontra no Palácio Carpegna, ali instalada desde 1932.

[27] O processo de unificação dos estados Italianos, chamado de Risorgimento, iniciado em 1815, se desdobrou em fases: a primeira de 1848 a 1849, a segunda de 1859 a 1860 e a derradeira a partir de 1866, findando-se apenas em 20 set. 1870, com a anexação de Roma. Logo, Victor Meirelles se encontrou na região exatamente no momento de trégua destas lutas, mas cujas questões não haviam sido resolvidas no âmbito político e econômico, o que certamente interferiu na qualidade de vida e ensino ali usufruído. Ver mais em: JANNUZZI, Giovanni. Breve história de Itália. Buenos Aires: Letemendía, 2005.

[28] CONSONI, Claudia. Restauro conservatio e restauro integrativo: l’intervento di Nicola Consoni sull’afresco di Raffaello e Perugino in San Severo. Revista Ricerche di Storia dell’Arte, 1997, n. 62. Dossie: Cavalcaselli e il dibattito sul restauro nell’Italia dell’800.

[29] FUGIER, Anne Martin. La vie d’artiste au XIX siécle. Paris Audibert, 2007

[30] ROSA, op. cit., p.28-29.

[31] A ruptura desse modelo é anunciada a partir da irreverência do Salon des réfusés, isto é, da exposição feita alheia à Academia de Belas Artes pelos artistas que ousavam não obedecer aos cânones acadêmicos.

[32] Este texto, encontrado dentre as obras raras da Biblioteca de Strasbourg, está datado de 04 de setembro de 1834 e consiste na transcrição do discurso feito por Minardi na Academia de Arqueologia, como emissário da Academia de São Lucas, na cidade de Roma. Atualmente, disponível digitalizado em: https://play.google.com/store/books/details?id=IMG78ZiBbr4C&rdid=book-IMG78ZiBbr4C&rdot=1 

[33] O termo utilizado é “subbjetti.” Contudo, mesmo em dicionários de italiano antigo ou latim, o termo não aparece explicado/encontrado. Por isto, foi traduzido da maneira mais conveniente no conjunto da frase.

[34] MINARDI, Tommaso. Della qualita essenzalli della pintura italiana dal suo rinasciment fino all epoca de la perfezione... Roma, 1834,.p. 9.

[35] GOLDESTEIN. op. Cit.

[36] LE CHANU, Patrick. Le drapé: carnet de dessins. Paris: La Bibliothèque de l'image, 2002, p. 14.

[37] Idem, p. 16.

[38] COLI, op. cit., p. 30

[39] Óleo sobre tela. 130,0 x 96,9 cm. Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes. Disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/degola%C3%A7%C3%A3o-de-s%C3%A3o-jo%C3%A3o-batista/4QF851lJohrEMg. Acesso em: 30/04/2020.

[40] COLI, Op. cit, p. 21

[41] GUINSBURG, J. (org). O romantismo. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011, p. 13.

[42] REYNOLDS, Donald. A arte do século XIX. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1986.

[43] JAY, Martin, ALBARET, Michèle. Les régimes scopiques de la modernité. Réseaux, v. 11, n. 61, 1993, p. 107.

[44] HONOUR, Hugh; FLEMING, John. The Visual Arts: A History. - 7 ed. - Laurence King, 2013.

[45] JULIA, Isabelle. L’etourdissement des paysages. In: 1815 - 1850 les années romantiques, Paris Musées Nationaux, 1995, p. 140.

[46] Idem, p. 141.

[47] Idem, p.144.

[48] CUSSINET, Marie-France. Bohémiennes et saltimbanques dans les musées d’Auvergne. In: AURAIX-JONCHIERE, Pascale; LOUBINOUX, Gérard. La bohémienne: figure poétique de l'errance aux XVIIIe et XIXe siècles : actes du colloque du Centre de recherches révolutionnaires et romantiques. Collection Révolutions et Romantisme. V. 8. Université Blaise-Pascal, Clermont-Ferrand, 2003, p. 316.

[49] VALENCIENNES. Elemens (sic) de perspective pratique à l’usage des artistes de réflexions et conseils à une élève sur la peinture et particulièrement sur le genre du paysage. Paris, an VIII (1800)., p. 626.

[50] SAFRANSKI, Rüdiger. Romantismo: uma questão alemã. São Paulo: Estação Liberdade, 2010.

[51] Estilo que marcou o início do século XIX com a valorização da Idade Média e adoção do que, supostamente, representava esse período nos diferentes domínios da arte, da decoração e até nas cerimônias estatais do Império de Napoleão Bonaparte e seus sucessores. Ver : PUPIL, François. Le style troubadour ou la nostalgie du bon vieux temps. Nancy: Presses Universitaires de Nancy, 1985.

[52] CALLFORT, Michel. Les Nazaréens français. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2009.

[53] Importante destacar que as primeiras litogravuras com trajes típicos são atribuídas a Albrecht Dürer. Ver: Capítulo 2: Narrativas da tradição. In: SANT’ANNA, op. cit.

[54] ZANINI, Walter. A arte romântica. In: GUINSBURG, J. (Org). O romantismo. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011, p. 199.

[55] Apud CALFFORT, op. cit., p.228

[56] BARILLI, Renato. Storia dell'arte contemporanea in Italia: da Canova alle ultime tendenze, 1789-2006. Torino: B. Boringhieri, 2007, p. 62

[57] Ibidem.

[58] Idem, p. 64.

[59] COROT apud CHRIST, Yvan. A arte no século XIX. São Paulo: Martins Fontes, 1986. p. 23.

[60] PEREIRA, op. cit., p. 49.

[61] HOURTICQ, Louis. Encyclopédie des beaux-arts. - Architecture - Sculpture - Peinture - Arts Décoratifs.Paris: Hachette, 1925, p. 432

[62]  COLI, op. cit., p. 29

[63] XEXÉO, Monica. Os primeiros anos. In: Victor Meirelles, um artista do império. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 2004, p. 46

[64] COLI, op. cit., p. 37.

[65] ZANINI, op. cit., p. 206.

[66] “A inteligência do leitor levanta por cima das páginas vazias uma paisagem semântica móvel e acidentada” (LÉVY, Pierre. Cibercultura. - 2. ed. - São Paulo: Ed. 34, 1999, p.35).

[67] Idem, p. 37.