Provincializando Paris. A narrativa centro-periferia da arte
moderna à luz das abordagens quantitativa e transnacional *
Béatrice
Joyeux-Prunel **
JOYEUX-PRUNEL, Béatrice. Provincializando
Paris. A narrativa centro-periferia da arte moderna à luz das abordagens
quantitativa e transnacional. 19&20, Rio de Janeiro,
v. XIV, n. 2, jul.-dez. 2019. https://www.doi.org/10.52913/19e20.XIV2.01
*
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1. Quando
Napoleão III abriu a Exposição Universal de Paris em 1855 - um evento
organizado para mostrar que Paris equivalia a Londres em termos industriais,
mas era superior em termos artísticos -, o poeta Charles Baudelaire escreveu:
2.
[...] la vitalité se déplace, elle va visiter
d’autres territoires et d’autres races [...] les lois [...] déplacent la vitalité
artistique, et [...] Dieu dépouille les nations
quelquefois pour un temps, quelquefois
pour toujours…[1]
3. Muitos
dos contemporâneos de Baudelaire também pensavam que “vitalidade se deslocava,”
que Paris havia tomado o lugar de Roma, assim como Roma havia sucedido a
Bizâncio, Bizâncio a Atenas, Atenas a Alexandria, etc.
Hoje, Nova Iorque é considerada o novo centro mundial de arte, tendo “roubado o
Modernismo” de Paris depois de 1945.[2]
4. A
narrativa canônica da história da arte nunca contestou a ideia de que uma
sucessão de centros artísticos dominou o mundo da arte. Isso decorre de uma
concepção ingênua da história global, apoiada em três pressupostos principais
que estão no cerne do mito modernista: o primeiro, que a arte progride de forma
linear; o segundo, que a inovação acontece em um “centro” que decide, por assim
dizer, “que horas são” - uma espécie de Meridiano de Greenwich da modernidade;[3] e,
finalmente, que as periferias permanecem limitadas a imitações, empréstimos ou
influência. De acordo com essa ideia espaço-temporal de progresso artístico,
diferentes posições estéticas (da tradicional à modernista) correspondem a
diferentes posições espaciais. O pintor abstrato Wassily Kandinsky, por volta
de 1912, assim se referia a isso:
5.
Im praktischen Leben wird man kaum einen Menschen finden, welcher, wenn er nach Berlin fahren will, den Zug zu
Regensburg verlässt. Im geistigen Leben ist das Aussteigen in Regensburg eine ziemlich gewöhnliche.[4]
6. O tempo
e o lugar estão tão fatalmente associados, enquanto os lugares são tão
hierarquizados? O enquadramento centro-periferia é essencial para o mito do
Modernismo. Numerosas vanguardas, se não a maioria delas, justificaram sua
legitimidade por meio da ideia de que o Modernismo contribuiu para a influência
internacional de seu próprio país. Os partidários do Impressionismo em Paris
fizeram isso tão logo a III República Francesa foi consolidada em 1875.[5] O
mesmo foi feito por seus pares na Alemanha e na Áustria.[6] Os
cubistas parisienses e os expressionistas alemães ganharam reconhecimento
institucional em nível local alegando que serviam a seus países na competição
internacional pela hegemonia cultural.[7] Após
1945, não apenas os expressionistas abstratos e seus partidários,[8] mas
também, depois deles, os promotores da Arte Pop usaram o diapasão nacional para
impor sua existência diante de uma esfera pública que reivindicava poder
cultural para os Estados Unidos da América.[9]
7. A
dualidade centro-periferia também é essencial para a discussão acadêmica sobre
o Modernismo. Os estudos pós-coloniais e os estudos subalternos denunciaram
suas implicações políticas e sociais.[10] Esses
estudos diagnosticaram o efeito humilhante da dominação do centro não apenas na
constituição de arquivos e coleções de museus, mas também no caráter ocidental
dos termos e questões colocadas. As reflexões pós-coloniais levaram a
reconsiderar seriamente o espaço dado às áreas tidas como periféricas e,
portanto, “atrasadas” com relação à vanguarda.
8. No
entanto, pouco pode ser feito contra tal ideia hierárquica de Modernismo
enquanto os nossos objetos permanecerem localizados em uma capital e
continuarmos a usar os esquemas de interpretação nacionais. Examinando a
chamada centralidade de Paris até 1945, este artigo destaca como as abordagens
que se valem de diferentes escalas de análise - em vez da monografia
tradicional, do estudo estilístico ou do antigo prisma nacional - produzem uma
história diferente do Modernismo, a qual não é dominada por Paris até 1945.
Primeiro, a análise em escala macro da circulação da arte moderna antes de 1914
leva à uma interpretação da arte moderna como um espaço policêntrico,
onde lógicas sociais e geopolíticas dominavam. Em seguida, concentrando-me no
período entre as duas guerras, mostrarei como um estudo da rede global do
Modernismo questiona a própria ideia de uma centralidade parisiense antes da
Segunda Guerra Mundial, em escala global.
ARTE MODERNA COMO MOBILIDADE GLOBAL
9. A arte
moderna sempre circulou. Por que não, então, estudamos sua história em uma
perspectiva de circulação e tentarmos fazer isso globalmente, em duas direções
- em escala global e com big data? Um estudo quantitativo da
internacionalização da pintura de vanguarda europeia antes da Primeira Guerra
Mundial fornece uma ideia global e inovadora sobre os anos formativos do
Modernismo.[11] Ele
desafia a narrativa de que a “modernidade” do século XIX era um processo
centralizado, com Paris como capital. Simultaneamente, esse estudo também
questiona as ideias de que o internacionalismo e o antinacionalismo
eram virtudes específicas dos artistas modernos, bem como de que as práticas
artísticas modernas evoluíram em uma progressão contínua, em direção à
abstração e à autonomia artística.
Estudo quantitativo de catálogos de exposições
em escala global
10. O
trabalho aqui apresentado é baseado em uma coleção de catálogos de exposições e
foi completado por meio de pesquisa de arquivos. Adotou-se um ponto de vista
distanciado para analisar a exportação e a importação de obras de arte
europeias modernas entre as décadas de 1850 e 1914. O estudo transitou do nível
individual para o coletivo; dos mercados locais e nacionais para um contexto
internacional; e das obras de arte e discursos que as cercavam para as suas
recepções. Tendo primeiramente identificado um conjunto de artistas que eram
considerados e pretendiam ser de vanguarda, a ideia era estudar as
oportunidades que esses artistas tinham de exibir no exterior, bem como
verificar quais de suas obras eram exibidas e quais não eram, com vistas a
rastrear as circulações precisas de suas obras e destacar suas trajetórias
artísticas. O banco de dados relacional que desenvolvemos ajudou a listar
exposições, contabilizar artistas, acompanhar obras de arte e identificar
importantes intermediários transnacionais, como organizadores de exposições,
críticos de arte, tradutores, comerciantes e colecionadores. Com o objetivo de
ir além dos estudos de caso pouco articulados em direção a lógicas mais
estruturais, este estudo destacou canais e redes que eram favoráveis - ou não -
a essa internacionalização. Assim, analisou-se de que modo a reputação das
vanguardas parisienses foi construída e percebida na época, e perscrutou-se como sua estética se adaptou ao longo dessas
circulações. O banco de dados também permitiu colocar os preços das obras de
arte em perspectiva, bem como perceber sua evolução durante a circulação,
quando as informações sobre tais preços estavam disponíveis. O estudo
contribuiu, portanto, para uma ampla análise do que hoje é entendido como a
primeira globalização do mercado de arte moderna.
11. Mesmo
tendo um ponto de partida “parisiense,” as escolhas iniciais de trabalhar de
forma seriada e transnacional produziram um quadro incomum do Modernismo e de
sua geopolítica. Demonstrou-se que a internacionalização da vanguarda
parisiense do século XIX não seguiu lógicas centralistas, mas, antes, que ela
se assentou-se em estratégias diferenciadas, adaptadas aos inúmeros sistemas de
recepção envolvidos. O estudo mostrou uma distribuição e exibição diferenciadas
de inovação artística de acordo com lugares, mercados e ambientes. Portanto, a
internacionalização dos mercados e estilos de arte moderna parisiense não pode
ser descrita como um fenômeno de difusão.
12. Diferenciar
exposições internacionalmente mostrou-se uma estratégia eficiente, que não foi
usada apenas por atores parisienses.[12] Do Realismo
ao Impressionismo, e até mesmo ao Cubismo, Expressionismo e Futurismo, as várias vanguardas europeias não
hesitaram em alterar sua produção de acordo com seus diferentes mercados:
usualmente, vanguardismo para o mercado local, arte mais palatável para os
mercados estrangeiros. Já em 1850, o pintor parisiense
Gustave Courbet pretendia vender suas enormes
pinturas de cervos na Inglaterra e na Alemanha, explicando a seu amigo, o
escritor Champfleury: “A Alemanha é um lugar para
grandes caçadas; é um lugar de grandes e pequenos nobres, que estão ali para
gastar dinheiro.”[13] O
posicionamento social e político do Realismo foi deixado de lado diante dos
mercados estrangeiros. Essa estratégia também foi implementada de maneira
sistemática pelos chamados naturalistas. Determinados desde 1858 a encontrar
pontos de venda na Inglaterra enquanto simultaneamente permaneciam
vanguardistas no campo parisiense, pintores “independentes,” como James Whistler, Henri Fantin-Latour e Alphonse Legros, basearam suas estratégias em um tipo específico de
produção para seus colecionadores. Fantin-Latour começou fazendo cópias de
quadros de mestres antigos para colecionadores em Londres e depois lançou-se na
produção de naturezas-mortas e retratos cuja existência ele não desejava
revelar ao mercado parisiense. Esses três tipos subestimados de atividade
artística faziam com que Fantin-Latour se sentisse envergonhado, como revelam
suas cartas.[14] No
entanto, eles permitiam que ele ganhasse a vida. Como se quisesse exorcizar
este compromisso, Fantin-Latour atacou ainda mais o academicismo em seus
manifestos pintados enviados ao Salon em Paris, como L'Hommage
à Delacroix em 1864 (Paris, Musée d’Orsay).
13. Estratégias
semelhantes podem ser identificadas entre os “impressionistas” alemães que
regularmente exibiam trabalhos convencionais no tradicional Salon
acadêmico na França, durante a década de 1880, e estavam bem integrados nos
círculos artísticos de Paris, mas cujas obras luminosas foram mal recebidas na Alemanha.[15]
Alguns artistas escolhiam os lugares onde queriam causar escândalo e aqueles em
que ansiavam por uma boa recepção. O pintor norueguês Edvard Munch escolheu
conscientemente escandalizar Berlim, enquanto tentava agradar nos salões
modernos de Paris.[16] Tais
estratégias individuais e coletivas eram baseadas em comparações nacionais
espontâneas e tinham muito a ver com lógicas triangulares de mimese.[17]
Depois de 1910, o desenvolvimento de polêmicas artísticas internacionais, a
internacionalização das vanguardas e o surgimento de grandes feiras
internacionais de arte levaram a estratégias mais sutis. Alguns artistas, como
Robert Delaunay ou Marc Chagall,
mais uma vez optaram por exibir obras cuja estética variava de país para país,
às vezes retocando suas telas, mudando seus títulos e até mesmo, como Delaunay fez com a ajuda de Apollinaire, comentando suas
obras de diferentes maneiras em Berlim, Moscou e Nova Iorque.
14. Embora
tivesse dado um passo em direção à abstração em 1913-1914, Delaunay
ainda exibia apenas obras figurativas na França, enquanto expunha suas pinturas
abstratas na Alemanha. Com suas pinturas figurativas, ele exaltava a influência
de Paris como a capital mundial da arte moderna - por exemplo, com La Ville de Paris, uma enorme composição cubista que
celebrava a cidade no Salon des Indépendants de 1912, ou com L'Equipe
de Cardiff [Figura 1], uma
pintura que comemorava o único jogo de rúgbi vencido pela França em um momento
em que a imprensa francesa lamentava a inferioridade nacional nesse esporte.[18] Em
1914, Delaunay enviou sua Hommage
à Blériot para o Salon des
Indépendants em Paris, celebrando o triunfo da
França uma vez que o aviador francês Louis Blériot teria
sido a primeira pessoa a voar sobre o Canal da Mancha, em 1909.[19] Para a Alemanha, ao contrário,
Delaunay enviou trabalhos abstratos com títulos
obscuros e mensagens cosmopolitas - por exemplo, no Erster
Deutscher Kunstsalon em Berlin, no outono de
1913: Contraste Simultané Mouvement
de Couleur Profondeur (cat.
n. 78), Contraste Simultané Mouvement
de couleur profondeur Prisme Soleil 1 (cat. n. 79), Contraste Simultané Mouvement de couleur profondeur Prisme Lune 2 (cat. n. 80).
15. Portanto,
do Realismo na década de 1850 às virulentas variedades do Futurismo nos anos
1910, a inovação artística de vanguarda e o reconhecimento foram possibilitados
por um détour físico e simbólico no exterior.
Até mesmo a construção da reputação internacional do fundador parisiense do
Cubismo, Pablo Picasso, foi possível graças a exposições estrangeiras
diferenciadas entre si. O jovem marchand alemão de Picasso, Daniel Henry Kahnweiler, situado em Paris, parou de expor seu artista na
capital francesa em 1909, um ano depois de começar a representar o Cubismo em
sua galeria; em vez disso, ele enviou as obras de Picasso para o exterior. Mas
até 1913, Kahnweiler não enviou os trabalhos cubistas
mais avançados. Foi apenas após esse ano que ele ousou enviar o Cubismo de
Picasso para a Alemanha e a Europa Central; mas ele sempre fez isso no interior
de conjuntos maiores que apresentavam a pintura de Picasso de fases
anteriores (tais como os Períodos Azul e Rosa e o Cubismo cézaniano).[20] Como
resultado, os públicos estrangeiros podiam ver que Picasso era um pintor
habilidoso, que evoluíra progressivamente para o Cubismo. Por essa razão, os
estrangeiros estavam mais bem informados sobre Picasso do que os parisienses:
daí os rumores que circularam em Paris sobre a recepção estrangeira da obra de
Picasso, o que aumentou a reputação do artista na França. O détour,
evidenciado pelo estudo da circulação das exposições, conferiu ao Cubismo uma
legitimação estrangeira. Por sua vez, Apollinaire, um amigo dos Cubistas,
resumiu esse processo afirmando que “ninguém é profeta em seu próprio país.”[21] Esse
tipo de desvio permitia que os artistas permanecessem vanguardistas em um
determinado campo artístico (geralmente o local) e, ao mesmo tempo, exportassem
um tipo de pintura vendável para um campo diferente. No nível simbólico, o
provérbio de que “ninguém é profeta em sua terra” atiçava as consciências
nacionais culpadas das elites europeias e legitimava as vanguardas.
Surpreendentemente - já que isso vai contra o mito do Modernismo - esse
processo de legitimação baseava-se principalmente em uma lógica nacional - e
mesmo nacionalista - de comunicação e mídia, contra a qual a vanguarda não se
opunha. Artistas modernos e seus introdutores em países estrangeiros se valeram
da reivindicação de hegemonia internacional para estratégias locais, de tal
forma que o “internacionalismo” se tornava compatível com o nacionalismo.
Para cada moderno, sua própria centralidade
16. Na escala
das instituições e das elites sociais, o reconhecimento e a institucionalização
do Modernismo estiveram intimamente ligados a um esforço coletivo para obter
centralidade. As elites liberais das principais capitais da Europa, assim como
dos Estados Unidos e da América Latina, e mais tarde do Oriente Médio e da
Ásia, passaram gradualmente a lutar por um lugar para suas cidades no mapa
global da modernidade. Organizar exposições regulares e seletivas de arte
moderna era uma maneira de fazer isso.[22] A
geografia global desses salões não produz um mapa necessariamente centrado em
Paris. Em sentido estrito, o primeiro salão moderno não foi fundado em Paris,
mas em Bruxelas em 1883 - trata-se do Salon des Vingt. O Salon des Indépendants, fundado em Paris em 1884, por seu turno,
foi desprezado pela maioria dos artistas modernos que preferiram expor no
seletivo Salon des artistes
français. Depois de 1890, os “modernos” fundaram
numerosos salões seletivos na Europa. Essas secessões foram modeladas uma sobre
a outra. O exemplo da Société nationale des beaux-arts parisiense
(SNBA, fundada em 1890) foi inspirado no Salon des
Vingt belga (1883), que contou com os “selected” jeunes,
como eles próprios se chamavam, usando uma palavra inglesa para expressar sua
singularidade.[23] A
SNBA e os Vingt foram modelos para a Secessão
de Munique (1892) e para a Bienal de Veneza (1895). Por sua vez, esses Salons modernos e seletivos, fundados
em Bruxelas, Paris, Munique e Veneza, inspiraram as Secessões de Viena (1897) e
de Berlim (1898), as exposições da Sociedade Manes em Praga (depois de 1897),
bem como outras secessões na Europa Central até a Sociedade de Exposições Mir iskusstva (O
Mundo da Arte) em São Petersburgo, na virada do século. Depois de 1900,
exposições modernas tornaram-se eventos regulares na maioria dos centros
culturais da Europa. Muitas cidades passaram a competir, a partir de então, por
hegemonia cultural [Figura 2
e
Figura 3].
17. Como
modelo explicativo, o discurso “centro-periferia” deixa de lado não apenas
aqueles que não participaram do jogo no centro, mas também aqueles que não
viveram a geopolítica internacional das artes de forma hierárquica, assim como
aqueles que capitalizaram essas hierarquias e as subverteram em prol de suas
próprias estratégias. De fato, a questão das geografias e hierarquias
artísticas tinha muito a ver com “comunidades imaginadas.”[24] A
promoção da internacionalização para desenvolver uma “verdadeira arte nacional”
foi um tema recorrente na maioria dos círculos modernos da Europa fin‐de‐siècle.
Pode-se encontrá-la na fundação de cada novo círculo moderno, Salon ou
revista em todo o mundo até a década de 1950, quando muitos museus de arte
moderna e bienais foram criados. Museus de arte moderna foram inaugurados em
São Paulo e no Rio de Janeiro em 1948; em Buenos Aires, em 1956-7; em Dubrovnik
em 1945; em Paris em 1947; e em Zagreb em 1954. O Louisiana Museum abriu suas portas em 1958, não muito longe de
Copenhague, no mesmo ano em que se abriu o Moderna Museet,
em Estocolmo. Ao mesmo tempo, outros museus foram ampliados para receber a arte
moderna, do Stedelijk Museum de Amsterdã, em
1954, ao novo prédio para as coleções modernas da Nationalgalerie
de Berlim. Outras cidades organizaram bienais, que eram menos dispendiosas e
que provaram ser mais representativas em um circuito de eventos internacionais:
retoma-se a Milano Triennale (1947), a Roma
Quadriennale e a Bienal de Veneza (1948), e
inauguram-se as Bienais em São Paulo (1951), Tóquio (1952) e Lubljana (1955), bem como a Documenta em Kassel
(1955).
18. Em
contextos em que o local incorporou o internacional, e o internacional
incorporou o local, cada um passou a ter seu próprio centro para o Modernismo,
de acordo com seus objetivos e interesses específicos. Muitos atores podiam
mudar seus discursos sobre o centro de um lugar para outro. Por exemplo, os
modernistas de Barcelona jogavam com os de Paris contra Madri;[25]
alguns dos artistas modernos parisienses aliavam-se aos de Londres (no caso dos
realistas), de Bruxelas (no caso do neo-impressionistas)
ou de Berlim (no caso dos fauves) contra seus
respectivos rivais franceses; artistas de Berlim aliavam-se com os de Paris e
às vezes de Munique, contra a cultura wilhelminiana;
os de Viena com os de Paris e Bruxelas, contra os de Berlim; aqueles de Praga
com os de Paris, contra os de Viena; os de São Petersburgo com os de Paris e
Viena contra os de Moscou, et cetera. Mas, no exterior,
sempre era interessante se referir aos próprios pertencimentos locais.
O centro de arte moderna antes de 1914: uma
elite social transnacional
19. Como
resultado, dependendo do contexto, Paris era até 1914, ou um alvo central ou um
trunfo na luta internacional modernista contra o “antigo,” definido em termos
teóricos. Além disso, não era uma capital geográfica que dominava o campo
internacional da arte moderna no início do século XX, mas, antes, uma elite
social específica: um meio social transnacional e cosmopolita reinou no
Modernismo. Pode-se medir a importância dessa elite na organização e na
composição dos salões modernos, cujos comitês listados nos catálogos apresentam
nomes que reaparecem de um salão para o outro. Numerosos testemunhos sublinham a
proximidade entre as secessões em todo o mundo, não apenas por causa de seus
objetivos similares e dos estilos semelhantes que promoveram, mas também por
causa de sua homogeneidade social. Em 1906, escrevendo para o negociante
parisiense Paul Durand-Ruel, a pintora estadunidense
Mary Cassatt lamentou a semelhança entre a Sociedade
Internacional de Pintores, Escultores e Gravadores de Londres, e Société nationale des beaux-arts
parisiense:
20.
Je viens
de recevoir une lettre de
M. Pennel de la part du Comité de l’Exposition Internationale à Londres. [...] Les peintres résidant
à Paris et faisant partie
de cette exposition sont les mêmes
qui font partie à Paris de la Société Nationale.[26]
21. Os
valores da elite cosmopolita moderna impregnaram as numerosas “pequenas
revistas” da época: L’Art Moderne (Bruxelas, 1881‐1914); as parisienses La Revue Indépendante (1884‐
1895), La Plume (1889‐1914),
La Revue Blanche (1889‐1903)
e o Mercure de France (1890); a
londrina The Studio (1893); as berlinenses Pan (1895‐ 1900) e Kunst
und Künstler (1902‐1933); Jugend (1896‐1940) em Munique, em acréscimo
a Ver Sacrum (1898‐1903) de Viena; La
Battaglia per l’Arte de Milão (1892‐1893); ou Taarnet
da Dinamarca (1893‐1894).
Em todas essas revistas, os layouts, tipografias e ilustrações eram
semelhantes, os Salons analisados eram
os mesmos, assim como eram os mesmos os nomes citados. Quanto aos autores, eles
escreviam para vários títulos, às vezes com o mesmo artigo sendo simplesmente
traduzido para um idioma diferente. Colunas eram adornadas com reproduções dos
artistas conhecidos que exibiam nas secessões - impressionistas reconhecidos,
simbolistas famosos, importantes nomes da Art
nouveau e do Jugendstil… As revistas da
elite moderna foram decisivas para a promoção da arte moderna. Em Berlim, Kunst und Künstler, fundada em 1902 por Bruno Cassirer, apoiou os
secessionistas. Primo de Bruno e seu antigo sócio comercial era o negociante de
arte Paul Cassirer, que também era o diretor da Secessão de Berlim. A Galeria
Cassirer era parceira de negócios de proeminentes galerias modernas em toda a
Europa, como Durand-Ruel, Bernheim-Jeune e Vollard em Paris, assim como a Miethke
Galerie em Viena, onde as personalidades mais fortes
da Secessão vienense como Gustav Klimt vendiam suas obras.[27]
Intimamente associada às secessões e revistas modernas, uma rede de galerias
modernas internacionais controlava o acesso às secessões e revistas importantes
para as carreiras artísticas.
22. O
estudo quantitativo ajuda a entender melhor a composição social dessa elite
artística moderna na virada do século. As trajetórias sociais dos artistas
podem ser mensuradas com catálogos de exposições analisados de forma serial e
complementados com informações biográficas, usando o método chamado
prosopografia.[28] Se
descobrimos que, por exemplo, um grupo de artistas exibia com mais frequência
nos principais Salons modernos da virada do
século, é possível estudar o perfil social desse grupo e avaliar como ele
evoluiu ao longo do tempo. Para identificar essa população, escolhi dezesseis
catálogos de secessões representativas que ocorreram entre 1888 e 1906 [Tabela 1]
e decidi selecionar os nomes dos artistas que exibiram mais de cinco vezes em
um total de dezesseis Salons.
23. De
1888 a 1906, os salões escolhidos para o estudo apresentaram 2.317 artistas
modernos (de um total de 3.519 expositores). Entre eles, uma minoria de
artistas (vinte e seis) exibiu mais de seis vezes nos dezesseis Salões.
Sessenta exibiram mais de cinco vezes. Entre os artistas estudados, quanto mais
jovem era sua geração, mais altas eram as suas origens sociais. Por exemplo,
todos os artistas nascidos depois de 1855 - ou seja, os mais jovens deste
estudo - vieram de classes sociais prósperas, alguns deles da aristocracia. Não
surpreendentemente, os endereços desses artistas, quando disponíveis, indicavam
áreas cada vez mais ricas com o passar do tempo (um fenômeno facilmente
mensurável no caso dos endereços parisienses disponíveis nos catálogos da Société
nationale des beaux arts, que
frequentemente apresentavam um endereço principal no exterior).
Tabela
1. Exposições
escolhidas para estudar as carreiras dos artistas modernos na virada do séc.
XIX para o XX
24. Além disso,
a variedade de estilos representados diminuía gradualmente à medida que os
artistas de elite se tornavam mais jovens. Enquanto a geração mais velha
(nascida antes de 1840) ainda exibia vários estilos na virada do século (do
Realismo e Arte Social ao Simbolismo e ao Impressionismo), os mais jovens eram
- na maioria - retratistas, fornecendo retratos para membros da alta sociedade
ao redor do mundo.
25. O
centro da modernidade por volta de 1900 não era, portanto, uma cidade (Paris),
mas uma rede social. A arte moderna tornou-se um produto para uma rica e
distinta classe de colecionadores cosmopolitas que podia viajar e visitar
numerosos Salons sucessivamente. Esses
colecionadores, como o conde alemão Harry Kessler,
podiam estar em Bruxelas em fevereiro, em Paris na primavera, em Veneza no
verão, e ir a Berlim no outono, depois voltando a Paris para o Salon d'Automne.[29] A
elite moderna e seus pintores também se encontravam regularmente em lugares
importantes de lazer, como Veneza, a costa da Normandia, Baden-Baden na
Alemanha ou a Côte d'Azur. Eles se reuniam em salões privados
localizados em ricas áreas cosmopolitas das principais capitais europeias, como
o Faubourg parisiense ou o Tiergarten
berlinense. Todos falavam francês e inglês, conheciam artistas modernos
celebrados, encomendavam retratos e visitavam exposições de elite. Os artistas
modernos que queriam obter reconhecimento nos anos 1900 tinham que seguir de
perto esse padrão social.
Inovação artística além da influência: um fato
estrutural
26. A
reavaliação social de “quem mandava na arte moderna e de onde” ajuda a entender
por que uma reação internacional contra o sistema das secessões aconteceu por
volta de 1905-1906. Essa reviravolta foi liderada por jovens artistas de camadas
sociais mais baixas, que não passaram no “exame social” necessário para entrar
nas redes da arte moderna. Por toda a Europa, esses artistas reagiram contra o
modo como o secessionismo bloqueava suas progressões sociais. Isso pode
explicar as semelhanças notáveis entre o Fauvismo em Paris (1905)
e o Expressionismo em Dresden (1906), e ajuda a descartar a ideia de
influência, que não é apoiada em fatos históricos.[30] Os
investigadores lutaram - e ainda lutam - para decidir quem influenciou quem. De
fato, podemos apenas dizer que os fauves e os
expressionistas reagiram de forma semelhante e simultaneamente contra um mesmo
problema: a hegemonia de uma arte moderna comercializada internacionalmente,
que era dominada e produzida por e para uma elite socialmente cosmopolita que
eles não imaginavam alcançar. A explosão de numerosas vanguardas, em sua
maioria anti-elitistas, anti-cosmopolitas e localmente orientadas, é um fato
histórico estrutural em toda a Europa por volta de 1905-1908, um fato que não
pode ser reduzido à explicação superficial da influência parisiense. Exatamente
como os fauves franceses e os expressionistas
alemães, os expressionistas holandeses na Bélgica, os expressionistas
vienenses, os fauves russos ou o Camden Town Group
na Grã-Bretanha privilegiavam a cor viva e a pintura espessa, escolhiam temas
populares e recusavam o gênero do retrato; eles também não exibiam nos Salons elitistas modernos. Suas obras testemunham
uma oposição semelhante ao que eram, então, os critérios mais apreciados da
pintura moderna: apresentavam cores vivas aplicadas de maneira plana (em vez de
pinceladas a la diable);
interiores abafados (em oposição à pintura ao ar livre); retratos coletivos
“primitivos” (em vez dos retratos individuais mundanos e embelezados); textos
de expressões populares em língua local, às vezes locuções pornográficas (em
vez da ausência da escrita e do predomínio de alusão); referência a técnicas
artísticas antigas, como a xilogravura e a pintura em vidro (em vez de
referências à cultura urbanizada civilizada e humanista); o folclore (em
oposição ao refinamento); nação, localidade e particularismo (em vez de
cosmopolitismo e universalismo).
27. Entre
essas novas vanguardas, alguns artistas foram imediatamente bem-sucedidos e
atraíram colecionadores e comerciantes de arte em busca de novidades. Henri
Matisse conseguiu um contrato na Galeria Bernheim-Jeune
em 1906. Isso contribuiu para uma crescente competição entre as gerações mais
jovens. Depois de 1908-1909, as vanguardas europeias perceberam que precisavam
recuperar o espaço público, umas em detrimento das outras. Com a
internacionalização dos mercados de arte moderna, questões geopolíticas
interferiam. A “guerra internacional das vanguardas” - que alguns artistas já
sentiam antes de 1900[31] -
generalizou-se por volta de 1909-1910, quando artistas como os futuristas
usaram abertamente mottos nacionalistas,
publicaram seus manifestos em muitos lugares diferentes e viajaram por toda a
Europa para organizar performances e exposições estrondosas. Nessa guerra
artística, muitas vanguardas escolheram o nacionalismo contra suas contrapartes
estrangeiras, ainda mais quando as polêmicas nacionalistas contra o Modernismo
ocorriam em casa. Em quase todos os países onde a arte moderna era exibida, uma
maioria de vanguardistas foi a primeira a reagir, com argumentos nacionalistas,
contra a presença de seus concorrentes estrangeiros. O “Caso Vinnen” em 1911 na Alemanha, por exemplo, foi encabeçado
principalmente por modernistas alemães, não por tradicionalistas.[32]
Lógicas semelhantes também foram aplicadas na França em 1910 e 1912;[33] na
Bélgica e nos Países Baixos em 1912; e nos Estados Unidos em 1913.[34]
28. O
fascínio pela inovação e por sua expansão internacional podia ser sentido com
ansiedade, adicionando um entendimento geopolítico à teoria de Harold Bloom
sobre a “ansiedade da influência” na estética moderna.[35]
Alguns artistas expressaram claramente que não podiam mais suportar a situação.
Os mais inovadores e críticos eram frequentemente aqueles que eram menos dependentes
do mercado porque eram favorecidos por heranças e outros recursos, como Marcel
Duchamp e Francis Picabia, ou porque eram apoiados por um marchand de
arte, como Picasso. Já em 1913, uma crise internacional difusa atingiu os
círculos modernistas, gerando uma consciência de que o sistema não poderia
continuar a ser como era. Havia muita competição, ódio nacionalista entre os
artistas, estratégias obrigatórias de exibições diferenciadas, hipocrisia
artística, desigualdades nas carreiras, e inveja. Por exemplo, a análise
social, transnacional e geográfica dos primeiros readymades
destaca o quão invejoso o cubista parisiense Marcel Duchamp podia ser com
relação a seu colega Robert Delaunay. Conscientemente
ou não, Duchamp usou o readymade para zombar de
seu rival e expressar seu próprio descontentamento com relação à geopolítica do
Modernismo.[36] O
projeto autônomo da vanguarda não era apenas uma utopia; tornou-se também um
pesadelo.
29. Na
história do Modernismo, podemos isolar outras crises estruturais e
internacionais, como o “retorno à ordem” internacional; o desenvolvimento
simultâneo, entre 1950 e 1960, da chamada “junk art” em todo o mundo, em oposição à abstração lírica
europeia e ao Expressionismo Abstrato; ou as inúmeras ondas de acionismo (de Fluxus ao Acionismo Vienense), entre 1962 e 1966, que expressaram uma
clara reação contra o súbito marketing internacional da “junk
art.”[37] Uma
leitura distanciada, comparativa e transnacional das fontes, cruzando
questionamentos sociais, econômicos e artísticos, ajuda a reconstituir lógicas
internacionais que são completamente obscurecidas em um quadro interpretativo
centro-periferia, derivado de explicações não satisfatórias como influência,
originalidade, superioridade intrínseca e genius
loci.
PROVINCIALIZANDO PARIS NO ENTREGUERRAS: REDES
MODERNISTAS
30. Na
história do Modernismo, o período entreguerras foi negligenciado - e Paris
disso se beneficiou. Uma interpretação política dessa época domina o campo,
favorecendo o Surrealismo, um movimento baseado em Paris. Essa interpretação
associa as ideias de revolução, engajamento político e progresso às noções de
inovação estética e de vanguarda.[38] Junto
com essa determinação política, a geografia de senso comum das vanguardas no entreguerras reintroduz o antigo modelo centro-periferia.
A narrativa parisiense é dura de matar
31. Durante
o período do entreguerras, Paris foi mais do que nunca
apresentada como a “Capital das Artes,” já que era um lugar para a liberdade
durante a Lei Seca Americana, na década de 1920, e um refúgio após a tomada do
poder pelos fascistas na Itália, pelos nazistas na Alemanha, ou após o
endurecimento do stalinismo no império soviético. Muitas narrativas nacionais
da literatura moderna estão profundamente enraizadas nessa ideia de
centralidade parisiense, das histórias americana e britânica do Modernismo à
literatura latino-americana.[39]
Quanto aos artistas - Archipenko, Arp,
Gabo, Gleizes, Gris, Kupka, Larionov,
Léger, Marinetti, Picasso... - acredita-se que os verdadeiros entre eles só
poderiam criar em Paris. Mesmo especialistas do Construtivismo - um movimento
que se espalhou por toda a Europa no início da década de 1920 - reconhecem que
o sonho de uma vanguarda construtivista internacional morreu em 1922. Logo, já
que o sonho havia morrido, suas vanguardas também desapareceram. De acordo com
essa narrativa, Paris foi era, por volta de 1925, único centro de inovação e
influência. Especialistas sublinham que as vanguardas em outros países
continuavam sendo orientadas nacionalmente (e.g. Neue Sachlichkeit
na Alemanha, e Valori Platici na Itália). Uma vez que que as vanguardas
deveriam ser internacionalistas, esses grupos não podiam ser considerados
“modernos.”
32. O
discurso sobre a hegemonia de Paris no Modernismo e durante o período
entreguerras também foi encorajado pela historiografia surrealista. O
Surrealismo, “nascido em 1924” e centrado em Paris, é apresentado como o cerne
do vanguardismo durante o período entreguerras, como se a abstração mal tivesse
sobrevivido e apenas se repetisse. O crédito dado a essa narrativa é reforçado
pelo fato de ser uma das precondições da geografia subsequente do Modernismo: o
Surrealismo de 1945 perdeu a batalha pelo Modernismo, e os modernos de Nova
Iorque - aqueles que não queriam mais seguir o Surrealismo - roubaram de Paris
a posição de capital.[40] Mais
recentemente, alguns historiadores tem contestado fortemente a ideia de que
outros lugares não ofereciam os “ingredientes” certos para o Modernismo
florescer. Por que não considerar Praga, por exemplo, como a capital da arte
moderna do século XX?[41] Do
ponto de vista histórico, o enquadramento centro-periferia de análise do
período entreguerras é uma alternativa binária que reutiliza o discurso
vencedor/perdedor no jogo da história da arte - ou seja, a noção de uma
centralidade surrealista sucedida pela vitória de Expressionismo Abstrato. Tal
dualismo nos impede de ver essa alternativa em suas dimensões política,
econômica, social e cultural, e de compará-la com outras geografias artísticas
que de fato existiram, mas que não venceram a batalha da história.
A comunidade modernista internacional como
redes
33. Quais
eram os lugares importantes para a inovação artística durante o período
entreguerras, não apenas nos discursos, mas também nas práticas dos artistas
modernos? Estudar revistas modernistas é uma maneira de responder a essa
questão. Na época, muitos artistas fundaram revistas como um meio de se tornar
parte da cena modernista. Para traçar um mapa plausível dessa atividade
internacional de vanguarda, pode-se reconstituir uma lista das cerca de 305
revistas consideradas modernistas na época da publicação, entre 1917 e 1940,
tanto na Europa como nas Américas, e mapear os seus fundamentos.[42] O
estabelecimento de uma revista modernista é um critério interessante para
localizar o nascimento de um grupo de vanguarda: pode revelar aqueles que
queriam ser reconhecidos como vanguardistas e internacionalmente. Ao estudar
suas respectivas redes sociais e profissionais, podemos descrever a geopolítica
da vanguarda e comparar essa imagem com as práticas e ideias dos homens e
mulheres envolvidos no Modernismo.
Uma era para as “periferias”
34. Um
panorama cronológico e estatístico das fundações de nossas revistas sublinha
que Paris não era o centro predominante de inovação na década de 1920 [Figura 4].
Novas revistas foram criadas na Bélgica (Bruxelas, Namur, Antuérpia) e foram especialmente
numerosas na Alemanha e nos centros de uma grande área cultural agrupando
Boêmia, Eslováquia, Hungria, Romênia, Polônia, Sérvia e Croácia. Até 1928,
novas revistas se multiplicaram em Praga, Viena, Budapeste, Cracóvia, Varsóvia,
Bucareste e Zagreb. Na Espanha, especialmente na Catalunha, uma atividade
regular de fundação de revistas também deve ser notada (embora não entre 1925 e
1931). Os Estados Unidos e a América Latina também estavam engajados nisso -
embora com uma cronologia desconectada da europeia.
35. A
tradução cartográfica dessa cronologia revela uma extensão regular das
atividades das revistas modernistas em todo o mundo.[43] A porção
europeia dessa geografia é surpreendentemente policêntrica
[Figura 5, Figura 6
e
Figura 7].
36. Depois
de 1916, em Zurique e na Alemanha, Dada sacudiu a
cultura durante a Primeira Guerra e foi contra o Modernismo estabelecido. Sua
internacionalização de 1918 a 1922 atingiu não apenas Colônia e Hanover, mas
também Munique, Viena, Praga e Zagreb. Em Paris, ocorreu o oposto e a atividade
das revistas diminuiu. Revistas parisienses fundadas durante a guerra não
sobreviveram: a última edição de L'Elan, por
exemplo, foi publicada em 1917. Novas revistas em Paris voltaram-se para
questões literárias, isto é, tinham uma orientação linguística e estratégias
nacionalistas que não consideravam o internacionalismo relevante - isso é
notável especialmente por volta de 1924 e durante a batalha pela apropriação do
rótulo “surrealista.” Esprit Nouveau, fundada
em 1920 por Amédée Ozenfant e Le Corbusier, era mais
internacional do que outras revistas parisienses, mas com uma recepção local
limitada. O declínio das revistas modernistas parisienses se acelerou por volta
de 1925 [Figura 8],
numa época em que criações de revistas aumentavam em outras partes da Europa.
Naquela época, o surrealismo começou a monopolizar o vanguardismo parisiense,
já que era difícil imaginar maneiras diferentes de ser modernista em Paris.[44]
37. No
sentido inverso, a difusão e criação de novas revistas de vanguarda na Europa
Central foi muito ativa. Depois do período do Dada (1917-1920), quando os
países de língua alemã organizaram uma atividade importante, chegou uma época
em que novas vanguardas tentaram construir algo mais positivo do que o tabula
rasa dadaísta (1921-1922). Sem descartar totalmente o Dada, as novas
revistas europeias promoveram a estética inovadora da máquina, a cidade
moderna, a arquitetura contemporânea, a publicidade e a abstração geométrica.
Novas revistas foram criadas desde a Bélgica, passando pelos centros do norte
da Alemanha, até Praga e Viena; até mesmo Ljubljana, na Eslovênia, e Zagreb, na
Croácia, e grandes capitais, como Milão, as viram nascer. De 1924 a 1926, as
vanguardas consolidaram-se na Europa Central. Esse período foi favorável ao
Construtivismo e aos movimentos abstratos que não eram propícios em Paris,
onde, ao contrário, os grupos abstratos tinham dificuldades para existir.[45] De
1927 a 1929, esse ritmo de criação de revistas modernistas parou na Alemanha,
principalmente por razões políticas. No entanto, novas revistas continuaram a
ser criadas na Europa Central.
38. O
final do período de criação de revistas modernistas atingiu toda a Europa no
início dos anos 1930. A Grande Depressão e a aparição ou consolidação de
regimes fascistas ou totalitários na Itália, Alemanha, Europa Central e União
Soviética não foram os únicos fatores. As revistas também deixaram de ser
essenciais na difusão de teorias, obras de arte e nomes, porque as galerias
assumiram esses papeis. Além disso, na Europa Central, a maioria dos artistas
modernos envolveu-se em encomendas profissionais concretas para os públicos
locais (principalmente nos campos da arquitetura, design e publicidade, fossem
essas encomendas modernas ou não), e parou de produzir manifestos e revistas de
vanguarda. Ou seja, as vanguardas estavam se voltando para o mercado.
39. Então,
onde estava o centro da vanguarda internacional durante o período entre as duas
guerras? Na década de 1920, as revistas eram um meio de expressar um
pertencimento ao Modernismo internacional. Por exemplo, na revista 75 HP,
publicada em Bucareste em 1924, os editores Ilarie Voronca e Victor Brauner
reivindicavam sua originalidade local (“l’unique groupe d’avant‐garde de Roumanie”)[46] e seu
amplo envolvimento na vanguarda internacional [Figura 9]. Em
um estilo proclamatório dadaísta e com um layout construtivista, os
editores davam uma lista internacional de seus colaboradores e comentavam, em
um francês truncado: “Notre groupement
[ao invés de “groupe”] compte parmi
ses collaborateurs les meilleurs écrivains
et artistes du mouvement moderniste de tout le monde [ao invés de “du
monde”].”[47] Logo,
eles pertenciam ao “centro.” Se estendida a todas as revistas que foram criadas
durante o período entreguerras, a análise mostra que a vanguarda internacional
estava dividida em dois ou três ambientes cujas geografias e centralidades eram
muito diferentes
40. Para
uma vertente, Paris era o centro - e essa é a narrativa que se tornou “a”
história. Alguns tomavam essa centralidade como natural. Ford Madox Ford, editor britânico da Transatlantic
Review, uma revista modernista fundada em 1924 em Paris, por exemplo,
interpretou a centralidade parisiense como uma “questão puramente geográfica,”
um fato relevante que não poderia ter sido fabricado e que não poderia ser
interpretado diferentemente, se encarado de diferentes pontos de vista:
41.
Paris, na estrada para
aquele sul de onde vem tudo o que conhecemos da
civilização, é o centro de uma grande roda de comunicações. Ela é, por exemplo,
[...] equidistante de todos os pontos do Reno [...]. Isso significa - além de
seu significado estratégico - que a influência de Paris é igualmente difundida
em círculos até o Reno e por uma certa distância além desse fluxo.[48]
42. No entanto,
muitos artistas estrangeiros que inicialmente tinham sido atraídos pela
centralidade de Paris - e ainda estavam atraídos em 1918 - mudaram de ideia no
início dos anos 1920, como exemplifica o artista abstrato e arquiteto holandês
Theo Van Doesburg. “É impossível respirar uma vida
nova na Holanda. É por isso que estou particularmente interessado em outros
países,”[49]
escreveu Van Doesburg em 1920, explicando por que ele
estava interessado em Paris. Em 1917, Van Doesburg
fundou a revista De Stijl na Holanda, na
esperança de desempenhar um papel significativo na vanguarda internacional.
Naquela época, ele tinha certeza de que Paris era o centro do movimento
internacional. Em 1923, porém, ele mudou de ideia: “Em Paris tudo está
completamente morto […]. Para mim, é certo que a nova zona cultural é o norte.”[50]
43. Portanto,
por que não avaliar como os animadores de revistas modernistas decidiam onde
seria importante se fixar para estar no centro do ativismo modernista? Para
tanto, pode-se analisar como as vanguardas internacionais “votaram com seus
pés.” As viagens de Van Doesburg pela Europa são
especialmente relevantes. Depois de fevereiro de 1920, o artista começou a
viajar para expandir as ideias de De Stijl e desenvolver sua própria rede internacional.[51] Ele
foi primeiro a Paris para assistir a performances dadaístas e a exposições
sazonais, bem como para conhecer colegas cubistas. Mas o programa arquitetônico
de De Stijl
não encontrou em Paris a resposta que Van Doesburg
esperava. O artista percebeu que seus colegas cubistas em Paris não estavam
interessados em sua contribuição estética, mas sim em suas redes,
que poderiam ajudar a exportar suas próprias exposições para os Países Baixos.
Na Alemanha, pelo contrário, as proposições de De
Stijl encontraram um ambiente favorável. O
crítico Adolph Behne convidou Van Doesburg
para Berlim em dezembro de 1920. Lá, o arquiteto holandês encontrou tendências
construtivas semelhantes às de De Stijl. A Bauhaus, uma escola de artes aplicadas fundada
em 1919 por Walter Gropius, estava em pleno desenvolvimento. Em abril de 1921,
Van Doesburg foi para Weimar, após um mês de viagens
pela Bélgica, França, Itália, Suíça, Áustria e Alemanha. Tendo conhecido os
professores da Bauhaus, ele decidiu ficar em Weimar. As viagens de Van Doesburg naquela época gradualmente se distanciaram de
Paris. De 1922 a 1924, o artista sempre retornava a Weimar. Na Bauhaus, De Stijl encontrou um oponente interessante. O debate
artístico era real e vivo. Van Doesburg montou um
ateliê, abriu uma escola, atraiu seguidores e recrutou novos colaboradores para
sua revista. Depois de 1924, seu ativismo tornou-se mais orientado para Berlim,
Hanover e Europa Central. Em Berlin, desde 1922, Van Doesburg
participou de encontros construtivistas com o pintor Gert
Caden; o pintor e cineasta experimental Hans Richter;
o construtivista e designer gráfico russo El Lissitzky;
o arquiteto e pintor russo Naum Gabo e seu irmão, o escultor Anton Pevsner; o pintor russo Nathan Altmann;
o crítico de arte Alfred Kemény, o designer gráfico Laszlo Moholy-Nagy, o pintor Laszlo Péri e o crítico de arte Ernö Kállai - todos húngaros -; o
pintor suíço Hans Arp; o pintor alemão Willi Baumeister; o cineasta
sueco Viking Eggeling; o escultor alemão Werner Graeff; e, finalmente, o arquiteto alemão Ludwig Mies van
der Rohe. Em Hanover, ele também conheceu Kurt Schwitters, que estava em contato próximo com as vanguardas
da Europa Central. Em Paris, ao contrário, Van Doesburg
não encontrou redes dinâmicas e transnacionais.
44. O
estudo poderia se estender a outros atores importantes da vanguarda
internacional no período entreguerras, como Hans Arp,
El Lissitzky, Lajos Kassák ou Alexander Archipenko,
entre outros, que, na década de 1920, trocaram Paris por destinos melhores.
Revistas-irmãs
45. Uma
outra abordagem de como a geopolítica do Modernismo podia ser experimentada
pelas vanguardas internacionais consiste em analisar o conteúdo das revistas
modernistas. Este método confirma a ideia de que, para numerosos artistas que
viviam fora de Paris, a capital francesa não era, de fato, o centro de inovação
na década de 1920. Essa abordagem também dá uma ideia mais precisa das
possíveis hierarquias entre centros de atividade artística.
46. Para
acompanhar as principais tendências internacionais, os fundadores da revista
liam outras revistas, traduziam artigos e tentavam recrutar colaboradores
internacionais. A maioria deles fornecia regularmente as listas de suas “revistas-irmãs,”
aquelas com os quais eles queriam se aliar. É o caso da revista parisiense Esprit Nouveau (por exemplo, o n. 22, abr.
1924), cujos editores Amédée Ozenfant e Le Corbusier
citaram, entre outras, a revista húngara MA que Lajos
Kassak publicava em Viena; reciprocamente, MA
também citou Esprit Nouveau. Essas
citações revelam interessantes redes de referências e preferências. Elas sempre
mencionavam cidades: Paris, Viena, Berlim, Leiden, Brno, entre outras. Às
vezes, o layout da lista sugeria um mapeamento geométrico, como, por exemplo,
em Ma (1922, 1923 e 1924) [Figura 10].[52] Esses
mapas virtuais espelhavam a geopolítica mutante da vanguarda. No exemplo de MA,
havia concorrência entre se referir a Paris e Berlim ou a Weimar. Os editores
da revista holandesa De Stijl apresentaram
listas de revistas que encorajavam seus próprios seguidores a ler. Certas
revistas apreciadas eram marcadas com uma cruz especial quando consideradas
melhores do que as outras.[53] De
1924 a 1926, as listas evoluíram substancialmente, com a importância
predominante da Europa Central à custa dos centros francófonos (Paris,
Bruxelas); a Alemanha alcançou então o topo das indicações.[54]
47. O
conteúdo das revistas e sua geopolítica também pode ser estudado através da
análise de redes. Os autores, artistas e ilustrações que as revistas
compartilhavam (ou não), bem como seu mapeamento, revelam a organização policêntrica do campo social internacional da arte de
vanguarda, em que Paris não era o único centro.
48. Apresentamos
aqui é o resultado de um estudo de 27 revistas modernistas disponíveis na
Biblioteca do Centre Georges Pompidou, concentrando-se em três importantes
anos, 1924-1926 [Tabela 2]. Gerando a visualização das relações entre
essas diferentes revistas, a ideia era verificar como as relações entre o meio
modernista parisiense e suas supostas “periferias” estavam estruturadas.[55] Para
este estudo, eu reuni uma seleção representativa de revistas de idiomas,
lugares, redes e posições estéticas muito diferentes. A distribuição geográfica
das 27 revistas escolhidas para o estudo coincide com a das 117 revistas de
todo o banco de dados que estavam ativas entre 1924-1926 e inclui a Europa
Central, a França e a Alemanha. Um terço das revistas de ambos as bases de
dados estava ativo em Paris, um terço na Europa Central, cerca de 10-15% na
Alemanha e 6‐7% no
Sul da Europa.
Tabela
2. Revistas
utilizadas para o estudo, ativas em 1924, 1925 e 1926 (entre parênteses, o
período total de suas atividades)
49. Depois
de coletar dados e processá-los em um banco de dados, é possível computá-los
com um software de análise de rede e fornecer uma visualização de títulos
relacionados, de acordo com os “nomes” partilhados pelas revistas. Cada revista
é representada por um ponto no gráfico. Uma posição central no gráfico indica
uma posição central na rede. Quanto mais duas revistas compartilharem contribuintes
e referências, mais linhas existirão entre elas [Figura 11]; ou
tanto mais escura será a linha entre elas no gráfico de rede [Figura 12, Figura 13
e
Figura 14]. As
diferentes cores e tamanhos dos pontos nessas figuras indicam cinco categorias
de revistas, de acordo com a maneira como compartilham colaboradores e
referências artísticas. Quanto maiores os pontos, mais frequentemente um item é
representado no banco de dados (por exemplo, mais artigos publicados para uma
revista, mais menções de um artista ou maior presença de um autor, como visto
na Figura 11).
50. A
partir dessa análise de rede, três conclusões podem ser formuladas:
51. Em
primeiro lugar, as revistas que são centrais na rede internacional de revistas
modernistas - isto é, as que estão mais conectadas com as outras do que suas
contrapartes - estão localizadas principalmente em “periferias” geográficas,
como é o caso para MA, Integral, Zenit e Pasmo, ou De
Stijl - mesmo que essas revistas publicassem
menos artigos do que as outras (seus pontos são menores que os de revistas
maiores como Esprit Nouveau, Der
Sturm ou L'Art d'Aujourd‘hui)
[Figura 11].
52. A
segunda conclusão é que algumas revistas tinham mais colaboradores em comum do
que outras, que compartilhavam apenas alguns - se é que algum. Isto revela
redes muito limitadas (isto é, "panelinhas," que são representadas
pelas linhas azuis escuras na Figura 12
e
Figura 13). As
revistas parisienses construíram uma “panelinha” forte e, ao fazê-lo,
isolaram-se das outras. L’Art d’Aujourd’hui, Esprit
Nouveau, e em menor escala, Bulletin de l’Effort
moderne, The Transatlantic
Review, assim como Cahiers d’Art, construíram tais “panelinhas.”
Esta conclusão não é positiva a respeito da abertura das redes modernistas
parisienses. Enquanto não há diferenciação específica entre artistas citados e
ilustrados por nossas revistas [Figura 14],
este não é o mesmo caso com relação aos seus colaboradores [Figura 13]. As
revistas modernistas estudadas compartilham um tipo de ideia comum a respeito
do que é arte modernista e de quais artistas devem ser referidos (Picasso, Braque, Léger e Van Doesburg são
os artistas mais representados, como mostra a Figura 11). Mas
elas não compartilham os mesmos colaboradores, sendo as revistas parisienses as
mais exclusivas de nossa coleção.
53. Em
terceiro lugar, algumas revistas tinham perfis muito parecidos - especialmente
as revistas que a análise de redes distingue por pontos semelhantes na Figura 13. De
fato, se nos concentrarmos na categoria de autores publicados, a diferenciação
das redes é impressionante. Der Sturm e L'Esprit
nouveau ocupam o centro e compartilham muitos autores - seus grupos de
autores eram muito internacionais e numerosos. Integral, Punct, Zenit, De Stijl,
MA e G, - isto é, revistas construtivas “duras” - construíram uma
rede coerente que era separada das “panelinhas” parisienses, mesmo sendo
publicadas em diferentes línguas.
54. Para
resumir a situação de meados dos anos 1920, havia uma vanguarda internacional
feita de diferentes redes sociais que eram dinâmicas e produtivas. As redes
modernistas parisienses estavam isoladas dessas redes internacionais, exceto
por L’Esprit Nouveau. Até desaparecerem
na virada da década de 1930, as redes construtivistas representavam uma cena policêntrica para a vanguarda internacional, uma cena cujo
centro definitivamente não era Paris. Os Construtivistas queriam promover o
progresso artístico na sociedade contemporânea - arquitetura, decoração,
funcionalismo e instituições acadêmicas para ensinar e difundir o Modernismo,
como a Bauhaus. Esse modelo alternativo de vanguarda, que era anti-individualista, social (poderíamos até dizer
socialista) e segundo o qual o Modernismo deveria ser transmitido, não
correspondia à tradição elitista comercializada em Paris.
55. Também
em suas referências, os pintores modernistas em Berlim, Weimar, Colônia, Praga,
Viena, Budapeste, Milão, etc., não se inspiravam primariamente em nomes e
estilos parisienses, mas na Pittura
Metafisica italiana, no Construtivismo Russo, na
Bauhaus, na abstração geométrica, e na Neue Sachlichkeit
alemã.[56] Até
mesmo Salvador Dalí, até o final da década de 1920, exemplifica essas
inspirações plurais.[57] Além
disso, os Construtivistas estavam mais interessados em obras
anônimas coletivas (o avião, o barco transatlântico ou o edifício moderno) do
que em obras de arte individualistas. Este não era o caso dos parisienses.
56. A
centralidade parisiense se desenvolveu mais tarde. Na Europa Central e na
Alemanha, a precoce integração dos artistas construtivistas em profissões (como
arquitetura, decoração, design e ensino) contribuiu para seu desligamento das
polêmicas modernistas, em benefício do Surrealismo internacional no final da
década de 1920. Em Paris, os Surrealistas conseguiram monopolizar o cenário
modernista. Na Europa, eles aparentavam ser as únicas vanguardas, tanto mais
porque uma eficiente estratégia de marketing internacional atraiu artistas
abstratos que precisavam de mercado.[58] A
emigração modernista em direção ao Ocidente, especialmente depois de 1933, deu
a Paris outra centralidade, mesmo que as vanguardas também “voassem” para
Londres, Bruxelas e Amsterdã. Assim, a ideia de que tudo que era modernista
acontecia em Paris permanece falsa para a década de 1930: artistas
construtivistas e abstratos que conseguiram escapar da perseguição na Alemanha,
Rússia e Europa Central, mas não queriam jogar o jogo surrealista, cruzaram o
Atlântico. Eles estavam espalhados, sem uma ideia clara de pertencimento.
Explicaria isso o seu “fracasso” no jogo da história da arte?
57. Os
surrealistas (parisienses) manejaram a retórica modernista tão bem e a
impuseram tão fortemente em Nova Iorque durante seu exílio após 1940 que
apagaram os grupos que ainda estavam no cerne do Modernismo até o final da
década de 1920.
58. Essa
reavaliação geográfica do Modernismo durante o período entreguerras
pode ser concluída por uma abordagem quantitativa, principalmente
digital e distanciada, que considera a escala local somente após uma
leitura distanciada das fontes e que, além disso, verifica as informações por
meio de fontes diferentes das exclusivamente parisienses. Uma abordagem em
múltiplas escalas nos permite questionar a ideia de uma centralidade parisiense
no Modernismo, de 1850 a 1940.
59. Na
história da arte o modelo centro-periferia é o produto de narrativas que sempre
estudam os mesmos centros e as mesmas pessoas, que trabalham ou são atraídas
por esses centros.[59]
Focalizar os mesmos lugares nos impede de saber o que acontece para além deles.
Isso obscurece o que circula entre os assim ditos centros e suas periferias, e
o que circula entre essas ditas periferias independentemente do centro. A ideia
de que Paris dominou a arte moderna, seguida por Nova Iorque depois de 1945, é
alimentada por preconceitos metodológicos que a história da arte deveria
considerar seriamente. Como sairemos desse arcabouço binário se a história da
arte permanecer em seu tropismo monográfico e nacionalista? Estudantes de
doutorado são incentivados a trabalhar em estudos de caso precisos - seja um
artista, uma tendência, um movimento ou um lugar. A orientação nacional do
mercado de trabalho e a importância dos estudos de área não encorajam os
acadêmicos a pensar de maneira diferente. Embora a pesquisa transnacional seja
reconhecida como um campo muito promissor, ela não se materializou em cargos de
ensino de história da arte transnacional, mas sim na criação de algumas
posições na “História da Arte Global” - que, na verdade, ainda estão ligadas a
estudos de área (sejam eles Arte Africana, Arte Asiática, Arte do Oriente Médio, etc.). Como especialistas do Modernismo, precisamos
reconsiderar regiões diversas das do Atlântico Norte e diferentes tradições
artísticas; mas também precisamos de alternativas gerais para contextualizar de
modo diferente a narrativa usual e sua geopolítica.
60. O fato
de o uso da abordagem quantitativa ser bastante raro na história da arte atrasa
a revisão dessa narrativa centralizada. Pouquíssimos historiadores da arte
foram treinados em métodos digitais por causa da ausência de treinamento
quantitativo nos currículos acadêmicos. A relutância dos historiadores da arte
em adotar abordagens quantitativas pode estar ligada a uma louvável resistência
à violência simbólica dos números. No entanto, a abordagem quantitativa é
muitas vezes reduzida a um borrão sociológico ou mesmo marxista - o que é menos
convincente, como se trabalhar com números fosse uma ameaça para as artes, os
artistas e para sua aura.[60]
61. Estudos
de longos períodos de tempo, em várias escalas
articuladas que ligam o micro e o macroestrutural, usando as ferramentas da
história social transnacional e comparativa, podem ajudar a fornecer uma ideia
diferente da geopolítica do Modernismo - uma ideia que escapa a qualquer noção
preconcebida de centralidade. As teorias de transferências culturais[61] e
histórias conectadas[62]encorajam
um número crescente de historiadores da arte a pensar que a construção nacional
de nossas disciplinas não faz mais sentido. Devemos desconstruir a formação
nacional de nossos arquivos e coleções, e deixar que as fontes falem em nível
internacional. Devemos também deixar os números falarem - já que os
dominados e os periféricos são geralmente os mais numerosos. Os historiadores
da arte têm à disposição enormes quantidades de dados que não são usados de
forma quantitativa e transnacional, como catálogos de exposições, catálogos de
leilões, repertórios de museus, listas de artistas acadêmicos, revistas, etc. Assim, eles já têm o big
data e deveriam dar o primeiro passo para a “história total” com
mais frequência. O desafio das abordagens pós-coloniais e o apelo a uma
história global da arte tornam fundamental promover uma “leitura distanciada”
da disciplina,[63] que
mede o que acontece de um lugar ao outro, que compara fatos artísticos entre
diferentes áreas artísticas, antes de ouvir as teorias sobre as hierarquias
entre estas áreas. Sem abandonar estudos de caso e pesquisas detalhadas, nem
tampouco a pesquisa de arquivos ou mesmo a análise minuciosa de obras de arte,
precisamos de uma estrutura internacional e contextualizada para a história da
arte moderna, um quadro que ajude a pensar a história da arte de forma coletiva
e horizontal, antes de fazê-lo de modo monográfico e vertical.[64]
62. Métodos
muito pragmáticos abrem o caminho. Em vez de procurar originalidade,
influência, independência ou subversão e desconstrução enquanto trabalha sobre
um artista ou obra de arte, as perguntas feitas são realistas, até mesmo
materialistas. Onde o Modernismo aconteceu, onde foi exibido? Onde circulou o
artista ou o trabalho? Onde as pessoas queriam ser conhecidas, compradas,
reconhecidas, onde elas preferiam produzir? Que caminhos artísticos e sociais
(para indivíduos ou coletivos) as respostas a essas perguntas indicam? As
regras da arte e do Modernismo eram realmente as mesmas em todo lugar? As
pessoas realmente pensavam que havia apenas um centro para o Modernismo? Como a
reputação era transferida de uma cena para outra? Quem foram os atores -
artistas, comerciantes, críticos, curadores, colecionadores, instituições etc.
- dessas transferências culturais e como esses mediadores contribuíram para o
sucesso de certos artistas e movimentos, bem como do local a eles associado,
assim como para o fracasso de outros?
63. Articular
o local, o regional e o internacional, bem como focar mais nas circulações
transnacionais do que em eventos, produções e estudos de casos localizados em
apenas um local, nos leva a um questionamento sócio-histórico sobre as maneiras
pelas quais as hierarquias culturais e artísticas eram ao mesmo tempo
produzidos para o Modernismo (institucionalmente, economicamente,
diplomaticamente etc.) e construídos para ele (em práticas, hábitos,
representações e discursos). Isso nos ajuda a perceber que essas hierarquias
eram de fato objetos de desejo, concorrência e ciúme, mas também eram
negociadas e podiam mudar de acordo com estratégias conscientes ou
inconscientes que construíam o que Gilles Deleuze chamou de “agenciamentos” [agencements].[65] Desse
modo, a história da arte moderna e de vanguarda pode ser reconstruída como um
cenário internacional ou, melhor ainda, como um campo sociológico feito de
muitos subcampos que se cruzavam e às vezes competiam, o que implicava horizontes
internacionais de desejo. De acordo com essa abordagem, os centros não são mais
vistos como meros lugares, mas também como rótulos que eram, e ainda são,
objetos de rivalidade e desejo.
64. Quais
são as consequências de tais reavaliações da centralidade parisiense do século
XIX à Segunda Guerra Mundial, para nossa ideia geral do Modernismo?
Provincializar Paris até a década de 1930 nos obriga a repensar a maneira como
analisamos a chamada centralidade de Nova Iorque após 1945. Isso nos ajuda a
perceber que Nova Iorque não apenas não poderia “roubar” uma centralidade que
Paris realmente não possuía, mas que as fontes usadas para escrever essa
história de sucesso são estadunidenses (ou seja, não transnacionais) e
monográficas (ou seja, não numerosas e não estudadas em série). Estudos
transnacionais recentes sobre a recepção da arte estadunidense na Europa
confirmam isso: a arte dos EUA não era conhecida e nem foi comprada pelos
europeus até o início da década de 1960.[66]
65. Da
mesma forma, abordagens internacionais sobre como as vanguardas buscaram se
localizar no que pensavam ser o centro do Modernismo nas décadas de 1950 e 1960
demonstram que Nova Iorque não era um centro e que Paris ainda era uma
referência forte, mas também que novas referências haviam surgido, com o
importante trabalho realizado pelas elites locais para equipar seus próprios
países com instituições abertas a grupos modernistas locais.[67] É
hora de explorar ainda mais essas indicações. Se queremos provincializar nossos
centros, utilizemos meios credíveis para fazer o que não pode permanecer sendo
apenas um desejo político.
Tradução de Arthur Valle, revisão de Ana Paula
Cavalcanti Simioni
____________________________________
* Nota do Tradutor:
Originalmente publicado como: JOYEUX-PRUNEL, Béatrice. Provincializing
Paris. The Center-Periphery Narrative of Modern Art in Light
of Quantitative and Transnational Approaches. ARTL@S BULLETIN, v. 4, n. 1 (Primavera
2015)
** N. do T.: Béatrice Joyeux‐Prunel é Professora Titular (Professeur Ordinaire) na Université de Genève na Suiça, em uma nova cadeira em Humanidade Digitais (desde 2019),
ex-Professora Assistente (Maître de Conferences) na Ecole Normale Supérieure in Paris, com uma habilitação em História e
História da Arte (2015) e Doutorado em História (2009). Ela pesquisa a história
das vanguardas artísticas em uma perspectiva global e transnacional e promove
abordagens quantitativas e cartográficas, humanidades digitais e pesquisa
colaborativa. Ela é diretora do ARTL@S Project desde 2009 (https://artlas.huma-num.fr/fr/), do Postdigital Project desde 2016 (sobre culturas digitais
contemporâneas) e acaba de fundar o IMAGO Center, um centro internacional para
o estudo das globalizações visuais (financiado pela Europa).
[1] BAUDELAIRE, Charles. L’Exposition universelle, I. Méthode de critique - De l’idée moderne du progrès
appliquée aux beaux‐arts - déplacement
de la vitalité. Le Pays,
26 mai. 1855. Ver: BAUDELAIRE, Charles. Œuvres
Complètes, vol. 2 Paris: Gallimard, Pléiade,
1976, p. 582. [N. do T.: Tradução livre: “[...] a vitalidade se desloca, vai
visitar outros territórios e outras raças, [...] as leis [...] deslocam a
vitalidade artística e [...] Deus despoja as nações, algumas vezes por um
tempo, outras para sempre...”]
[2] SANDLER,
Irving. The Triumph of American Painting: A History of Abstract
Expressionism. New York; London: Harper and Row, 1977; GUILBAUT, Serge. How
New York Stole the Idea of Modern Art: Abstract Expressionism, Freedom, and
the Cold War. Chicago: University of Chicago Press, 1983.
[3] CASANOVA,
Pascale. The World Republic of Letters. Cambridge, Mass.: Harvard
University Press, 2004.
[4] KANDINSKY, Wassily. Über die Formfrage. In: MARC, Franz; KANDINSKY, Wassily
((ed.)). Der Blaue Reiter - Dokumentarische Ausgabe
von Klaus Lankheit. Munich; Zurich: Piper, 1984‐2000,
p.132‐182, citação p. 142. [N. do T.: Tradução livre:
“Na vida prática, dificilmente encontraremos alguém que, viajando com destino a
Berlim, desça do trem em Regensburg. Na vida espiritual, o desembarque em
Regensburg é bastante comum.”]
[5] NORD,
Philip. Impressionists and Politics: Art and Democracy in the Nineteenth
Century. London; New York: Routledge, 2000; e JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice. Nul n'est prophète en son pays?: L'internationalisation de
la peinture des avant‐gardes parisiennes,
1855‐1914. Paris: N. Chaudun: Musée
d'Orsay, 2009.
[6] JOYEUX‐PRUNEL, Béatrice. Les avant‐gardes artistiques. Une histoire transnationale.
Vol. 1 1848‐1920. Paris: Gallimard, 2015.
[7] Sobre o nacionalismo
do Cubismo francês, ver: COTTIGTON, David. Cubism in the Shadow of War:
The Avant‐Garde and Politics in Paris 1905‐1914.
New Haven: Yale University Press, 1998; e ANTLIFF, Mark. Inventing Bergson:
Cultural Politics and the Parisian Avant‐Garde.
Princeton,
N.J.: Princeton University Press, 1993. Sobre a
orientação nacionalista de muitos artistas expressionistas na Alemanha, ver,
por exemplo: WEIKOP, Christian (ed.). New
Perspectives on Brücke Expressionism:
Bridging History. Farnham, Surrey; Burlington, VT: Ashgate, 2011.
[8] GUILBAUT, How New York Stole the Idea of Modern Art; SCHNEEMANN,
Peter. Von der Apologie zur
Theoriebildung: die Geschichtsschreibung
des Abstrakten Expressionismus.
Berlin: Akademie Verlag, 2003.
[9] Sobre o discurso
nacionalista da Pop Art, ver, por exemplo: DOSSIN,
Catherine. The Rise and Fall of American Art, 1940s‐1980s,
A Geopolitics of Western Art Worlds.
Burlington: Ashgate, 2015; e WARHOL, Andy. New Talent
U.S.A. Art in America, v. 50, n. 1, fev. 1962,
p. 40, citado por: CRAS, Sophie L’Economie
à l’épreuve de l’art (1955‐1975). Expérimenter la valeur, le marché et la monnaie
dans la pratique artistique. PhD. Thesis (Paris: Univ. de
Paris I Panthéon‐Sorbonne), 2014, p.217.
[10] Sobre a literatura, ver,
entre vários outros livros: PATKE, Rajeev Shridhar. Modernist Literature
and Postcolonial Studies. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2013; capítulo
1: “Modern” in a Postcolonial Perspective, p.15‐28.
Sobre a
história da arte, ver, por exemplo: ZIJLMANS, Kitty; VAN DAMME, Wilfried, eds. World Art
Studies. Amsterdam: Valiz, 2008.
[11] JOYEUX‐PRUNEL, Nul n'est
prophète en son pays?
[12] JOYEUX‐PRUNEL, Les avant‐gardes artistiques.
Une histoire transnationale 1848‐1920.
[13] COURBET, Gustave. Correspondance de Courbe.
- ed. Petra Ten‐Doesschate Chu. - Paris: Flammarion, 1996, p.163‐164;
Ornans, out. 1860, carta n° 60‐8.
[14] Ver, por exemplo, uma carta
de Fantin-Latour a seu pai, 12 set. 1864, no catálogo de exposição: HOOG,
Michel; DRUICK, Douglas (ed.). Fantin‐Latour. Paris: Réunion des Musées Nationaux,
1982, p.102.
[15] VON HOHENZOLLERN, Johann Georg; SCHUSTER, Peter‐Klaus
(ed.). Manet bis van Gogh. Hugo von Tschudi
und der Kampf um die Moderne.
Munich, New York: Prestel, 1996.
[16] Ver: SCHNEEDE, Uwe M.; HANSEN, Dorothee,
(ed.). Munch und Deutschland. Stuttgart: Hatje,
1994; e EGGUM, Arne; RAPETTI, Rodolphe (ed.). Munch et la France. Paris:
RMN, 1991.
[17] GIRARD, René. Le Bouc émissaire.
Paris: Grasset, 1982; nova edição, Paris: Librairie générale française,
coll. Le
livre de poche, Biblio Essais, 1986.
[18] Ver o catálogo da
exposição: ROUSSEAU, Pascal (ed.). Robert Delaunay
1906‐1914, De l’impressionnisme
à l’abstraction. Paris: musée national d'art moderne, 1999, assim como JOYEUX‐PRUNEL,
Nul n’est prophète
en son pays.
[19] Ver: WETZEL, Roland
(ed.). Robert Delaunay:
hommage à Blériot. Bielefeld: Kerber Verlag,
2008.
[20] JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice. ¿Exponer al cubista sin cubismo? De cómo Kahnweiler
llegó a convencer a Alemania - e incluso al mundo entero - del aura de Picasso
mediante su pedagogía expositiva (1908‐1914). In: Picasso.
Registros Alemanes, cat. exp. Malagá,
Picasso Museum, outono 2015.
[21] APOLLINAIRE, Guillaume. Peinture espagnole modern. Les Arts, jul. 6, 1914, in: CAIZERGUES, Pierre; DÉCAUDIN,
Michel (ed.). Apollinaire, Oeuvres en prose completes. Paris: Gallimard Pléiade, 1991,
p.809‐810.
[22] Alguns exemplos do
envolvimento das elites sociais no desenvolvimento da arte moderna para “elevar
o nível” de seu país: nos EUA, em comparação à França, ver: TARASCO‐LONG,
Véronique. Mécènes des
deux mondes. Les collectionneurs donateurs du musée du
Louvre et de l'Art Institute
de Chicago 1879‐1940. Rennes: Presses
universtaires de Rennes, coll.
Art & Société, 2007; na
Argentina, ver: BALDASARRE, María Isabel. Los dueños del arte.
Coleccionismo y consumo cultural en Buenos Aires. Buenos Aires: Edhasa, 2006.
[23] VERHAEREN,
Émile. Chronique artistique.
Exposition des XX. La Jeune
Belgique, Brussels, 15 fev. 1884,
p.195‐202, citação na
p.195.
[24] Ver: ANDERSON, Benedict. Imagined Communities: Reflections on the
origin and spread of nationalism. - ed. revisada. -
London; New York: Verso, 2006.
[25] LÉAL, Brigitte; OCAÑA,
Maria Teresa (ed.). Paris‐Barcelone. De Gaudí à Miró. Paris:
RMN, 2001.
[26] Carta de Mary Cassatt a Paul Durand‐Ruel, Le Mesnil‐Beaufresne, outuno 1906, in:
VENTURI, Lionello. Les
Archives de l’impressionnisme.
Lettres de Renoir, Monet, Pissarro,
Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand‐Ruel, Documents,
2 vol. Paris; New York: Durand‐Ruel, 1939, vol. 2, p.123‐124
[N. do T.: Tradução livre: “Acabei de receber uma carta do Sr. Pennel do Comitê da Exposição Internacional em Londres.
[...] Os pintores que vivem em Paris e fazem parte desta exposição são os
mesmos que fazem parte, em Paris, da Sociedade Nacional.”]
[27] JENSEN, Robert. Marketing Modernism in Fin‐de‐Siècle
Europe. Princeton: Princeton
University Press, 1994.
[28] JOYEUX‐PRUNEL, Béatrice. Apports,
questions et limites de la prosopographie
en histoire de l’art. L’exemple de l’élite moderniste européenne au tournant des XIXe‐
XXe siècles. In: CABOURET‐LAURIOUX,
Bernadette (ed.). La prosopographie au service des
sciences sociales. Lyon: Presses Universitaires de Lyon, 2014, p.339‐357.
[29] Sobre os diários de Kessler: SCHÄFER, Carina; BIEDERMANN, Gabriele (ed.). Harry
Graf Kessler. Das Tagebuch
1880‐1937, 9 vol.
Stuttgart: Klett‐Cotta, 2004‐2009.
[30] Sobre a ausência de fatos
para provar qualquer influência, ver: LINNEBACH, Gabrielle. La Brücke et le Fauvisme. Une querelle dépassée, Paris‐Berlin 1900‐1933. Rapports et contrastes, cat. exp. Paris:
Centre Georges Pompidou, 1978, p.70‐71.
[31] SATTLER,
Joseph. Bilder vom
internationalen Kunstkrieg ‐
La Guerre des
Peintres ‐
Artists on the War‐Path. Paris: Paul Ollendorff; Berlin: J. A. Stargardt, [1895].
[32] Ver HERZOGENRATH, Wulf. “Ein Schaukelpferd
von einem Berserker geritten”:
Gustav Pauli, Carl Vinnen und der “Protest Deutscher Künstler,” no catálogo da exposição: Manet
bis van Gogh. Hugo von Tschudi und der Kampf um die moderne Kunst. New
York; Munich: Prestel, 1996, p. 264‐273.
[33] No caso da França, ver,
por exemplo: TROY, Nancy. Modernism and the
Decorative Arts in France. Art nouveau to Le Corbusier. New Haven; London: Yale University Press,
1991; e JOYEUX‐PRUNEL, Béatrice. L’art
de la mesure. Histoire
& Mesure XXII, n. 1, 2007. Disponível em: http://histoiremesure.revues.org/2333
[34] JOYEUX‐PRUNEL,
Les avant‐gardes artistiques.
Une histoire transnationale. Vol. 1, 1848‐1920.
[35] BLOOM, Harald. The Anxiety of Influence: A Theory of Poetry. New
York: Oxford University Press, 1997.
[36] JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice. Géopolitique des premiers readymades. Revue de l’Art
85/2014‐3, p.27‐33.
[37] JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice. Les avant‐gardes
artistiques. Une
histoire transnationale.
Volume 3. 1945‐1968. Paris: Gallimard, 2016.
[38] Desde: BÜRGER, Peter. Theorie der Avantgarde. Frankfurt am Main; Berlin: Suhrkamp Verlag,
1974; até: FOSTER, Hal; KRAUSS, Rosalind E.;
BUCHLOH, Benjamin H. D.; BOIS, Yves‐Alain; JOSELIT, David. Art
Since 1900. Modernism, Antimodernism,
Postmodernism. New York: Thames & Hudson, 2011.
[39] Ver
CASANOVA, The World Republic of Letters.
[40] GUILBAUT, How New York Stole the Idea of Modern Art. Ver também: SAWIN, Martica. Surrealism
in Exile and the Beginning of the New York School. Cambridge, Mass.;
London: the MIT Press, 1995.
[41] SAYER,
Derek Prague, Capital of the Twentieth Century: A Surrealist History. Princeton, NJ: Princeton
University Press, 2013.
[42] A coleta de dados foi
realizada com as seguintes fontes: BÉHAR, Henri; DUFOUR, Catherine. Dada, circuit total. Lausanne: L’Âge d’Homme,
2005; PASSUTH, MOYEN, Les avant‐gardes de l’Europe
centrale, 1907‐1927;
FABRE, Gladys C. et al.. Van Doesburg & the International Avant‐Garde: Constructing a New World. London: Tate Publishing, 2009; DESBIOLLES,
Yves Chevrefils. Les Revues d’Art
à Paris, 1905‐1940.
Paris: Ent’revues, 1993;
LÉAL, Brigitte; CAILLE, Bernadette. Paris‐Barcelone: de Gaudí à Miró. Paris: Réunion des Musées
Nationaux, 2001; CHÉNIEUX‐GENDRON,
Jacqueline; LE ROUX, Françoise; VIENNE, Maïté. Inventaire analytique
de revues surréalistes ou apparentées: le surréalisme autour du monde 1929‐1947. Paris: CNRS
Editions, 1994. Também consultamos os sítios: http://www.dadacompanion.com/journals/index.php e http://sites.davidson.edu/littlemagazines/
[43] Mapas em escala global
estão disponíveis em: DOSSIN, Catherine; JOYEUX‐ PRUNEL, Béatrice The
German Century? How
a Geopolitical Approach Could Transform the History of Modernism. In:
KAUFMANN, Thomas DaCosta; DOSSIN, Catherine; JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice (eds.). Global Artistic Circulations and
the History of Art. Burlington, VT: Ashgate, 2015, p.183‐202.
[44] JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice. Géopolitique
des avant‐gardes 1918‐1939. Une histoire transnationale. Thèse d'Habilitation à diriger les recherches (Paris: Institut des
Sciences Politiques), 2015.
[45] PRAT,
Marie‐Aline. Peinture et avant‐garde au seuil des années
30. Lausanne: L’Âge d’homme, 1984; e BOLAND,
Lynn (ed.). Cercle et Carré and the International
Spirit of Abstract Art. Athens: University
of Georgia Museum, 2013.
[46] N. do T.: Tradução
livre: “o único grupo de vanguarda na Romênia.”
[47] 75 HP, ed. Ilarie Voronca,
Stéphane Roll e Victor Brauner, n. 1, Bucharest, out.
1924. Apenas
um número foi publicado [N. do T.: Tradução livre: “Nosso grupo conta entre
seus colaboradores com os melhores escritores e artistas do movimento
modernista de todo o mundo.”]
[48] The Transatlantic Review, 1924, 1, p.78‐79.
[49] “Il est impossible de respirer de
nouvelle vie en Hollande. C’est la raison pour
laquelle je m’intéresse particulièrement à d’autres pays”, carta a J. J. P. Oud, abr. 1920, citada in: FABRE, Gladys; HÖTTE,
Doris Wintgens (ed.). Van
Doesburg & the International Avant‐Garde: Constructing a New World. London: Tate Publishings,
2009, p.14.
[50] “À Paris tout est totalement
mort, [...] C’est pour moi un fait certain que la nouvelle zone de culture est le Nord.” Théo Van Doesburg,
carta a um amigo in: SEUPHOR, Michel. Piet
Mondrian. Paris: Séguier, 1987, p.127.
[51] Van
Doesburg & the International Avant‐Garde: Constructing a New World.
[52] MA, VIII - 1
(1922); IX ‐1 (1923) e IX‐6, 7 (1924).
[53] De Stijl, VI; 8, 1924, p.413‐414.
[54] De Stijl, VII 75/76 1926, p.47‐50.
[55] Lea Saint-Raymond me
ajudou a coletar os nomes de colaboradores e artistas ilustrados e produziu a
análise em rede. Agradeço muito a ela.
[56] Ver, por exemplo: CROCKETT, Dennis. German
Post‐Expressionism: the
Art of the Great Disorder, 1918‐1924. University Park,
Pa.: Pennsylvania State University Press, 1999; e LIVI, François (ed.), Futurisme et Surréalisme.
Lausanne, Paris: L’Âge d’Homme,
2008.
[57] GIBSON,
Ian. The Shameful Life of Salvador Dali. New York: W.W. Norton, 1998.
[58] Resumo aqui os resultados
de um estudo transnacional do mercado de vanguarda. A história da
comercialização do surrealismo não havia sido feita antes. Ver: Gépolitique des avant-gardes 1918-1939. O livro será publicado em uma versão
revisada e ampliada sob o título: Les avant‐gardes artistiques. Une histoire
transnationale, vol. 2 (1918‐1945).
Paris: Gallimard, 2016.
[59] É o caso, por exemplo,
do famoso livro editado por Benjamin Buchloh, Hal
Foster e Rosalind Krauss: Art Since 1900: Modernism, Antimodernism, Postmodernism. Londres: Thames & Hudson, 2005.
[60] JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice. L’art et les
chiffres. Une mésentente historique?
Généalogie critique et tentatives
de conciliation. In: JOYEUX‐PRUNEL, Béatrice (ed.). L’Art
et la Mesure. Histoire
de l’art et méthodes quantitatives, Paris: Éditions rue d’Ulm,
2010, p. 17‐58.
[61] ESPAGNE, Michel. Les
transferts culturels franco‐allemands. Paris: Presses Universitaires de France,
1999.
[62] Ver, por exemplo: SUBRAHMANYAM, Sanjay. Holding
the World in Balance: The Connected Histories of the Iberian Overseas Empires,
1500‐1640. The American Historical Review 112, n. 5, dez. 2007, p.1359‐1385.
[63] MORETTI,
Franco. Atlas of the European Novel, 1800‐1900. London: Verso, 1999.
[64] PIOTROWSKI,
Piotr. Towards Horizontal Art History. In: Anderson, Jaynie (ed.), Crossing
Cultures. Conflict, Migration, and Convergence. Melbourne: The Miegunyah Press, 2009, p.82‐85;
e KAUFMANN, Thomas DaCosta; DOSSIN, Catherine; JOYEUX‐PRUNEL,
Béatrice (eds.). Global Artistic Circulations and
the History of Art. Burlington, VT: Ashgate, 2015.
[65] Ver: PARNET, Claire,
BOUTANG, Pierre‐André (ed.). L'Abécédaire de Gilles
Deleuze. Paris: Editions Montparnasse, 2004. Lettre D: Désir.
[66] IKEGAMI,
Hiroko. The Great Migrator: Robert Rauschenberg and the Global Rise of
American Art. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2010; DOSSIN, Catherine. To Drip or
to Pop? The European Triumph of American Art. The
ARTL@S Bulletin 3, n. 1 (Primavera 2014), p.79‐103.
Disponível
em: http://docs.lib.purdue.edu/artlas/vol3/iss1/8/
[67] GIUNTA,
Andrea. Avant‐Garde, Internationalism, and
Politics. Durham & Londres :
Duke University Press, 2007; KRAMER, Antje. L’Aventure
allemande du Nouveau Réalisme – Réalités et Fantasmes d’une Néo‐Avant‐garde européenne
(1957‐1963), Dijon: les Presses du Réel, 2012;
DOSSIN, Rise and Fall of American Art.