TÊTE-À-TÊTE COM O MODELO: “AMUADA”
DE BELMIRO DE ALMEIDA E AS REPRESENTAÇÕES DA MODELO E DO ATELIÊ DO ARTISTA NA
VIRADA DO SÉCULO
Samuel Mendes Vieira (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Resumo: Refletindo sobre o recorte do Colóquio, O Ateliê do Artista, propomos a análise
de uma obra do artista Belmiro de Almeida (1858-1935), “Amuada,” pintada entre
1905 e 1906 e que hoje integra o acervo do Museu Mariano Procópio. Sendo o
ateliê o espaço da criação, nele se estabelecem ligações de diversas
instâncias, desde o trabalho de criação mental, até àquela com os objetos
usados para representação e, entre esses objetos, o modelo-vivo é um elemento
primordial no processo criativo. Tal prática constituiu uma das marcas
essenciais do pintor, a representação da figura humana na pintura; primordial
no ensino acadêmico durante todo século XIX, também foi essencial na observação
dentro do ateliê individual do artista, onde auxiliou no exercício de novas
linguagens plásticas na virada do século XIX. Na obra em questão, a figura
feminina, disposta no centro do quadro, está sentada em pose serena e
cabisbaixa, o espaço em seu entorno não possui muitos elementos decorativos, a
perspectiva na diagonal recorta o canto de uma sala, onde apenas está o divã
amarelo com a modelo. Embora o título explicite o sentimento da mulher, a
economia visual permite relacionar essa composição de Belmiro de Almeida com
outras imagens de modelos posando para artistas em sessões no ateliê, e a
experiência pontilhista, que empregou na execução do quadro, nos permite
dialogar com outras equivalentes em obras inseridas dentro do gênero.
Compreender as relações entre o modelo e o artista é um aspecto importante
dentro dos Studio Studies, como ressaltado por Susan Waller em The invention of the model: artists and models
in Paris, 1830-1870 (2006), pois essa relação nos oferece uma amostra entre
a processo criativo e as trocas culturais e sociais entre o pintor e a modelo
no século XIX.