PEDRO AMÉRICO DE FIGUEIREDO E MELLO: CONSIDERAÇÕES SOBRE UM ATELIÊ
ITINERANTE
Madalena Zaccara (Universidade Federal de
Pernambuco)
Resumo: Entre os tantos espaços ligados ao artista e a sua produção o seu ateliê
envolve fascínio e curiosidade. Nele esperamos encontrar o mistério, o segredo
da criação do artista: sua imagem. Voyeurs que somos todos, tentamos
compreender melhor o artista através do espaço escolhido por ele para
desenvolver seu trabalho.
Courbet, no registro de seu próprio espaço, na tela O atelier do
artista, de 1855, se apresentava trabalhando em um ateliê em meio a uma
multidão diversificada enquanto pinta uma paisagem sob o olhar atento do nu que
parece ter fugido de alguma tela. O ateliê de Courbet deixa de ser um espaço de
criação para, personagem, ser apresentado como parte do artista, de seu mundo.
Descrevendo uma visita ao ateliê de Vicente do Rego Monteiro, também em
Paris, muito tempo depois, Gilberto Freyre nos introduz na intimidade do artista
e de certa forma contribui para a formação de sua imagem. Usa palavras, como Courbet usou imagens, para
nos transportar ao “studio da rua
Gros... Uma água-furtada. Por cima de um quinto andar. Chegava-se lá quase sem
fôlego, como depois de ler em voz alta um período de Rui Barbosa.”
Pedro Américo não se caracterizou por ter um espaço físico perene como
ateliê. Do primeiro que ele alugou na Rue Bonaparte em Paris nos tempos de
formação ao temporário onde ele negociou a tela Batalha de Campo Grande - que lhe proporciona notoriedade -
passando pelo emprestado (as instalações do convento Santa Anunciada em
Florença) ao ateliê doméstico que ele utilizou por um tempo maior também
naquela cidade, o artista não teve pouso certo. Seu ateliê é o reflexo de sua vida:
itinerante. É sobre este ateliê itinerante reflexo do artista que queremos
tratar. Ele contribui para uma melhor compreensão do artista e para a
construção da sua imagem.