GEORGINA DE ALBUQUERQUE: FOTOGRAFIAS DE UMA ARTISTA COMO MÃE
Manuela Henrique Nogueira (Instituto de Estudos Brasileiros -
Universidade de São Paulo)
Resumo: A presente comunicação tem como objeto de análise algumas fotografias das
décadas iniciais do século XX do ateliê da artista Georgina de Albuquerque
(1885-1962) presentes em revistas do período e em arquivos públicos.
Pretende-se assim refletir sobre a construção da imagem da artista enquanto
exemplo de mãe republicana.
Para Susan Besse: “Considerações políticas, sociais e culturais exigiam
que o emprego feminino não possibilitasse às mulheres deixar de lado seus
papéis familiares nem destruísse os estereótipos que vinculavam a feminilidade
à delicadeza, à virtude e ao altruísmo.”[1]
As fotografias de Georgina em seu ateliê nos permitem refletir mais
amplamente sobre o status social da
mulher artista no início do século XX. Durante a primeira República, apesar das
inúmeras dificuldades enfrentadas pelas mulheres algumas conseguiam exercer com
certo êxito sua profissão como artistas, mas não poderiam negligenciar as
funções sociais esperadas socialmente.
Segundo Ana Paula Simioni a artista “encarnou o protótipo da mulher
competente nos moldes republicanos, o que incluía uma formação intelectual, e
mesmo profissional, que não obliterasse as atividades de mãe e esposa, ás quais
se dedicou infatigavelmente.”[2]
As fotos da artista, seu marido e filhos no espaço de produção artística
de ambos - o ateliê - reitera a discussão posta por Besse e Simioni, pois
Georgina posa em seu espaço de trabalho reforçando o papel de artista, em
contrapartida, concilia a essa imagem os papéis impostos pela sociedade
republicana do período.
Georgina de Albuquerque soube negociar sua permanência no campo
artístico brasileiro, conciliando as funções sociais esperadas para uma mulher
republicana, ou seja, os papéis de mãe e esposa, mas também pode
profissionalmente destacar-se como artista de prestígio durante início e meados
do século XX como atesta sua trajetória.
__________
[1] BESSE, Susan K. Modernizando a
desigualdade: reestruturação da ideologia de gênero no Brasil 1914- 1940.
São Paulo: EDUSP, 1999, p.145-147.
[2] SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão
Artista: pintoras e escultoras acadêmicas brasileiras. São Paulo: EDUSP,
2008, p. 296-297.