ENTRE POSES
Marcelo Gonczarowska Jorge (Espaco Par de Ideias)
Resumo: Nos oitocentos, os papeis do artista e do modelo já estavam, de certa
forma, definidos: esperava-se que o artista analisasse o modelo e executasse a obra,
enquanto o modelo deveria ficar tão imóvel quanto possível. No entanto, nessas poses longas, habituais no
século XIX, sempre havia os inconvenientes (para o artista), mas muito
necessários (para o modelo), intervalos para descanso. Durante esses minutos,
não havia protocolo determinado a seguir: cada pintor e escultor reagia de uma
maneira diferente, adequada a sua personalidade, ao contexto e a personalidade
do modelo. Esta proposta de comunicação pretende, partindo da analise da
pintura Descanso do modelo, de Almeida Junior, fazer um levantamento das
diferentes estratégias adotadas por artistas para enfrentar esses momentos
entre uma pose e outra.
Almeida Junior registrou, de forma pictórica, uma dessas estratégias: um
momento descontraído, em que a modelo deixa seu papel passivo para adotar
atitude ativa, tornando o pintor, nesse momento, mero coadjuvante que acompanha
a melodia, marcando o ritmo com as mãos. Essa tática de enfrentamento dos
momentos de descanso, por meio da intervenção musical, eh uma entre varias que
podemos identificar em relatos pictóricos, gráficos e na literatura ficcional e
de historia da arte. Na pintura, Courbet e Meissonier, por exemplo, privilegiam
registros em que o modelo admira a obra, vendo-se em uma espécie de espelho
cujo reflexo atravessou as lentes do artista. Na literatura ficcional, os
irmãos Goncourt e du Maurier representam os intervalos de pose como momentos em
que artista e modelo envolvem-se em jogos de sedução, conscientes ou
inconscientes. Já os textos de historia da arte e os testemunhos da época
registram a miríade de abordagens adotadas pelos artistas em situações reais,
como no caso dos retratistas Sargent e Lazslo, que transitaram por situações
nas quais houve desde a intervenção da musica ate a troca de inesperadas
confidencias.