VISÕES DE ATELIÊS: RELATOS E DESCRIÇÕES PUBLICADAS NA IMPRENSA DO FINAL DO SÉCULO XIX NO BRASIL

Maria Antonia Couto da Silva (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo: Na pintura do final do século XIX no Brasil poucas obras trazem representações do pintor em seu ateliê. Por outro lado na imprensa da época os ateliês de artistas foram objeto de vários artigos, principalmente nas duas últimas décadas do século XIX, quando se intensificaram as exposições em locais alternativos, como galerias e também ateliês de pintores e de fotógrafos, fora do ambiente da Academia de Belas Artes.  

Articulistas, críticos de arte e também literatos trataram em seus textos da descrição dos ateliês e principalmente comentavam as obras mais recentes dos pintores que visitaram, contribuindo para a construção da imagem do artista. Os locais também foram associados à comercialização de obras de arte e se tornaram ponto de encontro de artistas e intelectuais. Félix Ferreira, em artigo de 1884, mencionou a abertura dos modestos ateliês de Victor Meirelles e de Aurélio de Figueiredo como tentativas de aproximação dos pintores com os colecionadores. Devemos destacar também os ateliês de fotografia, como o de Insley Pacheco, que promoveu inúmeras exposições de pintura.

Nesta comunicação pretendemos analisar alguns textos que trataram do ateliê como local de convívio social, de comercialização de obras e também abordar, em especial, duas visões de ateliês de artistas. A primeira foi expressa em textos sobre os pintores paisagistas, onde o destaque foi dado às cercanias e às paisagens escolhidas. O crítico França Júnior ao tratar de quadros de pintores do Grupo Grimm e descrever paisagens pitorescas de Niterói, comentou: “Que melhor atelier para os paisagistas!

Outra questão a ser comentada é o relato de um escritor que procura, por meio da descrição do atelier de Amoedo, traçar uma espécie de retrato moral do artista, e no qual foram destacadas em várias obras a paleta estudada, com cores muito elaboradas, exaltando, assim, o atelier como ambiente no qual o crítico de arte teria a oportunidade de observar várias obras reunidas de um mesmo autor, concluídas ou não, e inclusive de analisar a maneira de elaboração das mesmas.