“MON ATELIER DE CATUMBI” E “DEBRET EM SEU ATELIÊ”: INTERPRETAÇÕES E INVENÇÕES ACERCA DA HISTÓRIA DO ARTISTA NO BRASIL

Elaine Dias (Universidade Federal de São Paulo)

Resumo: Em 1816, Jean-Baptiste Debret realiza uma pequena aquarela representando seu ateliê no Catumbi, dedicada a seu irmão François Debret. Vemos ali uma reunião de objetos que mostram, em um pequeno espaço, os modelos utilizados pelo artista no Brasil, entre os quais algumas telas reveladoras de suas referencias artísticas, livros, a paleta do artista, um manequim vestido com um uniforme militar e a grande tela que permanece improvisadamente em uma cadeira, segura por finas cordas, que reproduz a indumentária que veste o manequim à direita, futuro retrato de alguém ainda não revelado. O artista não está presente na tela, mostrando ao irmão não só as condições de seu trabalho no Rio de Janeiro, mas uma possível encomenda de um retrato masculino. A pequena aquarela de Debret confronta-se com uma tela que aparece no mercado brasileiro já no século XX, de autoria não reconhecida a Julien Pallière, que mostra o artista novamente em seu ateliê, repleto de objetos que demonstram sua relação direta com o ambiente brasileiro, além de um retrato de d. Leopoldina. Estudiosos já revelaram que não se trata de Debret e tampouco o autor é Pallière, mas o imaginário brasileiro levou à produção de uma falsa obra sobre o artista e seu processo de trabalho, incorporando na tela imagens distantes do ateliê reproduzido em 1816, com objetivos igualmente bem definidos. Pretende-se, nessa comunicação, trabalhar os aspectos referentes às interpretações, invenções e construções realizadas em ambas as obras, seja pelo artista ou outros autores, as quais levam ao espectador em distintos espaços de tempo, os objetivos, referências e a imagem do artista em produção.