FERNANDO CORONA (1895–1979) E O “DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO DE ESCULTURAS EXECUTADAS PELOS ALUNOS DESDE A FUNDAÇÃO DO CURSO DE ESCULTURA”

Alfredo Nicolaiewsky (Instituto de Artes - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Resumo: Este artigo tratará do ateliê como espaço de ensino a partir de um documento com características únicas. Trata-se de dois cadernos que registram, por meio de mais de 400 fotos e anotações, a vida no ateliê de escultura do Instituto de Artes no período de 1938 a 1965. Este documento foi produzido pelo professor Fernando Corona (Santander, Espanha, 1895 – Porto Alegre, RS, 1979), escultor, arquiteto, ensaísta, crítico e professor. Diplomou-se na Escola de Belas Artes de Vitória, na Espanha, chegando a Porto Alegre em 1912. No Rio Grande do Sul desenvolveu carreira individual como arquiteto, sendo o responsável por projetos arquitetônicos de referência modernista na cidade. Em 1938 é convidado pela direção do Instituto de Belas Artes para criar o curso de escultura. Neste mesmo ano defende a tese intitulada Fídias – Michelangelo – Rodin, com a qual conquistou a cátedra de Escultura e Modelagem no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. É a partir deste momento que ele começa a fazer a documentação fotográfica dos alunos e de sua produção, atividade que se encerra somente em 1965, quando se aposenta compulsoriamente ao atingir os 70 anos. Seus cadernos, que ele define como “Documentário fotográfico de esculturas executadas pelos alunos desde a fundação do curso de escultura”, é um documento constituído por fotografias, os nomes de todos os alunos que passaram pela disciplina, comentários sobre a qualidade de alguns trabalhos, depoimentos sobre o espaço físico (que muda algumas vezes neste período) e algumas questões do dia a dia, como as dificuldades para a compra de equipamentos. Através da análise das listagens e da documentação fotográfica, podemos acompanhar o início das carreiras daquele grupo de jovens artistas: os que não deram continuidade a sua produção artística, outros que não continuaram como escultores mas foram para outras áreas, como a gravura ou pintura, os que se dedicaram ao magistério, alguns como professores do próprio Instituto e ainda aqueles que se tornaram importantes escultores, como Sonia Ebling (1918–2006), que fez carreira entre a Europa e o Rio de Janeiro, Carlos Tenius (1939) e Luis Gonzaga (1940) que se tornaram referências para a escultura no Rio Grande do Sul. Neste ano que completa os 50 anos de seu encerramento (1965) estes cadernos, que hoje integram o Arquivo Histórico do Instituto de Artes da UFRGS, são um documento excepcional para o conhecimento da rotina do ateliê de escultura do Instituto de Artes.