19 TRAGÉDIAS, 20 COMÉDIAS NA ARTE PORTUGUESA DO SÉCULO XIX
Sandra Leandro (Universidade de Évora; IHA-Universidade Nova de Lisboa)
Resumo: 1 de 20, ou 2 de 19? - “Os artistas são elles. Emquanto á instituição nacional que os protege, essa instituição é o sr. Manuel, moço da cervejaria Leão. Porque o sr. Manuel não ensina aos artistas coisa nenhuma, não lhes marca falta na pauta, nem lhes diz asneiras tossindo de papo, arrotando-lhes esthetica por detraz do hombro, e gesticulando para o modello com a bola de pão ou com o carvão em pitada entre os dedos. O sr. Manuel contenta-se em se lhes rir para os quadros com uma bondade espirituosa, em lhes servir á mesa nos jantares do restaurante, e, segundo nos affirmam pessoas fidedignas, - em lhes fazer credito. […] A arte tem de comer, Deus existe, Manuel vela!” - estas são apenas algumas palavras publicadas em 1881, no jornal humorístico, O António Maria, a propósito do que viria a ser designado como Grupo do Leão.
Pensar por polaridades ajuda num primeiro momento a reflectir sobre a construção historiográfica, mas, como é sabido, a distância que vai do Trágico ao Cómico é por vezes muito ténue, ou pode ficar a meio caminho. Nesta comunicação selecciono casos paradigmáticos de obras enformadas por extremos, sem esquecer as permutas entre Portugal e o Brasil. Uma recriação matemática, um 19 e um 20, extremos entre o choro e o riso, ninguém num bosque e um carnaval de gargalhadas… Serão vários os géneros artísticos abordados e diversos os autores deste cenário: Soares dos Reis (1847-1889), Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), Francisco Vilaça, Isabel Boaventura (1870-1925), eis apenas alguns dos protagonistas desta comunicação. Dar-se-á também lugar aos críticos de arte, criadores velozes e tantas vezes artificiais, de ídolos, deuses, monstros e invisíveis. O suposto carácter efémero da imprensa é contrariado quando as suas opiniões são assumidas pela história e vale a pena inquirir esse lugar. O fatalismo, a farsa, a surpresa e o riso querem estar presentes neste momento que compõe a machina mundi criada para entender o que muitas vezes só se explica e exprime por imagens.