O FASCÍNIO DO ORIENTE: SALAS CHINESAS EM PALÁCIOS DE LISBOA NO SÉCULO XIX
Isabel Mayer Godinho Mendonça (Escola Superior de Artes Decorativas/FRESS)
Resumo: O fascínio do Oriente foi uma das vertentes mais curiosas do gosto pelo exótico - uma tendência em todo o mundo ocidental que também se fez sentir em Portugal durante o século XIX, nomeadamente na cidade de Lisboa.
Pouco resta dos traços desta verdadeira moda, que levou à criação das chamadas “salas chinesas” em muitos dos palácios lisboetas de oitocentos. Mas o levantamento que temos vindo a realizar no âmbito do projecto “A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII a XIX). Anatomia dos Interiores” permitiu-nos identificar (e, esperemo-lo, talvez salvaguardar) algumas dessas salas, concebidas entre os finais de setecentos e o último quartel do século XIX, tanto em palacetes da nova aristocracia endinheirada como nos palácios da velha nobreza e até no real palácio da Ajuda.
Na decoração destas salas, que integravam os espaços de aparato dos palácios, foram utilizados materiais de inspiração oriental: papel de parede importado da China, pinturas de ”chinoiserie” a têmpera e a óleo em paredes e portas, estuques relevados e vazados ou sugerindo o entrançado do bambu, madeiras lacadas e sedas para revestimento de paredes e tectos. Alguns objectos, como espelhos pintados com motivos orientais, fogões de sala com motivos de “chinoiserie” e mesmo, no caso do palácio da Ajuda, uma colecção de porcelanas japonesas e contadores namban, fazem ainda parte da decoração original destas salas.
A sala chinesa do palácio da Ajuda, decorada na campanha de obras dirigida pelo arquitecto Possidónio da Silva em 1865, ao reunir uma colecção de objectos japoneses antigos oferecidos ao rei D. Luís, remete-nos para o apreço por um novo exotismo que na época se implantava na Europa e que pretendeu abrir caminho a novas soluções estéticas. A ”sala japonesa” do palácio do recém-nobilitado marquês de Vale-Flor, em Lisboa, decorada já na segunda década do século XX, é um exemplo tardio desse gosto pelo exótico oriental, que teve nas "salas chinesas" do século XIX a sua expressão mais significativa.