UMA VIA ORIGINAL NO NATURALISMO PORTUGUÊS: HENRIQUE POUSÃO (1859-1884)
Carlos da Silveira (Universidade Nova de Lisboa)
Resumo: A breve e fulgurante carreira de Henrique Pousão (1859-1884) é um caso singular na pintura portuguesa do século XIX. Brilhante aluno da Academia Portuense de Belas Artes, e a partir de 1880 bolseiro de pintura de paisagem em França e Itália, Pousão aproveitará a estadia no estrangeiro para se distanciar do ensino académico e encetar uma pesquisa plástica independente. As pinturas que envia à Academia Portuense e ao Salon de Paris reinventavam com originalidade os clichés tradicionais do modelo académico e da pintura de costumes, e a sua visão da paisagem propunha uma via centrada no rigor da composição e no valor autónomo da cor, intensificada pela luz mediterrânica que encontrou em Roma e na ilha de Capri. A sua morte precoce, aos 25 anos, impediu-o de consolidar uma rápida evolução que se desenvolve em cinco anos de actividade, revelando uma rara disponibilidade para experimentar e interpretar modelos dominantes, num percurso alternativo que já na época se posicionava à margem dos desenvolvimentos do Naturalismo em Portugal.
Propomos uma comunicação que interpreta e dá uma visão global da obra do pintor português, centrada nos anos de actividade na Escola de Belas Artes de Paris e no Círculo Artístico Internacional de Roma, onde Pousão conheceu de perto importantes artistas brasileiros. Sublinhando uma relação cultural ainda hoje completamente por apurar, importará também enunciar nesta análise as produtivas confluências que a sua formação e pesquisa têm com Rodolpho Amoedo (1857-1941) e com os irmãos Rodolpho (1852-1931) e Henrique Bernardelli (1857-1936).