PUBLICAÇÕES E PRÁTICAS DO ENSINO DO DESENHO ENTRE BRASIL E PORTUGAL NO SÉCULO XIX
Renato Palumbo Dória (UFU)
Resumo: As discussões em torno das necessidades e vantagens advindas do ensino generalizado do desenho ganham vulto em Portugal a partir de fins do século XVIII, quando se tentam novos paradigmas para o ensino artístico no país, em acordo com uma movimentação europeia em prol das virtudes do desenho. Entre fins do século XVIII e começos do XIX se publicam em Lisboa discursos e tratados voltados para a vulgarização deste ensino (sobretudo através da Oficina Tipográfica e Calcográfica do Arco do Cego), sendo muitos os obstáculos, porém, para que a disciplina do desenho se firmasse em Portugal para além do âmbito das formações específicas, sobretudo dos engenheiros militares, em cujo ambiente se dava também o estudo da figura humana. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil esta discussão se translada para o território brasileiro, sendo sintomático que o primeiro livro dedicado ao ensino do desenho publicado no Brasil, em 1817 (o Elementos de Desenho e Pintura, e Regras Geraes de Perspectiva), fosse de autoria do engenheiro militar português Roberto Ferreira da Silva (então em atividade na Aula Militar do Rio de Janeiro), e que entre seus conteúdos constasse o estudo da figura humana, utilizando ilustrações derivadas das pranchas da Encyclopédie. Com a progressiva instalação do ensino do desenho em alguns espaços institucionais brasileiros, e com o afastamento político das duas nações, as relações com os problemas relativos ao ensino do desenho em Portugal aparentemente deixam de se dar, também na medida em que ambos países aprofundam o uso de modelos franceses para suas práticas, em diferentes ambientes de aprendizagem. É interessante perceber, contudo, como os discursos e práticas em torno do ensino do desenho em Portugal e no Brasil continuarão a possuir muitos pontos de contato, sendo uma fonte de pesquisa bastante produtiva para este exame as publicações voltadas especificamente para este ensino, as quais podem por vezes ser cotejadas com desenhos executados por estudantes em acordo com os modelos presentes nestes impressos. Tal é o caso de um conjunto expressivo de desenhos conservados hoje nos acervos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, os quais nos permitem entrar em contato direto com o universo de práticas e modelos utilizados para a aprendizagem do desenho no ambiente luso-brasileiro nos começos do século XIX.