ALEXANDRE HERCULANO E A GÊNESE DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO PORTUGUÊS NO SÉCULO XIX

Cristina Meneguello (IFCH/UNICAMP)

Resumo: A importância do historiador português Alexandre Herculano (1810-1877) que, ao lado de Almeida Garret (1799-1854), foi uma figura fundamental na vida intelectual portuguesa do século XIX, é bastante conhecida. Sua contribuição para a literatura, para a organização dos documentos históricos na Biblioteca do Porto e posteriormente da Torre do Tombo, sua atividade política engajada, lutando ao lado dos constitucionais como soldado, seu exílio na Inglaterra e sua atuação frente à imprensa periódica portuguesa são todos aspectos de uma trajetória pessoal inseparável de um projeto político para Portugal: um país que deveria ser resgatado do atraso político, econômico e educacional.

Menos conhecida e estudada é a vigorosa atuação de Herculano na identificação e proteção do patrimônio histórico e arquitetônico nacional. Afinal, ao longo do século XIX, e muito além do eixo imaginário Inglaterra-França, países com Alemanha, Itália, Países Baixos e Portugal, quase que simultaneamente, iniciam um rico debate na grande imprensa ou em revistas especializadas, produzindo libelos contra a destruição dos monumentos do passado, propondo projetos para seu restauro e valorização e a delinear sociedades nacionais compostas por intelectuais, arquitetos, artistas, que identificavam e redigiam monografias históricas sobre os bens compreendidos como exemplos da nacionalidade.

Esta apresentação busca avaliar como, expressa nas páginas do Panorama na série de quatro artigos “Monumentos Pátrios”, a partir de 1837, que acusavam os descuidos que o governo e os municípios votavam aos monumentos portugueses, Herculano iniciou uma aproximação ao patrimônio nacional português que foi paradigmática para os que se seguiram. Na valorização da arquitetura medieval contra a hegemonia clássica e na equivalência entre a arquitetura gótica e a história de Portugal em si, a nascente consciência pela preservação de um dado patrimônio em que os monumentos eram simultaneamente a nação, a marca de seu povo e a prova palpável de sua capacidade.