A CERÂMICA ARTÍSTICA DAS CALDAS DA RAINHA NOS SÉCULOS XIX E XX E A SUA DIFUSÃO NO BRASIL

Cristina Ramos e Horta (Conservadora do Museu da Cerâmica/Caldas da Rainha)

Resumo: Na segunda metade do século XIX, laborou-se em Caldas da Rainha, Portugal, uma interessante e característica cerâmica artística, originalmente ligada a um evidente e alargado revivalismo historicista vigente nos principais centros cerâmicos europeus e surgido no contexto de uma sociedade que recuperava o passado, no desejo de fundamentar e informar um presente que caminhava para a modernidade.

Esta estética teve a sua origem em França com Jean-Jacques Avisseau (cerca de 1850) e com os ceramistas das escolas de Tours e Paris que recuperaram o estilo de Bernard Palissy, ceramista da Renascença, e em Inglaterra, com Minton e Wedgood. Divulgou-se sobretudo através das Exposições Internacionais e chegou a Portugal, radicando-se no reconhecido centro cerâmico de Caldas da Rainha. Nesta região, teve como principais cultores os ceramistas Manuel Cipriano Gomes Mafra (1830-1905), José Francisco de Sousa, José Alves Cunha, entre outros, culminando com Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) na Fábrica das Faianças e teve a sua continuidade assegurada com Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro e Costa Motta Sobrinho.

Destacando-se pelas decorações inspiradas na flora e na fauna, bem em por elementos neorenascentistas e neo barrocos, esta cerâmica foi alvo do interesse de coleccionadores, integrando colecções reais como a de D. Fernando de Saxe Coburgo Gotha e insere-se num contexto de mudanças que marca a Europa da segunda metade do século XIX, mas sem deixar de apresentar uma matriz nacionalista.

Estes productos foram, desde 1860 exportados para vários países, entre os quais o Brasil, destacando-se a sua presença neste país através de várias obras de referência a que faremos alusão nesta comunicação.