MACHADOS EUROPEUS EM MÃOS DE ESCRAVOS: SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE CRÍTICA AMBIENTAL E ESCRAVIDÃO NA PINTURA DE PAISAGEM DO SÉCULO XIX

Claudia Valladão de Mattos (Instituto de Artes/Unicamp)

Resumo: O presente artigo investigará as relações estabelecidas entre destruição das matas virgens e sistema escravocrata na pintura de paisagem no Brasil, ao longo do século XIX. Em 1823, em seu texto “Representação à Assembléia Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravidão”, José Bonifácio, um dos primeiros intelectuais a envolver-se diretamente na luta pela preservação dos recursos naturais da nação, faria uma associação explícita entre a prática da destruição das florestas brasileiras e o sistema escravocrata reinante no Brasil de então, uma idéia que pode ser considerada bastante original no contexto emergente da crítica ambiental em outras partes do mundo. As idéias de Bonifácio alcançaram ampla repercussão entre um circulo de intelectuais e artistas vinculados a instituições como o IHGB e o SAIM, no Rio de Janeiro, dentre os quais podem ser citados artistas como Félix-Émile Taunay e Araújo Porto-Alegre e escritores como Gonçalves Dias e Gonçalves Magalhães. Todos eles procuraram apoiar a causa de Bonifácio através da produção de obras de arte voltadas para o tema da destruição da floresta, abraçando ao mesmo tempo o argumento de que a substituição da mão de obra escrava pela não de obra do imigrante europeu traria consigo a superação da atitude predatória da sociedade brasileira diante da natureza. Nosso intento é analisar as formas que tais argumentos tomaram nas obras desses intelectuais e artistas e como elas irão repercutir até o final do século XIX em obras como as produzidas pelos artistas Pedro Weigärtner, Almeida Jr. e Benedito Calixto, na passagem do século XIX para o século XX.

Palavras-chave: Pintura de paisagem; Critica ambiental; Escravidão.