CULTURA VISUAL E A PRIMEIRA REPÚBLICA

Valéria Salgueiro (UFF)

Resumo: A instauração do regime republicano pôs um fim à monarquia e trouxe consigo diversas conseqüências para a sociedade brasileira. Dentre as manifestações do novo regime está o surgimento gradativo de uma nova visualidade, a qual se projetou nos mais diversos campos da vida no país, desde os símbolos nacionais até uma arquitetura que viria a ser identificada como a arquitetura da Primeira República (1889-1930). Essa arquitetura tipicamente republicana brasileira, inspirada na arquitetura européia da segunda metade do século 19 explorando diferentes estilos históricos, é sempre acompanhada de farto emprego de ornamentação e de elementos decorativos. Ela possui como marca, entre outras, a associação a diversas formas artísticas, como a escultura, a pintura, o vitral e o entalhe em madeira, evidenciando uma grande integração entre as artes. Rejeitada posteriormente, porém, pelas idéias modernistas que dominaram o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), a arquitetura da Primeira República recebeu o incentivo, inclusive, para sua substituição por uma arquitetura modernista que se insinuava entre nós. As idéias influentes da chamada “fase heróica” daquele órgão de proteção (proteção?) ao patrimônio a tornaram mais vulnerável aos interesses imobiliários, e ela foi, por muito tempo, considerada sem interesse de ser estudada. Todavia, muito embora bastante tenha desaparecido e se perdido para sempre, diversos exemplos ainda aí estão, a demandar estudos e pesquisas. Tratam-se de remanescentes de um período de nossa história que guardam um enorme interesse para o aprofundamento do conhecimento da cultura visual do nosso país e que permitem uma ampliação de campos de estudo e aprofundamento da nossa história da arte e da arquitetura. Esse é o foco das reflexões a serem apresentadas pelo trabalho que será apresentado, o qual buscará, entre outros aspectos, destacar facetas contraditórias entre as idéias sublinhando o novo regime republicano e as matrizes figurativas de que o período se serviu na construção da identidade brasileira no plano da visualidade.

Palavras-chave: Cultura visual; Primeira República, Arte e Arquitetura.