Resumo: Uma única descrição, de apenas uma frase, encontrada recentemente num jornal antigo, aponta para uma troca de títulos ocorrida há muito tempo, entre duas pinturas de Eliseu Visconti (1866-1944). Uma delas foi exposta em Paris e recebeu um prêmio no Brasil, mas a outra levou a fama. Pertencendo as duas ao mesmo acervo, uma delas foi registrada apenas como Estudo de nu, e em algum momento, provavelmente porque suas qualidades observadas por tantos comentaristas – composição bem elaborada; escorço admirável; ângulo singular; leveza do colorido; sutileza da cena; jogo dos contrastes; profundidade das expressões e sensualidade inquietante – não se conformaram à designação tão redutora que lhe foi dada, teve seu título trocado com o da pintura premiada, significativamente mais modesta. Por sua simplicidade, esta última pintura só passou a ser reproduzida muito recentemente, quando os títulos trocados já se encontravam consagrados. Muito antes, a outra foi, por algum tempo, reproduzida com os dois títulos – o seu original e o que lhe foi outorgado na troca –, até que, com este último, foi grandemente notabilizada. Essa história está longe de ser um caso isolado. No mesmo acervo, por exemplo, também ocorreu uma troca de títulos entre duas pinturas de Georgina de Albuquerque (1885-1962). Somente a pesquisa sistemática nos periódicos de época consegue comprovar esses fatos totalmente esquecidos. O presente trabalho pretende desvendar o caso das pinturas de Visconti e refletir: Após tantos anos de uso equivocado dos títulos trocados, eles acabam se fixando à imagem das obras às quais um dia foram atribuídos. E o que fazer diante dessas constatações? É sempre possível destrocar os títulos, a partir das provas encontradas, mas seria incontestavelmente a melhor solução?
Palavras-Chave: Eliseu Visconti; Pintura brasileira; Títulos trocados; Pesquisa histórica.