Arthur Valle (UFRRJ; CBHA)
Resumo: Para além da intenção mais ou menos explícita de decorar um interior arquitetônico, o que aproximaria entre si obras como A Partida da Monção, de Almeida Júnior (1897), e as pinturas mitológicas de Antonio Parreiras no prédio da atual Escola de Música da UFRJ (1922)? Ou o plafond da sala de espetáculos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, de Eliseu Visconti (1908), e o ciclo dos sanitaristas de Guttmann Bicho pintado para o antigo Posto de Saúde da Freguesia, na Ilha do Governador (c.1930)? Certamente não o tema, certamente não os esquemas compositivos, mas antes um conjunto de características formais comuns: a paleta clara, a estilização sintética dos motivos, a parcimônia (por vez extrema) no emprego de efeitos de modelado e de perspectiva... A freqüência com a qual reencontramos essas características nas pinturas decorativas e referidas na literatura artística produzida durante a 1a República leva a crer que nos achamos diante de um verdadeiro modo - para usar um termo que, embora de significação cambiante, conheceu uma singular vitalidade na teoria artística de língua francesa desde o século XVII e que o historiador da arte Jan Białostocky se esforçou por ressuscitar, quase cinquenta anos faz [1]. Pois, relacionado a uma pintura no período aqui delimitado, o adjetivo decorativo denotava mais do que simplesmente uma função: ele evocava um caráter específico e uma série bem definida de prescrições formais, ele implicava sobretudo uma exigência moral de respeito pela integridade do interior arquitetônico que abrigaria essa mesma pintura e que previa, inclusive, os meios para a relativa subversão de tudo que foi até aqui dito. É à delimitação dos contornos desse modo decorativo que se encontra dedicada a presente comunicação.
Palavras-Chave: Arte brasileira, 1890-1930; Pintura decorativa; Modos
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[1] BIAŁOSTOCKY, Jan. Das Modusproblem in den bildenden Kunsten: Zur Vorgeschichte und zum Nachleben des “Modusbriefes” von Nicolas Poussin. Zeitschrift für Kunstgeschichte, 24 Bd., H. 2 (1961), p. 128-141.