Valéria Alves Esteves Lima (Universidade Metodista de Piracicaba)
Resumo: Maio de 1843 testemunhou o casamento da princesa real das Duas Sicílias, D. Teresa Cristina, com o Imperador do Brasil, D. Pedro II. A cerimônia, realizada por procuração em Nápoles, recebeu uma versão iconográfica pelas mãos do pintor italiano Alessandro Ciccarelli, que, juntamente com a nova Imperatriz, chegaria ao Brasil naquele mesmo ano. O artista, que depois desta passagem pelo Brasil iria ocupar o posto de diretor da Academia de Pintura no Chile, exemplifica um tipo de relação muito comum no universo artístico americano e que pode se resumir na circulação de pessoas e ideias capazes de influenciar a formação de uma cultura visual no continente. Produzindo, em sua maioria, cenas inspiradas na paisagem dos países visitados, estes artistas acabaram também se tornando peças fundamentais para a afirmação de grupos sociais que passaram a requisitar para si a imortalidade dos retratos e, para as nações que se formavam, a celebração de eventos nas telas de pintura histórica.
A tela em questão, executada em 1846, é um exemplar de pintura histórica realizada no universo da corte brasileira. Medindo 194 x 264 cm, a obra pertence ao acervo do Museu Imperial de Petrópolis.
Este trabalho pretende desenvolver um ensaio interpretativo desta obra, considerando a ideia, apontada por Roger Chartier em Práticas e Representações, da interpretação como ato de leitura, isto é, como um esforço de decodificar signos e atribuir significações ao objeto em questão, seja ele um texto ou uma imagem. A obra de Ciccarelli inspira um produtivo exercício comparativo com telas de temática semelhante, o que nos ajuda a localizar o sentido da obra produzida pelo artista napolitano e sua significação no universo artístico brasileiro no século XIX.
Palavras-chave: Alessandro Ciccarelli; Pintura histórica; Brasil Império.