Mônica Cardoso de Lima (Prefeitura Municipal de Vitória e Faculdade Cenecista de Vila Velha)
Resumo: Dos 22 vitrais atualmente instalados na catedral de Vitória, selecionamos para este estudo aqueles instalados entre 1933 e 1943, que totalizam 16. Tal recorte, que privilegia o aspecto cronológico, deve-se à nossa interpretação de que os vitrais instalados naquele período foram dispostos no espaço arquitetônico do templo como resultado de um programa iconográfico pautado em um projeto teológico-político em vigor na primeira metade do século XX. Neste sentido, destacaremos duas dimensões destas imagens-objeto: estilística e política. Cabe lembrar que a catedral foi erguida no mesmo local da antiga matriz da cidade, em 1918, em um contexto de importantes intervenções urbanas, marcadas pela valorização de uma modernidade cuja expressão materializou-se inclusive na escolha de repertórios ecléticos para a reforma ou construção de prédios púbicos ou particulares. A opção pelo estilo neogótico da catedral é um dos aspectos desse contexto cultural, religioso, social, político e econômico do início do século XX, e reflete valores de uma Igreja pautada nos princípios da hierarquia e ostentação. Além disso, os vitrais encomendados revelam as formas de funcionamento do Atelier Formenti, responsável pela confecção dos vitrais e mosaicos deste templo, dentre elas a utilização de modelos copiados de obras como a do barroco europeu, o que contribuía para conferir aos vitrais mais prestígio. Defendemos a hipótese de que os vitrais da catedral foram pensados a partir de um programa pautado na concepção organicista da sociedade. Também entendemos que esse programa foi sendo construído no decorrer dos anos 30 e 40 na medida em que avançavam as obras e crescia a aproximação entre os líderes da Igreja e do Governo Estadual. O método para orientar nossa interpretação das imagens dos vitrais da Catedral Metropolitana de Vitória apóia-se em duas categorias fundamentais: localização e doação. Através dessas categorias, discutimos a retribuição, um dos elementos fundantes do fenômeno das trocas simbólicas, segundo Pierre Bourdieu. A catedral sofreu uma reforma (que entendemos como uma intervenção) após o Concílio Vaticano II que alterou radicalmente a concepção de seu espaço interno, além de desmanchar o programa iconográfico dos anos 30 e 40. A retirada das imagens devocionais, dos altares e da ornamentação interna da catedral, acompanhada da alteração da localização dos vitrais, a nosso ver, desconstrói material e simbolicamente uma determinada concepção de Igreja dominante na primeira metade do século XX.
Palavras-chave: Arte; Política; Vitrais.