Fábio Pereira Cerdera (UFRRJ)
Resumo: Sabe-se que a paisagem teve um papel significativo em importantes transformações ao longo da História da Arte. O gênero da paisagem parece se caracterizar por uma proximidade com os percursos de fundação de períodos inteiros na Arte. No Brasil, no século XIX, o pintor Antônio Diogo da Silva Parreiras (1861-1937) explorou esse gênero de pintura marcando-o com uma intensidade peculiar. À sua plástica bastante particular desenvolvida nesse gênero, o pintor introduziu, pouco a pouco, a figura humana cada vez mais sinergicamente articulada ao seu ambiente, erigindo um papel inequivocamente pertinente da paisagem no desenrolar da narrativa. Nesse sentido, podemos indagar inicialmente: que aspectos sensíveis inerentes ao gênero paisagístico poderiam favorecer tal articulação? Em que medida esses aspectos seriam atingidos por elementos simbólicos na obra de Parreiras? A questão de uma identidade nacional pode estar presente nessa construção? Essas são algumas questões as quais se pretende discutir nesse trabalho a partir da análise de um corpus elementar formado pelas obras “Ventania” (1888) e “Os Invasores” (1936). Assim, se podemos verificar uma função da paisagem na elaboração da ação na obra de Parreiras, é por que suas paisagens foram verdadeiros ensaios determinantes na concretização desse fato. Dessa forma, longe da sedutora plástica que constitui estilisticamente suas paisagens ter se dado gratuitamente, esse dado fez parte diretamente da construção do discurso visual da produção narrativa do pintor, notadamente de sua obra histórica. A experiência do pintor com o gênero da paisagem acabou por lançar, desse modo, as bases de uma estratégia de persuasão relacionada aos valores republicanos de seu público, veiculados em sua produção a partir do último decênio do século XIX. O gênero em questão proporcionou ao pintor alguns recursos necessários para a materialização de sua visão de mundo, naquele momento específico - da passagem do século XIX para o século XX - refratária ao período imperial. Em última análise, este trabalho tratará das relações entre um plano de expressão plástico e um plano de conteúdo narrativo na obra de Parreiras, com o intuito de explicitar como os valores mencionados foram engenhosamente manipulados e concretizados visualmente na tentativa de forjar uma identidade nacional, naquela circunstância, em concordância com um projeto ideológico da elite brasileira.
Palavras-chave: Paisagem; Narrativa; Antônio Parreiras.