O REVIVALISMO BARROCO E ROCOCÓ NO MOBILIÁRIO OITOCENTISTA BRASILEIRO

Angela Brandão (UFJF)

Resumo: Com a afirmação do mobiliário neoclássico e de elementos da mobília em estilo Império, os móveis produzidos no Brasil abandonaram provisoriamente as características barrocas e rococós e passaram a adotar um aspecto mais sóbrio, retilíneo e o uso da madeira lisa, sem entalhes. Adotou-se, para algumas dessas peças, a designação “estilo Dom João VI”. Contudo, a partir da metade do século XIX, os revivalismos ou as referências historicistas se fundem aos móveis neoclássicos, gerando uma complexidade de estilos entendida como ecletismo. Aparecem, elaborados nas oficinas de artesãos em diferentes cidades brasileiras, móveis em estilo neo-gótico, neo-renascimental; neo-barroco e neo-rococó. Não são suficientemente conhecidos os mestres marceneiros instalados nas cidades brasileiras durante o século XIX. Conhece-se apenas a excelência de muitos móveis ecléticos e revivalistas produzidos nessas oficinas e, mais ao final do século, nos Liceus de Artes e Ofícios. As autorias são pouco conhecidas. Sabe-se, por exemplo, pela presença de um carimbo de identificação, que os móveis da sala de jantar de Dom Pedro II para o Palácio de São Cristóvão no Rio de Janeiro (hoje no Museu Imperial de Petrópolis) foram realizados pela oficina F.Léger Jeanselme père & fis, marceneiro e tapeceiro francês estabelecido no Rio de Janeiro. O fenômeno do ecletismo no mobiliário brasileiro do século XIX não foi diferente do ocorrido nas cidades européias e norte-americanas. As combinações de estilos do passado se davam tanto num mesmo objeto, ou ainda móveis de distintas inspirações do passado combinavam-se num mesmo cômodo da casa. Havia programas de decorações de residências em que cada cômodo recebia o tratamento dentro de um estilo diverso do passado. Algumas residências da segunda metade do século XIX no Brasil, hoje tornadas museus, conservam este jogo de articulação do passado conforme o destino de cada cômodo. Um exemplo emblemático pode ser a adoção do estilo Império para o gabinete de trabalho de Dom Pedro II, como ambiente masculino, no Palácio Imperial de verão, em Petrópolis; ao passo que o quarto da Princesa Isabel e a sala de bordar da Imperatriz obedeciam ao conforto e à feminina elegância do estilo rococó. Um colecionismo de móveis autênticos do século XVIII se conciliava, nos ambientes da Corte brasileira, ao revivalismo neo-barroco e neo-rococó.

Palavras-chave: Neo-barroco; neo-rococó; mobiliário brasileiro.