EMÍLIO ROUÈDE

(Avignon, França, 1848 - Santos, SP, 1908)

por Ricardo Giannetti

Nascido na França, Emílio (Émile) Rouède viveu parte da infância e da adolescência na Espanha. Integrou a Real Marinha Espanhola, decorrendo sua juventude nesta atividade. Estima-se que tenha aprendido a pintar por esta época, sendo que já se nota marcante em seus quadros a especial predileção em abordar cenas de marinha.

Chegou ao Brasil por volta do ano de 1880 e fixou-se no Rio de Janeiro. Tomou parte na importante exposição promovida pela Sociedade Propagadora das Belas Artes no Liceu de Artes e Ofícios, realizada no ano de 1882. Um quadro representativo desta época, Vista do Saco do Alferes, mereceu comentários elogiosos na imprensa, feitos pelo crítico de arte e historiador Gonzaga Duque. Novamente, com sucesso, participou da Exposição Geral de Belas Artes de 1884, apresentando seis trabalhos: Navio Negreiro fugindo de um navio de guerra brasileiro; Subindo a onda; O pôr do sol; Baía do Rio de Janeiro: quadro pintado em onze minutos; Efeito noturno; Marinha, faluas.

Artista talentoso, homem de múltiplos interesses e habilidades - foi músico, escritor, fotógrafo, jornalista, professor, para citar apenas algumas de suas atividades -, terminou por se fazer conhecido e estimado no meio social e cultural do Rio de Janeiro. Manteve convivência pessoal com intelectuais daquele fim de século, como o dileto poeta Olavo Bilac; os escritores parceiros Aluísio Azevedo, Arthur Azevedo, Coelho Netto; o jornalista José do Patrocínio, dentre tantos outros. Por um período dedicou-se ao ensino, tornando-se professor no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

No decorrer dos anos oitenta, atuando na imprensa carioca, bateu-se pela abolição da escravatura e pela instalação da República no Brasil. Porém, durante o governo do Marechal Floriano Peixoto, foi ele um dos muitos que se viram perseguidos pelo autoritarismo vigente. Em fins de 1893 refugiou-se em Minas Gerais, e, no sossego das montanhas, teve oportunidade de desenvolver uma outra fase de sua vida.

Uma vez estabelecido em Ouro Preto, Emílio Rouède retomou, com assiduidade, a pintura de cavalete. Ademais, escreveu artigos para jornais sobre as artes mineiras, lecionou desenho e pintura, realizou exposições e teve participação ativa na vida cotidiana da cidade. Com o início das obras da edificação da nova capital do Estado de Minas Gerais no arraial de Belo Horizonte, recebeu, em 1894, uma encomenda da Comissão Construtora da Nova Capital para proceder o registro pictórico do modesto povoado prestes a desaparecer. Concluiu então três telas, hoje integradas ao acervo do Museu Histórico Abílio Barreto: Vista do largo da Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem de Belo Horizonte; Rua do Sabará; Panorama do arraial de Belo Horizonte, tomado do alto do morro do Cruzeiro.

Ainda permanecendo em Minas Gerais, deixou todavia Ouro Preto e transferiu-se para Itabira do Mato Dentro, na condição de administrador e professor do Ginásio Santa Rita Durão. Terminou mudando-se para a cidade de São Paulo, e depois para Santos, onde finalmente voltou a encontrar sua particular alegria - dedicar-se às marinhas. Os trabalhos deste período, calmos e poéticos, traduzem este sentimento. Durante os anos que se seguiram, em que pese o seu isolamento e a saúde debilitada, continuou praticando a pintura diante do mar e manteve atuação profissional na imprensa. Distante dos antigos companheiros que militavam no Rio de Janeiro, em condições de acentuada carência material, Emílio Rouède faleceu em 1908.

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