ARTHUR TIMÓTHEO DA COSTA (Rio de Janeiro, RJ, 1882 - idem, 1923) por Arthur Valle Arthur Timótheo da Costa foi um dos mais destacados pintores da cena artística brasileira nas duas décadas inicias do século passado. Sua vida e obra todavia continuam insuficientemente estudadas, como, aliás, a da maioria dos artistas de sua geração, aquela que realiza, no Rio de Janeiro, a passagem entre a tradição acadêmica da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) e as primeiras correntes modernistas. Negro, de origem humilde como a maioria dos pintores de seu tempo, parece não terem faltado obstáculos e adversidades a Arthur Timótheo durante a sua curta vida. Ainda muito novo, começou sua atividade artística nos cursos de gravura e desenho de moedas e selos da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, então sobre a direção de Enes de Souza que, segundo declarações do irmão de Arthur, o também pintor João Timótheo da Costa, era um verdadeiro mecenas e protetor dos jovens artistas da época. Enes, mantendo Arthur na folha de pagamento, permitia-lhe simultaneamente freqüentar a ENBA onde ele estudou com mestres como Zeferino da Costa, Rodolpho Amoêdo e Henrique Bernardelli. Ainda nesses princípios de carreira, Arthur trabalhou como ajudante do cenógrafo italiano Oreste Coliva. A atividade como pintor de arte para o teatro teria deixado marcas profundas na técnica de Arthur Timótheo e parece notável perceptível na fatura ágil e aparentemente improvisada de muitas de suas obras. Em 1907, com a movimentada tela Antes do Aleluia, hoje pertencente ao acervo do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Arthur Timótheo ganhou o prêmio de Viagem à Europa na Exposição Geral de Belas Artes, então o mais importante certame artístico brasileiro. Ele fixou-se em Paris para estudar e aperfeiçoar-se, não deixando de percorrer outros países europeus como a Itália e a Espanha. Em 1911, realizou junto com seu irmão João e outros artistas de sua geração a decoração do Pavilhão Brasileiro da Feira Internacional de Turim. De volta ao Brasil e durante toda a década de 1910, Arthur Timótheo desenvolveu intensa atividade artística, expondo frequentemente nas Exposições Gerais, participando de entidades artísticas independentes como a Juventas (depois Sociedade Brasileira de Belas Artes) e estabelecendo-se como renomado pintor e decorador. Em inícios dos anos 1920, todavia, sua personalidade entrou em um rápido processo de deterioração e ele teve que ser internado no Hospício de Alienados do Rio de Janeiro onde veio a morrer em 1923, com apenas 41 anos, sem ter tido o tempo de desenvolver todo seu potencial artístico. A maioria dos críticos procura vincular o estilo de Arthur Timótheo, ousado e distante do tratamento usualmente identificado com a arte acadêmica brasileira mais “ortodoxa”, diretamente à herança impressionista francesa. Um olhar mais atento à sua variada obra revela, todavia, um espírito verdadeiramente eclético e influências que mergulham ainda mais remotamente no passado. São flagrantes, por exemplo, suas afinidades com os mestres seiscentistas, presentes no tratamento espontâneo da pincelada e da fatura, bem como nos frequentes e acentuados contrastes de claro-escuro que recordam Rembrandt, Frans Hals ou Rubens - mestre cuja obra Arthur chegou a copiar quando de sua estadia na Europa [cf. Imagem]. Mas, ao mesmo tempo que está firmemente ancorada no passado, a pintura de Arthur Timótheo pode ser aproximada de correntes artísticas mais recentes. Ainda que sua influência direta sobre outros artistas brasileiros tenha sido presumivelmente restrita, podemos reconhecer em sua obra objetivos expressivos afinados com aquilo muitos estudiosos reconheceram como o que de mais “moderno” produziu a arte brasileira do século passado. Especialmente suas paisagens do final da vida, onde o tratamento livre e sintético das manchas de cor é sobreposto por um grafismo vigoroso e dotado de uma autonomia quase absoluta, mantêm proximidades com a obra que décadas depois realizariam pintores como Pancetti e Iberê Camargo, e mesmo os abstracionistas informais da década de 1950. Por tais razões, tanto quanto pela inventividade intrínseca de sua obra, que Arthur Timótheo merece ser sempre lembrado como um dos mais fecundos e originais pintores brasileiros. Texto originalmente publicado como “Artur Timotheo da Costa”, Jornal Rio Informa, Rio de Janeiro, p. 8, 01 fev. 2004. * Veja mais sobre Arthur Timótheo da Costa em DezenoveVinte |