CANDIDO CAETANO DE ALMEIDA REIS

(Rio de Janeiro, RJ 1838 - idem, 1889)

por Fátima Alfredo

Candido Caetano de Almeida Reis nasceu em 3 de outubro de 1838, no Rio de Janeiro e era filho de Caetano Manoel dos Reis, conhecido escultor de santos/imaginária da época, na Capital.

Desde muito cedo Almeida Reis se familiarizou com a prática escultórica e, aos 14 anos, se matriculou como ‘aluno amador’ na Academia Imperial de Belas Artes.

Em 1856 se inscreve no curso de Escultura e, cinco anos depois, é condecorado com a Grande Medalha de Ouro, recebendo então, o tão almejado Prêmio de Viagem.

E como aluno premiado pela Academia, segue para a Europa e vai para Paris, onde se matricula nas aulas de Louis Rochet; lá tem contato com artistas românticos, também entusiasmados pela filosofia positivista[1]. Porém, teve sua bolsa de pensionista cortada e foi obrigado a abandonar seu objetivo na cidade luz, e voltar ao Brasil.

Em 1875 o escultor, participa da Exposição Geral expondo sua obra O crime, e por ela recebe o título de “Cavaleiro da Ordem da Rosa”.

Segundo Generino dos Santos, depois da volta do artista ao Rio de Janeiro, Candido Caetano formou em torno de si um movimento artístico, onde se faziam presentes: Leopoldino de Faria, Heitor e Hortencio Cordoville, Rodolpho Bernadelli, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida e outros.

Logo se notaria também uma mudança nas expressões plásticas de suas obras, agora, possivelmente, sob a inspiração da teoria positivista [2].

A Academia, onde os ideais neoclássicos eram norteadores da produção artística, tentava expurgar-se da nova estética moderna que acompanhava seus jovens artistas e negou a Almeida Reis o direito de disputar a cadeira de professor de escultura [3].

Contudo, Almeida Reis continuou com sua produção artística fundando, ao lado do pintor Souza Lobo e Rodrigues Moreira, “uma casa” de Belas Artes conhecida como Acropólio, talvez influenciado pelas diversas manifestações culturais que dominavam a Europa que, enquanto esteve na França, pode acompanhar. Eram artistas que resistiam prender-se à vida nos ateliês, como também passaram a hostilizar o que era produzido pelas Academias de Belas Artes e agora integravam grupos. Um deles foi a Escola de Barbizon, em Paris; e, na Inglaterra, a Irmandade Pré-Rafaelita.

O Acropólio, fundado por Almeida Reis, foi uma associação artística que tinha por finalidade modernizar o ensino de arte, amparar e proteger os artistas; sua filosofia era mediar o contato entre alunos, natureza e modelo humano. Seus fundadores tinham o propósito de se oporem à orientação conservadora da Academia Imperial, pois a cadeira de paisagem seguia baseada em cópias de pinturas europeias. Tal intento não dura muito, mas a ideia do contato com a natureza continua na geração seguinte. Entre os anos de 1884 e 1886, um grupo de pintores de paisagem ao ar livre liderado por Georg Grimm, destaca-se na cena artística carioca.

Para o crítico de arte Gonzaga DuqueAlmeida Reis se revela um artista que aplica a estética moderna à escultura, conferindo à sua figura tamanho vigor de formas que se contrapõe ao cânone acadêmico da época”. Gonzaga também o assemelha a François Rude, [4] quando diz sobre sua segurança ao talhar o mármore ou ao cortar o barro, denotando a forte influência que Almeida sofreu em relação aos artistas românticos europeus.

No seu livro A Arte Brasileira, Gonzaga Duque se refere, em relação à aproximação do artista da filosofia de Auguste Comte, aos seus métodos científicos, responsável pelo grau de adiantamento e perfeição das suas obras. Exemplifica com a escultura O Paraíba, feita em 1867, época bem distante da condição de artista positivista de Almeida Reis que, na verdade, nunca a assumiu publicamente.  Com isso, Gonzaga Duque é o primeiro a tratar de Almeida Reis como artista romântico, cujas obras foram influenciadas pelo cientificismo positivista.

Esse mesmo assunto é abordado por Teixeira Mendes em O Esculptor Candido Caetano de Almeida Reis e suas relações com a Igreja Positivista no Brasil, editado em 1925, onde relata a posição da Igreja Positivista Brasileira frente às obras produzidas pelo escultor, depois de sua volta ao Brasil e afastamento da Academia.  

Em seu Espólio Literário - Livro undécimo sobre o estatuário brasileiro de C. C. Almeida Reis, Generino dos Santos verdadeiramente nos testemunha, com relatos de quem viu e ouviu de perto o artista, sobre a sua relação com a filosofia positivista.

Na opinião de historiadores da arte de agora, como Luciano Migliaccio, Almeida Reis foi verdadeiramente um representante da escultura romântica brasileira - “[...] sua produção proporciona um novo caráter à escultura nacional no final do século XIX, pela realização de grandes alegorias de temática sócio-política, como em Progresso, para a Estação D. Pedro II. Já em outras obras alegóricas, como Alma Penada, O Delito e o grupo O Gênio e a Miséria, revela uma aproximação com modelos franceses, como as obras de Carpeaux, pela deformação expressiva das figuras” [5].

Para Cybele Vidal, o artista teve sua relevância no histórico das artes oitocentistas e destaca algumas obras onde o escultor atua no tema sacro ao lado de outro artista de destaque no século XIX: Pádua e Castro. Uma delas refere-se à escultura em madeira de São Sebastião feita para a Igreja do Santíssimo Sacramento, no Rio de Janeiro e alguns baixos-relevos feitos para a Igreja de São Francisco de Paula.

Sobre a arte cemiterial, presente nos trabalhos de Almeida Reis, podemos considerar a obra Symbolico tumulo de uma noiva e mais os escritos de Teixeira Mendes sobre essa execução feita para o Cemitério São João Batista, em 1886, quando da morte de D. Izabel Maria Barboza e de seu amigo, Dr. José Eduardo Teixeira de Souza. Outra obra do porte é uma cópia de Dante ao voltar do exílio, feita para o túmulo de Generino dos Santos e relacionada por Teixeira Mendes em “O Esculptor Candido Caetano de Almeida Reis e suas relações com a Igreja Positivista no Brasil”.


[1] Eduardo Subirats fala sobre uma estética positivista que se estende ao século XIX e que dava à arte um conceito de técnica, na medida em que era concebida como um fator de produção ou de transformação econômico-social. SUBIRATS, Eduardo. A flor e o cristal. Ensaios sobre a arte e a arquitetura modernas. São Paulo:Ed. Nobel. 1988. P. 31. Grifo nosso. Jose Murilo de Carvalho também menciona sobre a estética positivista onde o artista não deveria se afastar da realidade dada pela ciência, ao mesmo tempo que deveria buscar afetar a política, mediante a idealização dos valores e das pessoas consideradas modelo para a humanidade. CARVALHO, Jose Murilo de. A humanidade personificada em Clotilde de Vaux. In: ____. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 2008, p. 132.

[2] O positivismo, tal qual o concebeu Comte, é a devoção à ciência, vista como único guia da vida individual e social, única moral e única religião possível.

[3] Ver minuta de ofício da Academia ao ministro do Império, informando sobre o requerimento de Cândido Caetano de Almeida Reis, em que pede para ser nomeado, sem concurso, para professor de Estatuária, que a Congregação de professores não aprova o pedido e que esta cadeira deveria ser ocupada pelo pensionista [José Maria Oscar] Rodolfo Bernardelli. (Arquivos Museu D. João VI/EBA/UFRJ).

[4] Este artista rejeitou o repouso do clássico em favor de um estilo dinâmico e emocional.

[5] www.itaucultural.com.br (Visitado em 28/07/2010).

* Veja mais sobre Almeida Reis em DezenoveVinte