Mariano Moreno e a primeira formação artística de Victor Meirelles

Teresinha Sueli Franz [1]

FRANZ, Teresinha Sueli. Mariano Moreno e a primeira formação artística de Victor Meirelles. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 1, jan./mar. 2011. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artistas/vm_mmoreno.htm>

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Muitas vezes, ao longo dos anos em que realizei pesquisas sobre Victor Meirelles, teria gostado de encontrar, na bibliografia existente sobre ele dados mais completos sobre sua vida em Desterro [Figura 1]. Até hoje, as informações que temos disponíveis sobre seus familiares e sobre sua formação inicial são poucas, desencontradas e difíceis de comprovar. Recentemente, me dei conta de que outros pesquisadores também reclamam da falta de dados sobre o período[2] que antecede a sua matrícula na Academia Imperial de Belas Artes, fato ocorrido em março de 1847, quando ele tinha 14 anos. Depois disso, só voltou a sua cidade natal ocasionalmente ou em viagens de férias.

Meu interesse pela vida e obra de Victor Meirelles vem de longe. A primeira publicação existente em forma de livro sobre o museu Victor Meirelles é de 2001, resultado da pesquisa que realizei no mestrado em Educação da Universidade Federal do Paraná (1994-1996). Pouco tempo depois, cursando o doutorado em Belas Artes na Universidade de Barcelona/ES, desenvolvi longo estudo que incluiu a criação de um instrumento de mediação e interpretação crítica de sua pintura, Primeira Missa no Brasil, de 1860. Estas pesquisas, voltadas ao contexto de ensino das artes visuais, foram amplamente divulgadas em livros[3], palestras, comunicações, oficinas e numerosos textos, no Brasil e no exterior. Espero que tenham ajudado a divulgar e a melhorar a compreensão da obra deste importante pintor do século XIX. Meta que sigo buscando com a presente investigação. Espero também colaborar no sentido de preencher a lacuna existente na biografia de Victor Meirelles.

Uma vez que hoje sabemos da importância da vida familiar e dos primeiros anos de formação artística e cultural para qualquer artista, decidi realizar uma cuidadosa pesquisa para trazer à luz estes aspectos. Inicio a investigação consciente de que o trabalho seguirá por etapas. 

Trato por ora de começar a desvelar, até onde for possível, a primeira formação artística de Victor Meirelles[4]. Desta etapa, temos um dado importante: o nome de um professor de desenho, D. Mariano Moreno[5], que, nas últimas décadas, vem sendo escrito de forma equivocada, como D. Marciano Moreno. Depois de uma investigação sobre este problema, percebe-se que a primeira vez que este equívoco se dá é em Carlos Rubens (1945). Justamente a principal biografia de Victor Meirelles, que serviu de referência aos pesquisadores que apareceram depois. Trata-se provavelmente de um erro de datilografia cometido na página 23 da biografia citada. Porque o mesmo autor cita D. Mariano Moreno, escrevendo seu nome de forma correta, nas páginas 28 e 169 da mesma obra. Este achado me levou a rever outros dados biográficos já conhecidos do pintor e provocou a necessária e exaustiva volta aos arquivos. A partir dessa busca, alguns dados foram corrigidos e novos apareceram, conforme apresento a seguir.

Victor Meirelles de Lima nasceu[6] a 18 de agosto de 1832, em Desterro[7] (atual Florianópolis). É filho do comerciante[8] português D. Antonio Meirelles de Lima (Porto/Portugal 1786 - Desterro/SC 1853) e de Dona Maria da Conceição dos Prazeres (natural da Freguesia do Brito/SC). Os pais receberam as bênçãos nupciais na noite de 1º de outubro de 1831, no oratório da casa de João José do Bem[9], pai da noiva, na presença de Manoel Álvares de Toledo, vigário da Igreja Matriz de Desterro.

Quando Victor nasceu, seu pai tinha a idade de 46 anos[10]. Morou com sua família em casa própria no sobrado situado na Rua da Pedreira, antiga dos Quartéis Velhos, esquina da Rua da Conceição, hoje esquina das ruas Victor Meirelles e Saldanha Marinho [Figura 2]. A família habitava o andar superior e, no térreo, o pai mantinha um comércio. A casa foi tombada em 1950 pela Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN e transformada no museu, que recebeu o nome do artista em 1952. Atualmente, está vinculada ao Instituto Brasileiro de Museus do Ministério da Cultura (figura 8).

 Entre as poucas informações disponíveis sobre a infância de Victor Meirelles, há um elucidativo texto de José Arthur Boiteux[11], publicado no jornal “O Estado” de 22 de fevereiro de 1929, que será amplamente divulgado neste estudo, uma vez que este ilustre catarinense conheceu pessoalmente Victor e sua família.  Segundo informa, em 1844, um dos mais conhecidos negociantes desta capital, era o português Antonio Meirelles de Lima”.  E segue:

Contava-se que tinha duas paixões: a maçonaria e o fumo. Em um certo dia, abandonou o maçonismo em cujas fileiras fora grão-mestre. O hábito de fumar, porém, ficou-lhe, embora por duas vezes tivesse tentado abandoná-lo. Do seu consórcio c/ a catarinense Maria da Conceição dos Prazeres nasceram dois filhos: Victor e Virgílio. Aos cinco anos mandaram-o os pais à Escola Régia e tão pequeno era que o professor para melhor dar-lhe as lições sentava-o aos joelhos. Quando voltava à casa o seu passatempo era o velho Cosmorama que  Antonio Meirelles comprara por muito barato e ótimo curioso que era, concertava sempre que o filho quebrava, o que era comum, algumas das peças. Aos dez anos não escapava a Victor estampa litografada: quantas lhes chegassem às mãos, copiava-as todas. E quem pela loja de Antonio Meirelles sita a Rua da Pedreira, antiga dos Quartéis Velhos, esquina da Rua da Conceição passasse, pela tardinha, invariavelmente veria o pequeno debruçado sobre o balcão a fazer garatujas, quando não às caricaturas dos próprios fregueses que àquela hora lá se reuniam para os idefectíveis dois dedos de prosa.

Segundo Rubens[12], a infância de Victor Meirelles transcorreu entre brinquedos, demonstrando uma índole amorável, muita timidez e inteligência incomum. O menino revelava uma paciência beneditina no aprendizado. Ele também fala do velho cosmorama citado por José Boiteux e transcreve[13] uma carta de um primo de Victor Meirelles, o Capitão de Fragata, Contador Naval, Dr. Roberto  Moreira da Costa Lima, na qual este conta que foi primeiro mestre de desenho de Victor, então com dez anos de idade, o engenheiro argentino D. Mariano Moreno.

Embora o foco deste estudo não permita maior aprofundamento sobre a educação escolar de Victor, que, segundo Boiteux, começou quando ele tinha apenas cinco anos, esta formação inicial se dava nos cursos de Primeiras Letras[14]. O programa de ensino era basicamente o da gramática latina, da gramática portuguesa e das quatro operações de aritmética.  Havia na época problemas com a falta de professores para as escolas públicas, o que se repetia na maioria das províncias do Brasil Imperial. Eram os tempos em que a aplicação de castigos corporais era vista como uma rotina normal e necessária no regime escolar. Nos quais os meninos freqüentavam a escola de meninos e as meninas a escola de meninas. Estas últimas sempre em menor número, como podemos ver nos dados do senso escolar de 1843 (ano da vinda de D. Mariano para Desterro). Naquele ano, em toda a Ilha de Santa Catarina, existiam 16 escolas masculinas e apenas 7 femininas.  A matrícula, na época, foi de 475 meninos e apenas de 211 meninas. Segundo Cabral, naquele tempo (como hoje em dia) havia enorme preconceito em torno do ensino público, considerado menos eficiente. Por isso, predominavam as escolas particulares. Em etapa posterior desta pesquisa, o tema será aprofundado. Muitas perguntas estão por ser respondidas, por exemplo: no tempo em que Victor vivia em sua cidade natal, os meninos e meninas descendentes de africanos, escravos ou libertos, freqüentavam a escola? Se a maioria delas era particular, era o ensino de Primeiras Letras obrigatório? Qual era o papel do Poder Público na escolaridade dos habitantes de Desterro? Qual o índice de alfabetizados da época? Existiram escolas para imigrantes não portugueses em Desterro?

Em outro trecho do mesmo artigo citado, José Boiteux se refere a Victor como o “menino que aos 12 anos já não tinha mestre”. Para entender melhor a situação sobre a formação escolar possível em Desterro, nos meados do século XIX, volto a Cabral[15]. Ele informa que, somente em 1837, o governo criou duas cadeiras do ensino secundário, uma de Retórica (Filosofia Racional e Moral e Geografia) e outra de Aritmética (Álgebra, Geometria e Trigonometria). Tratava-se do primeiro movimento em direção à instituição do ensino que ia além das Primeiras Letras. Somente em 1843 (quando Victor tinha entre 10 e 11 anos), o Padre Joaquim Gomes D’Oliveira e Paiva[16] passou a dar aulas de francês, latim e filosofia. No mesmo ano, se estabeleceram em Desterro os padres jesuítas espanhóis, com sede na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito que, já no ano seguinte, abriram um curso de latim.  A seguir, Miguel Cabeza obteve de seu Superior, o Padre Ramón, então residente em Montevidéo, autorização para fundar um Colégio em Desterro. Tratava-se da primeira instituição de ensino secundário, ou de ensino Médio, de toda a Província de Santa Catarina.

Vale lembrar que, naqueles tempos, este nível de ensino tinha um caráter diferente e mais importante para a comunidade do que hoje.[17] Consta que o colégio foi tão bem sucedido que, em 1845, em visita a Desterro (conforme falaremos adiante), o Imperador Pedro II foi pessoalmente sabatinar os alunos. Este Colégio se estabeleceu na Chácara do Mato Grosso (atual Praça Getúlio Vargas) e funcionava com alunos internos e externos (inclusive de Buenos Aires e Montevidéu). Ali estudavam latim, francês, filosofia, história elementar, geografia, retórica e geometria.

Concluído o ensino de Primeiras Letras, Victor Meirelles deve ter freqüentado o Colégio dos Jesuítas e, enquanto isso, estudou  desenho com D. Mariano Moreno. Se aos 12 anos Victor já não tinha mestre em Desterro (como disse José Boiteux), pode significar que ele cursou este Colégio em apenas dois anos. Uma vez que as autoridades locais acompanhavam de perto o sucesso dos alunos neste, então privilegiado nível de ensino, elas conheciam bem o filho de D. Antonio Meirelles de Lima, o que facilitou seu apoio ao encaminhamento dele ao Rio de Janeiro, quando ele tinha 14 anos apenas.

Retomando a informação de Rubens citada acima, a primeira formação artística de Victor Meirelles começou quando ele tinha 10 anos, quando D. Mariano Moreno passa a ser seu mestre. Com este estudo, pretende-se, principalmente, resgatar uma dívida histórica, lançando luzes sobre o trabalho deste filho da vizinha nação argentina. Espera-se, desse modo, compreender melhor seu papel na formação de Victor Meirelles assim como na vida cultural da cidade de Desterro do seu tempo.

D. Mariano Moreno (filho)

D. Mariano Moreno (filho) [Figura 3a e Figura 3b] [18] chegou à ilha de Santa Catarina em 1843, como exilado político no Governo de Juan Manuel de Rosa, ditador que dominou a política argentina de 1829 a 1852. Fundou uma escola de desenho em Desterro por volta de 1845, onde teve entre seus alunos o pintor Victor Meirelles. É de sua autoria a planta da primeira ampliação do Imperial Hospital de Caridade, cuja pedra fundamental foi lançada em 1845. Foi professor no “Collégio das Bellas Letras” em Desterro, criado em 1849, nos primórdios da história do ensino secundário da Província de Santa Catarina. Retornou ao seu país em maio de 1852, depois da queda de Rosas.

 Ele foi militar, engenheiro e artista[19]. Nasceu em Chuquisaca (atual Sucre, Bolívia), em janeiro de 1805[20]. Foi batizado com o nome do seu pai, prócer da Revolução de Maio e secretário da Junta de Governo de 1810 - D. Mariano Moreno (Buenos Aires, 1778 - Atlântico, costa de Santa Catarina, 1811) e de Dona Maria Guadalupe Cuenca (Chuquisaca 1790 - Buenos Aires, 1854).

Uma vez que o filho recebeu o nome do pai e que ambos são citados na bibliografia sobre a história da Argentina, para diferenciá-los, os historiadores do país vizinho acrescentam a categoria (filho) ao seu nome. Neste estudo, acrescento a categoria (pai) quando estiver me referindo ao pai do mestre de Victor Meirelles.

Mergulhar na fascinante história dos pais de D. Mariano Moreno (filho) pode me desviar do foco do estudo em andamento. A saída é mencioná-los de passagem, correndo o risco de minimizar a importância deles na vida do filho e, conseqüentemente, na formação artística de Victor Meirelles.

Mariano Moreno (pai) foi um membro ativo da comunidade de sua época. Doutor em leis e em teologia, jornalista e político das Províncias do Rio da Prata. Foi Secretário da Primeira Junta de Governo e teve um papel importante na construção da identidade argentina. Seus atos foram dirigidos pelos princípios da Ilustração que havia incorporado em seu ideário durante seus estudos na famosa Universidade de Chuquisaca, no Peru[21]. De acordo com estes princípios, seria possível transformar a sociedade aplicando a razão e a inteligência próprias do ser humano. Assim, o passado não seria mais o determinante da evolução humana, mas a tomada de consciência de cada pessoa por meio do raciocínio. Desse modo, ele desejava abrir a possibilidade de um futuro melhor para os povos, livres do domínio e da tirania das monarquias. Mariano Moreno (pai) teve uma participação importante nos feitos que conduziram  seu país à Revolução de Maio, em 1811. Foi fundador e patrono da Biblioteca Pública de Buenos Aires (hoje Biblioteca Nacional), obra emblemática da Revolução de Maio. Com o título “Educação”, publicou, em 13 de setembro de 1810, no jornal Gaceta de Buenos Aires (também criado por ele), um longo escrito no qual traduz seu pensamento sobre a criação da biblioteca. Nele, Moreno convoca os homens sábios e patriotas de seu tempo para organizar um novo estabelecimento de estudos, adequado àquelas circunstâncias, para promover a ilustração do seu povo. O objetivo era formar uma base que produzisse, no futuro, homens que se tornassem a honra e a glória de sua pátria[22].

Shumway[23] discorre sobre a participação de Mariano Moreno (pai) na construção da vizinha nação Argentina e sobre seu papel na invenção da identidade argentina, o que Moreno fez também por meio de obra escrita. Além de artigos na Gaceta de Buenos Aires, publicou relatórios jurídicos, discursos, o prefácio à sua tradução do Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), além de decretos, cartas e uma longa defesa do livre comércio com a Inglaterra. Ao final de sua curta carreira, publicou um polêmico tratado político em que traça um programa para conduzir a revolução, governar o país e controlar o resto da América do Sul.

Segundo Shumway:

Do movimento de maio de 1810, surgiu o primeiro pensador importante da identidade argentina, Mariano Moreno, um homem que incorpora as contradições de seu tempo assim como as do país que ajudou a fundar [...] De toda essa geração, Moreno foi sem dúvida o mais original, e os historiadores liberais lhe reservaram também um lugar de destaque no panteão argentino de heróis.

Apesar de sua morte prematura, aos 32 anos de idade, a bordo de um navio inglês que deveria levá-lo para um destino mais seguro, a bibliografia sobre ele é vasta. Ainda no presente, historiadores seguem refazendo suas análises.

Igualmente interessante é a história da mãe de Mariano Moreno (filho), Dona Maria Guadalupe Cuenca (também chamada em sua terra, por Mariquita ou simplesmente Lupe) [Figura 4] [24]. Não é difícil acessar as famosas cartas[25] que ela escreveu ao seu esposo quando este estava a caminho de Londres e encontrou a morte em alto mar. São essas cartas preciosidades históricas que revelam muito da época de então.

Foi sem dúvida uma mãe presente[26]na vida do filho, a quem carinhosamente chamava Marianito. Acompanhou sua formação na infância, assistindo-o de perto, evitando que sofresse os costumeiros castigos corporais infringidos aos alunos. Consta que, quando ele tinha oito anos de idade, no ano de 1813, teve um professor que costumava aplicar castigos corporais aos alunos. Um dia, o filho de Dona Maria foi alvo de um desses castigos. A atenta viúva de Moreno se apresentou no dia seguinte, pedindo ao professor que não castigasse seu filho daquele modo. Ao que lhe respondeu o professor que os castigos eram necessários e que se não gostasse, que tirasse o filho da escola. E ela assim o fez.  No entanto, o ocorrido desencadeou um longo vai e vem de leis e regras da Assembléia de Buenos Aires para regulamentar os castigos na escola. Este fato demonstra a atenção da mãe na formação do filho, o que pode fornecer uma pista para compreender o perfil de D. Mariano Moreno (filho) como educador, seja junto aos seus discípulos em Desterro, seja nos anos depois de sua volta para Buenos Aires, onde foi professor na Universidade de Buenos Aires e diretor do Colégio Militar.

Moreno (filho) é recordado pelos seus familiares como “um homem bom”. Segundo informação da Senhora Maria Cristina Moreno, sua descendente e membro da “Associação Mariano Moreno”[27], que vive em Buenos Aires, “ele tinha o temperamento afável da mãe”. É possível perceber a resposta de seus alunos à sua dedicação lendo o poema deixado pelo médico, político e poeta brasileiro Luís Delfino dos Santos (Desterro,  1834-Rio de Janeiro, 1910) que foi seu aluno em Desterro[28].

D. MARIANO MORENO[29]

Oh! Mestre embalde a tua voz procuro;
Embalde busco o nome teu, e creio
Que nos anais do teu país o leio,
Vítima branca e heroica do futuro.

Quando da pátria tu voltaste ao seio,
Todo horizonte, que deixaste escuro,
Tinha os vastos clarões do sol mais puro,
Para viver não já num canto alheio.

Tua alma andava em fronte aberta e larga,
Onde passava muita vaga amarga,
E a dor do exílio a eterna queixa esconde.

Onde repousas tu, mais calmo agora,
Tu, que encheste de luz a minha aurora,
E hás de dormir... deves dormir... Mas onde?!...

D. Mariano Moreno foi o único filho do casal e, ao que se sabe, nunca abandonou sua mãe, que o acompanhou durante os anos em que ele, sua esposa Mercedes Balcarce y Quesada (1808-1876), e sua primeira filha viveram em Desterro.

Na bibliografia consultada no Brasil, normalmente encontramos o título de engenheiro acrescido ao dado de que teria ensinado desenho geométrico ao discípulo Victor Meirelles. As pesquisas realizadas na Argentina[30] revelam que, além da incursão pelo desenho, ele ocupou diferentes cargos públicos em Buenos Aires. Foi também professor, mas seguiu principalmente a carreira militar. Recebeu uma educação complexa, que incluiu a formação em desenho. Segundo o texto escrito por seu pai na ocasião da criação da Biblioteca Pública de Buenos Aires, “antes de se ser atraídos pelo brilho das armas, da formação militar, os jovens deveriam preparar-se para serem homens”. E neste caso, parece querer dizer: homens a modo de Rousseau, uma vez que D. Mariano (pai) era defensor das idéias desse pensador, e à sua concepção de educação como formação integral do indivíduo.

Moreno (filho) realizou seus estudos na Universidade de Buenos Aires, onde se destacou na Cátedra de Desenho[31], que era então vinculada ao Departamento de Ciências Exatas, sob a direção do pintor sueco José Guth. Foi colega de Esteban Echevería, Mariano Balcarce, Francisco Viamonte e Diego Wilde. Consta que, devido ao sucesso obtido na cadeira de Desenho, em sinal de reconhecimento, o Governo Las Heras lhe oferecera uma bolsa de aperfeiçoamento na Europa, o que não aconteceu porque sua mãe se opôs à sua partida.

Para compreender o modelo de escola de desenho fundada por D. Mariano em Desterro, em torno de 1845, creio ser importante entender melhor o lugar do ensino do desenho em Buenos Aires, naqueles primórdios da história argentina. Recorro ao texto de Jorge López Anaya da Revista Manzana de las Luces - Crônicas de su historia[32], do qual apresento breve resumo.

A primeira academia de desenho de Buenos Aires remonta a 1799, sendo dirigida às belas-artes e aos ofícios, segundo o projeto apresentado ao Real Consulado pelo arquiteto e entalhador espanhol José Antonio Gaspar Hernández, que foi seu diretor. Em suas aulas se ensinava geometria, arquitetura, perspectiva e todos os tipos de desenho. No entanto, essa escola gratuita teve que fechar suas portas em 1804, sob escusas de custos demasiados.

Em 1815, o Frade Francisco de Paula Castañeda fundou duas pequenas academias de desenho em um convento da Recoleta/Buenos Aires, para as quais, em 1817, foi designado diretor o suíço José Guth. Ele foi demitido em 1819, o que provocou seu fechamento. No entanto, novo concurso foi realizado e, em outubro de 1820, se designou o gravador e ourives José Rosseau. Consta que esta academia foi transladada ao antigo edifício dos jesuítas em outubro de 1820. A sala destinada para desenho era a maior em largura e altura que se conhecia em Buenos Aires. A iluminação era especial para quem quisesse desenhar à noite e havia a iluminação natural, feita por grandes janelas, para o trabalho diurno. A sala estava coberta de quadros, contendo gravuras francesas e desenhos cedidos pelos próprios estudantes.

Em 1821, durante o governo de Martín Rodrigues, por impulso do Ministro Bernardino Rivadávia, se criou a Universidade de Buenos Aires. Por um Convênio assinado em maio daquele ano, a Academia de Desenho foi transformada em Cátedra de Desenho, que foi integrada ao departamento de ciências exatas da Universidade. A cátedra passou a funcionar na Manzana de las Luces. Ali estudou D. Mariano Moreno (filho).

Em janeiro de 1822, se designou a José Guth para que dirigisse a Cátedra de Desenho. Ele apresentou um plano ao Governo no qual constava sua intenção de criar um museu de Belas- Artes. Guth queria também adequar a cátedra para formar professores de desenho, mas ele não obteve apoio para levar a cabo seu plano. Em 1828, se afastou da universidade devido a problemas de saúde, mas a cadeira de desenho funcionou até 1835, sob a direção do italiano Pablo Caccianiga.

Entre os discípulos de Guth e Caccianiga destacaram-se  o então futuro pintor Carlos Morel (1813 -1894) e o pintor Fernando García del Molino (1813-1899). Este último também passou por uma etapa de formação na cátedra de Pablo Caccianiga, que introduziu o ensino da pintura e do modelo vivo na Cátedra de Desenho da Universidade de Buenos Aires. No entanto, assim como Guth, ele também fracassou na apresentação de um sofisticado plano voltado para o desenvolvimento das belas-artes.  Porém, obteve êxito em uma pequena parte desse plano, no qual defendia o estudo da Geodésia e da Topografia. Comenta Jorge López Anaya[33] que o reitor somente levou em conta este último tópico da proposta e resolveu que o catedrático deveria dar lições de desenho topográfico aos alunos de sua classe que desejassem tal estudo, assim como aos estudantes de matemática do primeiro curso de geometria descritiva.

É esclarecedor o que diz María Lía Munilla Lacasa na Nueva Historia Argentina - Arte, sociedad y política[34]. Para ela, ainda que o método de ensino na Cátedra de Dibujo, naqueles longínquos começos da Universidade de Buenos Aires, consistisse em repetidas cópias de retratos e estampas, característica das academias de arte, é inegável a importância desse curso, pois ali eram ministradas lições de geometria, arquitetura e perspectiva, uma vez que o objetivo final era formar desenhistas técnicos que pudessem desempenhar-se tanto como projetistas e construtores de obras públicas como desenhistas de objetos primários de uso cotidiano. Segundo a historiadora, o conceito que regia o ensino nestas escolas se vincula a uma tendência no Rio da Prata de mentalidade tecnicista, derivada do ideal do enciclopedismo que caracterizou a segunda metade do século XVIII europeu. Idéia considerada avançada para uma sociedade periférica.

Finalmente, cabe lembrar que as concepções de ensino artístico naqueles tempos estiveram condicionadas às idéias e aos valores dos que o defenderam. Lembrando que estes defensores foram também indivíduos com elevado poder social e de comando. Para eles, o ensino da arte devia ser realizado para atender a determinados fins sociais, morais e econômicos. E daí a importância que o desenho teve ao longo do século XIX, por sua utilidade para o desenvolvimento da crescente indústria e como meio de inculcar valores de controle, de ordem e de rigor na ampliada necessidade de uma educação para todos, presente no pensamento ilustrado[35].

Moreno (filho) começou a trabalhar cedo. Com a idade de 17 anos, em 3 de abril de 1822, foi nomeado  ajudante da Biblioteca Pública de Buenos Aires, fundada alguns anos antes pelo seu pai. A partir de então, exerceu diversos cargos públicos na capital da Argentina. Entre eles assumiu em janeiro de 1826 o cargo de 2º Oficial da Comissão Topográfica de Buenos Aires[36]. Segundo Torrassa[37], exerceu também o ofício de engenheiro agrimensor em Avellaneda (Buenos Aires), em 1854, onde apresentou um projeto de planejamento urbano que foi executado com êxito, uma vez que, segundo o autor citado, D. Mariano Moreno havia cursado estudos de Matemática na Universidade de Buenos Aires e se graduado como Engenheiro Agrimensor.

Jorge Coli[38]percebeu reflexos desta formação na produção artística de Victor Meirelles. Diz o historiador, ao comentar o fato bastante conhecido, que D. Mariano Moreno ensinou os rudimentos do desenho geométrico ao seu discípulo: “a informação é bastante plausível se pensarmos nas primeiras paisagens de Meirelles, tão lineares, tão topográficas”. Também não lhe passou despercebida a formação de D. Mariano Moreno em matemática. A sua formação na universidade foi no departamento de exatas. Inclusive foi professor desta disciplina na Universidade de Buenos Aires, após sua volta do longo exílio. Em 1860, lecionou também a cadeira de Física Experimental na mesma universidade.  Desse modo, quase podemos afirmar que Victor Meirelles aprendeu a desenhar calculando, com auxílio da matemática, como bem percebeu Jorge Coli e Gonzaga Duque Estrada, por ele citado.

Ainda que seja difícil afirmar que D. Mariano tenha seguido algo parecido com o que hoje chamamos carreira artística, é certo que ele teve formação na área de desenho (em geral) e vivência com o que se poderia chamar arte para aquele contexto. E sua formação foi muito além do desenho geométrico.

A descendente de Mariano Moreno, anteriormente citada, informou que possui um desenho seu, e que se trata de uma cena do cotidiano, contendo uma mãe amamentando seus filhotes caninos.

No Museu Histórico Nacional de Buenos Aires há uma cópia da mais conhecida obra de D. Mariano Moreno[39]. Trata-se do retrato do General Balcarce desenhado por ele e litografado por Dauville. No catálogo do museu constam os seguintes dados: “Retrato del General Antonio González Balcarce. Busto. Litografía. Dibujo de M.M. (Mariano Moreno, hijo). Litografiado por Dauville et Lavoissiere. Con una cuarteta al pie. Medida 125 X 180 mm. Objeto N° (de legajo) 265”[40].

Mais importante do que o retrato em si, é a evidência que este fato sugere sobre a relação social de D. Mariano Moreno com os começos da história da arte, na Argentina. O francês Jean Baptiste Douville[41] foi o primeiro a realizar litografias naquele país com alguma intenção artística. Para entender melhor como se moviam os “artistas” naquele contexto, lembramos que Douville, na verdade, era um botânico ou naturalista, bem ao modo da época. Era um aventureiro e comerciante também.  Chegou a Buenos Aires durante a guerra com o Brasil (1826). Segundo del Carril, ele se instalou em um estabelecimento que levava o suntuoso nome de Douville et Laboissière.

Em 1826, como Oficial Auxiliar do Ministério da Guerra[42], foi enviado em comissão ao exército de operações contra o Brasil. Em 1827, às ordens do general Alvear, se aliou à batalha de Ituzaingó quando, por suas proezas, foi condecorado com um escudo de prata no braço esquerdo e com um cordão do mesmo metal pendente no ombro.

Em 20 de fevereiro de 1828, passou a prestar serviços ao Ministério de Relações Exteriores no cargo de Oficial Maior.  Integrou uma comissão que celebrou a Convenção Preliminar de Paz a 27 de agosto deste mesmo ano, no Rio de Janeiro. Em Buenos Aires, volta ocupar o cargo anterior de Oficial Maior.  Em 1º de dezembro de 1829, foi nomeado 1º Oficial do Ministério da Guerra sendo, no ano seguinte, Sargento Maior de infantaria e, em outubro de 1831, Oficial Maior do Departamento de Guerra e Marinha, posto que ocupou  até 19 de maio de 1832. Em 17 de julho deste mesmo ano, foi reconhecido como Sargento Maior de artilharia, sendo promovido a Tenente Coronel a 25 de outubro de 1833.

Posteriormente, em 1837, por pertencer ao partido político unitário[43], foi condenado e levado à prisão da Vila de Luján. Porém, seu tio Manuel Moreno, médico e político integrante do Governo de Rosas ocupou-se em obter para o sobrinho a autorização e o passaporte para que pudesse deixar o país com sua família e se refugiar em Montevidéu. Ali permaneceu até a queda de Rivera, em janeiro de 1843, quando, segundo consta na bibliografia consultada[44], partiu, levando junto sua mãe, para Santa Catarina, onde instalou uma escola de desenho, em torno de 1845, como disse antes.  Nestas duas obras, vemos citado o fato de que entre seus alunos figurou o pintor brasileiro Victor Meirelles. Segundo Osvaldo Vicente Cutolo, o exílio de Mariano Moreno foi sacrificado e só acabou com a queda de Rosas.

Um lugar para a arte em Desterro

É difícil começar este tópico sem lembrar que a partir da última década do século XVIII o mundo passou a mudar rapidamente, impulsionado pela Revolução Industrial. Mas se, por um lado, os movimentos políticos revolucionários europeus repercutiram de certa forma sobre nós, por outro, a economia seguia fundamentada na estrutura agrária tradicional e na mão de obra escrava. Havia também a luta política contra a forma autocrática de governo dos monarcas, que se expressou através de violentas revoluções como a americana e a francesa. Assim como a Revolução Cultural, conhecida como romantismo. Todas começaram em torno de 1789, mas foi o século XIX que melhor conheceu suas conseqüências.[45] As guerras revolucionárias na Europa levaram a Família Real portuguesa a instalar um Império no Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, criaram sérias crises para a coroa espanhola. Inicia-se, então, uma espiral de acontecimentos que, finalmente, provocam a independência das colônias americanas, fazendo surgir novas nações, entre elas a Argentina e o Brasil. Essas nações têm entre seus desafios a construção de suas identidades e a fabricação visual dos seus novos mundos, levando as belas-artes e o seu entorno a desempenhar um papel importante neste processo. Como bem comentam Maria Eliza Linhares Borges e Victor Mínguez :

O Mundo Novo, agora deve descobrir a si mesmo: fixar seus limites, averiguar sua identidade, decidir seu futuro, reconhecer-se. Os novos cidadãos americanos vão olhar-se uns aos outros, a seus territórios, a suas culturas, tentando saber quem são realmente [...] durante o século XIX e primeiras décadas do século XX as imagens - pinturas, gravações, fotografias, desenhos, e mapas - vão desempenhar um papel essencial que ajudará aos homens e mulheres do mundo atlântico a situar-se na sociedade contemporânea e fabricará o imaginário visual deste imenso espaço cultural.[46]

Tanto o Brasil quanto os países sul-americanos de fala espanhola, no início do século XIX, foram lugares de interesse de cientistas, comerciantes, religiosos e artistas itinerantes, seguindo uma tradição já iniciada pelos ilustrados positivistas desde o século XVIII, com o objetivo de classificar a flora, a fauna, os costumes e as pessoas. São incontáveis os relatos visuais e escritos dos viajantes estrangeiros editados, principalmente, na Europa e distribuídos a um público restrito. Desenhos, pinturas e fotografias, litografadas ou não, tiveram um papel crucial no processo de criação, reforço e difusão de imaginários e memórias coletivas, muitas vezes estereotipadas, sobre as realidades visitadas.[47]

A pintura de paisagem estava em alta nos meios artísticos europeus e também no Brasil desde a vinda da “Colônia Lebreton”, em 1816.  Para Schwarcz[48], as viagens pitorescas deram origem ao gênero “pintura pitoresca” que pressupõe, segundo a pesquisadora, o testemunho pessoal do viajante, neste caso, o testemunho registrado visualmente. A voga do pitoresco alimentava o gênero de paisagens e vice-versa. O pitoresco definido como um agrupamento de teorias e convenções populares que cresceram em torno da questão de como olhar as paisagens, convertido em categoria estética, que com o tempo passa a ser aplicado, além da paisagem, a todos os temas da pintura considerados agradáveis. Lembro, no entanto, dos elementos de formação da identidade nacional presentes na pintura acadêmica do século XIX, especialmente na “Primeira Missa no Brasil”.  Foram eles apresentados na pesquisa anterior intitulada “Victor Meirelles e a construção da identidade brasileira”.[49]

A academia de arte francesa ditava normas e fixava uma hierarquia de gêneros artísticos. Nela, a pintura histórica estava acima da de paisagem, assim como a paisagem estava acima do retrato e o retrato acima das naturezas-mortas[50]. Esta hierarquia formou a base dos currículos de estudos artísticos feitos, principalmente, nas academias de arte do século XVIII, na Europa. No Brasil, isso se evidencia a partir da segunda década do século XIX, mais precisamente com a criação, em 1826, da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, cuja tarefa principal era propagar a cultura das belas-artes, seguindo o modelo francês. Mas os difíceis e frágeis começos da estrutura social do Brasil levaram a Colônia de Artistas Franceses a se filiar exclusivamente à Família Real, a realizar suas festas, a organizar cerimônias, ornamentar cenários e a mudar a urbanização do Rio de Janeiro. Segundo Schwarcz[51], ainda que tenha sido fundada em 1826, a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro enfrentou dificuldades de ordem econômica e política até os tempos de Pedro II. A “Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios” abriu seus trabalhos no dia 13 de agosto de 1816, em instalações provisórias. Apenas em 17 de dezembro de 1824 recebeu o nome de Academia Imperial de Belas Artes e a 5 de dezembro de 1826 foi instalada no prédio construído por Grandjean de Montigny. Não seria utópico imaginar que os seus ensinamentos chegassem a Desterro, naqueles lentos e longínquos tempos em que Victor Meirelles vivenciou sua primeira formação artística?

Tudo indica que a arte, em Desterro, estava vinculada a propósitos e necessidades específicas. Ligada também a outros objetivos que não puramente os estéticos.  Os “artistas” se dedicavam principalmente a fazer retratos (de pessoas consideradas ilustres), caricaturas, ilustrações, cenários, restauração de obras sacras, desenho e pintura das paisagens, da flora, da fauna, entre outros registros de cenas e objetos do cotidiano. Os programas de ensino incluíam cópias de retratos, de litografias e de estampas em geral. Mas também os estudos de perspectiva, de geometria, de topografia e os desenhos de máquinas.

Há que se considerar a convivência dos habitantes de Desterro com os artistas que aqui estavam de passagem (e estadia por vezes prolongada por meses ou anos). Viajantes estrangeiros; cientistas, que passavam pela ilha de Santa Catarina deixando registros da vida dos nativos, assim como da História Natural. Estas expedições científicas traziam consigo desenhistas e pintores. Após a escolha da cena, faziam rápidos esboços ao vivo, que depois seriam completados em lugar e tempo mais adequado. Serviam também para ilustrar os relatos dos viajantes que os publicavam na sua volta à Europa. Porém, como já disse, a distribuição era restrita. Somente no século XX alguns desses registros foram conhecidos no Brasil. Uma vez que estes viajantes estavam sujeitos às péssimas condições de navegação da época, às dificuldades de conservação da água e dos alimentos, às condições do tempo, aos piratas e às inúmeras doenças que ameaçavam a tripulação, muitos registros preciosos se perderam.

É provável que Victor Meirelles tenha convivido com os artistas viajantes que estiveram em sua cidade natal para documentar a natureza e as gentes da ilha de Santa Catarina.  A casa onde morava, onde seu pai mantinha um comércio, está situada bem no centro da cidade, apenas a alguns metros da “Praça do Palácio” e do porto de Desterro.  Uma vez que relatos de viajantes estrangeiros informam que eles comiam, bebiam e compravam víveres nas casas de comércio e tabernas locais, por que não o fariam na casa de D. Antonio Meirelles de Lima?

Para entender um pouco mais a cidade de Desterro nos primeiros anos de Victor Meirelles, começando pela quarta década do século XIX, recorro ao historiador Carlos Humberto Corrêa[52], que comenta as mudanças importantes que acontecem a partir desta década, quando sinais da era das luzes aos poucos chegam a Desterro. Os reflexos do movimento iluminista vindos, principalmente, da Inglaterra e França chegam a pouco receptiva população local. E se tornaram evidentes pela fundação, em 1831, da “Sociedade Patriótica Catarinense”, organizada pelo jornalista, militar e político brasileiro Jerônimo Francisco Coelho (Laguna, 1806-Nova Friburgo, 1860), que proclamava novos ideais de liberdade face ao jugo português e a afirmação da identidade nacional. “Depois de anos longe, na Corte, tinha retornado à província em 1831 para criar a Sociedade, lançar o primeiro jornal de Santa Catarina, ‘O Catharinense’, em julho daquele ano e fundar uma loja maçônica, denominada Concórdia”.[53] Com caráter claramente anti-lusitano e anti-escravagista, a Sociedade Patriótica passou a ter ingerência nos destinos de Desterro. Transformações estruturais e sociais surgiam para adequar a cidade aos novos tempos. Na área cultural se destacou a criação do Gabinete de Leitura, coisa rara no Brasil de então, que foi extinto apenas três anos depois.

Sob o lema “União e Liberdade, Independência ou Morte”, Desterro leu o primeiro número do Jornal O Catharinense, em julho de 1831. O periódico, de cunho político, divulgava as idéias revolucionárias, liberais e anti-portuguesas de Jerônimo Coelho, como se lê em trecho que segue: “Esses orgulhosos mandões que, comumente nas povoações pequenas, costumam ser o flagelo dos fracos, não continuarão impunemente a vexar seus semelhantes; eles deixarão de levar a desolação e a dor ao centro das famílias”.[54]

Desde 28 de fevereiro de 1835, o Poder Legislativo da Província de Santa Catarina havia sido instalado na capital. A constituição da primeira legislatura era composta, principalmente, de membros da então extinta “Sociedade Patriótica Catarinense”. A população local assistiu comovida ao ato solene da posse dos primeiros legisladores. O ato público foi realizado no Largo do Palácio de Desterro.

Em 1841, já havia iluminação pública, com lampiões de azeite de peixe. Para isso, as casas de esquina mantinham uma pedra furada a certa altura, a fim de serem eles pendurados. Os escravos os acendiam e havia um empregado para o serviço. As casas ainda tinham à frente da porta uma argola para prender os cavalos do médico, do padeiro e de um ou outro militar que ali morasse ou fizesse visita[55].

Em 1843, a Câmara providenciou para que o nome das ruas fosse pintado nas esquinas e as casas tivessem os seus números pintados nas portas.  O lixo continuava a ser jogado nas praias e nos terrenos baldios. As devoções eram muitas. As imagens do Menino Deus e do Senhor dos Passos vinham desde o século anterior. A água potável era ainda a das fontes existentes, onde os escravos iam encher os barris e potes para o uso doméstico. Já havia comércio que não fechava suas portas nem mesmo aos domingos, abrindo pela manhã bem cedo e cerrando às nove da noite. Pelas ruas, mascates ofereciam fazendas, perfumes e objetos baratos para adornos. 

Segundo Cabral, à medida que a população foi ascendendo economicamente e tendo contato com outros centros culturais do país e que para ela vieram elementos destacados de outros lugares destinados a funções na administração civil ou militar, a sociedade foi se aprimorando e adquirindo outros hábitos. Naqueles idos tempos, a população se reunia principalmente nas Igrejas por ocasião de festas religiosas. As artes musicais e o canto eram a maior expressão artística da época, principalmente nas missas, festas cívicas e outras homenagens. Havia também numerosas sociedades teatrais de amadores, das quais a que teve vida mais longa foi a “Sociedade Dramática São Pedro de Alcântara”.

Pelo porto do Desterro (internacional) passavam grupos teatrais, orquestras e celebridades da época. Por isso não se pode deixar de pensar que existia na ilha certo movimento cultural e comercial. Tratava-se do último porto ao sul do país. Parada privilegiada de viajantes que por aqui aportavam para abastecer seus navios de víveres e água. O Porto trazia também doenças como a febre amarela, a varíola, a cólera e com elas, morte e desespero aos habitantes da ilha.

Nos tempos em que Victor Meirelles vivia na sua cidade natal, além de 7 de setembro, dia da Independência, comemorava-se o aniversário do Imperador D. Pedro II, no dia 2 de dezembro.  Cabral descreve estas festas dizendo que nestes dias a tropa se formava, o povo acudia às ruas e a principal cerimônia consistia no cortejo à imagem de Sua Majestade, na Câmara, onde havia em lugar de honra, um retrato de D. Pedro II ainda criança. Era o que existia em Desterro. E nos dois grandes dias, o Presidente da Província, a magistratura, o Comandante das Tropas com seus oficiais, os Deputados da Assembléia com a sua Mesa, o clero e o alto funcionalismo e, principalmente, a Câmara com todos os Vereadores, um a um desfilavam ante o retrato, fazendo cada um uma discreta curvatura de cabeça ante a imagem venerada, como sinal de amor que tão augusta pessoa lhes inspirava. Por fim, o Presidente da Província acercava-se da sacada da Câmara e levantava um  “VIVA!” a Sua Majestade, à Nação e à Religião do Estado, respondido pelas tropas e pelo povo. Faziam-se salvas pela manhã e após o cortejo. À noite, as casas na praça e ruas principais se iluminavam[56].

Em 1845, por ocasião da visita de D. Pedro II, que estava a caminho da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, o presidente da Província convocou a população a limpar a cidade para bem impressionar o Imperador e sua Comitiva.

Podemos fazer uma idéia do que significou aos habitantes de Desterro a chegada da frota de oito navios que trazia o casal Imperial e sua comitiva [Figura 5] pelas palavras escritas no jornal O Relator Catarinense, especialmente editado para a ocasião. Transcrevo aqui um pequeno fragmento citado em Corrêa[57]:

Desde o amanhecer do dia 12, principiou o concurso para a Praça; e as janelas das casas que a rodeiam a serem desde logo, guarnecidas de senhoras ricamente vestidas. O trapiche da Alfândega que estava decentemente ornado, guarnecido, tapizado e bordado de bandeiras flutuantes de todas as nações, foi ocupado por numerosas pessoas do comércio, chefes de repartições públicas e seus empregados, oficiais avulsos e reformados do exército. As 11 horas entrou em parada à sobredita praça, a 1ª Legião da Guarda Nacional, composta do 1º e 2º Batalhões de Infantaria, do 1º Corpo de Cavalaria e da Brigada de Artilharia, precedida a Legião da Música da fragata Constituição que viera na véspera com o exmo. Presidente da Província. [...] Uma salva da Brigada de Artilharia, acompanhada de inúmeras girândulas, atacadas da porta do Paço da Câmara Municipal da Cidade, anunciaram aos catarinenses que o Monarca Brasileiro desembarcava no Trapiche.

Conta-se ainda que todo o clero e as autoridades da província, trajados à corte, com capas de seda e chapéus emplumados de arminho, vieram receber o vapor Imperatriz que fundeou no Porto do Desterro, às 11h, conduzindo o casal Imperial, esperança do Brasil!

Manoel Joaquim de Almeida Coelho, na sua “Memória Histórica de Santa Catarina”, citado por Cabral[58], comenta que artistas foram convocados para erguer uma coluna do outro lado da Praça da Matriz, fronteiro ao arco levantado à saída do trapiche, por conta da Câmara Municipal. Tudo ao modo da ordem toscana, segundo o cronista.

D. Mariano Moreno conhecia bem estes cenários do poder, tão comuns nas “Festas de Maio”, em Buenos Aires. A construção destes cenários era composta de expressões artísticas efêmeras, mas carregadas de sedução e valores simbólicos próprios dos contextos festivos desde o Brasil Colonial. Expressões que revelam o imaginário acerca da realeza, que não se resume apenas aos acontecimentos em torno dos Imperadores. Celebrava-se, desse modo, também uma “realeza mística”, presente, também, nas Festas do Divino, dos Reizados e do Carnaval. Figuras do imaginário popular, presentes tanto entre os africanos quanto entre os emigrados portugueses, saudosos das referências culturais de outros tempos e lugares. Neste caso, na presença do rei, fora da corte, um arsenal de símbolos era transportado e reconstruído ao modo local. Paradas militares, banda de música, alas de soldados, de arqueiros, tiros e salvas, bandeirolas, arcos e todo tipo de signos que bem mereciam um capítulo à parte. A construção de tais cenários envolvia o trabalho de engenheiros, arquitetos, artífices, pintores, cenógrafos, costureiras e populares. Também comentadas por Schwarcz[59], eram essas festas do Império Brasileiro, cívicas ou populares, oriundas de diferentes tradições e carregavam em si, determinados símbolos, costumes e valores que, a meu ver, expressavam melhor que qualquer outro suporte o que havia de “artístico” naquele singular contexto da cidade de Desterro. 

A pintura de Vicente Pietro, artista que acompanhou a comitiva Imperial, além de trazer a intenção de registro do evento é, também, como toda a pintura, uma produção cultural do seu tempo e lugar. Portanto, mesmo sendo ela um documento histórico-visual único sobre a cidade de Desterro de meados da década do século dezenove, em especial sobre o evento de outubro de 1845 que representa, há de ser vista com este cuidado. Ainda assim seu valor para a presente investigação é inestimável! Futuras pesquisas talvez possam esclarecer melhor a relação desse pintor com a família real, assim como a história do pintor.  Por ora, sabe-se apenas que ele era de origem italiana e que acompanhava a comitiva imperial com a missão de fazer o registro visual do evento.

Ao que dizem os escritos da época, toda a população estava lá. Neste dia, novas relações se inventavam. Escravos e senhores, o povo e o clero, os pobres e ricos, lá estavam. E todos extasiados em torno do seu rei (real ou imaginário). Se toda a população de Desterro compareceu, D. Mariano tinha uma razão muito particular para não faltar à festa. Nesta mesma visita o Imperador lançou a Pedra Fundamental da primeira ampliação do Imperial Hospital de Caridade, cuja planta fora feita por ele[60].  Podemos supor que lá estava também a família que o acompanhou durante sua estada em Desterro: sua mãe Dona Maria Guadalupe, sua esposa Dona Mercedes Balcarce e sua primeira filha. Era um dia de festa e de comoção geral. Possivelmente o dia mais celebrado de toda a história da Província de Santa Catarina.

Como saber o significado que tal evento teve na construção do imaginário do filho de D. Antonio Meirelles de Lima, tendo em vista o que hoje sabemos sobre a relação que o artista ilhéu teve com D. Pedro II e sua Imperial família anos depois como pintor? 

Como saber que papel teve o impacto desta visita na memória do Imperador Pedro II que, pouco tempo depois, recebe o filho desta terra entre os seus demais protegidos, passando a ser também seu principal mecenas?

No ano seguinte (depois da festa com a presença do ilustre visitante Imperial), quando Victor tinha completado 14 anos de idade, políticos influentes da sua terra natal entabulavam a sua ida para a Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro. Ao relatar como aconteceu este fato, podemos entender melhor como eram selecionados os estudantes para aquela academia.

Voltamos ao artigo de José Arthur Boiteux  (1929), anteriormente citado, no qual fala da infância do artista. O que informa sobre Victor é de grande valor histórico, seja pelo que ele representa por sua atuação cultural e política em Santa Catarina, seja pelo fato de ele ter conhecido pessoalmente Victor Meirelles e seus familiares, como dito anteriormente. Além disso, era ele um dos filhos do Tenente Coronel Henrique Carlos Boiteux (Tijucas 1838-Florianópolis 1897), que foi colega de Victor Meirelles na escola de desenho de D. Mariano Moreno, em Desterro. Por essas razões, entre os raros escritos que mencionam a infância de Victor, creio que o que ele diz se torna tão importante.

Ele conta que um dia chegou da corte o conselheiro Jerônimo Francisco Coelho, nomeado chefe da comissão demarcadora das terras patrimoniais da Princesa D. Francisca, esposa do Príncipe de Joinville e que, em certa ocasião, de visita ao seu amigo Tenente Coronel Amaro Pereira, em Desterro, falou-lhe este da habilidade do filho de Antonio Meirelles. “Menino que aos doze anos já não tinha mestre, pois todos sabiam menos que ele”. Impressionado com o que lhe diziam o Conselheiro Jerônimo Coelho, na primeira oportunidade, foi à casa de D. Antonio Meirelles, a quem pediu que lhe mostrasse os desenhos do filho. Ao retirar-se, manifestou o desejo de conhecer, o quanto antes, o menino, autor de tão lindas cópias. Ao vê-lo, no dia seguinte, ofereceu-lhe uma caixa de tintas inglesas que trazia para o seu uso, acompanhada de pincéis novos e outros objetos relativos ao desenho. Em compensação, quis o Conselheiro que Victor lhe desenhasse uma vista da cidade [Figura 6] e que a esse trabalho juntasse uma cópia de qualquer gravura litografada. Porquanto, ele se encarregaria de enviar uma e outra, ao diretor da Academia Imperial de Belas Artes, Félix Emílio Taunay que, em resposta, elogiando o talento de Victor, “previu-lhe bonito futuro”. Em março de 1847, matriculou-se Victor naquela Academia, conquistando, no primeiro ano, a Pequena Medalha de Prata e, no ano seguinte, a Grande Medalha. Bem ao modo de seu tempo.

Éden do Sul do Brasil [61]

A paisagem em nossa ilha é muito bonita; até os viajantes que conhecem as ilhas do Oceano Pacífico, Java, etc. me disseram que nossa ilha é um dos pontos mais bonitos que eles jamais viram.[62]

Muito já se disse sobre as belezas naturais da ilha de Santa Catarina, motivo dos tantos registros (visuais e escritos) que nos deixaram os inúmeros viajantes estrangeiros que aqui estiveram. Fonte de encantamento e de vasta produção artística de muitos outros pincéis, tanto a natureza como a paisagem urbana desde cedo foram alvo de interesse do jovem Victor. O que se nota nas suas vistas sobre a cidade natal.

Se por um lado a cidade de Desterro (capital da Província de Santa Catarina) era pouco representativa para o país do ponto de vista econômico, por outro, se destacava por ser dona de um porto internacional privilegiado, munido de cais adequado para o embarque e desembarque de mercadorias que chegavam do Rio da Prata, da Europa e dos principais centros do Brasil. Espaçoso o suficiente para abrigar ao mesmo tempo várias embarcações fluviais. A rica iconografia e os preciosos relatos sobre a natureza e a cultura dos habitantes da ilha, hoje, são fontes imprescindíveis para os historiadores. Ainda que se trate, no caso de viajantes estrangeiros, do “olhar do outro” sobre nós, muitas vezes é deste olhar que vem a única referência que resta sobre a Ilha de Santa Catarina em tempos tão remotos [Figura 7]. Cientistas e devotos da História Natural escolhiam o ancoradouro de Desterro para colher informações sobre a flora e a fauna brasileira. Tida como um lugar onde tudo se consegue obter com abundância, a preços menores que em outras paradas, e com boa acolhida dos seus habitantes, a Ilha de Santa Catarina era o lugar preferido de muitos viajantes para recuperar as embarcações danificadas pelo tempo em alto mar, reabastecê-las de víveres e dar um descanso aos navegadores.

Cito a seguir um dos relatos deixados pelos viajantes. Foi escolhido por tratar de um artista europeu, então residente em Buenos Aires, cujo relato, no meu entender, pode ser um exemplo de como a nossa história se relacionava com a vizinha nação Argentina. Talvez nos ajude a não estranhar o fato que aconteceu poucos anos depois, quando aqui chegou D. Mariano Moreno (filho) onde fundou uma escola de desenho, tendo como discípulo Victor Meirelles.

Entre maio de 1832 e março de 1833, segundo o pesquisador Gilberto Gerlach[63], aportou em Desterro o francês Michel César-Hyppolite Bacle (1794 -1838)[64]. Ele tinha sólidos conhecimentos em Desenho, Topografia, Cartografia e Ciências Naturais. Vinha de Buenos Aires, tendo que se afastar de perseguições políticas em companhia da esposa, a artista Adrienne-Pauline Macaire e dois filhos. Fato também citado por Lacasa[65]. Segundo contam, Michel César Hyppólite Bacle se instalou em Buenos Aires em 1828, onde fundou a oficina litográfica Bacle & Cia[66]. Como Impressores Litográficos do Estado, com Andréia Macaire, reconhecida miniaturista - e o artista Arthur Onslow  imprimiram os cadernos Princípios del Dibujo y Láminas de Geografia, primeiras obras didáticas do Rio da Prata, assim como vasta iconografia: retratos de homens ilustres, caricaturas, almanaques, programações de peças teatrais, músicas, letras de câmbio, plantas topográficas e uma infinidade de outras imagens.  Essa atividade, para Lacasa (2010 p. 116) “engrossava os bolsos dos impressores, e ia construindo de maneira assistemática e isenta de controle oficial, uma galeria de heróis nacionais que penetraram fundo no imaginário coletivo”. Hyppólite também publicou o álbum Trajes e costumes da Província de Buenos Aires (1833-34), composto por seis cadernos de desenhos litográficos, dedicado a descrever os ofícios e trabalhos dos setores populares e vestimentas típicas das damas portenhas. No entanto, aborrecido com o governo de Juan Manoel Rosas, que decretara, em 1832, que os editores ou administradores de jornais de origem estrangeira se nacionalizassem, e com o intuito de tomar novos ares, decidiu partir com sua esposa e filhos para empreenderem uma viagem à ilha de Santa Catarina. Creio que com esta aventura podem ter ajudado a entrelaçar a história da produção iconográfica da vizinha República Argentina com a de Desterro, antes mesmo da chegada de D. Mariano Moreno.

Na ilha o casal se dedicou a produção artística e científica.

Durante a estadia de em torno a dez meses em Desterro, a esposa de Bacle, Adrienne, dedicou-se a desenhar as paisagens da ilha, enquanto o marido registrava seu relevo, capturava animais, insetos e plantas.[...] Alguns animais vivos, aproximadamente 12 mil preparações botânicas, conchas marinhas, amostras de minerais e peças indígenas também integravam o acervo de Bacle. Quatro valiosíssimos cadernos de manuscritos e dois de gravuras da ‘Primeira História Natural da Província de Santa Catarina’, condensavam quase um ano de trabalho.[67]

No entanto, em março de 1833, Bacle é chamado a voltar à Buenos Aires. Depois de tumultuado processo de embarque, consegue partir com a família e os caixotes contendo o resultado do trabalho realizado em Desterro. Mas uma violenta tempestade perto de Punta del Este levou o navio a encalhar fazendo com que se perdesse toda a preciosa carga. Com ela, perdeu-se a biblioteca do casal, os documentos e todos os manuscritos do que Bacle chamou de História Natural da Província de Santa Catarina.  Segundo Gerlach[68], tratava-se de quatro volumes prontos para serem impressos e um volume de lâminas contendo várias vistas da cidade e do porto, de um considerável número de flores e plantas, dentre as mais interessantes da província, muitas das quais ainda nem tinham sido descritas. Tudo pintado ao natural pela esposa de Bacle. Uma vez em Buenos Aires, voltou a reassumir suas funções de litógrafo, publicando o primeiro jornal ilustrado da região. Em 1837, foi preso sob a acusação de traidor da pátria. Veio a falecer em 1838, quando já estava livre da prisão.

Curiosamente, no mesmo ano em que Bacle foi preso, o foi também um dos personagens principais de nosso estudo: D. Mariano Moreno (filho), no mesmo governo tirânico de Rosas. No entanto, ao cidadão argentino foi concedida a alternativa do exílio, que resultou na sua vinda à cidade de Desterro, em 1843, depois de uma temporada em Montevidéu.  

Sabemos que os discípulos de D. Mariano Moreno copiavam estampas litografadas nas aulas de desenho na escola que fundou em Desterro. É possível que elas tivessem suas origens nas oficinas de litografia de Douville e Bacle? Teria Bacle inspirado também a escolha de D. Mariano Moreno e sua família pelo exílio na ilha de Santa Catarina?

Fruto de pesquisa realizada anteriormente, exibo abaixo, um precioso manuscrito de Victor Meirelles, encontrado nos arquivos do museu que leva seu nome, em Florianópolis. O artista o escreveu quando encaminhou a aquarela que consta na Figura 6 deste texto às autoridades que o conduziram ao Rio de Janeiro. Aquela valiosa produção resultou em sua matrícula na Academia Imperial de Belas Artes. Pelas mãos do artista, temos informações sobre o tema que aqui se trata. Victor menciona seu mestre, D. Mariano Moreno.

Diz o manuscrito [Figura 8]:

Vista da face occidental do Largo do Palacio da Cidade do Desterro tomada do sobrado do Armazém dos Artigos Béllicos no mesmo Largo.

Offerecida aos Representantes da Província de Santa Catharina os E.E. S.S. Senador José da Silva Mafra e Deputado Jeronymo Francisco Coelho.

Por Victor, filho de Antonio Meirelles de Lima e discípulo de D. Mariano Moreno.

Sta. Catharina 1846

Esta é mais uma evidência da importância que D. Mariano Moreno (filho) teve na vida de seus discípulos em Desterro. Se fosse de outro modo, porque seria lembrado por Victor e Luis Delfino (no poema já mencionado)? E porque seria citado nas biografias de outros ilustres filhos desta terra que o tiveram como mestre?

Na mesma matéria publicada no jornal O Estado de 1929, escrita por José Arthur Boiteux temos também notícias da escola de desenho de D. Mariano, assim como de outros catarinenses que foram seus discípulos.

Por aquele tempo, procedente de Buenos-Aires aqui aportara um exilado argentino, filho de um dos próceres da independência: o engenheiro argentino D. Mariano Moreno que fugia das perseguições do Governo tirânico de Rosas. Abrindo um Colégio, não lhe faltaram alunos [...] Foram entre outros discípulos de D. Mariano Moreno, além de Victor Meirelles, José Marques Guimarães - o futuro Almirante, Manuel das Oliveiras Margarida [...] e o Coronel Henrique Carlos Boiteux, de quem conserva o autor destas linhas, linda cópia de uma das gravuras litografadas que o professor argentino distribuía aos alunos.

Segundo Rubens[69], Victor pintou um retrato de seu professor na primeira visita que fez a casa paterna, em 1848. Quem dera o tivesse encontrado!

Segundo o Almirante Henrique Adolfo Boiteux[70] (1862-1945), irmão de José Boiteux, o pai de ambos, Coronel Henrique Carlos Boiteux (1838-1897), foi aluno de Moreno e companheiro de Victor Meirelles na escola de desenho em Desterro. Nesta publicação, podemos saber sobre os frutos do ensino de D. Mariano Moreno.  É o próprio autor, o Almirante Henrique Adolfo Boiteux que conta que ele foi aluno de Manuel Francisco de Oliveira Margarida. Porque como disse, “querendo ele ser útil aos seus compatriotas, em transmitir-lhes a arte que aprendera com D. Mariano Moreno teve em funcionamento um curso de desenho”. E segue contando que, quando ele foi estudante de “preparatórios”, já tinha noções de desenho que aprendera com seu pai (o Coronel Henrique Carlos Boiteux), conhecedor da arte que aprendera também na escola de desenho de D. Mariano Moreno. Ele afirma que as lições que recebeu da escola de desenho de Manoel Margarida e de seu pai, ambos ex-alunos de Mariano Moreno, serviram quando, na Escola Naval, teve que superar os desafios das aulas de desenho geométrico, topográfico, de paisagem e de máquinas. Assim, temos vestígios do programa de ensino da escola de Moreno. Ao que parece, tinha ele um caráter tecnicista, o que foi importante para os jovens que seguiram a carreira militar (na marinha e no exército).

Nomes de alunos de Moreno são citados também em Petrarcha Callado[71], que diz que o Coronel Henrique Carlos Boiteux, à noite, estudava desenho e pintura no curso do engenheiro Mariano Moreno com Victor Meirelles. Onde, informa ele, também estudavam Trajano de Carvalho, José Marques Guimarães e Manuel das Oliveiras Margarida.  

Esta pesquisa evidencia que D. Mariano Moreno pode ter sido o precursor da história do ensino das Artes Visuais em Santa Catarina. Respeitado o significado que esta disciplina tinha para a época. Entre os seus alunos que seguiram a carreira artística, o mais conhecido é sem dúvida Victor Meirelles, que seguindo o exemplo de seu primeiro mestre de artes visuais exerceu também o magistério quando foi professor de pintura da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro e professor no Liceu de Artes e Ofícios daquela cidade. Em Desterro, o aluno de Moreno que mais contribuiu para ensino artístico local foi Manoel Francisco das Oliveiras Margarida, dito Maneca Margarida. Ele chegou a ser professor de desenho linear, de ornamentação e de máquinas no Lyceu de Artes e Ofícios na Ilha de Santa Catarina.  Anunciava um curso de desenho na sua casa, “à Rua Menino Deos, que funcionava das 11 às 2 horas da tarde por uma cômoda mensalidade de 2$000 Réis”, em Desterro, no jornal “Correio Catharinense”, de 13 de setembro de 1854 (o que seguiu anunciando em datas posteriores). Ele foi professor do pintor Sebastião Vieira Fernandez (1866-1943) e de Eduardo Dias (1872 - 1945) autor das imagens da Figura 9 e da Figura 10, deste artigo.

Muitos dos dados biográficos de Manoel Francisco das Oliveiras Margarida são até hoje desconhecidos. Seu sobrinho, Joaquim Antonio das Oliveiras Margaridas (1865 -1951), que foi também pintor, desenhista, ilustrador, caricaturista e professor de desenho, pode ter sido seu aluno. Joaquim teve um filho chamado Acary Margarida (1907 -1981) que também seguiu a carreira do pai (e do tio/avô?), de desenhista, cenógrafo, pintor, sendo também carnavalesco. Atuou ainda como engenheiro de plantas da Diretoria de Obras Públicas de Santa Catarina[72].

Em 1849, quando Victor Meirelles já se encontrava no Rio de Janeiro e D. Mariano Moreno continuava em Desterro, à Rua da Matriz, bem no centro da cidade, foi instalado o “Collégio de Bellas Letras”[73], fundado pelo Padre Joaquim Gomes D’Oliveira e Paiva. Segundo Cabral[74], era este “servido por um corpo docente de primeira ordem”. Ali, lecionavam o próprio Padre Paiva, fundador do colégio, e “o Consul João Watson, o conhecido médico doutor Manuel Pinto Portela, o bacharel João Silveira de Sousa, o professor Francisco de Paula Silveira e o engenheiro D. Mariano Moreno, um dos grandes e gloriosos nomes da República da Argentina”.

O programa de atividades do “Collégio de Bellas Letras” era vasto. Nele figurava o ensino do francês, do inglês, de latinidade, de geografia, de história, de matemática, de retórica, de poética racional e de moral, elementos de física, de química e de botânica, música vocal e instrumental, desenho e escrituração mercantil.

Esta é a primeira vez que vemos o ensino do desenho como disciplina escolar sendo ensinado na Província de Santa Catarina.  Não resta dúvida que isto foi obra de D. Mariano Moreno, que pode ter sido também professor de matemática neste colégio de ensino Médio, uma vez que tinha formação para tal - como já foi citado, Mariano Moreno foi, anos depois, professor de matemática (e de física) na Universidade de Buenos Aires.

A competição entre os dois estabelecimentos de ensino Médio (o “Collégio de Bellas Letras” e o Colégio dos Jesuítas na chácara do [Figura 9]) estimulou o aparecimento de novas iniciativas. O Colégio dos Jesuítas recebia alunos internos e externos da Província de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, São Paulo, Montevidéu e da República Argentina[75].

Henrique da Silva Fontes e Nereu do Vale Pereira[76], trazem uma informação importante, que confirmei no livro de ata da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, sobre outra contribuição feita por D. Mariano Moreno. Consta que meio século após a construção do Hospital de Caridade, o prédio já se encontrava em péssimo estado, havendo, assim, a necessidade de uma nova edificação. Por isso, a Irmandade, tendo obtido da Assembléia Geral o benefício da extração de loterias, convocou a sete de junho de 1845, dois engenheiros locais para fornecerem planta e orçamento para a nova obra; sendo que a 30 de julho, em reunião, a Irmandade aprovou e resolveu executar a tal planta elaborada pelo emigrado argentino D. Mariano Moreno, indicado pelos engenheiros.

Conforme dito anteriormente, na visita dos imperiais à Desterro, em outubro de 1845, fora lançada a pedra fundamental dessa nova ala do hospital. E isso foi feito com a máxima solenidade então possível no Brasil, visto que foi realizada pelo Imperador Pedro II, acompanhado de sua esposa Dona Teresa Cristina. No evento, estavam o diocesano Dom Manuel Rodrigues Monte de Araújo, Conde do Irajá (que benzera a pedra) e o Ministro do Império, além de outras altíssimas personalidades. Chamado antes de Hospital de Caridade recebeu autorização por carta de 18 de junho de 1846 a usar o título de “Imperial Hospital de Caridade” [Figura 10]. No entanto, foi inaugurado somente dez anos depois, em 5 de março de 1855, com a transferência dos  doentes da velha casa para a nova, sendo a velha definitivamente demolida. Desta forma, temos mais uma contribuição de D. Mariano Moreno para a cultura de Santa Catarina.

Conforme dito anteriormente, a senhora Maria Cristina Moreno, residente em Buenos Aires, descendente de D. Mariano Moreno, contribuiu para esta pesquisa enviando uma carta dele escrita de próprio punho. A carta data de 24 de maio de 1852, com uma nota ao pé datada do dia 26, sendo endereçada ao seu tio Dr. Manoel Moreno (1782-1857), médico e político argentino, que se encontrava em Londres em missão diplomática.  As cinco páginas revelam o afeto, o respeito e a confiança que ele depositava neste irmão de seu falecido pai. Nela, ele comenta longamente a situação política do seu país, embora reclamasse da ausência de notícias de lá. Conta também que está a dois dias de voltar com a família para a sua terra. Pelas palavras endereçadas ao tio, podemos compreender algo de sua concepção política de unitário (embora sendo o tio federalista) e sua ligação com a história do seu país. Desde a ilha de Santa Catarina, saúda seu tio e respeitável compatriota pelo aniversário da Independência da Argentina (Revolução de Maio), que ele e seus familiares comemoravam naqueles dias de maio. Nem a distância e nem o exílio o impediam de lembrar a data, comovido, ao que se nota pelo trecho da carta que transcrevo em sua língua:

He visto hoy salir y ponerse el sol por la decima cuarta vez en Desterro, y todo el dia my corazón ha estado con vos, porque la memoria de mi padre es inseparable de aquél que lo representa en mi amor y respecto. Y mi modo de solenizar nuestro grande aniversario, es hacer votos de gratitud a los que trabajaran en aquella obra inmortal.

Comenta com o tio sobre sua vivência na ilha naqueles dias de despedida de seu longo exílio. Conta que já não havia imigrado algum em Desterro que não tivesse vindo cumprimentá-lo em demonstração de respeito pela memória de seu pai. Relata que a casa de sua família estava sempre cheia de gente que vinha despedir-se com uma demonstração de afeto que ele não havia visto sendo dedicada a outros imigrados. Escreve que, uma vez que a bagagem já se encontrava a bordo do navio que os levaria de volta para seu país, o único objeto que ainda estava na sala era um presente de sua filha (e feito por ela): “É uma paisagem em baixo relevo, feito com conchas e escamas. Os que o viram o classificam de ‘primoroso’!”

Podemos deduzir pelo dito acima, que D. Mariano Moreno e sua família (lembrando que sua mãe e sua esposa estavam com ele) incentivavam a educação estética dos filhos. No entanto, há outra questão embutida nestas suas palavras que muito interessa a esta pesquisa. Havia uma tradição em Desterro de se fazer objetos com conchas, escamas, penas, flores, tecelagem, rendas e principalmente de olaria. Tradições que vinham da Vila Nossa Senhora do Desterro colonial. Ao que vemos D. Mariano e sua família estavam atentos a estas tradições locais. Enquanto o pai ensinava o que ele entendia como arte, a filha aprendeu a fazer o que aqui se entendia como tal.

Voltando à carta, segue D. Mariano revelando ao tio que há alguns anos contraíra amizade com um padre jesuíta, em Desterro. Este lhe havia dado constantes provas de amizade e, no dia anterior, tinha vindo até a sua casa com todos os colegiais argentinos que vieram despedir-se da sua família e dele, sendo que, naquele mesmo dia, havia rezado missa por uma feliz viagem de retorno com sua família. 

Em 26 de maio de 1852, D. Mariano Moreno, finalmente, recebeu a notícia da ratificação do tratado político que marcou o fim do longo e difícil exílio, conforme vemos em nota ao final da carta que escreve ao tio, quando já havia assinado as cinco páginas escritas [Figura 11].

Maio, 26

Um vapor que acaba de atracar, procedente de Montevidéu, traz a notícia de que foram ratificados os tratados. Graças a Deus![77]

Algumas considerações finais

A partir desta pesquisa, percebo que é necessário certo cuidado quando estudamos questões relacionadas às artes do passado em Desterro porque tendemos a pensar que, naquele contexto tão singular e distante, se compartilhava as concepções de arte como obras autônomas voltadas à contemplação estética. Idéia européia de arte que, embora pensada como universal, apenas estava começando a se esboçar na capital do Brasil de então, em torno da Academia Imperial de Belas Artes, nos anos de 32-52 do século XIX, período que este estudo abrange.

Para entender melhor este problema, basta lembrar que as belas-artes não existiram fora de um complexo sistema de arte (museus, academias, exposições e salões de arte, crítica e outras instituições afins) e nunca desvinculadas de um processo de recepção e consumo e/ou resistência, cujas práticas se configuraram para satisfazer certos interesses que podiam ser políticos, econômicos, de gênero, religiosos e/ou de classe. Como relacioná-las à cidade de Desterro daqueles tempos?

Quanto ao vazio existente (até hoje) na biografia de Victor, é possível que o descaso dado à primeira formação artística de Victor Meirelles deva-se a idéia, hoje superada, de que para tornar-se artista basta nascer com vocação, entendida como um tipo de pré-destinação. Dentro deste pensamento (essencialista), o artista produziria a partir da inspiração, compreendida como um dom divino. Negado o papel da tradição e da cultura, menos importância era dada ao aprendizado artístico. Seria também por isso que a memória da sua primeira formação artística se perdeu no tempo?

Hoje, sabemos que, independente de serem gênios ou não, a maioria das pessoas aprende arte da mesma forma que aprende qualquer outro assunto[78]. Um dia elas encontram um professor especialista na área que elas desejam aprender. Em algum ponto começam como iniciantes e gradativamente transformam-se em especialistas, nesse caso, artistas.

Parece que já não há dúvidas de que os artistas percorrem um longo caminho para adquirir os conhecimentos necessários ao campo. Bons professores de Artes Visuais e familiares de artistas sabem que as crianças podem começar muito cedo e com grande determinação o aprendizado que as levará ao domínio das habilidades requeridas para se tornarem artistas reconhecidos pelo seu tempo. Neste caminho, podem começar tomando aulas de um professor da área ou recebendo lições dos próprios familiares, os quais podem ter um papel importante em sua escolha profissional.

A obra de Victor Meirelles adulto está situada dentro das denominadas belas-artes, categoria divulgada no século XIX e em parte do XX em determinados contextos culturais, que foi substituída por outras ao longo do século XX. Nasceu separada de qualquer intenção funcional da vida cotidiana, no século XVIII, época em que a antiga idéia funcional de arte se dividiu em duas categorias, belas-artes e artesanato[79]. A arte feita para a apreciação estética estava ligada a determinado estilo de vida de certas classes sociais, histórica e geograficamente situadas, o que dificilmente poderia se sustentar na vida das pessoas daqueles longínquos anos na ilha de Santa Catarina. Lembrando simplesmente que a “arte” com letra maiúscula não existe[80].

Muitas perguntas seguem sem reposta. Onde encontrar elementos que ajudem a entabular um diálogo entre a vida de Victor Meirelles e a do “cativo preto da nação Cabinda oficial de pedreiro, fugitivo, de jaqueta e baetão azul, calça de riscado e camisa de algodão”[81]? Das escravas de ganho e de aluguel que oferecia o capitão Francisco José Teixeira Bastos porque sabiam lavar, passar e engomar? Do Padre Joaquim Gomes D’Oliveira e Paiva, dos capitães, comerciantes, militares, dos negreiros, mascates, quitandeiras, marinheiros, irmandades e aguadeiros? Das feiticeiras, das rendeiras, benzedeiras, do pelourinho, dos Juízes de Fora, dos expostos, do Capitão do Mato, dos oleiros e pescadores que viram crescer o menino Victor, filho de Dona Maria da Conceição em Desterro?

Há muito que avançar nas pesquisas para compreender melhor a cidade de Desterro que tão bem historiou Oswaldo Rodrigues Cabral[82] e Carlos Humberto Corrêa[83], entre outros. Espero que esta investigação tenha contribuído, ao menos em parte, para preencher a lacuna existente na biografia de Victor Meirelles. Em todo o caso, a pesquisa segue.

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Livro de Casamentos da Cúria Arquidiocesana do Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina.

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Periódico El hogar de 7 de setembro de 1934. Buenos Aires/Argentina.


[1] Doutora em Belas Artes pela Universidade de Barcelona/Espanha. Professora (associada) de Ensino de Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina (aposentada). Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. E-mail: terefranz@hotmail.com.

[2] Ver COLI. Jorge. A linha e a mancha (p. 32-45) e XEXÉU, Mônica B. F. Victor Meirelles - Um desenhista singular (p. 64-77). In: TURAZZI, Maria Inez (org.) Victor Meirelles - Novas Leituras. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

[3] FRANZ, Teresinha Sueli Educação para a compreensão da arte: Museu Victor Meirelles. Florianópolis: Insular, 2001 e FRANZ, Teresinha Sueli. Educação para uma compreensão crítica da arte. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2003. Destas pesquisas derivaram também diversos artigos publicados em revistas especializadas no Brasil, na Espanha e em Portugal.

[4] Conforme sugere Jorge Coli. Diz o Historiador: “Grande préstimo para o conhecimento de nosso pintor seria alguém buscar, com afinco e seriedade, dados sobre o personagem, tanto no Brasil quanto na Argentina”. Ver COLI. Jorge. A linha e a mancha. In: TURAZZI, Maria Inez (org.) Victor Meirelles - Novas Leituras. São Paulo: Studio Nobel, 2009, p. 33.

[5] Segundo Cabral (1987:285) os pais de Victor Meirelles contrataram um professor emigrado argentino, D. Mariano Moreno, engenheiro, para lhe ensinar desenho geométrico. O mesmo é informado por outros pesquisadores locais.

[6] Na folha 107 do Livro de Batizados da Paróquia Nossa Senhora do Desterro do Arquivo Histórico e Eclesiástico de Santa Catarina, encontra-se o registro de batismo de Victor Meirelles.

[7] Conforme vemos em CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis - Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2004.p. 149.Nossa Senhora do Desterro, a capital da agora Província de Santa Catarina expandiu-se ao longo do litoral da Bahia Sul e já se ligava à Praia de Fora no litoral norte, e ao Saco dos Limões por caminhos apresentáveis”.

[8] “As primeiras casas comerciais, da Vila de Nossa Senhora do Desterro, foram abertas durante o governo do coronel Francisco de Barros Morais Teixeira Omem, que administrou a capitania entre os anos de 1779-1786”. Conforme vemos em CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis - Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2004.p. 67.

[9] Livro de Casamentos da Cúria Arquidiocesana do Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina, na p. 264.

[10] O comerciante D. Antonio Meirelles de Lima faleceu no dia 7 de setembro de 1853, aos 67 anos de idade, conforme consta no Registro de enterramento de D. Meirelles de Lima no Livro de Registro de Óbitos Nº 3649, do Arquivo Histórico Municipal Oswaldo Rodrigues Cabral em Florianópolis. Espera-se em outra etapa da pesquisa, encontrar dados sobre a mãe e sobre o irmão de Victor, citado por José Arthur Boiteux, assim como de outros possíveis familiares do artista.

[11] José Arthur Boiteux (Tijucas/SC 1865-Florianópolis/SC, 1934) foi jornalista, historiador, advogado e político atuante brasileiro, fundador de diversas instituições culturais de Santa Catarina entre elas o IHGSC.

[12] RUBENS, Carlos. 1945, pp. 23-25.

[13] Idem, ibidem, p. 169.

[14] CABRAL. Oswaldo Rodrigues. Historia de Santa Catarina. Florianópolis: Florianópolis: Lunardelli, 1987.p. 142-144.

[15] Idem, ibidem, p.144.

[16] Joaquim Gomes D’Oliveira e Paiva, mais conhecido como Arcipreste Paiva ou Padre Paiva (Desterro, 12 de julho de 1821- Desterro, 29 de janeiro de 1869) foi um religioso, educador, político, jornalista e poeta brasileiro, teve um papel importante na vida cultural e política da cidade de Desterro de seu tempo.

[17] Os exames de final de ano neste curso eram públicos e anunciados pelos jornais locais. A população “amante das letras”, o Presidente da Província, e demais autoridades eram convidadas. Assim, o êxito ou fracasso dos alunos se tornava público também. O que já acontecia no Rio de Janeiro onde D. Pedro II costumava acompanhar de perto a vida escolar dos estudantes do Colégio Pedro II.

[18] Este retrato, assim como o da figura 11, constam  em uma cópia de periódico enviado pela Srª Maria Cristina Moreno. Uma vez que está desgatado pelo tempo, não foi possível ler a matéria, quecontinua em estudo. 

[19] GESUALDO, Vicente; Biglione, Aldo; Santos, Rodolfo. Diccionario de artistas plásticos en la Argentina.     1º vol. Buenos Aires: Inca, 1988.p. 610.

[20] Idem, faleceu em Buenos Aires em 07 de julho de 1876.

[21] LUNA. Félix. (Diretor) Mariano Moreno - Grandes Protagonistas de la Historia Argentina. Buenos Aires: La Nacion, 2004.p.13

[22] Ver texto completo  em  POINTEVIN, Néstor E. Revista Manzana de las Luces - Crônicas de su historia  - De La Biblioteca Pública a la Biblioteca Nacional en la Manzana de las Luces, 1810-1884-1901. Caderno nº 7. Instituto de Investigaciones Historicas: Buenos Aires, 2009.

[23] SHUMWAY, Nicolas. A invenção da Argentina - História de uma idéia.Brasília:UnB, 2008. p.50

[24] Ver http://www.diasdehistoria.com.ar/content/descendientes-de-pr%C3%B3ceres-formaron-el-grupo-fundadores-de-la-patria

[25] Ver http://www.elhistoriador.com.ar/biografias/m/moreno.php

[26] ARRIELI, Bernardo Gonzalez. Historia de La Argentina  - Según las biografías de sus hombres y mujeres.  Buenos Aires: Nobis, 1964. p. 353

[27] Disponível em http://www.asociacionmoreno.org.ar/

[28] Luiz Delfino ingressou no Colégio dos Jesuítas, após completar seis anos de idade. Onde conheceu os mestres Dom Mariano Moreno e Padre Aguero, ambos estrangeiros. Informação disponível em http://www.manezinhodailha.com.br/Ilustres.htm. Acesso em 10 de novembro de 2010.

[29] JUNKES, Lauro. Luis Delfino - Poesia Completa. Florianópolis. Ediçoes ACL. 1996. p. 346.  

[30] Em julho de 2010, estive em Buenos Aires realizando pesquisas na Biblioteca Nacional de Buenos Aires, Instituto de Investigaciones Históricas Manzanas de las Luces, Museu Histórico Militar, Museu Histórico Nacional. Museu de Belas Artes, entre outros.

[31] Segundo consta em CUTOLO, Vicente Osvaldo. Nuevo Dicionário Biográfico Argentino. Tomo Cuatro.Buenos Aires:  Editorial Elche, 1975.pp 672-673.

[32] ANAYA, Jorge López. Manzana de las Luces - Crónicas de su historia. La pintura en la Manzana de las Luces. Instituto de Investigaciones Historicas de la Manzana de las Luces” Dr. Jorge E. Garrido” - Colección de Cuadernos  -Caderno Nº 3/Manzana de las Luces: Buenos Ayres, 2004 p. 7-11

[33] ANAYA, Jorge López, 2004., p. 11.

[34] LACASA, María Munilla Siglo XIX: 1810-1870. In: BURUCÙA, José Emílio (dir) Nueva História Argentina - Arte, Sociedad y Política - Editorial Sdamerica. Buenso Aires, 2010, Vol. 1 p.109.

[35] HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projetos de Trabalho. Porto Alegre ArtMed, 2000. p. 63.

[36]  SANTILLÁN, Diego A. de. Gran Enciclopedia Argentina. Tomo V. Buenos Aires: Ediar Soc. Anon. Editores, 1959. p.387.

[37] TORRASSA, Antonio. El partido de Avellaneda - 1580-1890. Publicaciones del Arquivo Histórico de La Província de Buenos Aires. Buenos Aires, 1940.

[38] COLI, Jorge. A linha e a Mancha. In: TURAZZI, Maria Inez (org.). Victor Meirelles - Novas Leituras. São Paulo: Studio Nobel, 2009. p. 32-45.

[39] Na próxima etapa desta pesquisa espero apresentar estas imagens assim como possíveis outras.

[40] Catálogo del Museo Histórico Nacional, Ministerio de Educación de la Nación, Buenos Aires, 1951, Tomo I. p.193.  

[41] DEL CARRIL, Bonifacio; El Grabado y la Litografía en Historia General del Arte en la Argentina, Buenos Aires ANBA, 1984, Tomo III, pp 365-367.

[42] BURZIO, Humberto. F. Historia de la Escuela Naval Militar. Tomo II - Libros VII, VIII y IX. Secretaria General Naval . Departamento de Estudios Historicos Navales. Historia Naval Argentina: Buenos Aires, 1972. 

[43] Unitário em suma é o nome do partido de tendência liberal, aliado a Grã-Bretanha, que defendia a necessidade de um governo centralizado nas Províncias Unidas do Rio da Prata, chamadas Provincias Unidas en Sud América na Declaração da Independência depois da denominada República Argentina, no século XIX. Disponível em: http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Unitário Acesso em out. de 2010.

[44] CUTOLO, Vicente Osvaldo. Nuevo Dicionário Biográfico Argentino. Tomo Cuatro.Buenos Aires:  Editorial Elche, 1975.pp. 672-673 e GESUALDO, Vicente; Biglione, Aldo; Santos, Rodolfo. “Diccionario de artistas plásticos em La Argentina1º vol. Buenos Aires: Inca, 1988.p. 610. (V: YABEN, Biografías Argentinas, cit., T IV, pp. 31-32.

[45] EFLAND, Arthur. La historia de la educación del arte. Barcelona: Paidós, p. 82.

[46] BORGES, Maria Eliza Linhares e MÍNGUEZ, Victor (Eds). La fabricación visual del mundo atlántico - 1808 - 1940.  Madrid: Universidad de Jaume, 2010. p. 7

[47] Idem, ibidem, p. 8-9

[48] SCHWARCZ, Lilia. O sol do Brasil - Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de D. João. São Paulo: Companhia das Lestras, 2008.  p. 119.

[49] FRANZ, Teresinha Sueli. Victor Meirelles e a construção da identidade brasileira. 19&20, Rio de Janeiro, v. II, n. 3, jul. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/obras/vm_missa.htm>

[50] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O sol do Brasil - Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de D. João. São Paulo: Companhia das Letras. 2008. p.73.

[51] Idem, ibidem, p.314.

[52] CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis - Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2004.p. 158.

[53] Idem, ibidem, p. 158.

[54] Idem, ibidem, p. 163

[55] CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. 2. Memória. Florianópolis: Lunardelli, 1979.

[56]CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Historia de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli, 1987.

[57] CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis - Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2004. p. 172.

[58] CABRAL, Oswaldo Rodrigues. 1979. p. 213.

[59] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O sol do Brasil - Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de D. João. São Paulo: Companhia das Letras. 2008. p.73.

[60] A busca desta planta segue na segunda etapa da pesquisa.

[61] Segundo BOITEUX, Almirante, Henrique na sua obra Santa Catarina nas Belas Artes - Sebastião Vieira Fernandez. Florianópolis: Zélio Valverde, 1943.

[62] Trecho de uma carta de Fritz Muller para Charles Darwin em 1.11.1865. Citado por GERLACH, Gilberto. Desterro - Ilha de Santa Catarina. Tomo I. Florianópolis: Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2010. P. 265.

[63] GERLACH, Gilberto. Desterro - Ilha de Santa Catarina. Tomo I. Florianópolis: Cinema Nossa Senhora do Desterro;2010. p. 180..

[64] Idem, ibidem, p. 180-182.

[65] LACASA, María Lía Munilla. Siglo XIX: 1810-1870. BURUCÚA José Emílio. Nueva Historia Argentina - Arte, Sociedad y Política. Tomo I. Buenos Aires: Sudamericana (2010) 2ª edición. p. 116.

[66] Relembrando que segundo LACASA em BURUCÚA (2010:116) O primeiro a realizar litografías com intenções artísticas na Argentina, foi o francês Jean Baptiste Douville que havia chegado à Buenos Aires, em 1826. 

[67] GERLACH, op. Cit., p. 181.

[68] Idem, ibidem, p. 182.

[69] Carlos Rubens (1945: 28)

[70] No livro Santa Catarina nas Belas Artes - O Pintor Sebastião Vieira Fernandez Rio de Janeiro: Editora Zélio Valverde, 1943.  P.29 e 30

[71] CALLADO. Petrarcha. Comandos  Socialistas - nas terras onde Dias Velho foi o primeiro a desembarcar.- Florianópolis Edição do autor: 1945. P. 22.

[72]  LAUS, Harry (org.). Indicador Catarinense de Artes Plásticas. Florianópolis: FCC/SC.1988

[73] Para compreender melhor como a sociedade da época entendia o nível de ensino médio citamos o jornal O Novo Iris de 19 de novembro de 1850 onde consta que o COLLÉGIO DE BELLAS LETRAS estabelecido no Edifício da Rua do Livramento nº 17, “devendo começar no dia 1º de dezembro próximo futuro os Exames dos alunos deste Collegio, os quais serão públicos, e perante o Exmº Sr. Presidente da Província, que se digna de assistir aos mesmos, o abaixo assinado, na qualidade de diretor do Estabelecimento, tem a honra e a satisfação de convidar a todas as pessoas amantes das letras a comparecerem a estes atos, a fim de com sua presença os tornarem mais solenes; esperando dos patriotismo dos catarinenses e da sua predileção pelas Ciências e Artes que não perderão um tão favorável ensejo para galardearem com esta pública demonstração de apreço e aplicação a assiduidade de seus jovens patrícios. O número dos atos que devem lugar do dia 1º ao 7º do mês acima citado é de trinta e três; desempenhados por dezoito alunos nas classes de Latim, Frances e Desenho. Ficando transferidos os exames de matemática para princípio de março do futuro ano.

             Cidade do Desterro em 18 de novembro de 1850.

             O Padre Joaquim Gomes D’Oliveira e Paiva”

[74] CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Os Jesuitas em Santa Catarina e o Ensino de Humanidades nas Províncias. IHGSC. Florianópolis: 1940.p 33.

[75] Segundo Cabral (1940).

[76] FONTES, Henrique da Silva. A Irmandade do Senhor dos Passos e o Seu Hospital, e Aqueles que os Fundaram. Florianópolis: Edição do autor, 1965. Ver também: PEREIRA, Nereu do Vale (org.). Memória Histórica da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos. Vol. I. Brasília: Edição do Ministério da Cultura, 1997.

[77]  Ao longo do texto constam algumas das ocupações de Moreno depois do exílio. Volto a apresentar estes dados em forma de resumo, conforme CUTOLO (1975, p. 672-673) já citado: “Depois da batalha de Caseros Mariano Moreno (filho) regressou ao seu país, onde assumiu a secretaria do Conselho de Obras Públicas. Desempenhou o cargo de engenheiro municipal e depois o de vice presidente do Departamento Topográfico. Em 1854, exerceu o ofício de Engenheiro Agrimensor, em Avellaneda . Foi também professor de matemática na Universidade de Buenos Aires. Se reincorporou ao exército, em 20 de agosto de 1858, sem salário. Em junho de 1859, se encarregou da direção da fundição de canhões. Em 1860, estabeleceu a disciplina de física experimental na Universidade. Dirigiu de forma gratuita a Academia do Corpo de Artilharia. De 1861 a 1862, ocupou uma banca de conselheiro na Municipalidade de Buenos Aires. Em 1865, foi encarregado da direção dos trabalhos no Parque de Artilharia, onde foi promovido a coronel, em 24 de outubro de 1867. Culminou sua carreira, como diretor do Colégio Militar da Nação, designado no dia 24 de abril de 1874, pelo seu criador o presidente Sarmiento, desempenhando-o até 28 de abril de 1876, data em que renuncio. Faleceu em Buenos Aires em 1876”.

[78] Tema melhor explicado em FRANZ, Teresinha Sueli. Educação para uma compreensão crítica da arte. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2003.

[79] SHINER, Larry. La invención del arte - Una história Cultural. Barcelona: Paidós, 2004.P.16.

[80] GOMBRICH E.H. citado por Larry Shiner em  La invención del Arte - Una historia Cultural. Barcelona: Paidós , 2004. p.33.”

[81] Anúncio da p. 4 do Jornal O Novo Iris de 02/06/1850. Florianópolis/SC.

[82] CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. 2 Memória. Florianópolis: Lunardelli, 1979.

[83] CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis - Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2004.