Pondo os costumes culturais em “risco”: Félix Régamey, japonismo e educação artística nacional *
Shana
Cooperstein **
COOPERSTEIN, Shana.
Pondo os costumes culturais em “risco”: Félix Régamey,
japonismo e educação artística nacional. 19&20, Rio de Janeiro, v.
XVI, n. 2, jul.-dez. 2021. https://doi.org/10.52913/19e20.xvi2.01
*
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1. En garde!
Quando, em 1876, o artista e instrutor de desenho francês Félix Élie Régamey (1844-1907) teve a
oportunidade de visitar o ateliê do famoso pintor japonês Kawanabe
Kyōsai (1831-1889), os dois homens travaram um
duelo.[1] Este
não foi, porém, um duelo ordinário. Longe de um confronto arranjado entre
oponentes usando plastrons e empunhando armas
mortíferas, os duelistas estavam “armados” com as ferramentas de seu ofício:
lápis, papel, tinta e aquarela. E, em vez de lutar até o premier sang, eles se apressaram em produzir o retrato um do
outro [Figura 1
e Figura 2].
Hoje, os esboços desse “confronto” sobrevivem como reproduções em Promenades japonaises
(1878, 1880), uma obra em dois volumes escrita pelo industrialista e
colecionador francês Émile Guimet e ilustrado por Régamey, que narra a viagem de ambos ao Japão.[2]
2. Régamey e Kyōsai eram adversários muito apropriados para um
duelo de retratos. Ambos eram artistas profissionalmente treinados que
enfatizavam o trabalho direto a partir do natural, ao invés de seguir
estritamente as convenções baseadas nos precedentes artísticos de seus países.
Em seus respectivos campos de atuação, cada um deu contribuições importantes
para os discursos sobre pedagogia artística e, coincidentemente, ambos
valorizavam expedientes de desenho baseados na formação da memória visual.[3] Tais
semelhanças de posição e abordagem, no entanto, são eclipsadas pelas diferenças
estilísticas entre seus respectivos retratos, o que demonstra como o desenho
"do natural " era infletido por convenções e normas culturais
aprendidas.
3. O
retrato de Régamey feito por Kyōsai,
por exemplo, foi realizado usando manchas de aquarela - em sua maioria planas,
não moduladas -, contornadas sinuosamente com ousados traços de tinta escura.
Para capturar o comportamento informal de Régamey, Kyōsai o retratou sentado com as pernas estendidas
diante dele, e dobradas na altura dos joelhos, para que as solas dos pés
pressionassem firmemente contra o chão. Régamey está
situado em um espaço indefinido, vestindo largas calças escuras e uma grande
jaqueta cor de oliva, cujo tecido extra aparece agrupado atrás de suas nádegas.
Seu colo inclinado funciona como uma prancheta improvisada, sustentando uma
folha de papel que sua mão esquerda segura. Embora Kyōsai
tenha obscurecido o trabalho feito pela mão direita de seu oponente, Régamey aparece no ato de desenhar.
4. Régamey, como
Kyōsai, representou seu oponente de uma maneira
esboçada em um cenário indefinido, mas excluiu os atributos da arte de seu
modelo.[4] O
francês divergiu da presumida convenção japonesa de circundar planos de cor com
traços grossos e evidentes de tinta aplicada livremente. Em vez disso, sua
representação de Kyōsai se conforma com os
padrões de retratos aceitos na tradição francesa: utilizando lápis sobre papel,
Régamey apresentou o busto de Kyōsai
em uma visão de três quartos, modelando cuidadosamente seu rosto com uma
variação de tons de cinza. Retratos de franceses eminentes geralmente assumiam
expressões faciais sóbrias para comunicar a seriedade e respeitabilidade do
modelo. No entanto, Régamey representa Kyōsai com um largo sorriso, revelando sua sobremordida. Isso atesta a habilidade do francês de
esboçar rapidamente um sorriso, uma expressão facial que qualquer modelo só
poderia manter por um curto período de tempo.
5. À primeira
vista, o combate de artistas parece ser um gesto de respeito mútuo mais do que
um ato motivado por animus. Quando Guimet relatou o
evento, em seu capítulo intitulado "Um duelo," ele descreveu a
competição como uma grande honra e não declarou um vencedor.[5] Seria
errado presumir, porém, que a participação de cada artista no duelo foi
inteiramente conciliatória. O encontro de Régamey e Kyōsai é indiscutivelmente emblemático de tensões
culturais, particularmente nos domínios da arte e do design industrial, que
surgiram entre França e Japão durante o Segundo Império (1852-70) e nas
primeiras décadas da Terceira República (1870 até c. 1914).[6]
Embora muita atenção dos investigadores tenha se concentrado na admiração
francesa pela arte e cultura japonesas, especialmente na popularidade de suas
gravuras, essa admiração era mais complicada do que os estudos existentes
geralmente reconhecem.[7] Dentro de um contexto de rápida globalização,
o receio de perder a supremacia nas belas artes e nas artes aplicadas tornou-se
uma possível ameaça à superioridade ostensiva da França. Quando sua hegemonia
ficou ameaçada, as trocas culturais entre França e Japão levaram muitos
artistas, como Régamey, a adotar uma série de
sentimentos aparentemente incompatíveis em relação à produção cultural
japonesa, que iam da admiração e respeito à rivalidade e antagonismo. Embora,
ao longo de sua vida, Régamey tenha conquistado a
reputação de japonista - i.e., de um entusiasta da cultura japonesa - ele
também alertou contra a apropriação de procedimentos técnicos “importados.”[8] neste
sentido, o duelo em questão pode ser entendido como uma provocativa metáfora,
que incorpora a complexa relação de Régamey (e da
França, de modo mais amplo) com o Japão, uma relação baseada na estima mútua e
na competição.
6. Essa
controvérsia emergiu com bastante clareza quando, na virada para o séc. XX, Régamey sistematizou um método de desenho em uma tentativa
fracassada de substituir o Méthode Guillaume
(o primeiro programa de desenho instituído nas escolas primárias francesas na
década de 1880). Na segunda metade do séc. XIX, o desenho servia como teste de
tornassol para a força de uma nação em um mercado de design industrial que se
globalizava rapidamente; como evidência do bom gosto e educação de seu povo; e,
no caso da França, de seu estatuto de cultura líder nas belas artes e nas artes
aplicadas. Eu argumento que Régamey tentou conciliar
compromissos pessoais e profissionais conflitantes quando desenvolveu seu novo
sistema de desenho: de um lado, havia sua admiração pela arte japonesa e, de
outro, a necessidade de proteger e cultivar uma identidade nacional francesa.
Simultaneamente, ele atribuía aos esboços japoneses as próprias qualidades que
procurava ensinar aos artistas franceses - notadamente, a velocidade de
execução, a economia visual e a habilidade de representar momentos fugidios -,
enquanto conspicuamente excluía as práticas “japonesas” de seu método de
ensino. Este artigo, como resultado, traça as contribuições de Régamey para o japonismo e a educação artística, dando
especial atenção aos momentos em que sua experiência em cada domínio convergiu
e foi complicada por agendas artísticas e políticas incompatíveis.
7. No
entanto, o que está em jogo em minha investigação não se limita às políticas de
intercâmbio cultural. Recuperar as ideias de Régamey
sobre a pedagogia artística nacional e os perigos da transferência de
conhecimento entre "escolas nacionais" tem implicações que se
estendem à história da arte como uma prática disciplinar. O projeto de Régamey para reformar a pedagogia do desenho não era apenas
motivado por sua análise dos métodos japoneses, mas era também informado por um
desejo de cultivar uma sensibilidade estética compartilhada, exclusivamente
adaptada para apoiar a identidade nacional francesa. Como tal, ele
compartilhava preocupações com os proponentes da Kunstwollen,
um conceito teorizado por historiadores da arte na década de 1890 e no início
do século XX para explicar desenvolvimentos estilísticos culturalmente
contingentes. Em 1901, por exemplo, Alois Riegl
propôs uma teoria evolutiva da arte que conectava mudanças estilísticas a leis
supraindividuais que operam independentemente da estética formulada de forma
consciente. As ideias de Régamey sobre intercâmbio
cultural e educação oferecem uma alternativa contemporânea a, mais do que uma
reação contra, o modelo de Riegl. A articulação de um
modelo distinto pode ser atribuída à identidade profissional de Régamey: como pedagogo, a sua posição era baseada na ideia
de que, por meio do esforço consciente (que se desdobra em predisposições
inconscientes), os artistas podem intervir nos desenvolvimentos estéticos. Ao
fazer isso, o trabalho de Régamey articula uma
postura formalista de mudança estilística para intervenções mecanicistas
sancionadas pelo Estado, explicitamente projetadas para impulsionar a
civilização “para a frente." Além disso, suas contribuições para esse
discurso defendem uma abordagem “habitual” da história da arte, ou seja, a
ideia de que o estudo de ações realizadas inconscientemente e repetidas ao
longo do tempo poderia teorizar a geração de um estilo compartilhado.[9] O
artigo é, portanto, parte de um projeto maior que examina o que significava ser
um desenhista proficiente na era moderna e o papel da aquisição de hábitos
nesses discursos.
8. O
artigo começa discutindo as realizações profissionais de Régamey,
que permanece ausente na maioria dos estudos de língua não-francesa. Em
seguida, atendo-me à complicada recepção crítica da arte japonesa nos discursos
franceses de meados ao final do século XIX, examino como as práticas
caligráficas e pedagogias japonesas moldaram a abordagem de Régamey
para a educação de desenhistas. Depois de delinear como o próprio programa
pedagógico de Régamey se baseava - e divergia - de
sua avaliação dos modelos japoneses, contextualizo suas ideias frente a
concepções mais amplas de mudança estilística. Para concluir, me volto para o
significado historiográfico do trabalho de Régamey,
especialmente como uma alternativa ao modelo de mudança estilística derivado da
ideia de Kunstwollen.
Régamey: artista, japonista,
instrutor de desenho
9. Ao
longo de sua vida, Régamey não apenas adquiriu a
reputação de japonista, mas também se dedicou à educação artística. Ele
inicialmente se tornou professor de desenho na École Spéciale
de Dessin et de Mathématiques
(então apelidada de Petite École, e
hoje conhecida como École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs), entre 1868
e 1870.[10] A
Guerra Franco-Prussiana e a turbulência política que se seguiu interromperam brevemente
seu trabalho como educador. Durante l’année terrible, ele estabeleceu Le Salut
public, um jornal revolucionário de curta duração
dedicado ao Comitê de Segurança Pública da Comuna de Paris.[11] Após
o colapso da Comuna em 1871, o estatuto de Régamey
como communard levou ao seu exílio forçado da
França. Ele buscou asilo político primeiro em Londres e depois nos Estados
Unidos, onde, em 1873, ajudou a reconstruir a Academy
of Design, agora conhecida como Art Institute of Chicago, após o Grande Incêndio de Chicago, em 1871.[12]
10. Enquanto
residia nos Estados Unidos, Régamey viajou para a
Filadélfia por ocasião da Centennial Exhibition de 1876. Lá, ele conheceu Guimet, que também visitava a exposição mundial antes de
embarcar em uma viagem para pesquisar as religiões asiáticas em nome do
ministro francês da Instrução Pública. Guimet
convidou Régamey para participar da excursão e
documentar suas viagens pelo Japão para cidades como Yokohama, Kamakura, Nikkô e Tóquio, as
ilhas de Enoshima, Kyoto, Ise
(uma cidade costeira com santuários xintoístas), bem como uma curta viagem para
Osaka e Kobe (na Baía de Osaka), antes de viajar para a China, Sri Lanka e
Índia.[13]
11. Após sua
viagem, Guimet e Régamey
publicaram extensivamente sobre a cultura japonesa, sobretudo as artes, o
teatro e a vida cotidiana.[14] Para
cumprir o mandato original de Guimet, que era mapear
as religiões no Leste Asiático, eles também participaram das exposições
realizadas no Palais du Trocadéro
em conjunto com a Exposition Universelle de 1878. O
Palais du Trocadéro, também
conhecido então como Musée Ethnographique des Missions Scientifique, foi
construído naquele ano sob a supervisão do Ministério da Educação Pública como
um museu antropológico. Em 1878, três salas do Trocadéro
foram dedicadas à Exposition historique de l'art ancien et de l'ethnographie
des peuples étrangers à l'Europe.[15] De
acordo com um artigo publicado em L'Illustration,
uma dessas salas justapunha objetos religiosos asiáticos adquiridos por Guimet (como esculturas de Buda) com pinturas de Régamey que documentavam a excursão dos dois para o leste
asiático.[16] Isso
incluía pinturas que documentavam ritos e locais religiosos da Ásia [Figura 3] e estudos
desenhados de “tipos” japoneses (bustos sem nome) [Figura 4 e Figura 5].
12. Pouco
depois de sua viagem ao exterior, Régamey também expôs
seus métodos de desenho e contribuições para o japonismo, organizando populares
soirées de dessin na década de 1880. Soirées
de dessin eram palestras públicas que aconteciam
na casa de Madame Edmond Adam e no Conservatoire
des Arts et Métiers, que foram muitas vezes dedicadas a suas
memórias do teatro japonês décadas após sua viagem a Japão.[17] Hoje,
poucas evidências documentais sobrevivem sobre o conteúdo de cada reunião. Dos
vestígios que permanecem, parece que, nas soirées, Régamey
executava desenhos etnográficos sem o auxílio de modelos vivos (habilidade que
adquiriu durante seu treinamento sob a supervisão de Horace Lecoq
de Boisbaudran, um instrutor conhecido por seu
sistema de treinamento da memória visual), enquanto Guimet
fornecia comentários.[18]
13. Naquela
época, ele também trabalhava como Inspecteur de
l’Enseignement du Dessin em Paris (1881 a 1904).[19] No
final da década de 1890, Régamey estava entre as principais
figuras que propunham a reforma do Méthode Guillaume,
uma técnica de desenho geométrico criada pelo acadêmico Eugène
Guillaume e empregada nas escolas públicas francesas para apoiar a
industrialização. A crença de que o desenho era tão importante para a educação
quanto a leitura, a escrita e a aritmética era quase
onipresente e, como resultado, levou a debates contenciosos sobre a natureza e
o escopo de sua pedagogia.[20]
Quando a administração republicana de Jules Ferry promulgou reformas voltadas
para escolas primárias e secundárias, entre 1878 e 1881, elas incluíam
disposições para adotar o regime de desenho que Guillaume sistematizou na
pedagogia oficial. Os procedimentos de Guillaume, também conhecidos como Méthode Guillaume ou méthode
géométrique, privilegiavam a geometria
descritiva e incorporavam cláusulas que estipulavam o desenho de formas
geométricas e de ornamentos antes do da figura humana. O desejo de Guillaume de
abandonar o domínio do estudo das figuras em favor da geometria era contra as
práticas que outros instrutores, como Félix Ravaisson,
recomendavam. Enquanto Ravaisson sustentava que uma
educação artística baseada na estatuária clássica beneficiaria os alunos nas
artes plásticas e aplicadas, Guillaume se opunha a essa perspectiva, afirmando
a primazia e a necessidade de modelos industriais geométricos para cultivar une
langue universelle.[21] O
sistema de Guillaume foi efetivado em escolas públicas francesas em todo o país
por trinta anos, mas sua hegemonia sobre o currículo de desenho foi questionada
logo após sua introdução.
14. Os
procedimentos baseados na geometria eram percebidos como muito rígidos e
estereotipados, para não mencionar estranhos aos objetivos da arte
"elevada."[22] A
pressão crescente por reformas se desdobrou na capital francesa, liderada por
Louis Guébin (1854-1933), um professor de desenho que
se tornou o principal inspetor de desenho nas escolas municipais parisienses em
1898.[23] Guébin, ao lado de vários outros instrutores parisienses
(como Régamey ), iniciaram debates em Le Moniteur du dessin,
um jornal fundado em 1897 para servir como porta-voz de sua campanha. No
início do século XX, a crítica estabelecida neste periódico adquiriu uma
plataforma mais ampla na Exposition Universelle
(1900) e em congressos dedicados especificamente à situação do desenho nas
escolas públicas realizados em Paris (1900 e 1906), Berna (1904) e Londres
(1908). Foi nesse cenário cultural que Régamey
projetou um novo método de desenho em reação ao status quo.
15. Já em 1890,
Régamey começou a palestrar publicamente sobre a
educação do desenho e, no início do século XX, dirigiu o Atelier d'Élèves que funcionava na rue Serpent
n. 28, em Paris, com cursos destinados a meninos e meninas.[24] Este
aspecto de sua carreira, embora descrito por seus amigos próximos como um
"vasto projeto," se encontra ausente dos estudos existentes, em parte
porque seu programa nunca foi incorporado a nenhum currículo oficial.[25] Em um
elogio celebrativo de Regamey logo após sua morte em
1907, seu amigo íntimo, o crítico de arte Louis Vauxcelles
frisou suas contribuições para a pedagogia da arte, especialmente a rejeição de
Régamey aos métodos de desenho geométrico.[26] A
dependência da mente, ao invés do olho, estava entre as principais queixas de Régamey com relação ao sistema de Guillaume: “O erro
capital do método que hoje é muito estimado na França - o geométrico - é o de
favorecer as especulações da mente em detrimento do órgão visual, o olho
[...].”[27] Logo,
para Régamey, em vez de cultivar o olhar, o sistema
geométrico bexibia uma dependência mecânica da razão
e da matemática.
16. Embora
Régamey tenha feito contribuições significativas os
discursos sobre o japonismo e pedagogia da arte na segunda metade do século
XIX, seu papel como japonista foi tratado separadamente de sua tentativa de
reformar a educação do desenho. No entanto, a experiência de Régamey como instrutor de desenho convergiu com seu
interesse pela arte e cultura japonesas em várias ocasiões. Por exemplo, ele
dedicou alguma atenção ao treinamento artístico em Le Japon pratique
(1891), um guia ilustrado da arte e da indústria japonesas, que também tratava
do governo e costumes cerimoniais do Japão (como, por exemplo, nascimento,
casamento, funerais e teatro).[28] O
texto também sintetizava a transmissão de conhecimentos artesanais entre
professor e aluno, neste caso, como as crianças japonesas aprendiam a escrever
(uma prática que Régamey associava ao desenho). O
entusiasmo de Régamey pelo que ele percebia como a
onipresença das habilidades de desenho no Japão baseava-se na suposição de que
os procedimentos de desenho japoneses pouco diferiam de seus hábitos de
escrita, e precediam o treinamento formal.[29] Em Le
Japon pratique, Régamey incluiu uma imagem
suplementar para ilustrar a transmissão desse conjunto de habilidades entre mãe
e filha [Figura 6].[30] Nessa
imagem, a filha se senta em frente a uma mesa segurando um pincel perpendicular
ao papel; em vez de trabalhar como modelo, a mãe se agacha bem atrás de sua
filha, guiando seu pulso. As contribuições de Régamey
para o japonismo e o ensino de desenho se cruzaram com, e possivelmente
culminaram em, uma prestigiosa iniciativa patrocinada pelo Estado para avaliar
as técnicas de desenho japonesas em 1899.
Régamey e a pedagogia comparativa
de desenho na França de Fin-de-Siècle
17. Mais
de duas décadas após sua primeira viagem ao Japão, Régamey
voltou a Tóquio pela segunda vez em 1899 por três meses (de janeiro a março)
para elaborar um estudo abrangente sobre a educação do desenho japonês em nome
do Estado francês, publicado como Le Dessin et son enseignement dans les écoles
de Tokio (1899).[31]
Durante a segunda metade do século XIX, a pedagogia comparativa de desenho - a
avaliação de sistemas educacionais distintos voltados para as belas artes e
artes aplicadas - tornou-se uma grande preocupação política em todo o mundo. O
desenho era considerado fundamental para a produção competitiva de design
industrial. O fascínio do sucesso econômico nas artes aplicadas tornou-se um
grande impulso para os governos introduzirem o ensino do desenho nas escolas
públicas em todo o mundo.[32]
Currículos de desenho nacionalizados também tiveram destaque no cenário
internacional, circulando amplamente em competições em feiras globais. O fin de siècle viu o
surgimento de convenções especificamente dedicadas ao desenho e à educação
artística nas escolas públicas, como o Congresso Internacional de Arte Pública
em Bruxelas (1898) e o Terceiro Congresso Internacional para o Desenvolvimento
do Desenho e Ensino de Arte em Londres (1908). Esses eventos tornaram-se fóruns
para a França mostrar sua formação técnica e avaliar seu suposto sucesso frente
aos exemplos exibidos por outras nações.
18. Quando
Régamey recebeu uma comissão para avaliar a pedagogia
japonesa, ele considerou a situação do ensino de desenho nas divisões de
aprendizagem formal em Tóquio, e delineou as demandas concorrentes enfrentadas
por essas instituições enquanto negociavam o lugar das práticas ocidentais no
currículo básico japonês. Tais demandas variavam desde melhorar o design
industrial até o cultivo da identidade nacional. O incentivo para estudar os
métodos de ensino de desenho do Japão surgiu depois que, no final do século
XIX, esse país passou a rivalizar com as nações mais industrializadas nas artes
aplicadas.
19. O fato
do desenho industrial japonês se destacar no comércio internacional durante
este período foi de grande interesse para a França, que enfrentava perdas
econômicas. Na segunda metade do século XIX, o Japão abandonou sua anterior
política isolacionista. Para proteger seu sistema político feudal, o Japão
impôs a reclusão nacional (mais tarde referida como sakoku,
ou “país fechado”) por centenas de anos. Na prática, esse protocolo insular
tolerava algum comércio internacional: por exemplo, o comércio com os chineses
e holandeses existia, mas era estritamente regulamentado. Em 1853, uma pequena
frota da marinha dos Estados Unidos, liderada pelo Comodoro Matthew Perry,
entrou no porto do Japão para exigir que seu governo assinasse um acordo
comercial que permitiria aos mercadores estadunidenses expandir ali suas
operações. Os japoneses capitularam. Pouco tempo depois, a pressão infligida ao
governo japonês por essa transação acabou contribuindo para o fim do shogunato,
o sistema de governo liderado por um ditador militar que vigorou por dois
séculos.
20. Nos
primeiros anos da subsequente era Meiji (1868-1912), o Japão passou por severas
transformações sociais, afinadas com as características definidoras da
modernidade. A modernização, que normalmente era confundida com
"ocidentalização," caracterizou o novo regime do imperador. Entre as
muitas mudanças anunciadas pela modernização estava a desconstrução da
estrutura feudal de classes. Na verdade, o termo “Meiji” - ou “governo
iluminado” - refere-se ao nome adotado pelo imperador para descrever seu
reinado após a queda do “grande general,” conhecido como shogun
Tokugawa. Isso levou ao investimento do país na melhora dos sistemas de
transporte, maior industrialização e reformas educacionais. Como parte do
compromisso do Japão de participar do comércio global, o novo governo
introduziu políticas voltadas para a modernização de mercadorias comerciáveis e
de sua produção, incluindo a melhoria das artes aplicadas por meio da
disseminação da pedagogia do desenho.[33]
21. Essas
mudanças sociais e econômicas abruptas levaram o governo e os educadores a um
debate decisivo sobre o que significava ensinar e adquirir a proficiência
técnica para uma carreira nas artes. Na época em que Régamey
conduziu seu estudo, os métodos de desenho haviam se tornado um assunto
fortemente debatido entre instrutores, políticos e artistas japoneses.
Fomentando discussões similares com as que ocorreram na França, os japoneses
debateram a utilidade de esquemas de desenho enraizados na geometria e o estudo
de estátuas antigas e mestres da Renascença em instituições, que iam desde
escolas primárias públicas a academias de arte.[34] Tais
questões eram complicados pelo fato de que governos estrangeiros importaram
esses sistemas para o Japão.[35] Pouco
antes da primeira viagem de Régamey ao Japão em 1876,
as aulas de desenho foram integradas às escolas primárias da era Meiji para
melhorar a qualidade das artes aplicadas. Como as leis proclamadas por Ferry
uma década depois que tornavam o ensino primário obrigatório na França (e que
incluíam espaço para a instrução de desenho em seu currículo), a escola
primária no Japão tornou-se obrigatória em 1872 e, da mesma forma, incorporou
medidas para treinar as crianças no desenho.[36] Tornar
a escola obrigatória era parte de uma tendência mais ampla, especialmente na
América do Norte e na Europa, que valorizava cada vez mais a aprendizagem como
um direito social e uma ferramenta crucial para a construção da nação.[37]
22. Portanto,
quase trinta anos após a formalização do ensino de desenho no Japão, Régamey conduziu uma investigação dos sistemas existentes.[38] Le Dessin et son enseignement dans les écoles
de Tokio, longe de ser uma análise exaustiva das escolas de arte no Japão,
focava cursos de desenho implantados em Tóquio, que se tornara a capital do
Japão em 1868. A decisão de focar exclusivamente em programas de desenho em
Tóquio indicava a grande mudança cultural recentemente ocorrida. O novo governo
imperial transferiu a sede de poder no Japão de Kyoto para Tóquio, que também
se tornou uma nova capital da produção artística. O deslocamento da capital
artística foi acompanhado por novos modos de ensino; com efeito, a mudança foi
acompanhada pela introdução de novas academias de arte como uma alternativa ao
modelo de aprendizagem que havia sido perpetuado pela escola Kano, o estilo
predominante no Japão Tokugawa (1615-1868). Historicamente, as habilidades
técnicas eram transmitidas entre mestre e aluno ao longo de quase uma década de
estudo no estúdio de um artista.[39] Durante a era Meiji, o treinamento
profissional das artes se diversificou, com o surgimento de várias novas
academias de arte. Isso inclui a inauguração da Escola Técnica de Belas Artes (Kobu Bijutsu Gakkō) de 1876 a 1883, a Escola de Belas Artes de
Tóquio (Tōkyō Bijutsu
Gakkō) em 1889, e a fundação do Instituto de
Arte do Japão (Nihon Bijutsu-in), em 1898.
23. De
fato, foi a educação pública e as academias de arte - e não os ateliês dos
artistas -, que se tornou o foco das atenções de Régamey
em 1899. Ele começou sua turnê na Universidade Imperial (hoje conhecida como
Universidade de Tóquio), seguindo para a École Normale (a escola
primária, que era dividida por gênero) e o Lycée
de Tokio, assim como a École des Nobles (também dividida por gênero). Seu estudo - no
qual os títulos japoneses das instituições não foram preservados, mas
traduzidos para o francês - não se limitou ao ensino geral, mas também incluiu
instituições especializadas, como a École des Arts et Métiers, a École Professionnelle Libre para meninas, a École Commerciale Supérieure, a École
Municipale Supérieure
para meninas, e a École des Sourds-Muets
et des Jeunes Aveugles.
Seu estudo concluía com a École Impériale des Beaux-Arts de Tokio e a École Libre des Beaux-Arts de Tokio.
Embora Régamey se concentrasse em grandes
instituições em vez de ateliês dirigidos por artistas, sua investigação não
excluiu os métodos japoneses de treinamento nesses espaços. Na verdade, algumas
academias mantiveram as práticas favorecidas pelos pintores Kano, um grupo de
artistas treinados em oficinas privadas para apoiar o gosto da elite, ou
ensinadas junto com modelos ocidentais. Régamey notou
as discrepâncias nos modelos de ensino que coexistiam no Japão e viam valor em
vários métodos.[40]
Quando Régamey estudou a educação artística japonesa,
no entanto, ele expressou sua ansiedade com relação a importação de modelos estrangeiros
para o Japão e, de forma mais ampla, a influência dos costumes ocidentais na
cultura japonesa.
A
política de intercâmbio artístico entre o Japão e o “Ocidente”
24. Quando
Régamey publicou os resultados de seu estudo de 1899
sobre programas de desenho japoneses, sua preocupação central era a negociação
entre as estratégias de visualização tradicionais do Japão e aquelas importadas
do "Ocidente." Tanto para japonistas como Régamey
quanto para cidadãos japoneses, O fato de alguns dos procedimentos técnicos
implantados nas salas de aula japonesas não serem nativos do Japão gerava
ansiedade sobre a possível perda dos costumes culturais. Lembremos que a
admiração francesa pela arte japonesa em parte originou-se da percepção da
pureza ou autenticidade de uma cultura supostamente “intocada” pelos males
associados à sociedade ocidental.
25. Ao
mesmo tempo que o Japão da era Meiji encarava a importação de costumes
estadunidenses e europeus, ele também se voltou para suas ricas tradições
culturais a fim de renegociar uma nova identidade dentro de uma sociedade
globalizada.[41] Esse
ponto foi explorado em Japanese Painting and National Identity: Okakura and His Circle (2004),
de Victoria Weston, que examina como o ensino de arte japonesa do final do
século XIX estava enredado em acalorados debates sobre nacionalismo e
construção da nação. Uma questão importante que alimentava a discussão era se
as escolas públicas japonesas deveriam ou não adotar os modelos da Europa
Ocidental e dos Estados Unidos às custas de suas próprias tradições. Como
explica Weston, a reforma curricular ultrapassou o âmbito do ensino fundamental
e teve implicações para a formação artística profissional. A possibilidade de
utilizar precedentes artísticos ocidentais, como a valorização do estudo da
figura humana e aulas de desenho geométrico, estavam entre os novos modos de
treinamento acessíveis.[42] Foi
nessa época que um novo termo foi cunhado para distinguir as práticas japonesas
daquelas associadas ao Ocidente, principalmente na pintura a óleo: "Nihonga" - traduzível como "pintura de estilo
japonês" - referia-se a uma diversidade de práticas artísticas
tradicionais japonesas, incluindo caligrafia e desenhos a tinta que se baseavam
nas convenções chinesas.[43]
26. Todo o
estudo de Régamey está conectado por uma série de
anedotas que descrevem os maus efeitos da ocidentalização, que ele chamou de
"l’influence européene."[44] Por
exemplo, no Lycée de Tóquio, uma das cinco
escolas preparatórias para a Universidade Imperial, Régamey
testemunhou a prática do que chamou de desenho “científico” e “industrial” com
influências europeias, “sem, no entanto, dar resultados claros.”[45] Na
Universidade Imperial, a introdução de moldes de gesso europeus também levava a
resultados que dificilmente eram melhores, ou como Régamey
colocou, eram “desprovidos de interesse.”[46]
27. Mas a
posição de Régamey não era nova. Depois que o Japão
renunciou às suas políticas isolacionistas, seus compromissos diplomáticos com
a Europa e a América do Norte fomentaram os discursos sobre as vantagens e
desvantagens do intercâmbio cultural, dentro e fora do país. “O Japão não tem
confiança suficiente em sua própria moral; ele muito rapidamente apagou os
costumes, instituições e ideias que produziram sua força e felicidade,” afirmou
Guimet em 1880.[47] Guimet temia a fragilidade dos costumes nacionais, e esta
não era uma perspectiva incomum. Como observou o crítico de arte Ernest Chesneau dez anos antes: " Ao introduzirmos as
maneiras, usos, costumes e artes ocidentais no Japão, teria eu a ridícula
pretensão de incentivar vocês a submeter a arte francesa à arte japonesa?"[48]
Apesar desse debates generalizados, poucos historiadores da arte exploraram as
ansiedades em torno das trocas culturais entre a França e o Japão.[49] Tasi hesitações se encaixam desconfortavelmente nas
narrativas sobre a "missão civilizadora" da França, um conceito usado
para legitimar o colonialismo com base na premissa de que a cultura francesa era
superior a de outras sociedades, e iria "ajudar" outras nações.[50]
Afinal, japonismo é um termo usado para descrever a admiração dos franceses
pelas artes japonesas. Os historiadores da arte há muito enfatizam a celebração
e apropriação dos efeitos visuais japoneses pelos artistas franceses, com foco
nas gravuras e nos expoentes do fenômeno, notadamente Philippe Burty, Edgar Degas, James Tissot
e os irmãos Goncourt, entre outros.[51]
28. Ao
longo de sua vida, Régamey foi simpático às
perspectivas de Guimet e Chesneau
sobre os efeitos nocivos do intercâmbio cultural. Durante sua estada de nove
semanas no Japão em 1876, suas observações sobre o intercâmbio cultural com as
nações americanas e europeias prenunciaram algumas das principais queixas
lançadas contra a educação artística japonesa em sua avaliação de 1899: “O
velho Japão está entrando em colapso, a civilização avança - como dizem -,
lâmpadas de querosene, gibus e guarda-chuvas
são bastante comuns,” ele lamentou.[52] Em
uma carta redigida para sua mãe, Régamey expressou
pesar sobre a "ocidentalização" do Japão: “estou testemunhando o fim
deste mundo maravilhoso, artístico e poético que era cheio de doçura, mas que
agora afunda no pântano sombrio da civilização”, temia ele.[53] Para
enfatizar seu ponto, Régamey desenhou um japonês
usando uma cartola gibus e escreveu: “isso é
de arrepiar os cabelos do mais calvo dos rapins.”[54]
29. A
crença de que o intercâmbio com a Europa e os Estados Unidos adulterava a arte
e a cultura japonesas também foi a inspiração para O Caderno Rosa de Madame Chrysanthème de Régamey, um
relato publicado pela primeira vez em La Plume antes de ser reimpresso
como um livro em 1894.[55] Este texto, escrito como um diário da
perspectiva de Madame Chrysanthème, relata o
casamento fracassado entre uma mulher japonesa e um oficial da marinha francês
temporariamente estabelecido no Japão. A narrativa de Régamey
era uma adaptação da muito mais famosa Madame Chrysanthème
(1887-88) de Louis Marie Julien Viaud, um diário
semifictício escrito sob o pseudônimo de Pierre Loti.[56] Situado em Nagasaki, o relato vagamente
autobiográfico de Loti registra a história de um
oficial da marinha que se casou com uma japonesa. O sucesso de Madame Chrysanthème na França levou à sua tradução em vários
idiomas e inspirou uma série de adaptações, incluindo a de Régamey
e óperas de André Messager e Giacomo Puccini,
respectivamente intituladas Madame Chrysanthème
(1893) e Madame Butterfly (1904).[57] O que
distingue a adaptação de Régamey da de outros
contemporâneos é seu desejo de justificar o Japão das severas críticas de Loti. Enquanto Loti se apropriou
dos tropos que caracterizam as narrativas "orientalistas," como a
subjugação de, e condescendência em relação a, mulheres não-brancas, Régamey escreveu da perspectiva de Chrysanthème
para exonerar as mulheres japonesas dos estereótipos racistas lançados contra
elas pelos europeus (embora reiterasse alguns estereótipos raciais “positivos,”
como o de que as mulheres são dóceis).
30. A
refutação de Régamey à dura descrição do Japão feita
por Loti complexifica nossa compreensão das atitudes
francesas em relação ao intercâmbio cultural no final do século XIX. A
narrativa de Régamey redireciona a avaliação crítica
da "mulher japonesa" para "o francês:" nesse sentido, Régamey criou um personagem cuja vulgaridade o impedia de
reconhecer as virtudes de Chrysanthème e o fascínio
do Japão. Régamey reformulou o oficial da Marinha
francesa como rude, como um personagem cujo preconceito racista e sexista
contra os japoneses o impedia de admirar o refinamento de Chrysanthème.
A vilificação da história de Loti
feita por Régamey não desculpa, porém, sua própria
confiança nos estereótipos dos japoneses. Conforme Christopher Reed observou na
introdução de sua tradução de Madame Chrysanthème,
publicada em 2010, tanto Loti como Régamey perpetuaram noções preconcebidas que essencializavam a feminilidade japonesa, e ambos
descreveram a personagem feminina como mansa e submissa.[58]
31. De
todo modo, a adaptação de Madame Chrysanthème
por Régamey era um fórum que minava noções
preconcebidas sobre a arte japonesa. Sua adaptação, de fato, aponta para um
ponto importante relativo ao objetivo central deste artigo, isto é, a conexão
entre a pedagogia do desenho e os costumes nacionais coletivos. Em ambas as
versões de Loti e Régamey,
os autores invocam técnicas de desenho para apoiar suas respectivas afirmações
sobre o Japão. Loti, que era um desenhista
experiente, defendia a superioridade da “escola francesa.” Ele relata um
incidente em que o treinamento do oficial francês em técnicas de desenho
realista muito impressionou um público japonês mais familiarizado com
convenções artísticas esquemáticas:
32.
Eu [...] peguei um caderno e comecei a
trabalhar [...] enquanto atrás de mim as três mulheres se aglomeravam perto,
muito perto, seguindo os movimentos do meu lápis com atenção espantada. Elas
nunca viram ninguém desenhar de forma realista, já que a arte japonesa é
completamente convencional e meu estilo as encanta. [...] as três mulheres
japonesas estão extasiadas com a aparência [real] do meu esboço.[59]
33. Quando
Régamey adaptou o texto de Loti,
ele não esqueceu a distinção entre os métodos japoneses e franceses de fazer
arte. Mas, como um japonista que desprezava a imposição do treinamento baseado
na geometria em seu pais e no exterior, Régamey
previsivelmente contradisse Loti ao notar os efeitos
nocivos dos modelos europeus em sua narrativa: “Sejam essas aulas [de desenho] avançadas
ou intermediárias, em todos os lugares o mesmo tipo de objetos serve de modelo
para essas crianças infelizes: panela, boné, carteira escolar, etc., o mesmo
'objeto cotidiano' sem vida e sem expressão, que foi tão usado na França, mas
que, felizmente, estamos começando a deixar para trás,” observou Régamey.[60] Da
mesma forma, ele lamentou: “O pior é que, nesses estudos, o uso do pincel -
esse admirável instrumento, ao mesmo tempo flexível e tão forte, o instrumento
nacional - não foi preservado. É o nosso lápis de grafite seco e o giz de cera
borrado e pegajoso que são desajeitadamente empregados por esses
pequenos japoneses desorientados.”[61] A
crítica de Régamey aqui era dupla. Ela minava a
suposição de Loti de que as práticas de produção de
arte japonesas diferiam daquelas implantadas na França e, ao mesmo tempo,
condenava a importação de métodos de desenho que cada vez mais suplantavam as
antigas técnicas japonesas.
34. As
estratégias representacionais que Régamey implementou
em seu frontispício [Figura
7] amplificam ainda mais essa crítica. Enquanto esse frontispício
emulava as convenções japonesas de linearidade, enfatizando contornos ousados e
áreas planas de cor (neste caso, preto e branco), o romance de Loti empregava um estilo realista em suas ilustrações, que
se valiam de uma gama de tons graduados para representar seus temas (que
incluíam paisagens, interiores e estudos de figuras). Por exemplo, no
frontispício de Régamey, a figura feminina está
sentada em um banco vestida com um quimono, com o cabelo puxado para longe do
rosto e no topo da cabeça. Ela se inclina para frente, enquanto lê um
pergaminho em suas mãos. Como Régamey, Rossi (um dos
artistas que ilustrou o texto de Loti) retratou uma
mulher japonesa sentada, reclinada sob um guarda-chuva que segura acima da
cabeça com a mão esquerda [Figura 8]. Todavia, bem diferente da ênfase de Régamey na linearidade, o desenho de Rossi representa seu
modelo ao ar livre, usando uma série de tons modulados aplicados como aguadas
de aquarela.
Economia
visual nos desenhos japoneses
35. A
investigação de Régamey em 1899 atribuía aos artistas
japoneses habilidades que eram altamente cobiçadas por alguns artistas e
críticos franceses associados ao anti-academicsmo,
notavelmente uma poderosa memória visual e a capacidade de reproduzir efeitos
atmosféricos efêmeros e cenas da vida moderna.[62] Régamey acreditava que essa era uma habilidade em parte
fundamentada em certos valores e práticas pedagógicas que existiam no Japão. Em
contraste com a ênfase colocada nos "veneráveis" temas históricos,
religiosos e alegóricos dos concours organizados
pela École des Beaux-Arts
em Paris, Régamey relatou o exemplo de um concurso
japonês na Escola Imperial de Belas Artes de Tóquio que colocava em primeiro
plano um gênero que era ostensivamente mais propício para capturar efeitos
variáveis, não fixos. Particularmente, a academia japonesa
designou, como tema de concurso, uma paisagem descrita como "La fumée de la chaumière
perdue dans la vallée" (fumaça de uma
cabana perdida em um vale) [Figura 9].[63] Embora este tema não refletisse as
preferências da academia francesa (que se voltavam para paisagens que colocavam
em primeiro plano uma narrativa mitológica ou o passado antigo), Régamey comparou a capacidade de retratar a fumaça a um
teste paradigmático que provava a habilidade de desenhar e cuja formulação era
atribuída a um dos mais famosos acadêmicos franceses, o pintor neoclássico
Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867): “Ingres, mestre do desenho e admirador
entusiasta da arte japonesa, costumava dizer isso aos alunos [...] 'Você não
saberá nada até que seja capaz de esboçar, durante sua queda, um homem caindo
de um telhado'.”[64] Já que é difícil reproduzir de forma convincente
figuras em movimento ou fenômenos atmosféricos - como uma pessoa caindo ou a
fumaça - a capacidade de fazê-lo atestaria as grandes habilidades perceptivas e
representacionais de um artista. Embora desenhar a fumaça fosse contra a
predileção da academia francesa pelo estudo das figuras humanas, tanto Ingres
quanto os mestres japoneses (na perspectiva de Régamey)
privilegiavam a representação visual do efêmero como demonstração de
proficiência no desenho.
36. Régamey
também argumentava que a capacidade de ver e reproduzir elementos ativos, não
fixos, era uma habilidade adquirida pelos japoneses por causa de sua admiração
intrínseca e sem precedentes pela observação direta. Régamey
sustentava que, ao priorizar as habilidades de observação, os artistas
japoneses podiam fixar ao momentâneo sem o auxílio de dispositivos de registro
como a fotografia. Em Le Japon pratique, ele observa que:
37.
Mas não fale com [os japoneses] sobre
moldagens ou fotografia. Eles jamais consentiriam considerá-los [moldes de
gesso e fotografias] para sua primeira instrução; é à própria natureza, à
natureza apenas que eles se aplicam. Foi em vão, para a natureza, ter aspectos
tão fugidios e movimentos tão evasivos que não tínhamos sido capazes de
apreendê-los até que a fotografia instantânea viesse em nosso auxílio; os
japoneses - eles haviam descoberto esses aspectos há muito tempo - os
arranjaram e os reproduziram para nós. Aquilo que em suas imagens censuramos
como outré é simplesmente o resultado de uma
habilidade maravilhosa de execução a serviço de um ingênuo poder de observação
apaixonadamente clarividente e auxiliado por uma memória exercida de modo
especial.[65]
38. O
relato de Régamey simultaneamente venera a arte e a
cultura japonesas e essencializa a "japoneidade" ao atribuir aos japoneses uma
constituição inata que se conta como força perceptiva.[66] Régamey não estava sozinho em notar essa suposta
habilidade, no entanto. Segundo o arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, os japoneses
podiam fixar o transitório sem o auxílio da câmera devido à sua preferência
pelo que era essencial, em vez dos detalhes.[67]
39. Viollet-le-Duc, como Régamey, argumentava
que a facilidade com que os japoneses podiam, sem esforço, reproduzir o quase
imperceptível estava ligada à sua capacidade de abstrair ou reduzir o que era
visto às suas linhas essenciais.[68] Como
um exemplo disso, Le Japon pratique de Régamey
considerou "aqueles esboços de paisagens e de animais, cujas
representações são obtidas por um único traço ininterrupto" [Figura 10].[69] Ele
exemplifica essa tendência em suas representações de um pássaro e de um
camundongo compostas por um número mínimo de linhas desenhadas, ou seja, por
uma "economia visual." Régamey admirava o
que ele percebia ser no emprego da linha desenhada para construir imagens: usar
menos linhas demonstrava a proficiência do artista em visualizar seu tema com
um mínimo de informações ou detalhes.
40. A
valorização do “essencial” correspondia a uma escola particular de pensamento
francês que incentivava a economia visual - deixar de lado os detalhes para ver
e reproduzir a essência de um tema. Em vez de dar atenção a partes ou detalhes
individuais, exercer a economia visual significava ver o “todo” e abreviar o
que era visível a olho nu; implicava ver as relações ou proporções harmoniosas
entre objetos em um determinado campo visual e reduzir suas figuras a contornos
esquemáticos, emblemáticos de suas características mais salientes. Na teoria
acadêmica francesa, essas ideias foram incorporadas pela "linha serpentinada," um contorno em forma de “S” que visava
a resumir o movimento de um tema e suas características essenciais a uma linha
se valendo do julgamento, da seleção e de proporções medidas.[70]
41. Le
Japon pratique não foi a única publicação em que Régamey descreveu o desenho japonês como dominando a
economia visual. Oito anos antes, em 1891, Le Petit français
illustré - um período para crianças impresso
entre 1889 e 1905, que normalmente publicava histórias em quadrinhos - apresentou
um conjunto de exercícios de desenho de Régamey
intitulado Le Dessin d'après
les Japonais [Figura 11].[71] Este
exercício explicava como representar um tema com um número limitado de linhas.
Embora a contribuição de Régamey não contenha uma
dimensão narrativa, ele adotou um formato semelhante ao das histórias em
quadrinhos, separando seis motivos por uma grade composta por duas colunas e
três faixas. Enquanto a primeira faixa mostra dois desenhos lineares produzidos
com o auxílio de um compasso - um morcego ao luar, e uma rã seguida por outra,
na chuva - a segunda faixa apresenta as mesmas figuras usando uma gama maior de
tons, proporcionada por aguadas de tinta. Na terceira faixa, Régamey justapõe dois esquilos comendo sementes com dois daimyos (um termo usado para descrever senhores
feudais que herdaram terras no Japão até o período Meiji). Ao contrário do
morcego e das rãs, as duas imagens finais foram produzidas “à main levée, sans
esquisse et sans préparation”
(à mão livre, sem quaisquer esboços preparatórios). Para auxiliar os jovens
desenhistas, Régamey recomendava seguir os números
indicados ao lado das linhas. de forma a não ultrapassar um número limitado de
traços.[72]
A
filosofia pedagógica de Régamey
42. Alguns
anos depois de avaliar criticamente os programas de desenho japoneses, Régamey delineou sua própria filosofia e prática pedagógica
em um texto intitulado Le Problème de l’enseignement du dessin (1906).[73] Seu
currículo reivindicava o conjunto de habilidades que ele projetara nos artistas
japoneses - acima de tudo, acuidade visual e economia linear. Régamey, no entanto, excluiu métodos japoneses de instrução
de sua prática e, em vez disso, fundiu três estratégias educacionais que
adquiriram popularidade nos discursos pedagógicos na segunda metade do século
XIX na França: o sistema de desenho de memória de Lecoq
de Boisbaudran, o méthode
géométrique de Guillaume e a ênfase de Ravaisson na imitação de precedentes artísticos de
inspiração clássica. Enquanto o sistema de Lecoq se
tornou popular entre os artistas praticantes, notavelmente Henri Fantin-Latour,
Auguste Rodin e Alphonse Legros, Guillaume, Ravaisson e Régamey debateram
medidas para o ensino público de desenho para alunos do ensino fundamental.
43. A
filosofia pedagógica de Régamey fundia os objetivos
dos respectivos sistemas de Lecoq, Ravaisson e Guillaume para refinar os processos
fisiológicos e psicológicos empregados na criação artística. Conceituado como “physionomie” (fisiognomia) e
“mesure” (medida), o método de Régamey exigia
que os artistas praticassem em cada domínio para dominar a síntese (discernindo
as partes mais características do "todo") e a análise (exibindo
conhecimento das partes com base em leis matemáticas, em vez de o que é
perceptível a olho nu).[74] Enquanto
trabalhar diretamente a partir de modelos e da memória fortalecia a percepção
sintética (e eram qualidades que Régamey associava
aos artistas japoneses), as lições de geometria cultivavam o raciocínio
analítico. A justificativa pedagógica de Régamey sustentava
que essas habilidades juntas se tornariam habituais, permitindo ao artista,
inconscientemente e sem esforço, reproduzir o que era visível de acordo com
seus atributos mais salientes e com a verdade científica.
44. Para
desenvolver as propriedades duais de “physionomie” e
“mesure” em desenhistas, Régamey argumentava que a
educação do desenho dependeia de dois tipos de
exercícios, os “essentiels” (essenciais) e “auxiliaires” (auxiliares), que respectivamente atendiam à fisiognomia e à medida.[75]
Cópia, interpretação, desenho da memória e composição estavam entre os
exercícios “essenciais” que treinavam a fisiognomia,
apelando para a fisiologia por meio do treinamento sensorial. Régamey imaginava que esses exercícios apoiariam uma
educação do olho por meio da aquisição de hábitos visuais e representacionais:
tais hábitos, afirmava ele, treinariam o olho para discernir instantaneamente
as características mais essenciais de um motivo. Quando Régamey
descreveu a capacidade da fisiognomia de configurar a
semelhança, ele ofereceu uma anedota que exemplificava essa crença:
45.
Embora você não consiga se lembrar dos
detalhes dos traços faciais de um de seus amigos distantes; que não possa dizer
como sua barba é aparada, nem mesmo se ele tem uma; e que, consequentemente, se
você fosse um bom pintor, ser-lhe-ia impossível produzir uma imagem semelhante
a ele, o “je ne sais quoi”
que o distingue dos outros homens fará com que você, por mais longe que o veja,
o reconheça instantaneamente. Esse é o triunfo do sentimento - da fisiognomia.[76]
46. A fisiognomia representava, portanto, a habilidade de
economizar, de reduzir a representação às suas características essenciais, que
poderiam ser ligadas ao sistema de Lecoq de
treinamento de memória visual, bem como da análise de Régamey
dos desenhos japoneses e seus elogios do uso econômico da linha.[77] A
capacidade de reunir os atributos mais salientes de um modelo para produzir uma
semelhança convincente era essencial para a produção artística:
independentemente do tema, os artistas negociavam o número mínimo de elementos
visuais necessários para descrever sinteticamente o “todo.”
47. Os
exercícios “auxiliares” complementavam - ou mesmo contrabalançavam - a ênfase
colocada na fisiognomia (ou representações fisiognômicas) com exercícios essenciais. Para Régamey, a arte igualmente exigia habilidades
representacionais baseadas na "mesure," um termo usado para descrever
análises matemáticas ou desenhos produzidos por meio da razão (em vez de a olho
nu), assim como a síntese (ou a capacidade de ver rapidamente o
"todo"). As práticas geométricas, como a perspectiva, ao lado da
anatomia e da história da arte, eram categorizadas como disciplinas “auxiliares”
que exercitavam a “mesure.” Estes eram, como defendia Régamey,
exercícios psicológicos, enraizados menos no que é visto do que no que é
conhecido, e eram acionados para equipar a mente com noções científicas
necessárias para compreender a forma.[78]
48. Para
ilustrar como a fisiognomia e a medida (ou as
habilidades essenciais e auxiliares) operavam em uníssono durante o desenho, Régamey contava uma anedota comparando os hábitos de
desenho à conduta associada ao disparo de uma arma. Aprender a desenhar era
como aprender a atirar com uma pistola, acreditava Régamey.[79] O
olho fornece a mira, guiando a bala em direção ao alvo. A precisão necessária
para atingir o alvo depende de dois pontos, começando com o cabo da arma e
terminando no alvo, que configuram a linha de tiro ou linha de visão. Traçar
esses pontos, da arma ao alvo, requer não apenas a visão, mas também uma
compreensão de distância em relação à posição, usando planos horizontais e
verticais. Ao usar uma arma de fogo, “fisiognomia” e
“medida” operam em conjunto para marcar um ponto, e traçar uma linha entre
pontos. Essa prática, como a de disparar uma arma, reduz o esforço e melhora a
precisão. “É à custa de um trabalho persistente que o Consciente, alimentando o
Inconsciente, lhe dá os reflexos necessários para aperfeiçoar a força de
expressão.”[80] Através
do esforço consciente, Régamey dizia, as habilidades
necessárias para desenhar tornam-se inconscientes, rotinas aparentemente
instintivas podem assim ser executadas sem pensar. Elas são, com efeito,
baseadas inteiramente em hábitos adquiridos de ver, se mover e lembrar.
49. O progama de Régamey colocava em
primeiro plano métodos para ensinar acuidade e economia visuais, propostos
pelos principais pensadores pedagógicos da França. Ao mesmo tempo, seus
“exercícios essenciais” modificavam, de forma menos explícita, um formato
pedagógico que ele encontrou durante sua segunda viagem ao Japão em 1899, em
que o desenho era ensinado em quatro estágios principais que mesclavam a razão,
o sentimento e o treinamento da memória visual. Em particular, Régamey adaptou uma prática que encontrou na École
Normale para meninas, e que ele descreveu em seu estudo de 1899, Le Dessin et son enseignement
dans les écoles de Tokio. A École Normale organizava o
currículo de desenho de acordo com quatro exercícios-chave, cujos títulos Régamey assim traduziu: 1) exercice
de pinceau (exercício com pincel); 2) calqué (traçado); 3) copié
(copiado); e 4) composition (composição).[81]
50. Para
exemplificar o que essas lições ensinavam, Régamey
reproduziu quatro desenhos feitos por estudantes japoneses como parte desse
regime [Figura 12].[82] Com
os rótulos de I, II, III e IV, cada desenho em Le Dessin
et son enseignement
apresenta uma planta ou animal separado de seu fundo. A imagem I, por exemplo,
representa uma planta semelhante a grama produzida com longos traços de tons
escuros e claros que se originam na borda inferior do papel, curvando-se para
cima em direção ao topo. Este era um exercício destinado a "l’initier à sures tours de main" (para treinar a destreza manual), usando um pinceau, um pequeno pincel.[83] As
imagens II e III representam respectivamente uma ave sentada em um galho e uma
em voo. Ao contrário da primeira imagem, que era composta inteiramente de
linhas para introduzir o manuseio do pincel pelo artista, a segunda e a
terceira retratavam um assunto mais complexo, usando uma gama maior de
variações tonais, e exibiam tentativas de sombreamento. Essas etapas exigiam
que os alunos primeiro calqué e depois copié. Usando os mesmos modelos, esperava-se que os
alunos reproduzissem o assunto inteiramente de memória. Para auxiliar nisso, o
professor traçava “les lignes
maîtresses” - as linhas mestres
- em um quadro, a partir das quais os alunos eram obrigados a reproduzir o
modelo em todos os seus detalhes. Por fim, as aulas culminavam na interpretação
de objetos em relevo ou do natural. Como exemplo disso, a imagem IV mostra um
rabanete próximo a uma cesta de plantas coletadas em primeiro plano, usando uma
combinação de pinceladas lineares para representar a cesta e manchas de tinta
para descrever o caule do rabanete.
51. Quando
Régamey sistematizou seu próprio programa de desenho,
esse modelo japonês forneceu uma estrutura para o que ele delineou em seu texto
de 1906. Da mesma forma, Régamey destilou os
exercícios essenciais em quatro etapas, que incluíam: 1) copie rigoureuse (cópia rigorosa), a partir de gravuras; 2) interprétation (interpretação), a partir de modelos
de gesso, objetos em relevo, naturezas mortas, culminando no modelo vivo; 3) dessin de mémoire
(desenho de memória), que começava copiando gravuras “de cor” antes de
representar de memória objetos em relevo; e 4) composition
(escolha ilimitada de assuntos).[84] No entanto, o método de Régamey
em certo ponto divergia de seu modelo japonês. Sua série graduada excluía o
estágio inicial, exercícios com o pincel: já que o programa de Régamey não empregava pincéis, ele tinha pouca necessidade
desta lição. Em vez disso, Régamey começava com a
cópia de gravuras e rapidamente continuava para o segundo estágio, a
interpretação (estágios II e III na École Normale). Enquanto a escola
japonesa concluía com a composição, Régamey incluía o
desenho de memória antes de terminar igualmente com a composição. Pode-se
especular que ele incorporou o treinamento da memória visual em um sistema
voltado para estudantes franceses para compensar a falta de um conjunto de
habilidades que ele já atribuía - com admiração - à constituição inata dos
japoneses.
52. Embora
o sistema de Régamey emulasse os exercícios graduados
da École Normale para meninas, ele rejeitava os modelos ali usados. Na
verdade, quando Régamey revisou os programas de
desenho existentes na França, ele excluiu propositalmente os modelos japoneses:
“Querer substituir inteiramente a nossa arte de pintar pela dos japoneses seria
um erro - eu diria um crime,” advertia Régamey.[85] O
fato dele alertar contra os modelos japoneses pode parecer uma surpresa.
Afinal, ele atribuía aos artistas japoneses qualidades muito positivas, que
eram aproveitadas para o treinamento da memória visual. Embora Régamey não tenha recusasse totalmente o intercâmbio
cultural, ele recomendava que este fosse abordado com cautela. Em seu livro Japon
en images (1900), por
exemplo, Régamey advertiu que “a adoção irrefletida
de fórmulas novas é perniciosa, assim como é paralisante a cópia servil de
obras do passado.”[86] Por
isso, ele alertava que a troca de procedimentos técnicos pode estultificar a
produção artística. Em Le Problème de l’enseignement du dessin, Régamey também
desencorajou um recurso que qualificava como fundamental para o ensino de
desenho japonês: o uso do pincel. O lápis, ele justificou, fomentava a
“pesquisa,” um conjunto de habilidades que conduzia à aprendizagem, enquanto o
pincel facilitava a “produção.”[87] A
abordagem pedagógica de Régamey estabelecia, assim,
uma relação complicada com a produção artística japonesa. Vale notar que sua
aceitação ou rejeição das estratégias de produção de arte japonesas se
desenvolveram a partir de uma compreensão complexa da arte e de sua história,
que foi popular na segunda metade do século XIX.
A
concepção de Régamey sobre a "evolução"
estilística japonesa
53. O
intercâmbio cultural era problemático para Régamey.
Por mais que admirasse a produção artística japonesa, ele alertava contra a
introdução de estratégias de criação de arte daquele país nos programas
pedagógicos franceses. A razão por trás de sua atitude aparentemente
inconsistente é iluminada quando se leva em consideração suas ideias sobre
tendências estilísticas e civilização, acima de tudo a interdependência entre
elas. Para Régamey, os desenvolvimentos estéticos e a
força de uma civilização não eram mutuamente exclusivas; ao contrário, suas
trajetórias estavam intimamente ligadas. Ele resumiu essa confluência em seu
texto Japon en images
nos seguintes termos: “Quem fala de Arte fala de Civilização. A civilização
caminha lentamente e o tempo destrói rapidamente o que foi feito sem sua ajuda.
| É por meio do encadeamento do trabalho acumulado de gerações que o progresso
se realiza.”[88] Essa
declaração - modernista em seu desejo universalizante de conectar a mudança
estilística à suposta tendência da civilização japonesa rumo ao progresso -
sugere que a arte é um produto de avanços acumulados. Para Régamey,
esta posição transcendia o escopo da história da arte japonesa. Com efeito, ela
se tornou uma maneira popular de explicar a evolução das tendências artísticas
em toda a Europa.[89]
54. Para
os historiadores da arte, parte dessa narrativa soa familiar. Existem
semelhanças significativas entre a mentalidade de Régamey
e os textos fundacionais da disciplina da história da arte. O trabalho de Régamey aborda a mesma questão que preocupou os primeiros
estudos de história da arte e que permanece sem solução até hoje: o que
determina a variação estilística? Quando historiadores da arte como Riegl e Erwin Panofsky enfrentaram
essa questão, eles acharam produtivo ligar tais transformações a ideia de Kunstwollen.[90] Esse
termo descreve uma força autônoma supraindividual que faz com que as tendências
estéticas mudem com o tempo. Não é preciso dizer que a Kunstwollen,
entre sua longa lista de deficiências, falha em identificar adequadamente as
motivações concretas ou materiais que impulsionam o desenvolvimento artístico
e, ao fazê-lo, se apresenta como um modelo no qual o livre arbítrio e agência individual
estão ausentes.
55. O
trabalho de Régamey oferece uma explicação
alternativa da mudança estilística que está enraizada em uma pedagogia do
desenho sancionada pelo Estado. Entretanto, seria errado sugerir que Régamey ocupava uma posição reacionária com relação às
teorias da Kunstwollen: com toda a
probabilidade, ele ignorava os debates contemporâneos em língua alemã que
estavam ocorrendo. Ao contrário de suas contrapartes na história da arte, Régamey propunha que os artistas tinham a capacidade de
intervir nos desenvolvimentos estéticos por meio do esforço consciente, que
evoluía para predisposições inconscientes. Para cultivar uma sensibilidade
estética compartilhada entre os cidadãos franceses, portanto, os programas de
desenho precisavam ser cuidadosamente calibrados tendo em mente as técnicas
existentes (que haviam se tornado predisposições inconscientes). Isso porque o
estilo, em sua linha de raciocínio, resultava de práticas acumuladas ao longo
dos séculos. Régamey implicitamente argumentava que
introduzir novos métodos sem respeito às convenções existentes poderia
inviabilizar os “avanços” em arte.
56. Quando
Régamey caracterizava a mudança estilística como “travaux acumulés des générations” (trabalho
acumulado de gerações), ele não estava sozinho. Em um artigo sobre o ensino
artístico japonês antigo, publicado em 1903 com o título L’Enseignement
artistique au vieux Japon, Jules Pillet
traçou uma genealogia da prática do desenho japonês que remontava à caligrafia
chinesa.[91] Pillet era próximo de Régamey em
dois domínios: ele não apenas era um japonista (que, no artigo referido, citava
uma palestra de Régamey), mas também foi um instrutor
de desenho que ajudou a sistematizar o méthode
géométrique. Pillet,
como Régamey, acreditava que a arte funcionava de
acordo com uma lei que conduzia à perfeição, defendendo uma ideia hegeliana
popular na França que postulava estar toda a arte em uma "gênese
perpétua," como parte de sua evolução: “A arte está sempre em perpétua
gênese, muda constantemente, modifica as faturas para mantê-las em harmonia com
as novas necessidades da existência; mas nada é criado do nada, como Minerva
saindo totalmente armada da cabeça de Júpiter. Um estilo não pode ser
inventado, só existe como resultado da evolução natural da Arte!”[92]
57. Para legitimar
suas ideias sobre a mudança artística, Régameu e Pillet adotaram a difundida concepção de que os
procedimentos de desenho e escrita japoneses eram indistinguíveis entre si. Pillet, de fato, argumentava que a economia linear dos
artistas japoneses se originou na caligrafia chinesa [Figura 13]:
58.
Antes de pensar no retrato fiel da
natureza, os homens procuraram primeiro fixar uma silhueta simples, a memória
dos seres e das coisas: o hieróglifo posteriormente se transformará e se
desenvolverá em dois ramos bem distintos; simplificado excessivamente, o traço,
transformado em chave ou caractere, constituirá o elemento necessário para
qualquer linguagem escrita; ao contrário, embelezado, o traço se aproximará da fisiognomia do objeto natural e se tornará o arcabouço do
desenho artístico como o conhecemos. O símbolo precedeu o retrato do que nos
rodeia.[93]
59. Na
época em que Régamey conduziu seu estudo da formação
artístico no Japão, em 1899, ele também estava convencido de que a arte
japonesa derivava dos sistemas de escrita locais. Muitas de suas ideias eram
baseadas nos textos de Guimet. Pouco depois de sua
primeira viagem ao Japão em 1876, Guimet conectou a
arte japonesa aos seus procedimentos de escrita em Promenades
japonaises (1880): “Os artistas empregam em
seus trabalhos, procedimentos hieróglifos, o simbolismo e a simplificação, o
pensamento expresso em um traço.”[94] Não
está claro se Guimet, ao vincular o desenho à palavra
escrita, entendia tais sistemas de escrita como pictográficos. A escrita
japonesa, com sua combinação de kanji logográfico
e kana silábico, não é categorizada pelos
linguistas atuais como um sistema de escrita pictográfica. Independentemente
disso, a equivalência percebida entre desenho e escrita, que persistiu entre
japonistas como Guimet na segunda metade do século
XIX, não é apenas questão de desconhecimento. Em parte, os japonistas estavam
falando sobre o uso de pinceladas para compor caracteres e a preferência por
contornos bem delineados em certas práticas de desenho. As semelhanças visuais
entre linhas escritas e desenhadas provavelmente eram amplificadas no caso de Régamey: ao contrário dos desenhos caligráficos japoneses,
a prática artística dele era caracterizada pela supressão de linhas grossas e
visíveis e, em vez disso, Régamey priorizava a
cuidadosa modulação de tons. Em Le Japon pratique, ele de fato tirou
conclusões semelhantes a Guimet. Régamey
ali postulou que os japoneses “equipararam a arte caligráfica à arte do
desenho.”[95] Foi a
associação entre escrever e desenhar que levou Régamey
a concluir provocativamente no seu texto que: “No Japão, todo mundo desenha.”[96]
60. Contextualizado
em relação a discursos mais amplos sobre arte e civilização, pode-se especular
por que Régamey excluiu modelos artísticos japoneses
de seu currículo francês. Se, para ele, a arte era entendida como o acúmulo de
séculos de trabalho, sua decisão de suprimir os modelos japoneses na formação
de estudantes franceses teria sido uma forma de preservar o processo histórico
de mudança estilística francesa? Certamente, isso não significa que Pillet ou Régamey acreditavam que
os objetivos finais da produção artística em grupos culturais distintos eram
incompatíveis. Como Pillet asseverava,
61.
Apesar da diferença de costumes e épocas,
apesar das diferenças entre as raças, o espírito humano sempre parece idêntico
a si mesma; e, para representar a natureza, curvando-se às necessidades
variadas e respeitando convenções muitas vezes opostas, os mestres de todos os
países sempre ensinaram os mesmos bons princípios: mais do que um jovem
artista, sonhando em criar uma arte ou um estilo novos, faria bem em meditar
sobre e seguir as regras muitas vezes tão judiciosas dos antigos professores
chineses e japoneses.[97]
62. Apesar
das convenções representacionais distintas que existiam em todo o mundo, Pillet ponderava, os procedimentos básicos para fazer arte
pouco diferiam. Os escritos de Régamey sobre o Japão
e a pedagogia artística adotavam uma atitude semelhante. Como Pillet, Régamey elogiava os
métodos que Japão e França compartilhavam, como a ênfase no treinamento da
memória visual. No entanto, ele não recomendava a apropriação estilística. Eu
argumento que isso se dava porque eles acreditaram que a adoção de modelos de
outras culturas interromperia a "evolução" de uma determinada escola
nacional. Uma perspectiva semelhante a essa aparece em um ensaio de Guillaume
intitulado De l’esthétique dans
l’enseignement de l’art
(1886).[98]
Estudar a arte europeia ao lado da arte não-ocidental, afirmava Guillaume,
ofereceria uma visão sobre verdades universais sobre a história da arte. O que
diferia entre escolas de arte distintas tinha menos a ver com princípios ou
ideais artísticos do que com o efeito dos temas e modelos na trajetória
artística de uma determinada nação, como a França.[99]
63. Na
França do século XIX, acreditava-se que a arte era um dos muitos campos que
avançavam lado a lado e em conjunção com a civilização. Ela também refletia o
bem-estar físico e mental de uma determinada sociedade. Isso levou muitos
filósofos, críticos de arte e políticos a conectar as histórias da arte às
ideias de nação e raça. Uma tradução para o idioma inglês do Kunstgeschichtliche Grundbegriffe
(Princípios de História da Arte; 1915) de Heinrich Wölfflin
começa com uma passagem que lembra as próprias forças da identidade, do hábito
e da educação artística discutidas entre meados e fins do séc. XIX, por
filósofos, artistas, críticos e instrutores, como Régamey:
“Ludwig Richter relata [...] como, certa vez, quando estava em Tivoli em sua juventude, ele e três amigos começaram a
pintar a partir da paisagem, todos os quatro firmemente decididos a
absolutamente não se desviar da natureza; em embora o motivo fosse o mesmo,
[...] o resultado foi quatro pinturas totalmente diferentes.”[100]
64. Quando
Régamey e Kyōsai se
engajaram em seu duelo artístico, ambos trabalharam "do natural," mas
os produtos finais mostram diferenças estilísticas
conspícuas que exemplificam como a prática de cada artista era influenciada
pelas convenções que aprenderam. No entanto, enquanto Régamey
imaginava intervenções sancionadas pelo Estado no treinamento de hábitos
específicos de ver para impulsionar a civilização adiante, historiadores da
arte formalistas, como Riegl e Panofsky,
articularam mudanças artísticas a leis evolutivas impulsionadas por suas
próprias lógicas intrínsecas, em oposição a agências individuais.[101]
Embora tais abordagens tenham sido fortemente criticadas como teleológicas, a
concepção de estilo de Régamey oferece um modelo
alternativo (embora falho) para explicar a mudança estilística na prática
artística ao longo de longos períodos de tempo, que considera especialmente o
papel dos hábitos adquiridos ou procedimentos técnicos (e a forma como tais
procedimentos informam o efeito visual).
65. Para Régamey, a aquisição de hábitos explicava o cultivo de
estilos culturais e suas mudanças ao longo do tempo. Régamey
vinculou explicitamente o desenho e os hábitos que este exigia e engendrava em
uma cultura estatal. Ao fazer isso, ele essencialmente argumentava que o
cultivo da identidade nacional dependia do estabelecimento de uma conexão entre
hábitos corporais e um conceito correlato, o de "costumes coletivos."
Diferente do hábito, o costume se refere a comportamentos ou modos de
comportamento comumente aceitos, que são social e historicamente contingentes
(ou específicos de uma sociedade em particular, uma definição que ressoa até
hoje).[102] Nos
discursos sobre o hábito no século XIX, era comum estabelecer um elemento de
continuidade entre o hábito e o costume. Por exemplo, em seu Dictionnaire de la
langue française (1872-77), Émile Littré distinguia entre “coutume”
(costume) e “habitude” (hábito), para, em seguida,
especificar como os dois conceitos convergiam:
66.
O costume é objetivo, isto é, indica um
modo geral de ser ao qual nos conformamos. O hábito, ao contrário, é subjetivo,
isto é, indica um modo de ser que nos é pessoal e que determina nossas ações. O
hábito se transforma em uma necessidade; mas o costume nunca se torna isso.
Porém, também se diz: Tenho o costume ou tenho o hábito de tomar café, com a
nuance, porém, de que ter o costume apenas expressa o fato de que costumo tomar
café, enquanto ter o hábito expressa que uma certa necessidade a isso se
acrescenta.[103]
67. Littré,
portanto, explicava como os conceitos de costume e hábito eram usados para
entender a relação de alguém com, por exemplo, o café diário. O que distinguia
esses dois conceitos era que adotar e praticar certos costumes exigia agência
individual, ou seja, eram resultado do livre arbítrio, enquanto os hábitos se
referiam a comportamentos que se tornavam uma necessidade, uma prática
impensada que beirava a compulsão. No caso do consumo de café, no entanto,
muitas vezes é difícil de determinar se esta é uma prática impulsionada por
costume ou por hábito.
68. Para Régamey, os hábitos aprendidos que eram necessários para
produzir arte não podiam ser facilmente desvinculados do cultivo da identidade
nacional, e vice-versa. O que começava como um costume, assim como o consumo
diário de café, com o tempo se tornava um hábito, realizado de forma
inconsciente e transmitido por gerações. Em jogo na sala de aula estaria,
então, a doutrinação de hábitos que podiam levar uma sociedade à degeneração,
em vez de contribuir para a tendência universal rumo à perfeição. Isso
acontecia porque a formação artística a partir de modelos preexistentes (em vez
da natureza) implicava em certas convenções representacionais e, portanto,
reforçava qualidades que incorporavam períodos e lugares artísticos distintos.
Por exemplo, ao exigir que os alunos copiassem esculturas antigas, a Académie francesa reforçou por dois séculos a
primazia do estudo da figura humana e dos tipos ideais. Portanto, para Régamey, o material - ou “fontes” - introduzido nas salas
de aula podia ter um efeito enorme sobre os indivíduos e a sociedade como um
todo.
69. A
perspectiva de Régamey pode parecer uma abordagem
incomum do conceito de hábito. A ideia de que leis universais eram análogas ao
hábito (e à sua aquisição) permeava os discursos filosóficos e evolucionários
de meados ao final do século XIX.[104] No
domínio da teoria da evolução de Lamarck, por exemplo, uma série de pensadores descreveu
os instintos como hábitos adquiridos: os instintos eram, nesta linha de
investigação, uma série de memórias inconscientes que eram herdadas.[105]
Quando Régamey atribuiu certas qualidades instintivas
inatas aos japoneses, ele não considerava necessariamente que esses atributos
estavam desvinculados do trabalho realizado em sala de aula. Para Régamey, os hábitos transmitidos entre indivíduos em uma
determinada sociedade tinham um significado distinto: eles ganhavam um propósito
teleológico e, nesse sentido, visavam a um resultado desejado.
70. Em
conclusão, as contribuições de Régamey para a
pedagogia comparativa da arte e a educação do desenho não podem ser
desvinculadas das discussões nacionalistas que permearam o pensamento francês
no final do século XIX. Ao mesmo tempo em que o Estado francês encorajou o
comércio global - como quando, por exemplo, patrocinou a viagem de Régamey ao Japão -, o cultivo e a manutenção de identidades
nacionais francesas e japonesas exclusivas eram fundamentais para os discursos
artísticos que floresceram na França. Isso levou Régamey
a celebrar a arte japonesa e, simultaneamente, a alertar contra a apropriação
de suas características estilísticas. Semelhante ao duelo artístico que
introduziu este artigo, Régamey não só tinha a arte
japonesa em grande estima, mas também a via como um oponente que ameaçava os
hábitos artísticos franceses e o futuro de sua identidade nacional.
Tradução
do inglês por Arthur Valle
______________________________
Mary
Hunter e Matthew Hunter merecem um reconhecimento especial por todo o apoio e feedback
que ofereceram enquanto eu realizava este projeto. Também agradeço aos revisores
anônimos e aos editores de Nineteenth-Century
Art Worldwide por
avaliarem criticamente meu trabalho. Da mesma forma, seria negligente não
reconhecer a generosidade das múltiplas instituições e oportunidades de bolsa
que me permitiram realizar esta pesquisa. Isso inclui a equipe das bibliotecas
da Universidade McGill e da Universidade da Califórnia,
em Santa Bárbara; Media@McGill;
o Institut Français d’Amérique; Wolfe Chair Graduate Fellowship in Scientific and Technological Literacy; e o Max Stern Museum Fellowship.
* Originalmente publicado como:
COOPERSTEIN, Shana. Putting Cultural Customs on the “Line”: Félix Régamey, Japonisme, and National
Art Education. Nineteenth-Century Art Worldwide, v. 19, n. 1 (primavera
2020), https://doi.org/10.29411/ncaw.2020.19.1.3
** Shana Cooperstein é especialista
na arte do longo século XIX, particularmente no que diz respeito às práticas
materiais de produção artística, teoria representacional e história da imagem
científica. Conforme demonstrado por suas publicações em Leonardo, Nineteenth-Century Art Worldwide e Gray Room, entre outras, sua
investigação interdisciplinar é motivada por questões não resolvidas sobre o
papel da percepção sensorial humana no desenvolvimento de estratégias de fazer
arte. “Habit’s Demise: Drawing Pedagogy in Modern France," um livro que ela está atualmente
desenvolvendo a partir de sua pesquisa de doutorado, examina a esquematização,
a educação do olhar e outros problemas centrais para a história do ensino de
arte na era moderna.
Cooperstein é atualmente Professora
Assistente de História da Arte no Anne Arundel
Community College (AACC). Ela se juntou ao corpo
docente da AACC depois de ocupar cargos de ensino na University
of Chicago, na Villanova University,
no Community College of
Philadelphia e na McGill University.
Sua
pesquisa foi apoiada por: Osler Library of the History of Medicine, Institut Français d’Amérique, Media@McGill, Wolfe
Chair Graduate Fellowship in Scientific and Technological Literacy, e Max Stern
Museum Fellowship.
[1] Na época em que este
episódio ocorreu, os duelos haviam se tornado um modo popular de entretenimento
entre a crescente burguesia francesa. Ansiosa por se apropriar dos códigos de
honra historicamente associados à nobreza, a nova classe dominante encenou tais
disputas publicamente (em especial dentro dos círculos políticos e
jornalísticos) para resolver disputas nas quais a glória de um homem estava em
jogo. Enquanto os duelos eram praticados entre homens de igual habilidade e
posição social, a ameaça de lesão passou a significar a integridade, o heroísmo
e a masculinidade de um indivíduo. Os duelos exigiam coragem e autodisciplina.
Os participantes eram obrigados a dominar e cumprir um conjunto de regras e
protocolos codificados. Ver: NYE, Robert A.. Honor and the Duel in the Third Republic, 1860–1914. In:
NYE, Robert A.. Masculinity and Male Codes of Honor
in Modern France. Berkeley: University of California Press, 1998, p.
172–215; GUILLET, François. The Duel and the Bourgeoisie in 19th-Century
France. Revue
d’histoire du XIXe siècle, 34 (2007), p. 55–70.
[2] O primeiro volume
concentra-se na excursão da dupla a Yokohama e Kamakura,
enquanto o segundo resume sua viagem a Tóquio e Nikkô.
Em um capítulo intitulado “Un duel,” Guimet relata a escaramuça, por assim dizer, entre os dois
artistas. Ver: GUIMET, Émile; RÉGAMEY, Félix. Promenades
japonaises. Paris: Charpentier,
1878; GUIMET, Émile; RÉGAMEY, Félix. Promenades
japonaises: Tokio-Nikko.
Paris: C. Charpentier, 1880.
[3] Sobre os métodos de
educação artística de Kyōsai, ver: JORDAN,
Brenda G.. Kawanabe Kyōsai’s Theory and Pedagogy: The
Preeminence of Shasei. In: JORDAN, Brenda G.;
WESTON, Victoria. Copying the Master and Stealing His Secrets: Talent
and Training in Japanese Painting. Honolulu: University of Hawai’i Press, 2003.
[4] Promenades
japonaises de Guimet
apresenta, no entanto, um segundo retrato de Kyōsai
em seu estúdio, feito por Régamey. Ver: GUIMET;
RÉGAMEY, Promenades japonaises,
p. 189.
[5] GUIMET; RÉGAMEY, Promenades japonaises:
Tokio-Nikko, p. 191. O incidente não estava
desvinculado de um desejo de prestígio, uma vez que beneficiava a posição
social de cada artista. Para o público francês, a primeira turnê de Régamey pelo Japão fez dele uma autoridade amplamente
aceita no japonismo, ao lado de Philippe Burty, dos
irmãos Goncourt e de Ernest Chesneau, para citar
alguns nomes. Quando Régamey e Guimet
publicaram o relato de sua visita ao estúdio de Kyōsai,
eles por sua vez apresentaram o pintor japonês a um público europeu ansioso por
consumir a produção cultural japonesa.
[6] Nos relatos escritos,
os duelos costumavam fazer alusão a batalhas travadas entre duas nações. Ver: NYE, Robert A.. Fencing, the
Duel and Republican Manhood in the Third Republic. Journal of
Contemporary History, 25, n. 2/3, mai.-jun.
1990, p. 372.
[7] Sobre a relação do
japonismo com a identidade nacional francesa, e sobre a complexa recepção
crítica da arte japonesa na França, ver: DANDONA, Jessica M., Nature and the Nation
in Fin-de-Siècle France: The Art
of Emile Gallé and the
École de Nancy. London: Routledge, 2017.
[8] Em estudos recentes de
Christopher Reed e Ting Chang, Régamey foi
posicionado ao lado dos escritores, colecionadores e artistas mais comumente
associados ao japonismo, como Theodore Duret, Émile Guimet e Vincent van Gogh. Ver:
REED, Christopher. Introduction. In: The Chrysanthème
Papers: The Pink Notebook of Madame Chrysanthème
and Other Documents on French Japonisme. Honolulu:
University of Hawai’i Press, 2010, p. 1-60; CHANG, Ting. The Labor of Travel: Guimet and Régamey in Asia. In:
Travel, Collecting, and Museums of Asian Art in Nineteenth-Century Paris.
Farnham, UK: Ashgate, 2013, p. 73-110; CHANG, Ting. Paris, Japan
and Modernity: A Vexed Ratio. In: CLAYSON, Hollis; DOMBROWSKI, André
(ed.). Is Paris Still the Capital of the Nineteenth Century? Essays on
Art and Modernity,
1850–1900. Abingdon, UK: Routledge,
2016, p. 153-170.
[9] A ideia de que teorias
sobre o hábito e as práticas habituais podem oferecer um método de análise para
a história da arte foi proposta em estudos recentes por Adi Efal-Lautenschläger.
Ver: EFAL-LAUTENSCHLÄGER, Adi. Habitus as Method:
Revisiting a Scholastic Theory of Art. Leuven, Belgium: Peeters,
2017.
[10] KAREL, David. Dictionnaire
des artistes de langue française en Amérique du Nord. Laval, France: Les Presses de l’Université Laval, 1992, p. 681-682. Régamey também foi contratado
por um breve período como instrutor na École Spéciale
d'Architecture, uma instituição privada fundada
por M. Emile Trélat. Ver: Ça
et la. Gil Blas, 2 jun. 1907, n.p.
[11] Cópias do jornal se
encontram hoje no Musée Carnavalet. Para uma
descrição de seu conteúdo, ver: MAILLARD, Firmin. Histoire
des journaux publiés à Paris pendant le siège et sous la
Commune: 4 septembre
1870 au 28 mai 1871. Paris: E. Dentu, 1871, p. 24-25.
[12] Art in the Cities. The Art Journal, 6 (1880), p. 62; Régamey, Félix. À Chicago il y a vingt ans. Le Tour du monde, 20 mai. 1893, p. 305-20. No entanto, o Art Institute não tem
documentação conhecida que comprove isso.
[13] Para fontes detalhando
esse itinerário, ver: OMOTO, Keiko; MACOUIN, Francis.
Quand le Japon s’ouvrit au monde. Paris:
Gallimard/Réunion des Musées Nationaux Histoire, 1990,
p. 60-61, 66; e MACOUIN, Francis; CHAPPUIS, Françoise. D’Outremer
et d’Orient mystique: Les
Itinéraires d’Émile Guimet.
Sully-la-Tour, France: Éditions Findakly, 2001.
[14] Por exemplo, ver:
GUIMET, RÉGAMEY, Promenades japonaises, 1878, 1880. O interesse de Régamey no japonismo também o levou a participar da Société
Franco-Japonaise em Paris.
[15] PROTH, Mario. Voyage au pays des peintres: Salon universel de 1878. Paris: Ludovic Baschet,
1879, p. 324.
[16] Les collections de M. Guimet, au Trocadéro. L’Illustration, 16 nov. 1878, p. 310.
Essa também se tornou a base para o Musée Guimet,
dedicado às arts asiatiques
(artes asiáticas) e que foi estabelecido pela primeira vez em Lyon em 1879,
mudando-se para Paris em 1889.
[17] DE TROGOFF, Christian. Courrier des Théâtres. Gil
Blas, 31 mai. 1884; Le Diable Boiteux.
Nouvelles & Echos. Gil
Blas, 16 nov. 1880.
[18] Courrier de l’art, 30 mai. 1884, p. 270; TISSANDIER, Gaston.
Les Soirées de dessin de Félix Regamey [sic]. La
Nature, 4 jun. 1881.
[19] Não está claro quando
exatamente Régamey foi contratado pela primeira vez.
Dezenove inspetores foram contratados pelo estado em 1881. Em transcrições não
publicadas de reuniões realizadas em 1876 para discutir o currículo de desenho
no ensino secundário francês, um participante (Bardoux)
demandou 51.000 francos para financiar a contratação de dezessete inspetores de
instrução de desenho. Ver: Procès-verbaux des séances de la Commission de l’organisation
de l’enseignement du dessin, 1876. In: Procès-
verbaux de Commissions
1876–1883, F21 7540, Archives Nationales, Paris.
Para saber se Régamey estava ou não entre os
contratados naquele ano, seria necessário revisitar os arquivos. É certo que
ele tinha o emprego já em 1884, pois, em um texto desse ano, um autor observa
que: “M. F. Régamey a été nommé récemment inspecteur de l’enseignement du dessin dans
les écoles de la ville de Paris.” Ver: Chronique. Bulletin/Société historique et Cercle Saint-Simon. 1884, p. 161.
[20] Avanços significativos
na história da educação do desenho na França foram feitos. Ver:
GENET-DELACROIX, Marie-Claude; TROGER, Claude. Du dessin
aux arts plastiques, histoire d’un enseignement. Orléans,
France: C. R. D. P. de la Région
Centre, 1994; LAURENT, Stéphane. L’art utile: Les Écoles d’arts
appliqués sous le Second Empire et la Troisième République. Paris: L’Harmattan,
1998; LAURENT, Stéphane. Les Arts appliqués en
France: Genèse d’un enseignement.
Paris: Éditions du C.T.H.S., 1999; D’ENFERT, Renaud. L’Enseignement
du dessin en France: Figure humaine
et dessin géométrique (1750–1850). Paris:
Belin, 2003; BONNET, Alain. L’Enseignement
des arts au XIXe siècle: La Réforme
de l’École des Beaux-Arts de 1863 et la fin du modèle académique. Rennes,
France: Presses Universitaires de Rennes, 2006;
POULOT, Dominique; PIRE, Jean-Miguel; BONNET, Alain (eds.). L’Éducation
artistique en France du modèle académique et scolaire aux pratiques actuelles XVIIIe-XXIe siècles. Rennes, France: Presses Universitaires de Rennes, 2010; NERLICH, France; BONNET,
Alain (eds.). Apprendre à peindre: Les Ateliers privés
à Paris 1780–1863. Tours, France: Presses Universitaires
François-Rabelais, 2013; BONNET, Alain; LAVIE, Juliette; NOIROT, Julie; RINUY,
Paul-Louis (eds.). Art et transmission: L’Atelier
du XIXe au
XXIe siècle. Rennes,
France: Presses Universitaires
de Rennes, 2014.
[21] Sobre o método de Guillaume
e os notórios debates que se seguiram entre Ravaisson
e Guillaume, ver: MONNIER, Gérard. L’Art et ses
institutions en France:
De la Révolution à nos jours. Paris: Gallimard, 1995, p. 234-235; LAURENT, Les
Arts appliqués en France, p. 124-125; GENET-DELACROIX,
TROGER, Du dessin aux arts plastiques, histoire d’un enseignement,
p. 322-323; BONNET, Alain. L’Introduction du dessin
dans le système public d’enseignement
au XIXe siècle. In: BONNET, LAVIE, NOIROT,
RINUY, Art et Transmission, p. 263-228; D’ENFERT, L’Enseignement
du dessin en France; NESBIT, Molly. Ready-Made
Originals: The Duchamp Model. October, 27 (verão 1986), p. 53-64; NESBIT, Molly. Their Common
Sense. London: Black Dog Publishing Limited, 2000; CANALES, Jimena.
Movement before Cinematography: The High-Speed Qualities of Sentiment. Journal
of Visual Culture, 5, n. 3, 2006, p. 275-294.
[22] L. G. [Louis Guébin]. L’Enseignement actuel du dessin: Son esprit, ses
consequences. Revue des arts décoratifs, n. 13,
1892-93, p. 121; POTTIER; E.; SERVIER, M.. Conseil
aux instituteurs sur les nouveaux programmes de l’enseignement du dessin. Paris: Hachette, 1909,
citado em: D’ENFERT,
Renaud; BOYER, Myriam. Le Dessin s’émancipe: Vers un nouvel équilibre? (1909-années 1960). In:
Un Art pour tous: Le Dessin à l’école de 1800 à nos jours. Paris: Institut National de Recherche Pédagogique,
2004, p. 66.
[23]
BRUNET, O.. L’Enseignement du dessin dans le secondaire, 1852–1946: Émergence
et évolution de la discipline. Mémoire
de DEA en sciences de l’éducation
à l’Université Paris V, p. 79, citado
em: D’ENFERT, BOYER, Le dessin s’émancipe,
p. 66.
[24] Association
amicale des professeurs de
dessin de la ville de Paris. Chronique
du journal général de l’imprimerie
et de la librairie. 4. jan.
1890, p. 4; Le Problème de l’enseignement
du dessin (panfleto de Félix Régamey),
Caixa F21 4336, Folder “Régamey, Félix,” Archives Nationales, Paris.
[25] No entanto, suas
importantes contribuições para os discursos pedagógicos não passaram
completamente despercebidas por seus contemporâneos. Na virada do século, estes
estavam familiarizados não apenas com seu trabalho mais antigo, mas também com
suas publicações mais recentes sobre filosofia e prática pedagógica, publicadas
em 1906 como um manual intitulado Le Problème de l’enseignement du dessin. Ver: VAUXCELLES, Louis. Félix Régamey. Gil Blas, 7 mai. 1907, p. 1; RÉGAMEY,
Félix. Le Problème de l’enseignement
du dessin. Paris:
Bernard, 1906.
[26] VAUXCELLES, Félix Régamey, p. 1.
[27] “La faute capitale de
la méthode qui est en honneur aujourd’hui en France - la géométrique - est de
favoriser les spéculations de l’esprit au détriment de l’organe de la vision,
l’œil, dont le développement importe avant tout, et exige une culture spéciale,
plus nécessaire que celle de la main certainement.” Ver: RÉGAMEY, Félix. Le
Dessin à l’école primaire. In: Préface, patronage, comités,
adhésions, conférences préparatoire, programme, discours d’ouverture, travaux,
résolutions, rapport général, ed. IIIe Congrès international de l’Art
Public, p. 1- 7 (publicado em conjunto com a Exposition Universelle de
Liége, 1905); Séances Plénières: Rapport sur les travaux de la première section, Préface, patronage, comités…, p. 1.
[28] RÉGAMEY, Félix. Le Japon pratique.
Paris:
J. Heizel et Cie, 1891. Ele
também publicou um artigo sobre técnicas de desenho japonesas. Ver: RÉGAMEY,
Félix. Le Dessin d’après les Japonais. Supplément
au Petit français illustré: Journal des écoliers et des écolières, n. 127, 1 ago.
1891, n.p.
[29] “La mère
ou le maître guide l’enfant, non en lui conduisant
la main, comme chez nous, mais en tenant par le
bout du manche, le pinceau qu’il
dirige,” Régamey declarou. Em outra passagem, ele
afirma: “On enseigne de même à dessiner; ces deux études
sont simultanées.” RÉGAMEY, Le Japon pratique,
p. 170.
[30] RÉGAMEY, Le Japon pratique, p. 238.
[31] RÉGAMEY, Félix. Le Dessin et son enseignement dans les écoles de Tokio. Paris: Atelier F. Régamey, 1899. Quando Régamey
viajou para o Japão para desenvolver sua pedagogia comparativa de arte, não foi
a primeira vez que o Estado francês o contratou para avaliar modelos de desenho
estrangeiros. Por causa de seu sólido conhecimento da língua inglesa, ele
também revisou programas de arte e design dos Estados Unidos duas décadas
antes. Em 1879, Régamey viajou para os Estados Unidos
pela segunda vez para estudar os sistemas ali existentes de instrução de
desenho. Este projeto culminou com a publicação, em 1881, de L'Enseignement du dessin aux Etats-Unis:
Notes et documents, um resumo dos vários sistemas
de desenho implantados em escolas públicas, academias de arte e institutos
técnicos em Nova York, Filadélfia, Baltimore, Saint Louis, Chicago e
Washington. Régamey observa, em sua avaliação dos
Estados Unidos, que o estado do ensino de desenho “est devenu
pour les esprits éclairés la grande préoccupation du moment” (se tornou, para os
espíritos esclarecidos, a grande preocupação do momento). Ver: RÉGAMEY, Félix. L’Enseignement du dessin aux Etats-Unis: Notes et documents.
Paris: Librairie Ch. Delagrave,
1881, p. 10.
[32] MAINARDI, Patricia. The
End of the Salon: Art and the State in the Early Third Republic. Cambridge:
Cambridge University Press, 1993.
[33] WESTON,
Victoria. Japanese Painting and National Identity: Okakura and His
Circle. Ann Arbor: Center for Japanese Studies, The University of Michigan,
2004.
[34] WESTON,
Japanese Painting and National Identity, p. 63.
[35] O Japão não fosse uma colônia
oficial de qualquer nação ocidental e a assimilação de costumes estrangeiros
pelo Estado japonês foi motivada pela força. Em 1853, o Comodoro Perry ali
chegou, com apoio militar, para garantir a aceitação japonesa de acordos
comerciais. Sobre os estudos recentes a respeito da história política e
cultural do Japão na segunda metade do século XIX, ver: RAVINA, Mark. To Stand with the Nations of the World:
Japan’s Meiji Restoration in World History. Oxford: Oxford University Press,
2017.
[36] WESTON,
Japanese Painting and National Identity, p. 63.
[37] No Reino Unido, a
frequência para crianças menores de dez anos tornou-se obrigatória em 1880. Nos
Estados Unidos, Massachusetts promulgou a primeira legislação voltada para a
instituição do ensino público universal em 1852. Alguns Estados, no entanto,
somente adotaram medidas semelhantes na década de 1920.
[38] RÉGAMEY, Le Dessin et son enseignement dans les écoles de Tokio. Régamey também aproveitou a
segunda viagem como oportunidade para publicar mais textos ilustrados sobre a
cultura japonesa. Esses textos recenseavam a formação artística e a cultura
japonesa para o público ocidental. Enquanto Régamey
elaborou seu ensaio sobre pedagogia comparativa para instrutores e políticos
franceses ávidos por avaliar métodos alternativos de treinamento em um mercado
de arte e design industrial em rápida globalização, Le Japon en images oferecia ao público
francês uma visão do cotidiano e dos costumes dos japoneses. Ver: RÉGAMEY, Félix. Japón. Paris: P. Paclot,
1900; RÉGAMEY, Félix. Le Japon
en images. Paris: Paclot, 1900.
Um trecho da obra de 1899 também foi publicado como um artigo. Ver: RÉGAMEY,
Félix. L'Enseignement du dessin dans les
écoles de filles au Japon. Revue des arts decoratifs, 1900, p.
113-124. Há evidências que sugerem que ele também realizou uma exposição em
Paris, no Cercle de la
Librairie, Boulevard Saint-Germain n. 117, em
conjunto com seus achados. Ver: Concours et expositions: Expositions nouvelles. La Chronique des arts et de la curiosité, 19 jul. 1902,
p. 212.
[39] Para mais informações
sobre o ensino de desenho no Japão do século XIX, ver: JORDAN, Brenda G.. Copying from Beginning
to End? Student Life in the Kano School, Copying the Master
and Stealing His Secrets, p. 31-59.
[40] Por exemplo, anos
antes, ele hesitou em apoiar a padronização dos regimes de desenho e celebrou a
diversidade de métodos encontrados nos Estados Unidos. Longe de propor uma
prática singular, ele acreditava que as técnicas de desenho deveriam
corresponder à sua aplicação. Essa crença emergiu de forma mais evidente na
conclusão de seu exame da pedagogia do desenho nos Estados Unidos, na qual Régamey discutiu seus achado em relação ao status quo
na França.: “Très judicieusement
on pense que le moyen d’intéresser sérieusement les villes au développement
des écoles de dessin n’est pas de leur imposer un
enseignement uniforme [...] Approprié
aux besoins de la production locale,
cet enseignement a bien plus de chance d’être apprécié” (Muito criteriosamente, acredita-se que a forma
de interessar seriamente as cidades no desenvolvimento das escolas de desenho
não é impor-lhes um sistema de ensino uniforme [...] Se adequada às
necessidades da produção local, essa educação tem muito mais chance de ser
apreciada). Ver: RÉGAMEY, L’Enseignement du dessin aux
États-Unis, p. 119. Ele foi citado
problematizando uma questão semelhante na publicação Commission d’enquête sur la
situation des ouvriers et des industries d’art: Instituée par décret en date du 24 décembre 1881. Paris: Imprimerie de A. Quantin,
1884, p. 123: “Vous pensez
bien que l’enseignement du dessin
est unique; vous demandez qu’on apprenne le dessin, indépendamment de la préoccupation
de la matière à laquelle on devra l’appliquer?”
(Vocês
pensam realmente que o ensino de desenho é único? Vocês pedem que aprendamos a
desenhar, independentemente da preocupação do material ao qual teremos que
aplicá-lo?).
[41] RAVINA,
To Stand with the Nations of the World.
[42] Ao mesmo tempo em que
muitos pensadores, como Régamey e Guimet,
eram oponentes declarados da importação de estilos e procedimentos ocidentais
para o Japão, havia um debate acalorado nos círculos artísticos japoneses sobre
a esterilidade dos tradicionais modelos de ateliê. Em reação tanto à
insatisfação com os modelos ocidentais quanto os modelos japoneses antigos, uma
filosofia pedagógica alternativa emergiu nos discursos artísticos japoneses,
clamando por um novo sistema que pudesse melhor cultivar a identidade nacional.
Começando na década de 1880, a ideia de que a arte deveria apoiar uma
identidade nacional exclusivamente japonesa levou ao surgimento de novos
regimes pedagógicos em todo o Japão. Um forte defensor de tais medidas foi
Ernest Fenollosa (1853-1908), um estadunidense que
trabalhava como professor na Universidade Imperial de Tóquio em 1878. Embora
tivesse sido contratado para ensinar economia política, Fenollosa
tornou-se cada vez mais preocupado com o estado da produção artística no Japão
e as reformas a ela associadas. Fenollosa não apenas
recomendava a recusa dos sistemas de desenho importados dos Estados Unidos e da
Europa Ocidental, mas também incentivava a modernização dos sistemas de desenho
existentes para melhor refletir o que os japoneses viam como sua identidade
nacional. Ao lado de Okakura Kakuzo,
ele estabeleceu um currículo na Escola de Belas Artes de Tóquio (Tokyo Bijutsu Gakko; hoje conhecida como Universidade de Belas Artes
e Música de Tóquio, Tokyo Geijutsu Daigaku). A função
desta instituição era, conforme observado por Régamey,
“conserver et de développer
l’art caractéristisque du Japon” (conservar e desenvolver a arte característica do
Japão). Ver: WESTON, Japanese Painting and National
Identity, p. 59; RÉGAMEY, Le Dessin et son enseignement,
p. 49.
[43] CONANT,
Ellen. Nihonga Transcending the Past: Japanese-Style Painting,
1868-1968. Saint Louis, MO: The Saint Louis Art Museum, 1995, p. 6.
[44] RÉGAMEY, Le Dessin
et son enseignement dans les écoles de Tokio, p. 22.
[45] “[…] sans
toutefois donner de résultats bien marqués.” RÉGAMEY, Le Dessin
et son enseignement dans
les écoles de Tokio, p. 22.
[46] “[…] dépourvus
d’intérêt.” RÉGAMEY, Le Dessin
et son enseignement dans
les écoles de Tokio, p. 7.
[47] GUIMET,
RÉGAMEY, Promenades japonaises:
Tokio-Nikko, p. 113.
[48] “Au moment
où nous introduisons
au Japon les moeurs, les usages, les coutumes et les arts de l’Occident, aurais-je la ridicule pretention de vous engager à soumettre l’art français à l’art japonais?” Chesneau, Ernest, L’Art japonais: Conférence faite à l’Union centrale des beaux-arts appliqués à l’industrie. Paris:
A. Morel, 1869, p. 27-28.
[49] Uma exceção é o livro
de Dandona, Nature
and Nation in Fin-de-Siècle
France.
[50] Para uma breve
introdução a este conceito, ver: SCHWARTZ, Vanessa. Civilization
and Empire. In: Modern France: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press,
2011, p. 40-45.
[51] WEISBERG, Gabriel. Lost and Found: S. Bing’s Merchandising of Japonisme and Art Nouveau. Nineteenth-Century Art
Worldwide, v. 4, no. 2 (verão 2005). Disponível em: http://www.19thc-artworldwide.org/summer05/212-lost-and-found-s-bings-merchandising-of-japonisme-and-art-nouveau- ; WEISBERG, Gabriel.
Philippe Burty and Early Japonisme.
In: Japonisme in Art: An
International Symposium. Tokyo: Committee for the Year 2001, 1980,
p. 109-25; WEISBERG, Gabriel. The Independent Critic: Philippe Burty and the Visual Arts of Mid-Nineteenth- Century
France. New York: P. Lang, 1993; WEISBERG, Gabriel. et al..
Japonisme: Japanese Influence on French Art,
1854-1910. Cleveland, OH: Cleveland Museum of Art, 1975; DANDONA, Nature and
the Nation in Fin-de-Siècle France.
[52] “Le vieux Japon
s’écroule, la civilisation marche à grand pas - comme on dit - les lampes à pétrole, les gibus, et les parapluies
sévissent assez généralement.” OMOTO, MACOUIN, Quand le Japon s’ouvrit au monde, p. 66.
[53] “J’assiste à la fin de ce monde merveilleux, artistique, poétique, plein de douceur
qui s’en va sombrer dans le sombre fatras de la civilization.” OMOTO, MACOUIN, Quand
le Japon s’ouvrit au monde, p. 68.
[54] “C’est à faire dresser
les cheveux sur la tête du
plus chauve des rapins.” OMOTO, MACOUIN, Quand le Japon s’ouvrit au monde, p. 68.
[55] Este texto foi
publicado pela primeira vez em La Plume em outubro de 1893.
[56] O texto de Loti foi publicado pela primeira vez, em forma de série, em
Le Figaro, em 1887, e depois como um livro, em 1888.
[57] REED, Introduction, p.
1.
[58] REED, Introduction, p.
31.
[59] RÉGAMEY, The Chrysanthème Papers, p. 153.
[60] RÉGAMEY, The Chrysanthème Papers, p. 68-69.
[61] RÉGAMEY, The Chrysanthème Papers, p. 68-69.
[62] Não é por acaso que
essas habilidades eram as mesmas defendidas pelo próprio instrutor de Régamey, Horace Lecoq de Boisbaudran. Cerca de quarenta anos depois de se matricular
no ateliê de Lecoq na Petite
École, Régamey escreveu a primeira e única
biografia dedicada exclusivamente à vida e ao legado de seu professor. Ver:
RÉGAMEY, Félix. Horace Lecoq de Boisbaudran et ses élèves, notes et souvenirs. Paris: H. Champion, 1903.
[63] RÉGAMEY, Le Dessin et son enseignement
dans les écoles de Tokio, p. 40.
[64] RÉGAMEY, Félix. Japan in Art and Industry: With a Glance at
Japanese Manners and Customs. Tradução M. French
Sheldon e Eli Lemon Sheldon. London: G. P. Putnam Sons, 1893, p. 22-23.
[65] RÉGAMEY,
Japan in Art and Industry, p. 21-22; RÉGAMEY, Félix. Le Japon vu par un
artista. Revue politique
et littéraire: Revue bleu, 1890, p. 652.
[66] Na segunda metade do
século XIX, essa perspectiva tornou-se muito comum entre artistas conhecidos
pelo seu "primitivismo", mais notoriamente nas descrições do Taiti
feitas por Paul Gauguin.
[67] RÉGAMEY, Japan in
Art and Industry, p. 24.
[68] RÉGAMEY, Japan in
Art and Industry, p. 23-24.
[69] RÉGAMEY, Japan in Art and Industry, p. 25.
[70] Um grande defensor da
“linha serpentinada” na segunda metade do século XIX
foi o filósofo e teórico pedagógico Félix Ravaisson. Ver: VIOLA, Tullio. The Serpentine Life of Félix
Ravaisson: Art, Drawing, Scholarship, and Philosophy.
In: RATH, Markus; FEIST, Ulrike (ed.). Et in Imagine Ego: Facetten von Bildakt und Verkörperung, Berlin: Akademie Verlag, 2012, p. 155-174.
[71] RÉGAMEY, Le Dessin d’après les Japonais, n.p.
[72] RÉGAMEY, Le Dessin d’après les Japonais, n.p.
[73] RÉGAMEY, Le Problème de l’enseignement du dessin.
[74] RÉGAMEY, Le Problème de l’enseignement du dessin, p. 12; RÉGAMEY, Le dessin
à l’école primaire, p. 1-7.
[75] RÉGAMEY, Le Problème de l’enseignement du dessin, p. 16.
[76] “Alors que vous ne sauriez-vous remémorer le détail des traits du visage d’un de vos amis éloignés; que vous ne pourriez dire
comment il a la barbe taillé et même s’il en a; que, par conséquent, fussiez-vous bon peintre, il vous
serait impossible d’en donner une image ressemblante, le ‘je ne sais quoi’
qui distingue cet homme des
autres hommes fera, que, du plus loin que vous l’apercevrez, vous le reconnaîtrez instantanément. C’est le triomphe du sentiment - de la physionomie.”
RÉGAMEY, Le Problème de l’enseignement
du dessin, p. 20.
[77] Sobre as maneiras
como a memória visual pode abstrair, ver: CHU, Petra Ten-Doesschate, Eye,
Memory, Hand: The Nineteenth-Century Debate about the Role of Visual Memory
in the Creative Process. Groningen, Netherlands: The Gerson Lectures
Foundation, 2011.
[78] RÉGAMEY,
Le Problème de l’enseignement
du dessin, p. 16-17.
[79] RÉGAMEY,
Le Problème de l’enseignement
du dessin, p. 22
[80] “C’est aux prix d’un
travail persistant que le Conscient, alimentant l’Inconscient, lui fournit les réflexes nécessaires au perfectionnement du pouvoir d’expression.” RÉGAMEY, Le Problème de l’enseignement du dessin, p. 22-23.
[81] RÉGAMEY,
Le Dessin et son enseignement
dans les écoles de Tokio,
p. 19.
[82] RÉGAMEY, Le Dessin et son enseignement dans les écoles de Tokio, p.
19.
[83] RÉGAMEY, Le Dessin et son enseignement dans les écoles de Tokio, p.
18.
[84] RÉGAMEY, Le Problème de l’enseignement du dessin; Ch. L… L’Enseignement
du dessin (Ce qu’il est, ce qu’il doit
être). La Construction
moderne, 29 mar. 29, 1902, p. 307–308.
[85] “Vouloir
substituer de toutes pièces notre art de peindre à celui des japonais, serait une faute, - j’allais dire un crime.” RÉGAMEY, Le Dessin et son enseignement dans les écoles de Tokio, p.
48.
[86] “Il
ne suffit pas de s’en tenir
à la superficie des choses, et l’adoption
irréfléchie de formules neuves
est tout aussi pernicieuses qu’est paralysante la copie servile des oeuvres du passé.” RÉGAMEY, Le Japon en images, n.p.
[87] Na
página 37 de Le Problème de l’enseignement
du dessin, Régamey escreveu: “Frappés des résultats surprenants obtenus par les aquarellistes japonais, quelques personnes ne sont
demandé s’il n’y aurait pas avantage
à appliquer le pinceau à l’étude. Vaine illusion. Ce procédé favorise la production, il ne convient
pas à la recherche.
Ces deux actes bien distincts, sont trop souvent confondus.
C’est pour
n’avoir pas tenu un compte suffisant de cette distinction que la plupart des méthodes
d’enseignement actuelles pêchent par la base”
(Impressionados pelos resultados surpreendentes obtidos pelos aquarelistas
japoneses, algumas pessoas se perguntam se não seria benéfico aplicar o pincel
no estudo. Ilusão vã. Esse processo favorece a produção, não é adequado
para pesquisa. Esses dois atos muito distintos são frequentemente
confundidos. É por não ter levado suficientemente em conta esta distinção que a
maioria dos métodos de ensino atuais são falhos desde sua base).
[88] “Qui dit Art dit Civilisation. La civilisation marche à pas lents et le temps détruit rapidement ce qu’on a fait
sans lui. | C’est par l’enchaînement des travaux accumulés
des générations que le progrès
s’achève.” RÉGAMEY, Japon en images, n.p.
[89] Como notou Dandona, “A ideia de uma arte em contínuo desenvolvimento
também era particularmente atraente para os críticos franceses, que acreditavam
que o historicismo havia interrompido a evolução natural dos estilos e, assim,
impedido o desenvolvimento de um estilo moderno que respondesse às necessidades
contemporâneas.” DANDONA, Nature and Nation in
Fin-de-Siècle France, p. 63.
[90] No final do século XIX
e no início do século XX, ideias semelhantes surgiram nas discussões sobre Kunstwollen e volição artística de Alois Riegl (1858-1905) e Erwin Panofsky
(1892-1968). Ver: RIEGL, Alois. Late Roman Art Industry. Tradução Rolf Winkes. Roma: G. Bretschneider, 1985; PANOFSKY, Erwin. The Concept of
Artistic Volition. Tradução
Kenneth J. Northcott e Joel Snyder, Critical Inquiry,
v. 8, n. 1, 1981, p. 17–33. Analogamente, isso informou a interpretação de
Ernst Gombrich sobre a mudança estilística na
história da arte. Ver: GOMBRICH, Ernst. Art and
Illusion: A Study in the Psychology of Pictorial Representation. New York: Pantheon Books, 1960. Obviamente, algumas dessas ideias
remetem a outras anteriores à popularidade de Kunstwollen.
Ver: HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. The Philosophy
of Fine Art. Tradução F. P. B. Osmaston. New York: Hacker Art Books, 1975, 4 v.
[91] PILLET, Jules. L’Enseignement artistique au vieux Japon. L’art
pour tous: Encyclopédie de l’art industriel et décoratif, jun. 1903, n.p.
[92] “L’art est toujours en
perpétuelle genèse, il se transforme sans cesse, il modifie les factures pour les maintenir
en harmonie avec les nécessités nouvelles de l’existence; mais il ne se crée pas de toute pièce telle Minerve sortant
tout armée du front de Jupiter. Un style ne
s’invente pas, il n’existe que par une suite de l’évolution naturelle de l’Art!” PILLET, L’Enseignement Artistique au vieux Japon,
n.p.
[93] “Avant de songer au portrait
fidèle de la nature, les hommes ont cherché tout d’abord à fixer une silhouette simple, le
souvenir des êtres et des choses:
l’hiéroglyphe se transformera
par la suite et fera souche
en deux branches bien distinctes; simplifié à l’excès, le linéament transformé
en clé ou en lettre constituera l’élément nécessaire à tout langage écrit,
enjolivé au contraire, il se rapprochera mieux de la physionomie de l’objet naturel et deviendra la charpente du dessin artistique tel que nous le connaissons. Le symbole a précédé le portrait de ce qui nous entoure.” PILLET, L’Enseignement Artistique au vieux
Japon, n.p.
[94] GUIMET,
RÉGAMEY, Promenades japonaises:
Tokio-Nikko, p. 169.
[95] “[…] ont assimilé l’art calligraphique à l’art du dessin.” RÉGAMEY, Le Japon
pratique, p. 165.
[96] “Au Japon tout le monde dessine.” RÉGAMEY, Le Japon
pratique, p. 26-27.
[97] “Malgré la différence des mœurs
et des époques, malgré les divergences de races, l’esprit
humain semble toujours identique à lui-même; et, pour représenter la
nature, tout en se pliant à des nécessités
diverses, en respectant des conventions souvent
opposées, les maîtres de tous
les pays ont toujours enseignés les mêmes bons principes: aussi plus d’un jeune artiste, rêvant de créer un art nouveau ou un
nouveau style, ferait bien de méditer
et de respecter les règles souvent
si judicieuses des vieux professeurs chinois et japonais.” PILLET, L’Enseignement
Artistique au vieux Japon, n.p.
[98] GUILLAUME, Eugène. De l’esthétique dans l’enseignement de l’art. Gazette
des beaux-arts, 1886, p. 280-298.
[99] GUILLAUME, De l’esthétique dans l’enseignement de l’art, p.
280-298.
[100] WÖLFFLIN, Heinrich. Principles of Art History: The Problem of the
Development of Style in Later Art (1915). Tradução M. D. Hottinger.
New York: Dover Publications, 1950.
[101] Agradeço a Matthew
Hunter por chamar minha atenção para esta passagem de Wölfflin
e por ajudar a esclarecer a distinção entre a abordagem de Régamey
e as abordagens formalistas da história da arte.
[102] CARLISLE,
Clare. On Habit: Thinking in Action. New York: Routledge, 2014.
[103] “Coutume est objectif, c’est-à-dire indique une manière d’être générale à laquelle nous nous conformons. Au contraire, habitude est
subjectif, c’est-à-dire indique une manière d’être qui
nous est personnelle et qui
détermine nos actions. L’habitude devient
un besoin; mais la coutume ne le devient
jamais. Cependant on dira également:
j’ai la coutume ou j’ai l’habitude
de prendre du café, avec cette nuance cependant
que avoir la coutume
exprime seulement le fait
que je prends ordinairement
du café, tandis que avoir l’habitude exprime qu’un certain besoin s’y join.” LITTRÉ, Émile. Coutume. In: Dictionnaire
de la langue française.
- 2. ed. - Paris: Hachette, 1872-77.
[104] Por exemplo, uma dessas
teorias foi escrita pelo psicólogo e filósofo francês Léon Dumont (1837-1877) e
publicada como "De l'habitude" na Revue philosophique de la France et de l'étranger em 1876.
[105] Estes incluem Hering,
Butler, Haeckle, entre outros. Ver: MATSUDA, Matt. The Memory of the Modern. New York: Oxford
University Press, 1996, p. 9; GOULD, Stephen Jay. Ontogeny and
Phylogeny. Cambridge, MA: Belknap,
1977, p. 96-97; Para um histórico relacionado a isso, ver: OTIS, Laura. Organic Memory: History and the Body
in the Late Nineteenth and Early Twentieth Centuries. Lincoln: University of Nebraska Press,
1995. Do final do século XIX até meados do século XX, também foi comum a adoção
do vocabulário da evolução para descrever a mudança estilística nas artes.
Muitos acharam produtivo descrever tais transformações como traços
"herdados" ou "adquiridos," como um tipo de "seleção
natural" que ocorria entre as convenções representacionais existentes.