Engenharia e sociabilidade: a trajetória de Samuel das Neves no Rio de Janeiro

Ana Paula Nascimento [1]

NASCIMENTO, Ana Paula. Engenharia e sociabilidade: a trajetória de Samuel das Neves no Rio de Janeiro. 19&20, Rio de Janeiro, v. XII, n. 1, jan./jun. 2017. https://doi.org/10.52913/19e20.xii1.01

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1.      Samuel Augusto das Neves (São Félix, BA, 13/03/1863-São Paulo, SP, 25/05/1937) [Figura 1] foi um profissional com desempenho destacado e profícuo por mais de 50 anos em diversos estados do Brasil, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Engenheiro agrônomo pela Imperial Escola Agrícola da Bahia, executou obras de infraestrutura urbana, construções particulares e públicas, com especial destaque para o projeto vencedor do concurso da Penitenciária do Estado de São Paulo (1910) e o plano “Melhoramentos de São Paulo” (década de 1910). Ao lado da prática do projeto arquitetônico e de construção, participou ativamente de sociedades e empresas, eventos sociais e científicos. Manteve ainda, por mais de 20 anos, a coluna diária “Matinnaes” no jornal Correio Paulistano e ainda exerceu atividades diplomáticas, sendo cônsul da Argentina (1903-c.1905) e do Panamá (1909-1937) na Pauliceia.

2.      Apesar das atividades multifacetadas e de ter seu nome no período reiteradas vezes divulgado em diferentes meios, atualmente o engenheiro é praticamente ignorado até em publicações nacionais especializadas sobre o início do século XX, sendo sua contribuição minimizada nos manuais genericamente relacionados à arquitetura eclética. Os parcos escritos sobre Samuel das Neves têm como base os textos biográficos elaborados por um de seus filhos, o arquiteto Christiano Stockler das Neves (1889-1982),[2] associado ao escritório do pai por mais de 25 anos. Nestes, sempre é lembrada a ligação do engenheiro com a Capital Bandeirante: “[...] Dedicou o Engenheiro Samuel das Neves 50 anos de sua atividade ao estado de São Paulo, dando tudo que pode em benefício do progresso de nossa terra, por ele tanto amada e onde nasceram, à exceção de um, todos os seus filhos [...]”.[3]

3.      Entretanto, ao consultar o Arquivo Samuel e Christiano das Neves depositado na Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (BFAUUSP) e pesquisar em jornais, revistas e almanaques principalmente no período em que o engenheiro atuara,[4] foi possível verificar a presença de Samuel das Neves no Rio de Janeiro, mesmo que mais discreta e em menor intensidade do que em São Paulo.[5] Tal constatação, possível de ser verificada tanto na documentação primária inicialmente conservada pela família,[6] como em alguns artigos e anúncios veiculados pela imprensa, causa um certo estranhamento, porquanto todos os profissionais com atuação semelhante em São Paulo sempre ressaltavam suas obras construídas na então capital do país, o Rio de Janeiro. Um exemplo é Tommaso Gaudenzio Bezzi (1844-1915),[7] italiano que fixou residência no Rio de Janeiro, cidade na qual realizou diversos projetos e do qual a obra atualmente mais conhecida é o Monumento do Ipiranga, atual Museu Paulista da Universidade de São Paulo, com desenhos datados de 1883.

4.      Podem ainda ser destacadas a divulgação do 3º. lugar no concurso de fachadas de 1904 para a Avenida Central obtido por Maximiliano E. Hehl (1861-1916), então professor da Escola Politécnica de São Paulo.[8] Durante a abertura e a construção daquela avenida, foram também ressaltados o prédio destinado à Companhia Docas de Santos, projeto de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) datado de 1904 e inaugurado em 1908, construído por Antonio Januzzi, Irmão & Cia.;[9] os edifício para Herm Stolz & Cia. e para Johann Bernhd Hasencleven, ambos projetados e construídos por Augusto Fried (1857-?) e Carlos Ekman (1866-1940)[10] em 1905 e 1906, respectivamente.[11]

5.      Outro profissional sempre evidenciado pelo trabalho no Rio de Janeiro é Hipólito Gustavo Pujol Júnior (1880-1952) que, apesar de professor da Escola Politécnica de São Paulo entre 1905 e 1922, passa grandes temporadas daquele período na então Capital Federal, sendo vencedor do concurso para o edifício da Polícia Central do Rio de Janeiro (1908) e executando diversos trabalhos, como a construção do Pavilhão de São Paulo para a exposição do Centenário de 1922 e o estádio do Fluminense Futebol Club inaugurado em 1920.[12] Acrescente-se ainda a atuação de Victor Dubugras (1868-1933) excepcional profissional com formação na Argentina, atividades em São Paulo por mais de 30 anos e transferência do escritório para o Rio de Janeiro por volta de 1928.[13]

6.      No caso de Samuel das Neves, o exercício profissional na cidade é sempre velado e pode até levar a equívocos, como a informação em parágrafo da carta endereçada para Rafael Sampaio Vidal (1870-1941) por amigo comum [Documento], datada de 3 de setembro de 1915,[14] sobre indenização e a possível transferência para o Rio de Janeiro como alternativa a fim de recomeçar a vida após quebra do contrato e dispensa dos serviços por parte do Conde de Prates (1860-1928),[15] seu maior cliente particular durante a realização do “Melhoramentos de São Paulo”:

7.                                    [...] Cumpre ainda V. ter presente e fazer ver ao Conde - que o Samuel, contando com a direção das obras até o final e sendo elas de natureza a ocupar-lhe todo o tempo e atenção (como você pode calcular pelo que viu no escritório), não contratou outras obras, não agenciou outros negócios, consagrando-se exclusivamente a esses obras, cujo valor técnico e responsabilidade todos os profissionais que as conhecem avaliam em alta conta.

8.                                    Finalmente, embora involuntariamente e sem o calcular, o Conde causou a Samuel grande prejuízo moral e material, retirando-lhe repentinamente e sem aviso as obras e sem chamá-lo a um ajuste de contas, e prevenindo diretamente cada um dos fornecedores e contratantes - que não se dirigissem mais ao Samuel, único com quem eles contratavam. Isto abalou por completo o crédito do Samuel, quebrando-lhe as mãos para continuar a trabalhar aqui.

9.                                    Nesta ponderação não vai a menor censura ao Conde; sei e o Samuel sabe que ele não tinha o intuito de fazer-lhe mal; mas o fato é que o prejuízo deu-se e inegável.

10.                                  V. compreende que tudo isto deve ser levado em conta, desde que tratamos de fazer amigavelmente um acordo equitativo e justo, em que o Samuel, mesmo sem ganhar o que esperava, se concluísse as obras, receba uma remuneração que não lhe fique mal, nem ao Conde.

11.                                  Resta-me ainda dizer-te que Samuel, recebendo essa conta, terá quase só como pagar o que deve e pouquíssimo lhe restará para ir recomeçar a vida no Rio. [...] [grifo meu] [16]

12.    Todavia, anos antes deste episódio, em 1910, Samuel das Neves passava a publicar anúncio com escritório em São Paulo e no Rio de Janeiro, o último denominado Neves, Almeida & C. na Avenida Central, 101 - via que pode ser considerada o exemplo máximo da transformação da cidade do Rio de Janeiro em uma moderna capital -, mostrando-se profissional destacado e em sintonia com as novas práticas de serviço em ambas pólis: serviços de reparações e construções de prédios, orçamentos e projetos [Figura 2].[17] Tal publicidade passa a ser veiculada tanto em O Estado de São Paulo como no Correio Paulistano.[18] Seria esta uma estratégia para mostrar o crescimento nos negócios e a participação em construções na cidade considerada a mais importante do país?

13.    Também em 1910, importante nota é publicada em O Correio da Manhã, no Rio de Janeiro [Figura 3]:

14.                                  Na concorrência aberta pelo governo de S. Paulo, para o projeto da penitenciária, que deverá ser construída naquele Estado, obteve o primeiro prêmio, por satisfazer todas as condições exigidas, o engenheiro Samuel das Neves, chefe da conceituada firma desta praça Neves, Almeida & C., estabelecida na avenida Central, n. 101. [...] [19]

15.    De fato, a partir de 1909 intensificam-se as viagens de Samuel das Neves para o Rio de Janeiro, segundo os periódicos da época circulados nas duas cidades, sempre no carro de luxo dos trens noturnos, realizando entre cinco a quatorze viagens por ano até 1929.[20] A partir de 1911 existem algumas informações de projetos realizados ou propostos por Samuel das Neves e seus associados para o Rio de Janeiro: a solicitação, em conjunto a Maurice de A. Ladrière,[21] ao Ministro da Viação para concessão de uma estrada de ferro ligando o Rio de Janeiro a Niterói (indeferida),[22] e o projeto do Pavilhão do Hospital Central do Exército para o Ministério da Guerra, em Benfica, cuja construção é atribuída a Heitor de Mello (1875-1920).

16.    Do aparecimento daqueles primeiros anúncios até pelo menos 1912 um número expressivo de matérias sobre os “Melhoramentos de São Paulo” - plano organizado por Samuel das Neves a pedido do Governo do Estado para aliviar o trânsito da região central histórica da cidade, transformação do Vale do Anhangabaú em parque, mais uma série de propostas eminentemente viárias como o alargamento e nivelamento da Rua Libero Badaró e abertura de algumas praças e largos -, é publicado em diversos periódicos cariocas.[23] Como no caso da abertura da Avenida Central, no Rio de Janeiro, vários proprietários se comprometeram a construir novos prédios em consonância com o plano elaborado. Grande parte das matérias, todas muito parecidas, possivelmente baseadas em conteúdo divulgado em São Paulo, explicita diversos detalhes e o andamento dos trabalhos, ressaltando o papel do engenheiro e, principalmente, o grau de transformações e de modernização na capital paulista, em busca de progresso e de estar alinhada com outras importantes cidades sul americanas, como a própria capital federal ou Buenos Aires, os exemplos mais próximos. Entre estas matérias, vale destacar a que apresenta a transcrição de uma entrevista de Samuel das Neves realizada no próprio Rio de Janeiro sobre os “Melhoramentos”:

17.                                  Chegou há dias, de S. Paulo, o distinto e ativo engenheiro Samuel das Neves e, porque o governo desse estado lhe dera incumbência de transformação do triângulo central e outras ruas da capital, deu-se pressa em um dos nossos companheiros de entrevistar tão competente profissional, baiano de nascimento, paulista de coração, afeito ao ‘fervet opus’,[24] à agitação do trabalho fecundante do progresso.

18.                                  O dr. Samuel das Neves, o vibrátil, alegre, cheio de entusiasmo, inteligência pronta, sem sombras de desânimo. É um cavalheiro [...]. [25]

19.    A 1ª. Guerra Mundial e o arrefecimento do número de construções na cidade de São Paulo, a situação delicada junto ao Conde de Prates, as presumíveis dificuldades em conciliar os interesses entre os setores público e privado no caso do “Melhoramentos de São Paulo”, a possibilidade de dividir o trabalho com o filho, Christiano Stockler das Neves,[26] e o fato de parte da família residir no Rio de Janeiro[27] podem ter auxiliado Samuel das Neves a incrementar suas atividades naquela cidade, especialmente a partir de 1916.

20.    Naquele ano participa da concorrência pública para o projeto e a construção[28] da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro[29] na Praia Vermelha,[30] tendo a sua proposta entre as escolhidas como a de Antonio Jannuzzi, Irmão & Cia. e a de Oscar de Almeida Gama. Todos os projetos dos concorrentes foram duramente criticados assim como a localização escolhida para o futuro prédio, entre a Urca e Botafogo, aproximando-se da privilegiada Zona Sul, na época distante do centro da cidade e de acesso mais difícil. A empresa vencedora da disputa foi a Antonio Januzzi, Irmão & Cia.,[31] após uma série de acusações pela imprensa a Samuel das Neves (classificado em 3º. lugar) e a Álvaro Rodrigues Pereira (o 2º. colocado) por terem tentado impugnar o vencimento de Jannuzzi a partir do envio de correspondência para o então Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (1873-1960), alegando serem os projetos deles os mais satisfatórios, mais baratos e de rápida execução.[32] A polêmica é divulgada e o próprio Antonio Jannuzzi defende-se, tanto das acusações como de seus opositores.[33] O projeto do Escritório de Samuel das Neves para a Faculdade de Medicina participa na Seção de Arquitetura da Exposição Geral de Belas Artes de 1916,[34] na qual são apresentadas a planta e a fachada do Instituto Anatômico.[35] No catálogo da mostra, aparece apenas o endereço do escritório em São Paulo, na Rua Libero Badaró, 145, apresentando-se Samuel das Neves como engenheiro, discípulo da Escola Politécnica (a do Rio de Janeiro ou a de São Paulo?).[36]

21.    Outra atividade ao menos iniciada em 1916 é o cargo de diretor-técnico e projetista da Companhia Bom Retiro, empreendimento que pretendia lotear e construir casas populares em Guaratiba e em Campo Grande, nos subúrbios ainda rurais do Distrito Federal. O empreendimento visava aumentar o número de residentes das duas regiões, levando para as localidades transporte por meio de uma linha de bonde ligando Guaratiba a Campo Grande e também com os trilhos da Central do Brasil, a fim de facilitar a comercialização das habitações populares e “higiênicas”. Parte da propaganda do empreendimento foi realizada pelo jornal Gazeta de Noticias, que sorteou lotes em Guaratiba da gleba pertencente a Antonio Fernandes dos Santos. Samuel das Neves e seu escritório seriam os responsáveis pelos projetos das residências: “[...] O sr. Dr. Samuel das Neves, que além de ter o nome ligado ao engrandecimento da Pauliceia, aqui [no Rio de Janeiro] estabeleceu escritório de engenheiro, sendo também diretor-técnico da Companhia Bom Retiro, cuja sede é nesta capital, na rua do Ouvidor.”[37]

22.    O tema da habitação popular vinculado a outros como a erradicação de cortiços e o saneamento das cidades, inscreve-se em uma orientação amplamente difundida naquela época, que associava o progresso e a paz social à higienização e segregação das várias classes sociais, principalmente os mais humildes, cujas residências passam cada vez mais a serem situadas nos subúrbios. As casas, como podem ser vistas pela publicidade divulgada pela Gazeta de Noticias[38] [Figura 4] tinham o mesmo padrão de outras habitações do período: poderiam ser simples residências térreas geminadas (casas operárias) ou sobrados com ornamentação mais fantasiosa, como chalés ou em estilo “mourisco.” A prática era a mesma utilizada em outros empreendimentos: o lote e a construção poderiam ser pagos em prestações mensais e a escolha da habitação poderia variar dentro das possibilidades financeiras do comprador e dos modelos pré-estabelecidos pela Companhia.

23.    Naquele mesmo ano, importante data de consolidação dos trabalhos na capital do país, em anúncio publicado no Correio da Manhã,[39] o mote já é diverso: Samuel das Neves aparece ao lado do filho, Christiano Stockler das Neves, em escritório de Arquitetura e Construções, com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, esta na Rua do Hospício, 30 (atual Rua Buenos Aires), sempre no centro da metrópole [Figura 5].[40]

24.    Reclame diferenciado é publicado em 1920 na Gazeta de Noticias. Neste, ilustrado, e em um quarto de página, a obra escolhida pela dupla é então a sede da prefeitura de São Paulo, um dos Palacetes construídos para o Conde de Prates no Vale do Anhangabaú [Figura 6], uma das obras mais comentadas e elogiadas do escritório. No anúncio frisam que realizam obras no Rio de Janeiro e em São Paulo.

25.    Naquela década parece que as investidas no Rio de Janeiro do Escritório de Samuel e Christiano das Neves, o último cada vez mais responsável pelos projetos arquitetônicos, recaem sobre obras ligadas ao governo federal, notadamente o Ministério da Guerra[41] e às estações ferroviárias da Central do Brasil,[42] em São Paulo e no Rio de Janeiro, todas amplamente divulgadas a partir de 1921 mas não realizados por questões relacionadas à mudança de governo. Também em 1921 o Escritório participa da concorrência pública para a construção de um restaurante no Passeio Público,[43] projeto de Christiano das Neves.[44]

26.    Em 1923, dado os laços estreitos desde a mocidade entre Samuel das Neves e Rui Barbosa (1849-1923),[45] o engenheiro realiza, junto com Christiano, o projeto do mausoléu do intelectual e político baiano para o Cemitério São João Batista, uma capela com cúpula curvada, em mármore, composta por portal e dois pilares e grande portão de ferro fundido decorado com cruz central raiada, além de grande crucifixo em pedra sobre a abertura.[46] Em 1927 auxiliam a formatação do concurso para o Palácio da Embaixada Argentina no Rio de Janeiro e,[47] posteriormente, são designados como construtores do mesmo pelo Ministério de Obras Públicas.[48] No mesmo ano são agraciados com prêmio de honra e diploma no III Congresso Pan-Americano de Arquitetos realizado na Argentina pelo projeto da Estação Inicial em São Paulo da Estrada de Ferro Sorocabana, atual Sala São Paulo.

27.    Do ano seguinte, também no Rio de Janeiro, é o projeto da Casa Marcílio Dias, trabalho amplamente divulgado na imprensa.[49] A Casa Marcílio Dias consistia naquele momento em associação filantrópica destinada a prestar assistência social e educacional aos filhos de praças da Marinha, embrião do atual Hospital Naval Marcílio Dias, no Méier. O projeto do Escritório de Samuel das Neves[50] consistia em um pavilhão com corpo principal dividido em duas seções isoladas: uma para meninos e outra para meninas, com três pavimentos e capacidade para 250 alunos internos, com 30 metros de frente e 60 metros de fundo, em extenso terreno arborizado com mangueiras.[51]

28.    Mas não eram apenas as atividades ligadas ao Escritório Técnico que faziam com que Samuel das Neves tivesse estadas frequentes na Capital Federal. Assuntos familiares, conforme supracitado, e outras relações de sociabilidade eram fundamentais para a manutenção de suas atividades profissionais principais. As compras, como na Alfaiataria Almeida Rabello também faziam parte da vida do homem público que precisava vestir-se de acordo com a posição social e atividades realizadas [Figura 7].

29.    A participação como membro da comissão executiva da representação do Estado de São Paulo para a Exposição Internacional de Turim de 1911 auxiliou nas idas frequentes para o Rio de Janeiro em 1910.[52] Extenso é o número de banquetes e recepções das quais participa, muitas como membro do corpo consular, entre elas a recepção oferecida no Palácio da Justiça pelo então ministro José Joaquim Seabra (1855-1942) em outubro de 1905[53] e a na Embaixada Americana em junho de 1916;[54] o banquete para Jerônimo de Sousa Monteiro (1870-1933), então governador do Espírito Santo no Palácio Monroe, em setembro de 1910;[55] o para José Rodrigues Alves, no restaurante Assyrio do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em janeiro de 1916;[56] o em homenagem a Antonio de Pádua Salles (1860-1957)[57] após término do mandato como Ministro da Agricultura nos salões do Club Central, em agosto de 1919;[58] o evento a Wladimir Bernardes no Hotel Glória, em fevereiro de 1923.[59] Também era membro de associações, como da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro[60] e, a partir de 1921, sócio efetivo na Sociedade Central dos Arquitetos.[61]

30.    Os amigos e conterrâneos também sempre estiveram presentes durante as estadas de Samuel das Neves no Rio de Janeiro. Rui Barbosa e o engenheiro tinham relações estreitas, fato narrado inicialmente por Christiano das Neves e que pode ser comprovado pela pesquisa realizada nos jornais, como o apoio às candidaturas de Rui Barbosa à presidência da República (1913 e 1919), a organização de uma homenagem fúnebre ao polígrafo e intelectual baiano em São Paulo e o projeto da lápide para o grande amigo. A correspondência enviada por Samuel das Neves para o “Águia de Haia” depositada na Fundação Casa de Rui Barbosa corrobora o relacionamento fraternal.

31.    O dossiê Samuel das Neves presente naquela instituição é composto por 20 documentos textuais entre cartões de visita, cartas e telegramas, felicitações pela performance política, pelas candidaturas à presidência da República, ou seja, missivas de amizade e políticas, deixando claro ser Samuel das Neves um interlocutor político de certo proeminência durante a República Velha, especialmente em São Paulo. Merecem destaque a carta dirigida ao cunhado de Rui, Carlos Viana Bandeira (c.1870-1960), datada de 17 de janeiro de 1919 que comunica que Altino Arantes (1876-1965) e Salles Júnior apoiam a candidatura de Rui Barbosa à Presidência, e a endereçada ao conterrâneo engenheiro e político Miguel Calmon du Pin de Almeida (1879-1935), datada de 30 de janeiro de 1919, na qual afirma que Cardoso de Almeida (1867-1931), Herculano de Freitas (1865-1926) e Manuel Vilaboim (1867-1937) igualmente apoiam a candidatura presidencial de Rui Barbosa, estando Carlos de Campos (1866-1927) a espera de um convite para visitar o polímata e intelectual baiano.

32.    Como se pode verificar, Samuel das Neves atuou de maneira contínua por cerca de 20 anos no Rio de Janeiro. A presença discreta e a reiterada afirmação das atividades realizadas em São Paulo [Figura 8] auxilia no apagamento de parte da trajetória profissional do engenheiro. A partir do início do século XX algumas cidades brasileiras - notadamente o Rio de Janeiro e São Paulo - passam a apresentar uma nova escala de fenômenos e um crescimento até então desconhecidos. Como outros tantos profissionais de sua categoria, Samuel das Neves soube aproveitar as oportunidades do período e seu escritório passou a atuar em frentes diversificadas: desde a solicitação para a concessão de estradas de ferro, as obras públicas ligadas ao governo e a produção para particulares de diversas camadas sociais - projetando de palacetes a habitações populares, estas sempre deixadas de lado nas biografias oficiais.

33.    Possuir amigos e estreitar relações com políticos e capitalistas de distintas cidades poderia auxiliar no crescimento profissional intimamente relacionado com as conjunções de poder de cada momento; daí a necessidade de “fincar os pés” também no Rio de Janeiro, na busca de incrementar o prestígio na capital e também nas outras localidades de atuação.

34.    Samuel das Neves foi, todavia, esquecido no Rio; a homenagem existente para ele na cidade é o nome de uma rua em Jacarepaguá.[62] Como Samuel das Neves, ainda existem diversos profissionais - dos quais muitas vezes conhecemos quase que apenas o nome, por causa de uma construção importante - a espera de levantamentos mais sistemáticos, a partir de pesquisas em arquivos públicos e particulares. Assim, este trabalho, ainda que pontual e lacunar, procurou ampliar o conhecimento e as questões referentes ao campo da engenharia e suas relações com o poder e a sociabilidade durante a República Velha.

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[1] Arquiteto e urbanista (1997), mestre (2003) e doutor (2009) pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Realiza estágio pós-doutoral financiado pelo Programa Nacional de Pós-Doutoramento/Capes, sob supervisão do Professor Titular Ricardo Marques de Azevedo junto ao Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAUUSP. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4894355571566035. E-mail: ananas1@gmail.com

[2] Alguns textos são assinados, outros não e há ainda os que têm a autoria relacionada a terceiros. Porém, pelo estilo de escrita, parágrafos semelhantes e informações contidas e, igualmente, pelos manuscritos destes trabalhos estarem no conjunto documental do arquiteto depositado na Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e terem todos estruturação e dados muito próximos, parece que foram inicialmente redigidos por Christiano Stockler das Neves: DR. SAMUEL das Neves: transcorre hoje o 50º. aniversário de formatura do ilustre engenheiro brasileiro. Folha da Manhã, São Paulo, 26 nov. 1932, p. 5; TRABALHOU por São Paulo! Não nasceu aqui mas foi um bandeirante o engenheiro Samuel das Neves. A Gazeta, São Paulo, 6 fev. 1954, p. 13; NEVES, Christiano Stockler. Transcorrendo a 13 de março de 1963 o centenário de nascimento do Engenheiro Samuel das Neves. Manuscrito, [1963]. Fundo Samuel das Neves/ Biblioteca FAUUSP; D’ALESSANDRO. Alexandre. Centenário do Engenheiro Samuel A. das Neves - 1863-1963. Engenharia, São Paulo, no. 244, mar. 1963, p. 320-323.

[3] D’ALESSANDRO. Alexandre. Centenário do Engenheiro Samuel A. das Neves - 1863-1963. Engenharia, São Paulo, no. 244, mar. 1963, p. 323.

[4] Para a pesquisa em desenvolvimento foram consolidados os dados referentes aos projetos e documentação textual depositados na BFAUSP tanto de Samuel como de Christiano das Neves, material que contempla 570 entradas (principalmente com projetos arquitetônicos, correspondências, textos, memoriais descritivos, recortes de jornais e revistas), a grande maioria relativa a Christiano das Neves. Igualmente, foram consultados 39 periódicos de São Paulo, do Rio de Janeiro e um de Minas Gerais (Juiz de Fora), além dos Almanak Laemmert e Almanak-Henault, sendo localizados até o momento 2.300 matérias e anúncios que trazem o nome de Samuel das Neves, em período compreendido entre 1890 e 1948. Do Rio de Janeiro: A Batalha (1931), A Cidade do Rio (1899), A Época (1913-1919), A Esquerda (1931), A Gazeta de Petrópolis (1900), A Illustração Brasileira (1922, 1948), A Imprensa (1899-1913), A Noite (1911-1932), A Notícia (1899-1916), A Rua (1915-1926), A.B.C. (1916), Correio da Manhã (1906-1937), Diário Carioca (1931), Diário da Noite (1930-1932), Diário de Notícias (1931-1932), Gazeta de Notícias (1900-1938), Hoje - Periódico de Acção Social (1919), Jornal das Moças (1916-1917), Jornal do Brasil (1902-1929), O Imparcial (1913-1937), O Paiz (1899-1930), O Século (1911), Revista Architectura no Brasil (1923), Revista da Semana (Jornal do Brasil) (1900-1916), Revista de Engenharia (1890) e Revista Marítima Brasileira (1928).

[5] Para este trabalho não foi possível consultar a documentação custodiada no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). Em relação às licenças emitidas pela Prefeitura, foi localizada apenas uma nota, sobre a adequação do pé-direito de um prédio, sem indicar a localidade. PREFEITURA. A Época, Rio de Janeiro, 1o out. 1913, p. 4.

[6] O projeto mais antigo do Fundo Samuel das Neves relacionado ao Rio de Janeiro é o que contém as cópias heliográficas da Residência Corrêa d'Aguiar (1904), no Flamengo, assinadas por René Barba, arquiteto de origem francesa, cujos projetos mais conhecidos no Rio de Janeiro datam daquele ano em diante, época da abertura da Avenida Central (hoje Avenida Rio Branco), como o exemplar entre o número 88 e 94 igualmente hoje existente. Barba foi ainda arquiteto-chefe responsável pelos pavilhões da Exposição Nacional de 1908 - incluindo as fachadas do Pavilhão das Indústrias e o Restaurante do Pão de Açúcar - e pelo arco monumental daquele certame inspirado no portal da Exposição Universal de Paris de 1900. Junto ao também francês, Albert Gilbert, é atribuída a construção da fachada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, obra finalizada em 1909. In: DEL BRENNA, Giovanna Rosso. Ecletismo no Rio de Janeiro (séc. XIX-XX). In: FABRIS, Annateresa (Org.). Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel/ Edusp, 1987, p. 60; CZAJKOWSKI, Jorge (Org.). Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000, p. 148; PEREIRA, Margareth da Silva. A exposição de 1908 ou o Brasil visto por dentro. Arqtexto, Porto Alegre, n. 16, p. 19. Todavia, a existência da cópia pode indicar uma possível reforma ou alteração no projeto, não apenas um trabalho conjunto.

[7] Tomasso Bezzi transfere-se para o Rio de Janeiro em 1875, onde projeta diversas residências, como o Palacete Barcellos, construído por Antonio Jannuzzi & Irmão, 1888; prédios como o do Banco do Comércio, na Rua 1o. de Março (demolido), de 1882, além do projeto do Club Naval na avenida Central e da reforma de uma das alas do Palácio do Itamarati (atual Museu Histórico e Diplomático) no início do século XX. In: SALMONI, Anita & DEBENEDETTI, Emma. Arquitetura italiana em São Paulo (1953). São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 40; RAMALHO, Maria Lucia Pinheiro. De Beaux-Arts ao Bungalow: uma amostragem de arquitetura eclética no Rio de Janeiro e em São Paulo (Dissertação de Mestrado - Estruturas Ambientais Urbanas). São Paulo: FAUUSP, 1989, p. 100 e 108; ZAGARI-CARDOSO, Sandra. Avenida Central: arquitetura e tecnologia no início do século XX. (Dissertação de Mestrado - Gestão de Espaços Preservados). Rio de Janeiro: FAUUFRJ, 2008, p. 177.

[8] DEL BRENNA, Giovanna Rosso. Ecletismo no Rio de Janeiro (séc. XIX-XX). In: FABRIS, Annateresa (Org.). Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel/ Edusp, 1987, p. 56-57.

[9] Atualmente sedia a Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. CZAJKOWSKI, Jorge (Org.). Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000, p. 41; ZAGARI-CARDOSO, Sandra. Avenida Central: arquitetura e tecnologia no início do século XX. (Dissertação de Mestrado - Gestão de Espaços Preservados). Rio de Janeiro: FAUUFRJ, 2008, p. 70, 102, 104, 105, 129, 176, 182.

[10] Carlos Ekman emigrara da Suécia para a América em 1886, indo primeiramente para Nova York, depois Buenos Aires (1888) e, após dois anos, para o Rio de Janeiro - época em que realiza o projeto da residência para sr. Almeida Nazareth -, retornando para Buenos Aires em 1892; em 1894 transfere-se definitivamente para o Brasil - agora para São Paulo, a convite de Augusto Fried de quem é sócio até o início do século XX e com quem trabalha - mesmo que não sendo mais associado - nos projetos da Avenida Central. In: EKMAN, Domingos Jaguaribe. Manuscrito inédito do arquiteto Carlos Ekman. In: VILA Penteado: 100 anos. São Paulo: FAUUSP, 2002, p. 58-59.

[11] TOLEDO, Benedito Lima de. Carlos Ekman: um arquiteto sueco no Brasil. Boletim Técnico FAUUSP, São Paulo, n. 9, 1992, p. 9; ZAGARI-CARDOSO, Sandra. Avenida Central: arquitetura e tecnologia no início do século XX. (Dissertação de Mestrado - Gestão de Espaços Preservados). Rio de Janeiro: FAUUFRJ, 2008, p. 175 e 177.

[12] FICHER, Sylvia. Os arquitetos da Poli: ensino e profissão em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2005, p. 119-120.

[13] Há que se destacar que antes mesmo da transferência definitiva para o Rio, Dubugras já realizara projetos naquela cidade: 2º. lugar no concurso para o Teatro Municipal do Rio de Janeiro (1904), projeto para o Congresso Nacional (1905), vila (1912), residência para José Mariano Filho (1912), projeto para um chafariz à rua da Glória (1922), restaurante e belvedere da Vista Chinesa (1927). Obras no Rio de Janeiro posteriores à transferência para o estado: conjunto residencial “Cidade Jardim”, em Vila Isabel, conjunto residencial “Canadá Garden City” em Santa Teresa, Igreja Presbiteriana Independente, residência von Broesigk, residência “Meyer” para o Banco Lar Brasileiro, edifício, residência para Arnaldo Guinle, todos de 1932; do ano seguinte, escolas municipais públicas e o segundo projeto de residência para Arnaldo Guinle. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Racionalismo e proto-modernismo na obra de Victor Dubugras. São Paulo: Fundação Bienal, 1997, p. 22-25.

[14] O Fundo Samuel das Neves da BFAUUSP contempla uma série de correspondências entre o Samuel das Neves e o Conde de Prates, datadas entre 1911 e 1914. São 50 documentos que tratam de detalhes das obras, gastos, indenizações, atrasos no cronograma de execução e divergência quanto aos valores devidos. A carta endereçada a Sampaio Vidal parece ser um dos momentos de finalização do embate entre o engenheiro e o seu maior cliente no período.

[15] Eduardo da Silva Prates, o Conde de Prates, foi um grande comerciante e fazendeiro de café, pioneiro na aplicação de processos inovadores na lavoura e junto aos negócios. Com os lucros auferidos em outros negócios e por intermédio da herança de sua esposa, passou a adquirir terrenos na área central de São Paulo, especialmente no Vale do Anhangabaú e na Rua Libero Badaró.

[16] Esta carta foi reproduzida na íntegra em: SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de. Alguns dados sobre a participação do engenheiro Samuel das Neves no Plano de Melhoramentos de São Paulo. PÓS - Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, n. 6, dez. 1996, p. 107.

[17] ENGENHEIROS. O Estado de S. Paulo, 13 abr. 1910, p. 9.

[18] ENGENHEIROS. Correio Paulistano, São Paulo, 2 jan. 1911, p. 5.

[19] Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 11 maio 1910, p. 2.

[20] No período supracitado foram divulgadas mais de 80 viagens entre as duas cidades. Tais notas podem dar uma noção da quantidade de viagens empreendidas pelo engenheiro. Entretanto, este é um número aproximado.

[21] Segundo verbete publicado em Impressões do Brazil no século XX (1913), citado anteriormente por Benedito Lima de Toledo e por Maria Ruth Amaral de Sampaio, Ladrière era francês, engenheiro civil e arquiteto, tendo atuado como capitão no Exército daquele país. Por volta de 1905 desligara-se do cargo e viajara a serviço da Sociedade de Geográfica de Paris a diversos países. Em 1910 fixa-se em São Paulo, trabalhando por conta própria. No mesmo verbete há menção ao fato de ter trabalhado no escritório de Samuel das Neves e de desenvolver atividades em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. In: TOLEDO, Benedito Lima de. Anhangabahú. São Paulo: Fiesp, 1989, p. 132; SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de. Alguns dados sobre a participação do engenheiro Samuel das Neves no Plano de Melhoramentos de São Paulo. PÓS - Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, n. 6, dez. 1996, p. 96.

[22] Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 16 set. 1911, p. 2.

[23] São elas: MELHORAMENTOS de S. Paulo. O Paiz, Rio de Janeiro, 15 dez. 1910, p. 2; S. PAULO progride. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 jan. 1911, p. 2; MELHORAMENTOS da capital. O Paiz, Rio de Janeiro, 16 fev. 1911, p. 5; DE S. PAULO. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 25 abr. 1911, p. 1; REMODELAÇÃO de S. Paulo. O Paiz, Rio de Janeiro, 21 maio 1911, p. 8; S. PAULO. O Século, Rio de Janeiro, 27 jul. 1911, p. 2; OS MELHORAMENTOS de S. Paulo. A Noite, Rio de Janeiro, 27 jul, 1911, p. 2; OS MELHORAMENTOS da capital. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 28 jul. 1911, p. 4; S. PAULO. O Paiz, Rio de Janeiro, 28 jul. 1911, p. 7; S. PAULO. Correio da Manhã, São Paulo, 28 jul. 1911, p. 6; MELHORAMENTOS da capital. O Paiz, Rio de Janeiro, 1o maio 1912, p. 11; MELHORAMENTOS da capital. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 8 maio 1912, p. 6.

[24] Literalmente, ferve o trabalho.

[25] S. PAULO progride. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 jan. 1911, p. 2.

[26] Em 1909, Christiano Stockler das Neves transfere-se para os Estados Unidos, onde estuda arquitetura no Instituto de Belas Artes da University of Pennsylvania. Forma-se em 1911 e realiza uma viagem de seis meses pela Europa. Retorna ao Brasil em 1912 e passa a integrar ao escritório de seu pai, o Escritório Técnico Samuel das Neves.

[27] Segundo notas na imprensa carioca, as duas filhas do segundo casamento de Samuel das Neves, Adelaide de Camargo Neves (1895-1951) e Maria de Lourdes Camargo Neves, residiam na casa do tio Raul Chaves de Camargo junto com a avó materna Adelaide Chaves de Camargo (?-1918) na rua Dona Mariana, 128 - Botafogo, desde pelo menos 1915. In: ANNIVERSARIOS. A Noite, Rio de Janeiro, 21 nov. 1915, p. 5.

[28] Na documentação da BFAUUSP, aparecem nas plantas do projeto os nomes de Christiano Stockler das Neves e Luis Moraes.

[29] Atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O edifício em questão foi inaugurado em 12 de outubro de 1918 e demolido em 1975.

[30] Fizeram parte da concorrência Samuel das Neves, Antonio Jannuzzi, & Filhos, Rebecchi & C., Álvaro Barbosa Rodrigues Pereira, Oscar de Almeida Gama, J. M. Travassos Filho, Horácio Mario de Almeida, Nuno Osório de Almeida & C., Joaquim Gomes dos Santos, Orlando Alves da Silveira, Comp. Construtora Ipanema, E. Keunitz & C., Newton Cruz & C., Lambert Riedlinger, Paley & Ferreira, Gastão Bahiana e Zanni & C, Joaquim Gomes dos Santos e Orlando Alves da Silveira (desclassificado). In: A ABERTURA das propostas para a construcção do novo edifício da Praia Vermelha. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 3 mar. 1916, p. 2; MAXIMILIANO, Carlos. O novo edifício da Faculdade de Medicina. O Paiz, Rio de Janeiro, 1 mai. 1916, p. 6.

[31] A Antonio Jannnuzzi, Irmão & Cia. era a maior construtora do Rio de Janeiro naquele período, tendo realizado, apenas na Avenida Central, o projeto de 11 e a construção de 14 dos edifícios. Antonio Jannuzzi (1855-1949) emigrou inicialmente para Montevidéu e, por volta de 1875, chega no Rio de Janeiro. Na cidade, a primeira obra de importância que realiza é o plano inclinado de Santa Teresa. Fez outras inúmeras obras no Rio, e sempre é citado como profissional de grande habilidade e responsabilidade. AUGUSTO, Paulo. Antonio Jannuzzi. O Álbum, Rio de Janeiro, n. 34, ago. 1893, p. 1; DEL BRENNA, Giovanna Rosso. Ecletismo no Rio de Janeiro (séc. XIX-XX). In: FABRIS, Annateresa (Org.). Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel/ Edusp, 1987, p. 60.

[32] MAXIMILIANO, Carlos. O novo edifício da Faculdade de Medicina. O Paiz, Rio de Janeiro, 1 mai. 1916, p. 6.

[33] JANNUZZI, Antonio. Concorrência para construção da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A.B.C., Rio de Janeiro, 25 mar. 1916, p. 14.

[34] Também comparecem na seção de Arquitetura da exposição de 1916 João Ludovico Maria Berna (1862-1938) e Victor Dubugras (1868-1933), o último premiado com pequena medalha de ouro. In: LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições Gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: ArteData, 2003, p. 986.

[35] O “VERNISSAGE” da Exposição Geral. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 13 ago. 1916, p. 5; REGISTO de arte. Correio Paulistano, São Paulo, 30 ago. 1916, p. 3.

[36] LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições Gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: ArteData, 2003, p. 437.

[37] A PENITENCIÁRIA modelo de S. Paulo. A Notícia, Rio de Janeiro, 16 abr. 1916, p. 2.

[38] GRANDE concurso da “Gazeta”. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 2 ago, 1916, p. 7 e 6 ago. 1916, p. 4.

[39] Architectura e construções. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 14 fev. 1916, p. 10

[40] Vale a pena ressaltar que os anúncios publicados em periódicos paulistanos de 1916 não apresentam o endereço carioca e continuam e especificar os tipos de serviços prestados: “empreiteiros e construtores. Projetos de construção de prédios na capital e interior. Medições de terra e estradas de ferro”. ENGENHEIROS. O Estado de S. Paulo, 14 out. 1916, p. 9; ENGENHEIROS. Correio Paulistano, São Paulo, 19 nov. 1916, p. 8.

[41] Com o qual os profissionais possivelmente mantiveram contato desde o projeto para o Pavilhão do Hospital Central do Exército, de 1911.

[42] A NOVA estação inicial da E.F.C.B. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 21 jul. 1923, p. 3.

[43] AS CONCORRENCIAS da Prefeitura. O Imparcial, Rio de Janeiro, 16 jan. 1921, p. 6.

[44] Na documentação da BFAUUSP aparecem como autores da obra Christiano Stockler das Neves e Francisco de Godoy, parceiros em diversas outras obras como: palacete para Álvaro Liberato de Macedo (1922), residência para Antenor Liberato de Macedo (1922), Estação do Norte - São Paulo - E.F.C.B. (1922), armazém do Rincão (1923), reforma e adaptação do palacete Monroe (sem data) e residência para Paulo Prado (sem data).

[45] O MAUSOLÉU de Ruy Barbosa. O Paiz, Rio de Janeiro, 12 maio 1923, p. 5; O MAUSOLÉU de Ruy Barbosa. O Jornal, Rio de Janeiro, 12 maio 1923, p. 5.

[46] Rui Barbosa ficou sepultado nesse mausoléu de 1º. de março de 1923 até 5 de novembro de 1949, ocasião em que foi comemorado o centenário do seu aniversário natalício e seus restos mortais foram transferidos para o Tribunal de Justiça da Bahia, atual Fórum Ruy Barbosa. In: Túmulos famosos do Brasil. Arte tumular. Disponível em: <https://goo.gl/EHElu4>. Acesso em 15 out. 2016.

[47] É importante salientar que desde 1900, Samuel das Neves possuía estreitos laços com a Argentina: acompanhara a visita do então presidente Campos Salles (1841-1913) para aquele país como correspondente do jornal Correio Paulistano em outubro de 1900; atuou como cônsul da Argentina em São Paulo de 1903 a aproximadamente 1905 e redigiu uma série de artigos sobre o país para o Correio Paulistano entre 1900 e 1901.

[48] O PALÁCIO da Embaixada Argentina no Brasil. O Imparcial, Rio de Janeiro, 25 ago. 1927, p. 1; ARCHITECTOS brasileiros construirão o edifício para a Embaixada Argentina no Rio. O Jornal, Rio de Janeiro, 25 ago. 1927, p. 2.

[49] CASA “Marcílio Dias”. O Jornal, Rio de Janeiro, 13 mar. 1928, p. 7; CASA Marcílio Dias. O Paiz, Rio de Janeiro, 13 mar. 1928, p. 4; A CASA Marcílio Dias. O Paiz, Rio de Janeiro, 21 mar. 1928, p. 2; CASA Marcílio Dias. O Paiz, Rio de Janeiro, 15 jul. 1928, p. 1 e 20; A FESTA de Arte da Marinha. Diário da Noite, Rio de Janeiro, 25 jun. 1930, p. 3; NOTICIÁRIO: Casa Marcílio Dias. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, no. 10, ano XLVIII, abr. 1928, p. 90.

[50] O responsável pela construção foi Paulo de Camargo Almeida.

[51] CASA “Marcílio Dias”. O Jornal, Rio de Janeiro, 13 mar. 1928, p. 7.

[52] CORREIO da Manhã, Rio de Janeiro, 25 out. 1910, p. 2; CORREIO da Manhã, Rio de Janeiro, 26 out. 1910, p. 2.

[53] Entre outros, Olavo Bilac (1865-1918), Osório Duque-Estrada (1870-1927), Rodolfo Bernardelli (1852-1931) e Rodolfo Amoedo (1857-1941). RECEPÇÃO no Ministério da Justiça. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 21 out. 1905, p. 2

[54] A RECEPÇÃO na embaixada americana. A Noite, Rio de Janeiro, 16 jun. 1916, p. 3; PÉ NA columna. A Notícia, Rio de Janeiro, 17 e 18 jun. 1916, p. 2.

[55] DR. JERONYMO Monteiro. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 3 set. 1910, p. 5.

[56] O BANQUETE ao Dr. José Rodrigues Alves. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 8 jan. 1916, p. 1.

[57] Pádua Salles, membro do Partido Republicano Paulista, é um importante articulador das atividades profissionais e políticas de Samuel das Neves: entre outros cargos politicos, foi secretário da agricultura em São Paulo, entre o final de 1908 e 1912, período do concurso da Penitenciária do Estado e do “Melhoramentos de São Paulo”, e ministro da agricultura entre dezembro de 1918 e julho de 1919. No Fundo Samuel das Neves há uma série de correspondência entre ambos, algumas de caráter profissional e outras de caráter pessoal.

[58] BANQUETES. O Paiz, Rio de Janeiro, 12 ago. 1919, p. 4.

[59] Além de Samuel das Neves, entre outros, Laudelino Freire (1873-1937), Amadeu Amaral (1875-1929), Guilherme Guinle (1882-1960), Henrique Lage (1881-1941), José Mariano Filho (1881-1946). In: DR. WLADIMIR Bernardes. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 7 fev. 1923, p. 3.

[60] SECRETARIA. Boletim da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, 1938, p. 154.

[61] O CENTENÁRIO. Correio da Manhã, 8 out. 1921, p. 5; A SOCIEDADE Central de Architectos convocará um Congresso Internacional de Architectura. O Jornal, Rio de Janeiro, 10 out. 1921, p. 2.

[62] Decreto 6.6162 de 11.03.1938. In: LEGISLAÇÃO. Anuário estatístico do Distrito Federal - 1938, Rio de Janeiro, ano VI, 1939, p. 509; DECRETO no. 6.162 - 11 de março de 1938. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 13 mar. 1938, p. 2.