Angelo Agostini e sua trajetória no Brasil
Rosangela de Jesus Silva
SILVA, Rosangela de Jesus. Angelo Agostini e sua
trajetória no Brasil. 19&20, Rio de Janeiro, v. XI, n. 2, jul./dez. 2016. https://www.doi.org/10.52913/19e20.XI2.06
* * *
O jornal é feito para
os assignantes. Não tem cor politica,
como nunca tive desde que trabalho em jornaes. Trata
dos acontecimentos importantes, como sempre o fez, em Ilustrações e
caricaturas, dá os retratos dos mortos notaveis.
Trata das questões geraes, desejando sempre o bem do paiz, censura ou louva os que o merecem; sempre foi esse o
meu systema. Pelos jornaes
que leio é que trato dos assumptos, e isto data do anno
de 1865 até hoje 1903.
Depois do jornal o 'Diabo
Coxo' e o 'Cabrião' que fiz em S. Paulo, vim para o
Rio de Janeiro.
Aqui fundei a 'Vida Fluminese' com Almeida Augusto de Castro em 1867. Depois
fiz o 'Mosquito' com Manoel Carneiro no tempo do bravo
Ludgero, Chefe de Polícia.
A 'Revista Illustrada' de 1876 a 1889 onde tanto combati em favor da
abolição, a ponto de perder quasi todos os assignantes do interior e das fazendas e onde deixei Pereira Netto substituir-me, o que fez perfeitamente, e o Don
Quixote de 1895 até hoje. Se neste tempo fui um pouco severo na crítica isso
foi devido unicamente a guerra sustentada no Rio Grande onde morreu o bravo e inolvidavel Saldanha da Gama. Terminada a Guerra votei
preito ao ex-presidente Prudente de Moraes, já infelizmente fallecido,
e applaudi-o por ter comprehendido
ser necessario acabar com tal guerra e ter assignado
a paz.
Pois bem, nesse tempo fallava-se muito no D. Quixote e os meus assignantes, desde Manàos, no
Alto Amazonas até o Rio Grande do Sul estavam contentes.
Resolvi ir a Europa,
passar lá o tempo necessario para comprar apparelhos modernos afim de
melhorar o jornal. Deixei no meu posto um bello
artista, o Sr. Hilarião T. da Silva, hoje desenhista
da Casa da Moeda. No fim e doze numeros o que
corresponde a um trimestre, já estava de volta e continuei o trabalho. Veio a
maldita Guerra de Canudos, quasi que me dão cabo da pelle por questões politicas
e tive a porta guardada por 15 praças para que não fosse atacado o D. Quixote.
O mesmo aconteceu ao Jornal
do Commercio, à Gazeta de Noticias e ao Jornal do Brazil, victimas das façanhas dos
Srs. Jacobinos exaltados.
Verdade seja que
escapei de ser morto á punhalada ou a revolver, devo isso ao Sr. Deocleciano Martyr.[1]
Apenas me conhecendo, oppoz resistencia aos assassinos.
Faço essa declaração
novamente, para que se um dia quizerem attenuar sua pena lhe sirva ella
de auxilio. Era um doido em politica,
mas não um barbaro assassino.
Depois vi me obrigado a
suspender o jornal por causa do predio que se vendeu
e poz em obras.
Quando recomecei a
publicação e fil-a distribuir gratuitamente aos meus assignantes, foi quando chegou aqui o Sr. General Roca.
Tratava-se de receber
bem os argentinos, e eu, entedi ser meu dever de os
representar o melhor possivel em illustrações
das quaes grande numero foram vendidas ao governo do Brazil.
Quando chegou Rodolpho
Bernardelli, tinha os melhores desejos de reproduzir a estatua do Pedro
Alvares Cabral, o Caminha e o frade, formando o bello
grupo que orna a praça da Glória.
Ahi porém
estive gravemente enfermo pela primeira vez depois de 30 annos
de jornalismo. Nunca fallei desde que recomecei, por occasião da vizita do general
Roca e exactamente o esforço para dar o numero num sabbado
apezar de doente, aggravou
o meu estado numa sexta-feira. Fui forçado a voltar a Paris afim de refazer-me.
Quando voltei de novo a
fazer o jornal encontrei o paiz em plena crise. Varios bancos haviam fallido,
inclusive o da Republica. A maior parte dos assignantes não pagou.
Os outros que sustentam
o meu jornal por encontrar n'elle um romance illustrado em todas suas scenas,
o que não encontram em jornal algum do mundo, pagam de boa vontade a folha para
terem as Aventuras do Zé Caipora até o fim. Para esses sou obrigado a sustentar
o meu preço, pois que não são sufficientes em numero. Se porém
pensarem bem e me façam vir maior numero de assignantes de todo o Brazil, o
preço da folha avulsa srá de 300 réis e 250 para o assignante.
Seria esse o meu
desejo, tudo depende dos srs. Assignantes.
Com o numero que tenho não me é possivel
fazer de outro modo. Si esta qualidade desaparecer, preferindo o publico
comprar avulso, nem isto poderei fazer, porqueserei
obrigado a suspender a folha.
Contei aqui algumas
pequenas phases da minha vida jornalistica
desde que comecei a trabalhar no Rio de Janeiro, em 1867. Creio que ninguem tem queixas da folha. Tenho os maiores louvores de
todos os jornaes do Brazil
e de todo o povo. Se alguns murmuram a culpa é d'elles
proprios e não do jornal.
Não tive outro fim
senão dizer a verdade, com o sentido de corrigir os defeitos. É esta a minha
missão.
- Se puzer annuncios, poderá fazer o
jornal mais barato. O annunciante paga as despezas, dirão alguns. É verdade, mas não faço um jornal
de annuncios, para isso há outras folhas.
O jornal occupa-se um pouco de tudo que se passa, tanto no texto
como nos desenhos. E assim sabem já do que necessitava dizer aos meus assignantes a quem desejo um anno
cheio de felicidades.
Angelo Agostini.[2]
1. Angelo Agostini é um personagem cujas palavras são
localizadas através das páginas dos periódicos nos quais trabalhou, ou na
imprensa periódica da segunda metade do século XIX no Brasil. Documentos
pessoais ou correspondências são extremamente raros de serem encontrados, com
exceção do pedido de naturalização feito por este em 1888, hoje no Arquivo
Nacional no Rio de Janeiro. Assim a reconstrução da imagem desse artista é
feita por notas em jornais e revistas, textos de sua autoria ou não e através
de seus desenhos.
2. Ao
lidar com esse material pode-se facilmente ser seduzido pelos discursos, assim
como pela irreverência do personagem. Há que se ter cuidado. Mas se o principal
caminho para se chegar a Angelo Agostini é por meio
de sua obra, assim, é preciso fazê-lo.
3. Publicado
no último número do Don Quixote (1895-1903), o texto acima parece
bastante instigante, primeiro porque foi escrito e assinado pelo próprio
Agostini, o qual tenta fazer um balanço da sua carreira ao mesmo tempo em que
parece tentar convencer os leitores do jornal a multiplicarem suas
assinaturas. Mas se foi o último número por que pedir que renovem suas
assinaturas? Provavelmente, o texto tenha sido um último recurso na tentativa
de salvar o jornal, por isso o autor expõe seu percurso jornalístico na
esperança de que seu trabalho anterior e o prestígio que este atingiu atuem
como um bom motivo para os leitores continuem a apoiar sua publicação. Se foi
essa a intenção, não surtiu efeito já que o jornal não foi mais publicado.
4. O
texto traz várias informações sobre a atuação do jornalista. O tom do artigo
oscila entre mostrar a importância do trabalho de Agostini e dos seus jornais
para o país, os esforços e perigos pelos quais passou, chegando ao pedido de
uma valorização de toda essa trajetória para que esse trabalho possa continuar.
5. O
discurso apolítico defendido no primeiro parágrafo não se sustenta no
desenvolvimento do texto. Como poderiam os periódicos de Agostini não
apresentarem “cor política” quando assumiram uma postura abolicionista a qual
afrontava diretamente a opção do governo monárquico? Ou quando se posiciona a
favor do presidente Prudente de Moraes? Ou ainda quando elege nomes de
políticos como Saldanha da Gama como exemplos de atuação? Ou quando afirma que
por questões políticas durante a Guerra de Canudos, quase foi morto? Sua
postura nas revistas é política.
6. Angelo
Agostini coloca suas convicções e se mostra como alguém cujos princípios nunca
mudaram, para o qual o grande ideal da construção de uma nação foi sempre o
limite de sua atuação, mesmo que isso tivesse representado prejuízos ou
colocado sua vida em risco em vários momentos.
7. Essa
imagem apresentada pelo próprio autor deve ter contribuído para leituras
posteriores, algumas das quais chegaram até hoje, como por exemplo, a do homem
defensor dos escravos, o abolicionista que não se esquivou do seu dever,
corajoso, que enfrentava os poderosos. Mas esses escritos oferecem muito mais,
pois revelam um personagem bastante astuto que tinha consciência do poder da
imprensa e que soube utilizar esse instrumento para defender seus interesses: “Angelo Agostini sabe o valor da arma que maneja com
habilidade (...)”[3]. De maneira sagaz, através de um discurso
no qual o país esteve sempre em primeiro plano, soube criar ou se apropriar da
imagem do homem sério, comprometido justo e honesto.
8. A
chegada desse personagem ao Brasil, assim como sua vida fora da imprensa, é
cercada de incógnitas. Os poucos dados biográficos encontrados em dicionários
informam que sua vinda para este país se deu por causa de sua mãe, Raquel
Agostini, uma cantora lírica, que contraiu segundas núpcias com um jornalista
português Antônio Pedro Marques de Almeida, se fixando no Brasil.
9. Agostini
nasceu na Itália, na região do Piemonte, mais precisamente na cidade de Vercelli em 1842 ou 1843, não há consenso com relação a
esse dado. Neste país teria permanecido apenas até os três anos de idade, já
que seu pai falecera. Diante desse fato sua mãe teria se mudado para Paris,
onde residia a avó materna desse personagem. Angelo
Agostini então teria vivido sua infância e adolescência na cidade das luzes,
onde certamente teve início seu aprendizado artístico.
10. O
crítico sempre reservou em seus periódicos um considerável espaço para cuidar
das questões artísticas como as artes visuais, o teatro e as apresentações
líricas, realizando constantes homenagens aos artistas de destaque nesse meio
como Carlos Gomes (1836-1896), Sarah Bernhardt (1844-1923), entre outros.
Certamente a atenção para com a música tenha sido uma herança dos seus pais,
oriundos desse meio. O pai, Antonio Agostini, teria
sido violinista.
11. Entre
1859, ano que o próprio Agostini alegou ter chegado ao Brasil, até seu início
na imprensa paulista, há apenas vagas informações de que este tenha trabalhado
como capataz, na construção de uma estrada de rodagem que ligava o terminal da
ferrovia Mauá-Raiz da Serra à cidade de Juiz de Fora em Minas Gerais.
12. Após
seu rápido início na imprensa de São Paulo em 1864 no Diabo Coxo (1864-1865)
e depois no Cabrião entre 1866 e 1867, segue
para o Rio de Janeiro. Na paulicéia enfrentou um
processo, teve a redação do jornal invadida e depredada, causou polêmica.
Talvez pela dificuldade em continuar seu trabalho em terreno, aparentemente árido,
ou porque na capital do Império encontraria maiores e melhores oportunidades,
afinal ali a imprensa apresentava sinais de maior desenvolvimento, consolidou
sua carreira no Rio de Janeiro. Ainda em 1867 começou a trabalhar no periódico
carioca Arlequim. No Rio de Janeiro ficaria até o final de sua vida em
1910, com apenas um intervalo entre 1888 e 1894 no qual esteve na Europa,
provavelmente em Paris, segundo informação apresentada em uma carta do próprio
Agostini publicada na Revista Illustrada em
1889 onde comenta a Exposição Universal daquele ano[4].
Essa informação, de que esteve em Paris, reaparece em relatos seus publicados
no Don Quixote anos mais tarde.
13. Antes
de criar aquela que até hoje é considerada um dos mais importantes documentos
históricos da vida na corte brasileira, a Revista Illustrada
(1876-1898), passou pela Vida Fluminense (1868-1876), onde foi diretor
artístico entre 1868 e 1871. No ano seguinte, 1872, Agostini passou ao Mosquito
(1869-1877) no qual permaneceu até a fundação da Revista Illustrada.
Foi ainda n’O Mosquito que surgiram os primeiros comentários ilustrados
do caricaturista sobre as exposições da Academia de Belas Artes, os salões
caricaturais.
14. Agostini
se apresentava como um crítico da aproximação do Estado com a Igreja[5],
a favor de ideais republicanos e liberais e contra uma economia sustentada pelo
trabalho escravo. Manteve um posicionamento bastante questionador ao governo de
D. Pedro II. Era comum encontrar o Imperador em situações constrangedoras nas
caricaturas de Agostini publicadas na Revista Illustrada
(1876-1898). D. Pedro II também era criticado em textos publicados na revista,
como no comentário abaixo sobre a Fala do Trono[6]:
15.
Sabe-se bem que a falla
do throno é um documento político de alta
importância, e que Ella é a expressão das idéas do
governo, por órgão do seu ministro do império; era licito
pois esperar-se ver alguma coisa de novo este anno e
não as phrases insossas, corriqueiras e inúteis que
encheram a tal falla do throno
que não falla nada.
16.
Limitou-se Sua Magestade
a dar-nos notícias de seus netos, sob o pretexto de que todos nos interessamos
muito pela imperial dynastia.[7]
17. Anos
mais tarde, já na República, Angelo Agostini olha com
respeito a figura do Imperador reconhecendo neste um grande homem: “[...] D.
Pedro II era um brasileiro muito digno e muito patriota e, si como Imperador
deixou muito a desejar, como homem tinha qualidades dignas do maior respeito.”[8]
Estaria Agostini, nos anos finais de sua vida revendo suas posições? É
relevante ver uma reflexão desse tipo em um momento no qual embora se vivesse
uma República como tanto desejou o jornalista, a situação política do país não
parecia refletir a concretização dos ideais defendidos durante a monarquia.
Sendo que a própria imprensa sofreu várias intervenções e censuras tanto por
parte do governo quanto de jacobinos[9] exaltados.
18. Depois
de sua estadia na Europa entre final de 1888 e 1894, o Brasil havia passado por
mudanças significativas, tendo mudado inclusive o sistema de governo, de
Monarquia à República. Todavia, seu espaço na imprensa não foi o mesmo dos
tempos da Revista Illustrada. A técnica e
organização da nova revista também não receberam grandes inovações ou mudanças.
Suas opiniões não ecoavam com a mesma intensidade de outrora. Novos
caricaturistas, novos periódicos, com novas técnicas começaram a atuar. É
possível notar certa nostalgia ou mesmo pessimismo nas páginas do Don
Quixote, como por exemplo, o artigo que publica em comemoração ao
centenário da revista:
19.
Tendo
consciência de ter cumprido seu dever, vê, todavia, e com grande pezar, que todos os seus esforços em pról
do bem publico para pouco ou nada têm servido.
20.
A
não ser a abolição, que para obtel-a, tanto fustigou
com seu lapis e máos
senhores de escravos, tudo o mais está no mesmo; e si materialmente a cidade
tem melhorado em seus edificios é unicamente devido á
iniciativa particular.
21.
Quanto
á parte moral e social... é doloroso dizel-o, mas é a pura verdade, tem peiorado
de um modo espantoso![10]
22. Situação
bem distinta daquela apresentada na Revista Illustrada onde, em diversos momentos, a
revista anunciava sua “boa saúde”, o apoio de outros colegas daimprensa, sua penetração junto ao público. Também
oferecia a coleção completa da revista aos leitores interessados, mostras da
importância e força que teve a revista entre as décadas de 1870 e 1880, assim
como de seu entusiasmo para com este país.
23.
A
Revista Illustrada não tem felizmente a queixar-se do
anno que hoje finda, nem lhe atirar pedras. Elle consolidou-a ainda mais na confiança do publico, ampliou-lhe a circulação
que é a vida, trouxe-lhe prosperidade.... Descansa portanto
em paz, 1881.[11]
24. A
revista chega inclusive a rivalizar com a Gazeta de Notícias, em torno
do número de assinaturas, pois, segundo alega a direção da Revista Illustrada, esta teria uma circulação ainda maior do
que o número de assinaturas, tudo devido ao fato do grande interesse que os
desenhos despertam na população:
25.
Temos
quase o mesmo tempo de vida, e se cada numero da Revista
circula em muitas mãos, de graça, em compensação são precisos 25 numeros da Gazeta, a 40 rs.
26.
Cada
um, para perfazerem a importância de um só numero do
nosso jornal. (1$000 rs. avulso). Assim 25.000 exemplares da Gazeta equivalem,
apenas, a 1.000 da Revista.
27.
Por
esse lado, a nossa tiragem é muitas vezes superior á
do collega, quatro ou seis vezes, e, tanto é isto
verdade, que a sollicitação para publicar annuncios, aproveitando a immensa
circulação de que dispomos, não cessa.
28.
Mas,
onde as nossas vantagens deixam inteiramente a perder de vista as do apreciado collega, é quanto ao meio de expor os assumptos, mettendo-os pelos olhos a dentro
do publico, em desenhos, que elle aprecia
infinitamente, mais do que a letra de forma.[12]
29. As
atenções de Agostini se voltam para várias esferas culturais, políticas e
sociais, as epidemias que assolavam o Rio de Janeiro, a seca do Ceará, as
intempéries que afetavam a cidade, as eleições, as ações parlamentares, as
sucessões de Ministérios entre o partido conservador e o liberal eram amplamente
discutidas. As caricaturas oferecem cenas relevantes para refletir sobre o
posicionamento de Angelo Agostini acerca dessas
temáticas.
30. Contrariamente
ao se que observava nesse período acima citado, há nos últimos anos da carreira
de Agostini um certo pessimismo e desilusão com o país, além de constantes
pedidos do público para regularizar suas assinaturas.
31. Com o
fim do Don Quixote em janeiro de 1903, a atuação do jornalista Angelo Agostini se torna menor com apenas colaborações em
outros grandes empreendimentos como Gazeta de Notícias, O Malho e o Tico-tico.
No entanto, são nesses últimos anos em que aparecem mais referências sobre a
pintura de Angelo Agostini.
32. Quando
se observa criticamente o conjunto da obra desse personagem que contribuiu para
uma história do Brasil, no sentido de dar o seu testemunho do que ocorria na
corte em seus mais variados aspectos, assim como de apontar em outras direções,
é possível ver, entre vários aspectos, um habilidoso e perspicaz jornalista, um
crítico de arte bem informado, um caricaturista atento
e, por que não, um artista. Todos esses aspectos permeados pelas preocupações
políticas e orientados por um projeto maior, da construção de uma nação
republicana, liberal e próspera.
________________________________
[1] Deocleciano Martyr foi um republicano pró
Floriano Peixoto. Durante a conturbada transição do Governo de Deodoro da
Fonseca para o de Floriano, serviu como voluntário no Batalhão Tiradentes, um
dos muitos que se formaram para garantir a República e o governo de Floriano.
Foi um dos ativistas mais emblemáticos entre os jacobinos no Brasil. Liderou
perseguições a monarquistas e portugueses. Publicou entre 1894 e 1897 o jornal O
Jacobino. Esteve envolvido em um atentado contra o primeiro presidente
civil Prudente de Moraes. Teria incitado voluntários e ex-voluntários
dos batalhões patrióticos a um golpe de Estado. Pelo atentado contra Prudente
de Moraes foi condenado à prisão onde permaneceu até 1903. Angelo
Agostini denunciou por várias vezes no Don Quixote a perseguição que
sofria por parte de jacobinos exaltados, portanto sempre foi muito crítico
desses defensores da “RRRRepública”, como escrevia em
seus jornal. Nesse sentido parece um dado muito
interessante o fato de Agostini citar um jacobino radical como alguém que o
tenha defendido. A frase seguinte logo explica que é pelo fato deste
conhecê-lo. O jornalista sugere seu próprio prestígio, já que o conhecimento
que aquele tinha do seu trabalho, ou do seu caráter, teria sido suficiente para
que Martyr deixasse seu radicalismo de lado e o
poupasse ou o protegesse.
[2] Don Quixote, Rio de
Janeiro, N.163, 15/09/1903, ano IX, p.2 e 3.
[3] Don Quixote, Rio de
Janeiro, N.12, 1895, ano I, p. 6 e 7. Transcrição de trechos de um artigo
publicado n’A Provincia do Recife de 1895 comentando o número 7 do Don
Quixote.
[4] Foi para essa exposição
que a Torre Eiffel foi construída. É interessante ver as apreciações de
Agostini sobre a exposição: “Exposição de Paris. De uma carta de Angelo Agositini, que há dias
recebemos, tiramos os seguintes períodos sobre a exposição de Paris: ‘É
impossível fallar-se da Exposição. Não se póde imaginar o que Ella é: só vendo-se. Para dar , todavia, uma fraca idéia do
grande certamen, eis o único meio que vejo:
imaginar-se a gente, viajando em balão, a uma altura prodigiosa (effeito da torre Eiffel). De repente vem-nos á idéia de visitar o Egypto, por
exemplo, e zás! Encontra-se a gente na terra dos Pharaós,
n’uma rua onde os habitantes vendem productos egypcios e causam a impressão mais extraordinária. E assim
por diante, nos diversos povos das cinco partes do mundo, desde os índios Pelles-vermelhas, da America do
norte, até aos habitantes do Oceano Pacífico, malaios, chinezes,
javanezes, anamistas, árabes, etc. É uma cousa esplendida!A exposição brazileira
também já foi inaugurada. É um gracioso pavilhão, mas que não tem o aspecto
grandioso do da Republica Argentina. Todavia, ficamos
todos satisfeitos, por vêr, o Brazil
aqui representado e o pavilhão auri-verde fluctuando, por entre os das outras nações. Quando me
lembro que houve políticos que se oppuzeram a que o Brazil se fizesse representar... ainda digo commigo: - Que o diabo leve políticos atrazados!”
Revista
Illustrada, Rio de Janeiro, N. 559, 1889,
ano XIV.
[5] Marcelo Balaban desenvolve no capítulo três de sua tese de
doutorado alguns argumentos sobre a relação de Angelo
Agostini e o clero ao analisar as imagens publicadas n’O Mosquito no
início da década de 1870 em torno da “questão religiosa”. Segundo o autor “Não há elementos nas imagens, ou qualquer outra
fonte, que permita ir além do debate político que [Agostini] fazia do
tema da religião católica no Brasil.” In: BALABAN, Marcelo. O
Poeta do lápis:a trajetória de Angelo
Agostini no Brasil Imperial - São Paulo e Rio de Janeiro - 1864-1888.
Campinas-SP: Tese de doutorado defendida no IFCH/UNICAMP, 2005.
[6] A fala do trono era um
pronunciamento do Imperador para abrir os trabalhos do legislativo no Império.
[7] Revista Illustrada,
Rio de Janeiro, N. 142, 1878, ano III , p.6 “A Falla doThrono”.
[8] Don Quixote, Rio de
Janeiro, N.103, 18/11/1899, p. 2.
[9] Sobre o termo jacobino
ver: GOMES, Amanda Muzzi. Os jacobinos e a oposição a
Prudente de Moraes na transição entre as presidências militar e civil:
1893-1897. Rio de Janeiro: Dissertação de mestrado defendida na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2006.
[10] Don Quixote, Rio de
Janeiro , N. 100, 1899, ano V, p.2 “Nosso Centenario.”
[11] Revista Illustrada,
Rio de Janeiro, N.280, 1881, ano VI, p.2
[12] Revista Illustrada,
Rio de Janeiro, N.441, 1886, ano XI, p.3, “A tiragem da Revista.”