Revista do Brasil (1916-1918) - Artigos e Críticas de Arte
transcrição de Ágatha Rosa
VALLE, Arthur (org.). Revista do Brasil (1916-1918) - Artigos e Críticas de Arte. 19&20, Rio de Janeiro, v. IV, n.2, abr. 2009. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/revista_brasil.htm>.
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N. Resenha do Mês. Movimento Artístico, Revista do Brasil, São Paulo, ano III, fev. 1918, n. 26, p.172-182 [Texto com grafia atualizada].
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CARLOS OSWALD
O pintor Carlos Oswald, que fez recentemente em S. Paulo, uma exposição de desenhos e pinturas, é um jovem artista brasileiro cuja reputação se firmou rapidamente nas nossas rodas artísticas. Educado em Florença e tendo percorrido vários centros cultos da Europa, voltou ao Brasil pintor feito e seguro de sue arte.
A exposição Oswald teve um raro êxito, que se pode atribuir, sem favor, ao mérito também raro do artista. O sr. Oswald dispõe de uma grande habilidade técnica que lhe permite abordar todos os gêneros e tentar todas as maneiras. A facilidade com que se utiliza todos esses recursos tem contribuído talvez para desorientar o público a respeito de suas verdadeiras tendências. Parece certo, entretanto, que este nosso talento patrício está mais à vontade na decoração e no retrato do que qualquer outro gênero de pintura. A paisagem, por exemplo, é para o sr. Oswald um simples motivo de decoração; nos seus trabalhos desta categoria não se encontra nem fidelidade nem emoção. O pintor idealiza sempre e adapta o assunto à sua concepção decorativa, que é geralmente feliz, de uma grande harmonia e de uma fina sensibilidade. Desejaríamos vê-lo neste gênero, num trabalho de fôlego, um grande painel de alta inspiração em que lhe desenvolvesse as qualidades tão brilhantemente demonstradas no seu friso “Na praia do Tirreno” [Imagem].
No retrato ou no estudo da figura, em geral, já o sr. Oswald revela um temperamento robusto de fibra de poderosa emoção diante do seu modelo. Parece ser esse o seu gênero predileto, tal é a volúpia com que ele ataca as dificuldades da obra, vencendo-as com os recursos de uma técnica aprimorada e rica. O “Retrato do avô” [Imagem], que em outro lugar vai reproduzido, com a sua iluminação a Rembrandt, é admirável de expressão, de uma harmonia deliciosa e de uma fatura soberba e original. Não é preciso dizer mais para afirmar que Carlos Oswald desenha com correção, com vigor e espontaneidade. É porém nas aguas- fortes e nos trabalhos a pena que se pode admirar em toda sua pureza o seu belo desenho. Nas produções que a Revista do Brasil estampa neste número, estão algumas de suas melhores produções, entre elas diversas águas- fortes, processo em que Oswald não tem rival no Brasil.
Em plena mocidade, Carlos Oswald já é um dos nossos mais reputados pintores; dentro em um pouco será um mestre prestigioso se quiser acentuar na sua obra as características da sua personalidade, fugindo às vaiadas, dispersivas e perigosas tendências para que o atraem simultãneamente a sua larga capacidade técnica e a vulgaridade do meio.
TULIO MUGNAINI
No mês de janeiro teve em S. Paulo a revelação de um outro artista. Este é um jovem paulista de um pouco mais de 20 anos e que já se apresenta com envergadura de um triunfador.
Tulio Mugnaini é um destes temperamentos destinados a vencer, que não conhecem obstáculos e caminham para o seu ideal de determinação de verdadeiros iluminados.
Partiu das aulas do Liceu de Artes e Oficios para os “ateliers” de Florença e em poucos anos remeteu para S. Paulo uma produção assombrosa em relação à sua mocidade e ao seu tempo de estudo. Mas o que há de notável nessa produção é a fatura com um poder de síntese e um toque tão seguro e espontâneo que dificilmente se acredita possa ser obra de um principiante.
A exposição de estudos desse moço de extraordinário talento, realizada na redação da “Vida Moderna”, ficará na história da pintura de S. Paulo como um acontecimento memorável: foi a afirmação documentada que de dentro em pouco S. Paulo contará entre seus filhos um grande pintor.
N.
Ilustrações Originais
PIERROT - (Água forte de Carlos Oswald), p.173.
NA PRAIA DO TIRRENO - (Água forte de C. Oswald), p.174.
BOIS MOLESTADOS PELAS MOSCAS - (Desenho a pena, por C. Oswald), p.175.
RETRATO DO AVÔ - (Pintura a óleo, por C. Oswald), p.176.
ANTES DO ALMOÇO - (Pintura a óleo por C. Oswald), p.177.
DEPOIS DO ALMOÇO - (Pintura a óleo por C. Oswald), p.178.
Retrato de Carlos Oswald por José Wasth Rodrigues, p.179.
CABEÇA DE ESTUDO - (Tulio Mugnaini), p.181.
AUTO-RETATO - (Tulio Mugnaini), p.182.