A moda, as cores e a representação feminina no Segundo Reinado
(Rio de Janeiro, 1840-1889)
Joana
Monteleone [1]
MONTELEONE, Joana. A
moda, as cores e a representação feminina no Segundo Reinado (Rio de Janeiro,
1840-1889). 19&20, Rio de Janeiro, v. XII, n. 2, jul./dez. 2016.
https://doi.org/10.52913/19e20.xii2.07
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1. Ao
longo do século XIX, os tecidos importados, que chegavam à corte do Rio de
Janeiro pelo porto, refletiram as mudanças pelas quais passava a indústria
têxtil no mundo. Se, no começo do Oitocentos, os tecidos vindos da Europa
traduziam as dificuldades da indústria com tingimentos e pigmentos naturais, ao
longo do século isso vai se transformar e as cores e padrões vão alterar a moda
e o gosto feminino. Os pigmentos sintéticos descobertos no século XIX vão
também se refletir na pintura e nas cores escolhidas pelos pintores para
retratar as mulheres de elite da corte de D. Pedro II. Temos assim, um duplo
movimento decorrente das descobertas químicas relativas aos pigmentos
sintéticos: por um lado, os tecidos ganham cores e novos padrões; por outro as
cores das tintas conseguem retratar de maneira fiel esse movimento em quadros.
2. Até o
século XIX, as cores podiam ser concessões reais, como acontecia com Nicolas-Antoine
Taunay, que havia herdado do pai Pierre-Antoine-Henri, ourives e
“pensionista do rei,” os direitos sobre a cor “vermelho Taunay.” Pierre Taunay
era esmaltador e desenvolvia experiências com pigmentos; ele inventou e recebeu
a concessão real por uma tonalidade vermelha específica.[2]
Nicolas possuía os diretos de uso e em um quadro terrível - O triunfo da guilhotina -, usou
proficuamente o vermelho. Mas essas concessões caíram por terra no começo do
século XIX, num movimento semelhante ao fim das leis suntuárias.
3. Os
processos de tingimento químico das roupas nasceram no século XIX, algumas
décadas após a Revolução Industrial. Até então as roupas eram tingidas em sua
maioria com elementos da natureza, como o pau-brasil. Esses processos eram
caros, demorados e o resultado do tingimento não era muito bom: as roupas
desbotavam com lavagens e a passagem do tempo. Ao longo do século, muitas cores
passaram a ser produzidas sinteticamente a partir de descobertas químicas. “A
invenção do tingimento químico iluminou a aparência das damas vitorianas de
maneira tão bem sucedida que podia se ver mulheres usando, por exemplo, um
casaquinho magenta (também chamado de solferino) sobre um vestido rosa ou
lilás, com um corpinho rosa e uma crinolina verde claro bordada com verde
oliva.”[3]
4. O Livros das noivas,
publicado no Rio de Janeiro no final do século XIX, falava das múltiplas trocas
de roupas que uma mulher de sociedade praticava diariamente: “nos múltiplos e
engenhosos feitios das toilettes de
baile ou caseiras, de visita ou de passeio, de jantar ou de soirée, nela não há fulgurantes tons,
nem invenções artísticas [...].”[4] E Júlia Lopes de Almeida, a autora, ainda
avisava: “Não se deve ter roupas demais nem de menos” (ALMEIDA, 1899, p. 23).
5. Na
época, alguns periódicos como a Marmorta Fluminense, recomendavam
para uma mulher de elite uma roupa para cada período do dia ou, pelo menos, uma
para cada ocasião: “de manhã. Uma senhora de gosto apurado deve usar roupão
branco guarnecido de renda ou bordados ingleses. [...] nas reuniões de família,
usam-se vestidos de tartalana ou escócia barege, cassas e garça
de seda. Para traje de jantar, usa-se vestido com corpo guarnecido de rendas
pregadas sobre uma tiara de tafetá” (ALMEIDA, 1899, p. 25).
6. Em A
pata da gazela, José de Alencar descreve uma moça rica e seu vestuário
próprio para sair às ruas: “Por duas vezes avistara a fronte de Amélia coroada
com um chapeuzinho de palha da Itália [...]. A moça tinha um roupão cor de café
[...] as luvas eram da mesma cor de cinza das fitas do chapéu de palha [...]
pousados na calçada dois pezinhos mimosos que palpitavam dentro das botinas de
merino cor de cinza” (ALENCAR, 1951, p. 87).
7. Mais
uma vez, a escritora Júlia Lopes de Almeida, menciona as múltiplas cores das
roupas femininas. “A modista,” escrevia ela, “deve ter imaginação, largas
fantasias e ímpetos inventivos.” E continuava:
8.
Criar
novidades, executar todas as modas, ter a sua maneira, adivinhar as cores
convenientes às claras ou às trigueiras [...]. Uma jovem esbelta, pálida, loira
pede-lhe uma toilette? Tela-á suave. Mística, leve, clara, cor da folha da
ervilha, ou da do pessegueiro, ou branca, ou azul, ou creme; com umas rendas
finas como flocos de espuma [...] É uma senhora morena, alta, majestosa, quem
lhe encomenda um vestido para o próximo baile? Falo-á de veludo vermelho, ou de
cetim brilhante, enfeitalo-á com cores novas esquisitas, com bouquets de plumas
d´aves selvagens, ou de grande flores fantásticas... (ALMEIDA, 1899, p. 24)
9. As
cores, assim como as flores, também passaram a possuir um complexo código
simbólico, já que a maioria da população - ainda mais no Brasil - não sabia ler
nem escrever.[5] As cores queriam dizer muitas coisas:
desde o preto do luto ao branco da pureza, ao rosa das boas intenções, o lilás
da seriedade, o azul da alma limpa. Esses significados estavam em constante
transformação. Por isso “o significado de uma cor é, em grande parte, a
história da cor. É um significado adquirido pelo movimento através do tempo”
(HARVEY, 2004, p. 17). Intuímos assim que cores faziam parte das roupas usadas
pela corte e pela alta burguesia no Brasil, além de possuíram um intrincado
simbolismo para a época.
O preto e o branco das roupas:
o cotidiano e o simbólico no Oitocentos
10. A gama
de cores que vai permear o guarda-roupa feminino no século XIX tinha a
predominância do branco e do preto. Essa era uma ideia que, de certa maneira,
retomava conceitos da reforma protestante. O preto era sinal de luto e piedade,
de uma vida regrada voltada a Deus, humilde e simples. Na corte espanhola, por
exemplo, o preto estava associado à austeridade e piedade, o mesmo ocorrendo em
países protestantes como a Holanda. Para os homens, ao longo do século XIX, o
preto esteve associado ao Romantismo e ao dandismo. Com o passar do tempo,
associou-se também aos aristocratas, homens de negócios e donos de fábrica.
Passou a ser a cor mais significativa do guarda-roupa masculino, altamente
ligado a um estrato social de elite.
11. Às
mulheres jovens e crianças estava destinado o branco (HARVEY, 2004). O branco
proporcionava às mulheres um visual que ressaltava a castidade e a pureza de
sentimentos. A rainha Vitória, para se casar em fevereiro de 1840, escolheu o
branco [Figura 1],[6]
cujo significado até então simbolizava riqueza e prosperidade. Com seu vestido
de casamento branco, a jovem monarca ressaltou a pureza de seus sentimentos e
de sua sexualidade. Outras rainhas, anteriormente, haviam usado o azul para
simbolizar a pureza de intenções ao se casarem, mas Vitória, ao preferir o
branco, fez desse gesto uma tradição [Figura 2].[7]
Logo depois, por exemplo, a Imperatriz Eugênia seguiu seu exemplo também se
casando de banco em 1853.
12. No Rio
de Janeiro do século XIX, o branco era usado principalmente por moças da elite.
José de Alencar ao descrever uma personagem moça, fala de seus “[...] contornos
harmoniosos que se destacavam entre as ondas de cambraia de seu roupão branco”
(ALENCAR, Cinco minutos, s.d., p. 34). Ele também fala da penitência de
uma viúva que ousava pela primeira vez usar branco, anos depois da morte do
marido: “Pela primeira vez depois de cinco anos Carolina trajava de branco; mas
as fitas dos laços, as pulseiras, o colar, eram pretos ainda” (ALENCAR, A
viuvinha, s.d., p. 151).
13. O
branco também condizia com o clima tropical do Rio de Janeiro, ajudando a
amenizar o calor das roupas pesadas. Muitas vezes era usado em casa, em um
roupão solto. A cor, se usada para passeios, também estabelecia uma distinção
social evidente, já que apenas as moças ricas ou nobres usavam uma cor que tinha
de estar sempre impecável, sem nódoas ou sujeira - e que, portanto, deveria ser
lavada por profissionais.
14. O
branco também ressaltava a juventude e a pureza das moças, servindo muitas
vezes de metáfora para escritores como José de Alencar ou Aluísio Azevedo. Em Sonhos
d´Ouro, por exemplo, Alencar escrevia: “Tinha um vestido branco de extrema
simplicidade, fitas no cinto e no cabelo, botinas de duraque [...] e uma
gargantilha de veludo da mesma cor, com um medalhão de jaspe. Era de jaspe
também a pulseira” (ALENCAR, 1872, p. 189). Já Azevedo, em Filomena Borges,
referia-se a uma noiva de classe média com vestido de chamalote branco
(AZEVEDO, 1960, p. 23).
15. Existem
várias fontes para se mostrar o universo de cores das roupas do século XIX. A
literatura é uma delas, com suas descrições minuciosas, em que podemos ver como
as cores se espalhavam pelo cotidiano. Vestidos, luvas, chapéus foram descritos
minuciosamente pelos escritores. Outra fonte importante para percebermos as
cores das roupas de época, além da literatura, são as crônicas sociais dos
jornais. A cada baile, saiam nos jornais cariocas, como no Diário do Rio de
Janeiro, descrições detalhadas das vestimentas das senhoras e mocinhas que
estiveram presentes (PINHO, 1970, p. 305).
16. Temos
ainda uma série de quadros, atualmente espalhados por museus do Rio de Janeiro
e de São Paulo, que podem nos dar pistas de como as cores nos vestidos foram
usadas por mulheres de elite para simbolizar sentimentos, reafirmar o poder da
família e o status social de quem as portava. Essas mulheres foram retratadas
por pintores brasileiros ou estrangeiros, que tinham seus ateliês no Rio de
Janeiro ou em São Paulo. Algumas mulheres brasileiras eram pintadas na Europa,
em viagens de lua de mel ou de negócios dos maridos. Nesse caso, preferiam os
ateliês de pintores que retratavam a aristocracia europeia, como François
Claudius Compte-Calix ou Franz Xaver Winterhalter.
17. Domitília
de Castro, a marquesa de Santos e amante D. Pedro I, teve seu retrato pintado
por Francisco
Pedro do Amaral, com um vestido branco cheio de simbolismo [Figura 3].[9] Na mesma época em que ganhou o título de
marquesa, a faixa rosa pálido e branco foi
amarrada na cintura com um brasão em ouro. O decote é debruado em renda
branca, assim como as mangas abrem-se em um tecido fino e transparente. Suas
joias - as pulseiras de pérolas em ambos os punhos, o colar de quatro voltas de
pérolas e diamantes, o brinco pendente, as diademas e presilhas de brilhantes
no cabelo, os anéis em todos os dedos - demonstram, ao mesmo tempo, poder e
riqueza, mas também, ao nosso ver, certa insegurança.[9]
18. Já a
Baronesa do Piraí, Cecília Pimenta de Almeida Frazão de Souza Breves,
em pintura reproduzida na Figura 4,[10]
escolheu ao posar para Claude Joseph Barandier, um vestido branco sem decote,
complementado por uma capa preta amarrada por uma touca com laços em verde e
rosa. A imagem data provavelmente da década 1850 ou 1860 e mostra a baronesa já
com idade (ela viria a falecer em 1866, com 84 anos de idade). No quadro, as
roupas escolhidas por Cecília Breves mostram seu status e sua posição na
corte: branco e preto se misturam, assim como luto e pureza de
sentimentos.
19. O
branco podia vestir tanto senhoras mais idosas, como a Baronesa de Piraí, como
mocinhas - o que era mais comum. Em Casa de pensão, Azevedo descreve uma
personagem feminina, ao mesmo tempo inocente e sensual, num vestido de fustão
branco apertado: “Vestia fustão branco, sarapintado de pequenas flores
cor-de-rosa. [...]. O vestido curto, muito cosido ao corpo, eluvava-lhe as
formas [...]. Espartilhada, como estava [...]. Sentia-se-lhe dentro das mangas
do vestido a trêmula carnadura dos braços; e os pulsos apareciam nus.”[11]
20. Julia
Lopes de Almeida associava o branco à limpeza doméstica. Citando as várias
cores das toilettes femininas dizia em seu Livro das noivas:
“Para fazer costura branca é preciso ter um gênio especial, sereno e paciente
[...]. A roupa branca deve ser ampla, talhada com gosto, bordada com carinho;
há pontos adequados a cada peça, modelos graciosos, variados, desde os mais
singelos até os mais complicados e trabalhosos” (ALMEIDA, 1896, p. 25).
21. A
predominância do branco nas roupas femininas era ultrapassada apenas pela cor
preta, que se tornou símbolo da vestimenta do século XIX. A ascensão da
burguesia e o aparente desapego das coisas materiais, incentivado pelos ideais
do Romantismo,[12] tornava o preto a cor ideal para passar
uma imagem de comedimento e seriedade.[13] Além disso, o preto não precisava de
muitas lavagens, não aparentava sujeira e seu tingimento era relativamente
fácil.
22. Essa
cor - ou a ausência de cor, como preferiam alguns dos filósofos da época -
também era natural numa sociedade em que o luto era cotidiano. “Em meados
daquele século [XIX], o negro das roupas tornou-se o uniforme tanto das elites,
aristocratas ou profissionais liberais, e o operariado. A moda do luto foi,
então, uma moda para todos” (SCHMITT, 2010, p. 79). Pais, irmãos, filhos,
cunhados, tias ou sobrinhos eram velados e enterrados com uma regularidade
quase cotidiana. Numa sociedade em que os homens eram responsáveis pela posição
social da mulher, elas podiam passar anos de preto por causa do marido.
23. Sobre
o preto no Brasil oitocentista, observou o pintor J. M.
Rugendas (1972, p. 81): “Na capital, a indumentária das mulheres varia de
acordo com a moda. Entretanto, elas não gostam de mudar nem de tecido nem de
cor, sendo os vestidos quase sempre de tafetá preto.” Já François Biard, em suas observações sobre o país por volta
de 1858, escreveu: “Por toda parte o preto predominava. Os caixeiros das lojas,
manejando as vassouras, já vestiam, às sete da manhã, elegantes redingotes de
casemira. O branco, nesse país, onde o preto deveria ser castigo para os galés,
era desconhecido” (BIARD, 1945, p. 31). Ainda que isso não fosse totalmente
correto, o preto era certamente uma constante para homens e mulheres.
24. D.
Francisca de Bragança, Princesa de
Joinville, nasceu em 1824 e foi a quarta filha do Imperador D. Pedro
I com D. Maria Leopoldina. Cresceu no Rio de Janeiro, ao lado do Imperador D.
Pedro II e das irmãs D. Januária e D. Paula Mariana. Casou-se em 1 de maio de
1843 com Francisco Fernando de Orléans,
almirante e terceiro filho do Rei de França Luís Felipe Ide Orléans e de Maria
Amélia de Bourbon-Sicília, princesa de Nápoles (SANTOS, 2013, p. 16-84). Em
retrato de Franz Xaver Winterhalter [Figura 5],[14] a Princesa de Joinville tinha 20 anos; acabara de se
casar e de mudar para França. Nas roupas escolhidas, o preto, em contraste com
o branco da gola e das mangas, mostra sobriedade para uma recém-casada.
25. No
retrato da Imperatriz Teresa Cristina feito pelo pintor brasileiro José Correa
de Lima (1814-1857) [Figura 6],[15]
vemos a jovem noiva com um vestido azul muito escuro, quase preto, enfeitado
com pequenos babados brancos ao redor do colo, um colar e um retrato do
Imperador, além de uma faixa azul clara. Os cabelos em cachos estão presos por
uma coroa de pedras preciosas. Anos depois, já uma senhora de quase 30 anos, a
Imperatriz deixou-se retratar numa foto colorizada [Figura 7],[16][17]
com um simples vestido preto, sem joias ou adornos, com os cabelos pretos
presos atrás da cabeça.
26. No
Brasil, o preto das roupas passou a simbolizar a vida burguesa, até para os
escravos. Isto fica evidente no seguinte trecho de Robert Avé-Lallemant, em que
o viajante descreve uma família abastada do sul do país, que vestia os escravos
de cetim preto:
27.
Assim
como uma família, viajando de carro no Rio Grande, gosta de ver diante de si
muitos cavalos ou bois, para exibir certa riqueza, assim também uma tropa de
escravos, sobretudo de escravas e até muitas vezes com vestidos de cetim preto
e corrente de ouro em volta do pescoço, nas regiões onde predomina o trabalho
escravo, serve como reclama de abundância. (AVÉ-LALLEMANT, 1961, p. 194)
28. José
de Alencar apresenta inúmeras personagens femininas trajadas de preto em sinal
de luto ou de uma vida regrada, burguesa. “Trajava um vestido de cetim preto,
simples e elegante [...]” (ALENCAR, A viuvinha, s.d., p. 117), vai
escrever em A viuvinha. Ou, em Lucíola, diz que: “Ambas [se]
trajavam de preto, com véus espessos [...]. De volta da missa, tomaram de novo
as suas alvas roupas de cassa [...]” (ALENCAR, Lucíola, s.d., p. 191). Também Machado de Assis, em D. Casmurro,
escreveu que a senhora, viúva, “vivia metida em um eterno vestido escuro [...]
com um xale preto, dobrado em triângulo e abrochado ao peito por um camafeu. Os
cabelos, em bandós, eram apanhados sobre a nuca por um velho pente de tartaruga
[...]” (ASSIS, 1974, p. 15).
29. O preto
também era a cor usada ao se ir à missa, atividade feminina por excelência. Uma
variedade de relatos, como no seguinte, de J.-B.
Debret, contam que:
30.
A
vestimenta da senhora apresenta um exemplo do traje usado nas cerimônias da
igreja; [...]. Uma senhora de boa sociedade ajusta aos cabelos um lindo véu
bordado, preto ou branco [...]. A saia de filó preto bordado, usada por cima de
um forro branco ou de qualquer outra cor clara, constitui o traje rico mais
decente; um calçado elegante completa a indumentária da devota rebuscada nos
seus enfeites. (DEBRET, 1940, p. 159-161).
31. Outro
relato informa:
32.
Aos
domingos as mulheres, tanto as brancas como as de cor, vestem-se todas de
preto, na maior parte de seda, com meias de seda branca, sapatos
correspondentes e sobre a cabeça um véu preto de fino crepe que cobre a metade
do corpo e realça a palidez do rosto [...]. Posto que saiam pouco e só
raramente façam vida social [...] as damas de qualidade e as mulheres em geral
possuem amplos guarda-roupas de linho e sedas de toda classe, guarnecidos de
outros enfeites. Quem dispuser de véus petinet, musselinas bordadas ou vestidos
de seda pura fará fortuna, porque estes artigos, não obstante as modistas
francesas e os armarinhos de luxo, são escassos e alcançam preços enormes.
Nenhuma senhora [...] sai à rua sem que lhe siga atrás um negro ou negra bem
vestido em traje de seda [...]. (LEITHOLD, RANGO, 1966, p. 30-32)
Novos
tempos, novas cores: a revolução química cromática
33. Ainda
que o preto e branco fossem as cores mais comuns de serem encontradas em roupas
no século XIX, como nos exemplos da Figura 8[18] e
da Figura 9[19]],
isto não significou a ausência de outras cores em vestidos e roupas de
mulheres. As roupas e acessórios muitas vezes eram coloridos, com vermelhos,
rosas, azuis, amarelos, roxos ou verdes se destacando em trajes de moças
e senhoras. A fotografia da época pode enganar os olhos e o pesquisador,
já que as técnicas de revelação eram rudimentares. Tudo o que parece ser branco
pode ser rosa claro, como abaixo, ou amarelo claro, e aparecer como branco na
foto. E também ao contrário: o roxo bem escuro ou o verde podem aparecer como
sendo preto.
34. Na
tela de François Claudius Compte-Calix, reproduzida na Figura 10,[20]
a marquesa do Itamarati, Maria Romana Bernardes da Rocha, aparece retratada não
apenas com várias cores - um vestido em branco quase gelo, com uma aplicação de
renda preta e flores vermelhas enfeitando o busto -, mas paramentada com o
último rigor da moda e uma enorme crinolina por baixo do vestido. O quadro não
é datado, mas a enorme crinolina redonda nos dá a ideia que tenha sido pintado
provavelmente década de 1850, quando, junto com o marido, o conde de Itamarati,
construiu o palacete no centro do Rio.
35. As
cores são uma constante em pinturas das famílias aristocráticas. Além da
família real brasileira, membros da corte brasileira gostavam de ser ver
retratados por pintores muitas vezes estrangeiros, como o austríaco Ferdinand Krumholz que esteve no Brasil entre 1848 e 1853 e
fez diversos quadros do Imperador, de sua família e de outros nobres da corte.
Esses quadros permitem observar toda a diversidade cromática das vestes no Segundo
Reinado.
36. Até
meados do século XIX, as técnicas de tingimento ainda eram fundamentalmente
naturais, com plantas, flores, raízes ou animais que funcionavam como agentes
tingidores (GAGE, 1996; LEVITT, 1983). Nem sempre o tingimento dava certo e as
cores costumavam desbotar facilmente ao serem lavadas. A corrida para produtos
que pudessem resultar em cores duráveis e vibrantes remontava à Idade Média. O
pau-brasil, por exemplo, foi largamente usado nos primeiros séculos da
colonização portuguesa (FREYRE, 2005). O resultado dos tecidos tingidos com
pau-brasil era claramente superior: um vermelho vivo, que não desbotava.
Vermelhos resultantes do tingimento com pau-brasil valiam mais. Por isso,
quando a Revolução Industrial começou, a procura por agentes sintéticos ou
naturais que pudessem ser usados com segurança em larga escala também teve
início.
37. O
vermelho, em particular, era uma das cores mais difíceis de serem conseguidas.
Desde a antiguidade, gregos, chineses e indianos costumavam usar um inseto esmagado
para conseguir a cor de seus tecidos. Por isso, a referida concessão real à
família de Taunay. Em 1826, um químico francês, Pierre-Jean Robiquet descobriu
a alizarina, um pigmento da família de rubáceas. Algumas décadas mais tarde, em
1868, dois químicos alemães, Carl Graebe e Carl Libermann, descobriram como
fazer a cor vermelha sinteticamente, a partir da alzarina. Em pouco tempo, a
indústria incorporou a nova e mais barata maneira de se tingir tecidos e, no
final do século, o vermelho já havia se popularizado (TOZER, LEVITT, 1983, p.
37-40).
38. A esta
altura o significado da cor vermelha havia se modificado - da cor do martírio
de Cristo, usada por reis e nobres desde a antiguidade, para a cor do
socialismo, por causa da Revolução Francesa.[21]
A associação do vermelho com lutas populares começou com esse
movimento. Em outubro de 1789, a Assembleia Constituinte francesa decretou que
um pano vermelho fosse colocado onde houvesse perigo de confrontos iminentes.
Em 17 de julho de 1791, uma pequena aglomeração se encontrava no Campo de Marte
para pedir a destituição de Luis XVI, que havia sido preso tentando
fugir. Começava-se a se pensar numa república francesa. No dia, tentou-se
escrever uma petição não reconhecendo o rei. Bailly, prefeito de Paris na
época, mandou colocar um enorme pano vermelho no lugar. O povo jogou pedras na
Guarda Nacional, que usou balas de festim para dispersar a multidão. Todos
perceberam o embuste e voltam a jogar pedras na multidão. Bailly mandou então
usar balas de verdade. A guarda nacional atirou na população. Foi um massacre:
mais de 50 mortos e centenas de feridos. Dois anos mais tarde, em 21 de
novembro de 1793, Bailly, visto como traidor do povo, foi guilhotinado. Assim,
a cada revolta o vermelho aparecia como a cor do sangue dos que tombaram por um
ideal. Essa é uma das primeiras e mais fortes associações do vermelho com
movimentos de esquerda, até que se tornou a bandeira da Revolução Russa (MORIN,
2013).
39. Nas
leis suntuárias, em vigor até as primeiras décadas do século XIX, as
prostitutas eram obrigadas a portarem uma peça de cor vermelha para se mostrem
diferentes de outras mulheres. A cor aparecia mais em detalhes, em lenços ou
mantilhas, muitas vezes usada também por escravas, malandros ou gente da
fazenda. “As negras têm geralmente um talhe flexível e elegante [...]. É raro
encontrar uma negra, mesmo de 17 a 18 anos, cujo colo tenha conservado as
formas que tanto buscamos [...]. Contudo, não lhes falece certa arte para
dissimular a sua flacidez com um pedaço de pano azul ou vermelho” (TOLLENARE,
1956, p. 80-1).
40. Contudo,
um vermelho rico e encorpado, se usado com os acessórios certos e por damas da
sociedade carioca acrescentava bom gosto e beleza às moças. A condessa de
Iguaçu, Maria Isabel de Alcântara Brasileira, deixou-se retratar com essa cor [Figura 11].[22]
Talvez o pintor, o austríaco Ferdinand Krumholz, com a escolha do vermelho,
fizesse uma alusão à mãe de Maria Isabel, Domitília de Castro Canto e Mello,
célebre amante de D. Pedro I. Maria Isabel foi a quarta filha bastarda desse
relacionamento, criada pela mãe. O vermelho estaria associado, então, à paixão
materna. Mas a explicação pode ser mais simples: a condessa poderia simplsmente
gostar de seu rico vestido vermelho. O vermelho também tinha sido a cor
preferida de reis e nobres na Idade Média.
41. Ao
contrário do vermelho, como uma variante mais suave, estava o rosa - esse sim
usado proficuamente por moças e jovens senhoras de sociedade preocupadas com a
moda. Os tons pasteis eram muitas vezes celebrados para as mocinhas: “A festa
de Fernando realizou-se na véspera da sua partida. Magdá [...] pôs um vestido
de cassa cor-de-rosa, todo enfeitado de margaridas, deixando ver em
transferência a ebúrnea riqueza do colo e dos braços” (AZEVEDO, 1970, P. 50),
escreveu Aluísio Azevedo. A condessa do Pinhal aparece séria em uma foto
pintada [Figura 12],[23]
com um vestido cor-de-rosa, com mangas bufantes, renda branca e um broche e um
colar.
42. O
tingimento industrial de tecidos começou com a descoberta pelo estudante de
química alemão William Perkin, de uma substância posteriormente chamada de mauveine,
derivada do alcatrão de hulha e produtora dos pigmentos sintéticos de tinta
para tecidos.[24] A cor resultante desse processo era uma
espécie de roxo bastante vivo. Perkin patenteou sua invenção em 1870, um dia
depois dos químicos Carl Liebermann e Carl Graebe terem também pateteado a
síntese química da alzarina, que dava o vermelho sintético. As descobertas
químicas alemãs continuaram pelas próximas décadas e transformaram a Alemanha
numa potência industrial. Novas e brilhantes cores foram sendo usadas pela
indústria que nascia, como o amarelo, o magenta, o azul - que eram também muito
mais baratas. (TOZER, LEVITT, 1983, p. 40).
43. O
amarelo foi uma das cores sintéticas mais produzidas. Era resultante de um
composto derivado da anilina e foi primeiramente comercializado em 1864, um ano
após o preto sintético estar disponível no mercado. Sempre foi associado à
riqueza e ao luxo, por causa do ouro. Até a descoberta do amarelo sintético,
usava-se elementos naturais para se tingir os tecidos, como urina de vaca, os
ocres da terra e o arsênico.
44. No
mesmo período, o amarelo também apareceu em vestidos na corte brasileira, como
no intrincado modelo dourado vestido pela marquesa do Paraná, Maria Henriqueta
Netto Carneiro Leme, ao posar para Emílio
Bauch [Figura 13].[25] A marquesa,
dama de companhia da Imperatriz e pertencente a uma das mais influentes
famílias da corte, mostrava todo o poder do marido, Honório Hermeto Carneiro
Leão, que havia sido presidente do Conselho de Ministros, entre 1853 e 1856.
Emil, ou Emílio Bausch, foi um pintor alemão, nascido em Hamburgo em 1823, que
veio para o Brasil em 1849; fixou-se primeiro em Recife e depois partiu para a
corte. Nesse seu quadro, pintado em 1856, Maria Henriqueta está com 47 anos.
Escolheu um modelo dourado, adequado para festas, com um decote profundo, adornado
por rendas pretas e um camafeu com a imagem do marido. Brincos, um longo colar
de pérolas e pulseiras completam as joias escolhidas para o quadro. O cabelo é
preso atrás da cabeça, num coque que termina em plumas de avestruz. Com este
retrato, ela torna-se a imagem perfeita de uma dama de companhia da Imperatriz,
com poder e grande influência na corte. Mostra também o imenso poder do marido
junto ao Imperador.
45. No
verbete azul do Dicionário de Raphael Bluteau, a cor aparece como uma
palavra derivada do árabe, “zul”, e usada por pintores em seus quadros. Estava
também ligada a alguns uniformes de casas reais, à ideia de misericórdia e ao
pigmento derivado do lápis-lázuli.[26] O azul começou a ser usado no Antigo
Egito a partir do pigmento da pedra lápis-laluzi triturada. Era a cor do céu e
do deus Amon. Na Índia, o azul era obtido a partir do pigmento de uma planta, o
índigo. Em Roma, o índigo era importado dos indianos para ser usado nas cores
das roupas dos trabalhadores; era também a cor associada aos períodos de luto e
aos “bárbaros,” como os celtas, que tingiam suas roupas com o woad (Isatis tinctoria), uma árvore comum na Europa.[27]
No final do período medieval, tornou-se relativamente comum o uso de roupas
tingidas com o “pastel woad,”
que mais tarde ficou conhecido apenas como “pastel” na região de Toulouse
(PASTOUREAU, 2000, p. 48-53).
46. Uma
pequena guerra comercial entre os dois azuis começou na Renascença. Tanto
o índigo indiano quanto o woad pastel tinham o mesmo princípio
ativo, que resultava num tingimento de azul profundo. Com a conquista inglesa
da Índia, no final do século XVIII, o mercado para o índigo indiano se
estabeleceu e levou à ruína cidades como Toulouse, que dependiam do tingimento
de tecidos com o woad. (PASTOUREAU, 2000, p. 83). A Inglaterra,
depois da dominação da Índia, passou a exportar o índigo por um preço muito
barato que o woad: o resultado foi uma espécie de explosão de tecidos
azuis tingidos com o índigo indiano.
47. Foi
basicamente esse índigo indiano que tingiu as roupas de azul no século XIX. Não
fazia muito tempo que, a grande disponibilidade de índigo no mercado colaborou
para que o azul passasse a ser usado nos uniformes militares e de policiais. O
azul também foi a cor dos uniformes dos homens que libertaram os Estados Unidos
(MOLLO, 1991, p. 177; foi, ainda, cor dos guardas que protegiam Luis XVI, a cor
dos regimentos de Napoleão[28], foi a cor escolhida para ser a da
polícia de Londres. Em 1868, um químico alemão, Johann Friederich von Bayer,
descobriu um índigo sintético, que foi colocado no mercado em 1897 e
impulsionou uma crescente popularização da cor (PASTOUREAU, 2000, p.
111).
48. No
Brasil, ao longo do século XIX, o azul vindo do índigo indiano em tecidos
ingleses foi muito usado em vestidos. Como aconteceu no traje da princesa
Isabel no baile de 16 de maio de 1872, quando ela vestiu um traje de “cetim
azul com finíssima renda branca na saia e no corpinho, ornados de graciosos
grupos de botões de rosas; flores iguais, porém unidas, prendiam o penteado em
cachos, adereço de brilhantes”. (PINHO, 1970, p. 305).
49. August
Müller, pintor alemão discípulo de Debret, pintou o retrato da baronesa de
Vassouras, Ana Alexandrina Teixeira Leite, entre a década de 1850 e 1860 [Figura 14].[29] Em 1851, Ana havia acabado de se casar
com um primo, o barão Francisco José Teixeira Leite. Ela era trinta anos mais
nova do que o noivo e era o segundo casamento do barão. No retrato, ela exibe a
aliança e um vestido azul, com rendas pretas sobrepostas e grandes mangas
brancas. Todos os símbolos do casamento de uma mulher de sociedade da época
estão presentes: o azul representando a pureza de sentimentos (mais condizente
que o branco para uma segunda núpcia), os anéis, o broche de ouro fechando
colarinho, o véu rendado preto adornando o penteado, os metros e metros de um
rico tecido azul profundo, a cidadezinha ao fundo.
50. Irmão
do azul na palhete de cores, o verde por muito tempo foi usado a partir de
pigmentos de árvores ou plantas. O Bluteau associa o verde a uma
variedade de plantas e hortaliças: “A cor que a natureza dá às ervas e
árvores,”[30] diz o começo do verbete sobre o verde, e
a seguir elenca uma série de plantas e variedades da cor, como o aspargo e a
arruda.
51. Até
meados do século XVIII, os processos de tingimento de tecidos com o verde não
eram muito duradouros e a cor costumava desbotar ao ser lavada e usada
frequentemente. Usava-se malaquita, cobalto ou cobre para se conseguir tons
verdes, mas até a descoberta de um pigmento verde sintético, era difícil se
obter um verde “estável” e “durável.” Esse primeiro pigmento sintético era
feito com arsênico (DELAMARE, 2002). Alguns tons de verde sintético, como
“verdegris” ou o “verde de Paris” eram tóxicos, pois continham altas dosagens
de arsênico e cobalto (DELAMARE, 2002).
52. O
verde era especialmente importante para a família real brasileira: era cor da
bandeira imperial brasileira, a cor da casa de Bragança, de D. Pedro I (o
amarelo seria o da casa de Habsburgo, de d. Leopoldina). Por isso, em diversas
ocasiões oficiais durante o Segundo Reinado, os membros da família imperial, em
especial a Imperatriz Tereza Cristina e as princesas Isabel e Leopoldina,
usaram verde em suas roupas. No baile de maio de 1872, “trazia a imperatriz um
vestido de seda verde com guarnições de renda branca larga formando apanhados
presos com ramos de flores escuras e veludo; flores iguais ornavam em
trepadeira o penteado; adereço de pérolas e brilhantes” (ALENCAR, 1971, p. 223).
53. O
verde também esteve presente em descrições do cotidiano das mulheres de elite
do Rio de Janeiro. É o caso de Aurélia, personagem de José de Alencar, que
usava verde pela manhã: “A moça trazia nessa ocasião um roupão de cetim verde
cerrado à cintura por um cordão de fios de ouro [...]. A moça reclinara a
fronte sobre a mão direita, cujo braço nu, apoiado na mesa, surgia de entre os
fofos da cambraia que frocavam a manga do roupão” (ALENCAR, 1971, p. 223). Para
usa verde à tarde, numa espécie de túnica, “trazia Aurélia uma túnica de cetim
verde, colhida a cintura por um cordão de torçal de ouro, cujas borlas tremiam
com seu passo modulado (ALENCAR, 1971, p. 72).
54. As
meninas do quadro de José Correa de Lima reproduzido na Figura 15[31] estão vestidas com suas melhores roupas:
uma no piano, de vestido furta-cor verde, com rendas no decote e pulseiras
delicadas; outrade rosa, com um decote enfeitado por uma renda branca, lacinhos
na frente do vestido. As crinolinas de ambas estão evidentes na pintura Correa
de Lima, que foi discípulo de Debret e que atuava na corte em meados do
Oitocentos. O pai zela por ambas, com um grande livro na mão. Tudo na pintura
evoca a elite imperial: o piano, as moças, o grande livro, cortinas,
candelabros e harpas na casa fazem um cenário de fundo que ressalta a riqueza e
distinção dos personagens da cena.
55. No
broche reproduzido na Figura 16,[32]
que faz parte da coleção Sérgio Eduardo Lemgruber do Museu Imperial, em
Petrópolis, vemos D. Mariana Velho Ribeiro de Avellar, viscondessa de Ubá, em
um vestido verde adornado por um corpete rendado de branco e pedras no busto. A
família Avellar foi importante proprietária de terras, cultivadas com café na
região de Paty de Alferes, no Rio de Janeiro. Sua fazenda chamava-se Pau Grande
e Mariana era filha de José Maria Velho da
Silva e Leonarda Maria Velho da Mota, dama de honra Imperatriz Tereza Cristina.
Com muita influência na corte, a família Avellar foi uma das mais ricas do
império.[33]
56. O
verde também foi o tom do movimento romântico. A cor representava uma volta à
natureza em um momento em que a Revolução Industrial enchia o ar das grandes
cidades de fumaça cinza. Os românticos, ao se voltarem para símbolos e cores
medievais, também recuperaram o significado medieval do verde, então associado
às feiticeiras, bruxas e dragões, e se tornaram grandes propagadores da cor em
quadros, descrições literárias e nas roupas do cotidiano (HILTON, 1995, p.
161-175).
57. Cores
e pintores retrataram as mudanças pelas quais passou a indústria têxtil no
século XIX. Por meio deles podemos ver o desenvolvimento de diferentes técnicas
e tecidos. Pigmentos que antes eram naturais, vindos de elementos da natureza
passam a ser feitos sinteticamente. Isso se traduz tanto na confecção de tintas
melhores - mais brilhantes, que não desbotavam, que se fixavam melhor na tela
-, como em tecidos de cores diferentes.
58. Observar
esses quadros representando mulheres também nos remete a um tipo de pintura que
acabou por ficar fora dos salões e dos museus. Eram uma espécie de arte
produzida para ser apreciada em casa, no espaço doméstico, muitas vezes feita
por pintores secundários, mas que se inseriam numa tradição europeia de
retratos aristocráticos.
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______________________________
[1] Joana Monteleone faz
pós-doutorado na Universidade Federal de São Paulo, é Doutora pela Universidade
de São Paulo com a tese “O circuito das roupas: a corte, o consumo e a moda.
Rio de Janeiro, 1840-1899” e autora do livro Sabores urbanos. Alimentação,
sociabilidade e consumo. São Paulo, 1828-1910. São Paulo: Alameda
Casa Editorial, 2015.
[2] Sobre a família Taunay
e as cores, ver: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O sol do Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008; SCHWARCZ, Lilia Moritz; DIAS, Elaine. Nicolas-Antoine
Taunay, uma leitura dos trópicos. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. Ainda sobre esse tema
específico, ver também o artigo: BERTONHA, Ivone. A arte de Nicolas-Antoine
Taunay, um diálogo com o Iluminismo. In: IV Congresso Internacional de
História. Anais... Disponível em:
<http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/788.pdf>.
Acesso em 11 abr. 2016.
[2] Ver o livro de Julia
Lopes de Almeida: Livro das noivas. Rio de Janeiro:
s.n., 1899, p. 23. Julia falou muito sobre moda e sobre como se portar em
sociedade, do casamento à idade adulta.
[3] WILSON, Elizabeth;
TAYLOR, Lou. Through the looking glass: a history of dress from
1860 to the presente day. Londres:
BBC Books, 1989, p. 35. A tradução do trecho citado é minha.
[5] Sobre as cores, ver os
dois livros do historiador da arte inglês John Gage: Colour and culture: practice and meaning from
Antiquity to Abstraction. Londres: Thames and
Hudson, 1996; La couleur dans l'art. Londres: Thames and Hudson,
2003 .
[6] O vestido branco é o
centro do quadro de sir George Hayter, Queen´s
Vitoria and Albert Marriage, que pode ser visto na Royal Collection: <https://www.royalcollection.org.uk/collection/407165/the-marriage-of-queen-victoria-10-february-1840>.
Acesso em 26 dez. 2017.
[7] Para mais gravuras
desse tipo, ver: Frank Leslie's Ladies Magazine Catalogue, set. 1870.
Disponível em: <http://fairhavenprintshop.com/women.htm>. Acesso em 19 fev.
2013.
[8] O quadro foi pintado
por Francisco Pedro do Amaral em c. 1826, quando a Marquesa tinha 29 anos, e
encontra-se no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.
[9] Sobre a relação
tempestuosa de D. Pedro I e a Marquesa de Santos, ver: SANTOS, Eugenio dos. D.
Pedro, imperador do Brasil e rei de Portugal. São Paulo: Alameda
Casa Editorial, 2013.
[10] O pintor Claude J.
Barandier, autor de A condessa de Piraí, Cecília Pimenta de Almeida
Frazão de Souza, era o preferido da corte e pintou muitos retratos das
famílias nobres brasileiras. Este óleo pertence à coleção do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Rio de Janeiro.
[11] AZEVEDO, Aluísio. Casa
de pensão. São Paulo: Martins Editora, 1960. p. 87.
[12] O conceito de
Romantismo é complexo e deve levar em conta as diferentes transformações
sociais ocorridas ao longo do século XIX. Para caracterizar o Romantismo nesse
artigo levei em conta as discussões em: THOPMSON, E. P.. Os românticos: a Inglaterra na
era revolucionária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2002. Para uma visão mais tradicional sobre o tema, usei o livro de
BOESCH, Bruno. História da literatura alemã.
São Paulo: Edusp, 1967, p. 325-370; além do ótimo trabalho sobre o Romantismo
no Brasil: WERKEMA, Andrea S.. Macário ou o drama romântico em Álvares de
Azevedo. Belo Horizonte: UFMG, 2012.
[13] SCHMITT, Juliana. Mortes
vitorianas: corpos, luto e vestuários. São Paulo: Alameda Casa
Editorial, p. 114-115.
[14] Franz Xaver Winterhalter,
Retrato de D. Francisca de Bragança, 1844. Óleo sobre tela. Petrópolis, Museu Imperial <http://www.museuimperial.gov.br>.
Acesso em 25 mar. 2013.
[15] José Correa de Lima, Retrato da Imperatriz Teresa Cristina,
c. 1843. Óleo sobre tela, 65 x 70 cm. Reprodução da Revista de
História da Biblioteca Nacional. n. 17, ano, fevereiro de 2007.. O quadro
encontra-se atualmente no Museu Imperial de Petrópolis.
[16] Bia Corrêa do Lago. Os
fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de
Janeiro: Capivara, 2005.
[17] Idem.
[18] J. Baptista Borely,
Retrato da Baronesa São João da Barra, 1853. Coleção Museus do Estado
do Rio de Janeiro.
[19] Retrato da Marquesa de Valença, Ilídia Mafalda de Souza Queiróz, autor anônimo e sem
datação. A obra está no Museu de História e Artes do Estado do Rio de Janeiro.
[20] François Claudius
Compte-Calix, Retrato da Marquesa do
Itamarati, s.d. Óleo sobre tela, 144 × 105 cm. Rio de Janeiro, Palácio do
Itamarati, Museu Histórico e Diplomático.
[21] Os revolucionários
franceses eternizaram o gorro vermelho dos jacobinos, usado no período do
Terror.
[22] Ferdinand Krumholz, Retrato da Condessa de Iguaçu, 1852. Rio de Janeiro,
Museu Nacional de Belas Artes.
[23] A condessa do Pinhal em
foto anônima pintada da época de seu casamento, em 1863. A foto encontra-se no
site <www.arrudabotelho.com.br>.
Acesso em 26 fev. 2013.
[24] A hulha é uma espécie
de carvão mineral que contém betume. Foi muito estudada no século XIX e
utilizada na indústria.
[25] Retrato
Maria Henriqueta, Marquesa de Paraná (1809-1887), esposa de Honório Hermeto
Carneiro Leão, Marquês de Paraná. Tela de Emílio Bauch, em 1856. In: Grandes personagens da nossa
história. v.2. São Paulo: Abril,
1972.
[26] Ver Dicionário de Raphael Bluteau, que
encontra-se disponível no site do Instituto de Estudos Brasileiros <http://200.144.255.59/catalogo_eletronico/consultaDocumentos.asp?Tipo_Consulta=Acervo&Acervo_Codigo=1&Setor_Codigo=11>.
O verbete “azul” foi consultado em 7 mar. 2012
[27] Sobre arte, ver o livro
o livro clássico de Roger Fry, Visão e forma. São Paulo: Cosac & Naify,
2002. Ver também: GAGE, John. Colour and culture: practice and meaning from
Antiquity to Abstraction. Londres:
Thames and Hudson, 1996; FRASCINA,
Francis et al.. Modernidade e modernismo: a pintura francesa no século XIX
(Trad. port. São Paulo: Cosac & Naify, 1998). Não é fácil encontrar
trabalhos sobre cores e pigmentos no século XIX e eu tive muitas vezes de
recorrer a algumas histórias da arte e da pintura. Uma exceção
é o controverso livro de
Michel Pastoureau, Bleu. Histoire d’une couleur. Paris : Le Seuil, 2000.
[28] Napoleão, por causa do
bloqueio continental, tingia os uniformes de woad. Ver a ótima resenha
de Annie Geffroy sobre o livro acima citado de de Michel Pastoureau, na revista Mots. Le langages du politique,
n. 70, 2002.
[29] August Müller, Baronesa de Vasssouras. In: Arte
do século XIX. Catálogo Mostra do Redescobrimento, 2000, p.
82.
[30] Ver, no site do
Instituto de Estudos Brasileiros, o verbete “verde”: <http://200.144.255.59/catalogo_eletronico/consultaDocumentos.asp?Tipo_Consulta=Acervo&Acervo_Codigo=1&Setor_Codigo=11>.
Acesso em 14 mar. 2012.
[31] Luiz
Felipe Alencastro (org.) História da vida privada no Brasil II.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997, caderno de imagem.
[32] Este adereço feminino
faz parte da coleção Sérgio Eduardo Lemgruber e está disponível no site do
Museu Imperial: <http://187.16.250.90:10358/handle/acervo/84>. Consulta em
4/3/13.
[33] Ver: MORAIS, Roberto Meneses de. Os Ribeiro de Avellar na Fazenda Pau Grande (Paty do Alferes). Rio de
Janeiro: Colégio brasileiro de genealogia, 1994; ALENCASTRO, Luiz Felipe de.
Vida privada e ordem privada no império. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe (org.) História
da vida privada no Brasil II. São Paulo: Companhia das Letras, 1997,
p. 12-93.