O antigo Hotel Balneário Sete de Setembro: Arquitetura eclética de tendência clássica
Maria Helena da Fonseca Hermes *
HERMES, Maria Helena da Fonseca. O antigo Hotel Balneário Sete de Setembro: Arquitetura eclética de tendência clássica. 19&20, Rio de Janeiro, v. II, n. 3, jul. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/hotel_balneario.htm>.
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BREVE HISTÓRICO
O antigo Hotel Sete de Setembro teve uma existência efêmera na função de hotel, praticamente desconhecida. Inaugurado em 15 de julho de 1922, sábado, num chá dançante beneficente embalado pelos acordes da Orquestra do Country Club [1], foi fechado e teve seus prédios desmembrados em 1924 para que parte deles passasse a abrigar um hospital infantil denominado Hospital Abrigo Arthur Bernardes.
Em 1926, outra parte dos prédios foi cedida e adaptada para abrigar o Internato da Escola de Enfermagem Anna Nery, que ali permaneceu até 1973 [Figura 1]. Na função de abrigo do Internato, por iniciativa do Dr. Carlos Chagas com o apoio da Fundação Rockefeller, foi um pioneiro centro de formação e capacitação profissional para enfermeiras de todo o país contra doenças como a febre amarela e malária. A própria Fundação Rockefeller [2] chegou a ocupar parte de um dos prédios durante um determinado período.
De 1973 a 1995 os prédios passaram a abrigar a Casa do Estudante Universitário – CEU, nome pelo qual o conjunto arquitetônico ficou conhecido a partir de 1987, quando de seu tombamento pelo órgão de tutela estadual, INEPAC.
Em 1995 a UFRJ retomou a posse do imóvel e em 1997 deu início ao processo para revitalização e restauração dos prédios para novo uso, segundo o Projeto de Restauração e Uso do Hotel Sete de Setembro [3], documento produzido pela UFRJ que embasou a solicitação e a obtenção do apoio da lei federal de incentivo fiscal, aprovado em 2000. Denominado Projeto RB 762, e gerenciado pela FUJB - Fundação Universitária José Bonifácio, iniciou-se o processo de captação de recursos que obteve o apoio da própria Fundação, da UFRJ, da Eletrobrás e, numa segunda etapa em 2004, pela Petrobrás. Estes recursos propiciaram a continuação dos serviços já iniciados e o desenvolvimento aos projetos executivos, além de parte das obras.
De 2001 a 2004 a UFRJ desenvolveu levantamentos de campo, métricos e do estado de conservação para pisos, esquadrias, escadas, balaustradas e fundições, telhados e outros, [4] visando obter o registro e memória das edificações, sua arquitetura e detalhes no estado anterior às intervenções previstas no anteprojeto de modificação de arquitetura, aprovado em 1997. Registre-se que, embora bem preservados por “estarem visíveis os elementos que possibilitam que o prédio se revele como um documento, da maneira pela qual a história moderna entende os documentos”[5] os prédios encontravam-se, à época, em péssimo estado de conservação.
A tipologia de hotel balneário foi tratada na dissertação do PPGAV/EBA/UFRJ [6] por conta de observações e dúvidas surgidas no decorrer das investigações ou oriundas do olhar atento durante a convivência com o bem, que exigiram aprofundar detalhes sobre sua arquitetura e a época de sua construção. Estudar este exemplar em suas características arquitetônicas e ornamentais também se justificou pela publicação de duas referências bastante divergentes entre si, referindo-se à sua classificação como eclético-acadêmico [7] e outra como um raro exemplar de arquitetura neo-grega [8]. A outra referência foi de que o prédio teria se mostrado inadequado para a função de hotel e por isso teria sido desativado.
ECLETISMO E TIPOLOGIA BALNEÁRIA
A questão da revalorização crítica do ecletismo foi abordada visando tecer uma teia teórica de suporte à ampliação da valoração pretendida, utilizando textos de Jean-Pierre Èpron[9], François Loyer[10] e Luciano Patetta.[11] Os recortes desses teóricos focaram três aspectos essenciais: a questão da busca pela afirmação do profissional arquiteto como o coordenador ideal para os serviços de campo, absorvido de Èpron; a questão social e econômica urbana envolvendo a cidade e vivenciando o veloz desenrolar da Revolução Industrial, recortado de Loyer e a análise das demandas da burguesia formando um período fragmentário, porém unido por uma linha tênue e perceptível, como apresentado por Patetta.
Sintonizado com o conteúdo deste aspecto do texto de Èpron foram encontradas, em 1922, declarações de profissionais sobre as demandas e interferências dos clientes nos projetos [12]. e também um trabalho da Sociedade Central dos Arquitetos propondo e regulamentando posturas municipais [13]
Isso evidencia uma participação inédita dos arquitetos nas questões da organização e vida urbana da cidade e não apenas nos prédios, sendo o momento de grande efervescência e modificações na cidade. A maior destas obras foi o desmonte do Morro do Castelo, berço da cidade colonial, para criação de uma grande Esplanada tomada em aterro sobre a baía de Guanabara, cujo destino mais imediato era sediar a Exposição Internacional do Centenário da Independência [Figura 2]. Após a Exposição, esperava-se negociar essas novas áreas comerciais por um valor expressivo, para ressarcir tais investimentos. Para isso, o poder executivo tomou empréstimos vultosos no exterior, sujeitos às variações de câmbio futuras na época dos pagamentos.
A partir da discussão de Patetta, foi proposto um diálogo entre as demandas de uma nova elite e o desenvolvimento da hotelaria que, inspiradas no modo de vida na França, exigiam a adequação das novas tecnologias e conforto para usufruir um status até então vivenciado pela aristocracia. No contexto da cidade do Rio de Janeiro, essa colocação encontra eco desde a primeira década do século XX em alguns projetos de hotel e cassino não executados e no apoio e incentivo, inclusive fiscal, do governo às iniciativas de construções de hotéis de luxo, nas demandas dos clientes, importadores e grandes investidores.
As transformações urbanas buscavam uma peculiar vinculação ao monumental pretendendo espelhar com grandiosidade aos visitantes da Exposição, uma cidade hygienica, arejada e moderna, talvez visando equiparar-se ao status que Buenos Aires havia apresentado ao mundo10 anos antes, quando dos festejos do centenário da independência portenha.
O texto de Loyer trata do diálogo da cidade e do urbano com sua arquitetura, privilegiando seu diálogo com a questão social e econômica. Por pretender estender seu olhar adiante, observando a arquitetura como um “reflexo privilegiado”, acabou por uma referencia teórica muito expressiva e especial no olhar sobre a cidade do Rio de Janeiro, suas transformações e o planejamento do poder executivo na década de 20. Absorver esse tipo de análise demonstrou ser fundamental na questão da valoração do bem ampliando a questão arquitetônica para a vida desse período na cidade balneária carioca.
A rearticulação da questão teórica se imbricou no conceito de tipo e modelo descritos por Argan [14] a partir de Quatremère de Quincy, identificando o tipo como uma idéia, um conceito, portanto vago e impreciso e o modelo como um objeto, uma coisa, um artefato.
De posse dessas informações, tratou-se de procurar o conjunto tipo ao qual pertence o objeto de estudo e, por conseguinte, a pesquisa se encaminhou para a trajetória da hotelaria na França, com ênfase na Côte D’Azur. Foi apresentada uma breve revisão da questão e alguns dos incrementos na prestação de serviços da hotelaria associados aos deslocamentos e viagens, multiplicados numa velocidade apenas sonhada antes, por conta do desenvolvimento das linhas férreas e dos trens a vapor e maquinário e de toda uma parcela de bens e serviços nascentes a partir da Revolução Industrial. As grandes distâncias tornaram-se mais acessíveis, assim como as vilas antes distantes. Locais de início procurados para fins curativos e de tratamento, aos poucos mais preventivo, puderam ser acessados com mais facilidade e rapidez, passando a desenvolver uma série de atrativos. Assim, reduzindo o campo de pesquisa a essa região, identificada sob essa denominação desde a Ligúria na Itália, observou-se uma enorme demanda para o desenvolvimento de benfeitorias com conforto e infra-estrutura de apoio atualizada com as tendências dos grandes centros, em especial Londres e Paris.
Sintonizados no cenário dessa expansão e nos deslocamentos das famílias estão os hotéis, as estações de tratamento e as estações balneárias, indicando novos caminhos e passando a contemplar uma gama de serviços não disponibilizada antes fora dos grandes centros. Desenvolveram-se diferentes vilas na costa da França, destacando-se a região mediterrânea da Cote D’Azur como aquela que interessa recortar como inspiração para o Hotel Sete de Setembro, no Rio de Janeiro, já que o Brasil naquele momento era influenciado pelo savoir vivre francês, costumes, moda e produtos, detectados como o estado da arte do desejável, atual e avançado. Assim, é natural supor a forte influência na arquitetura e construções, em detrimento do que já existia em construções nos centros urbanos e também na capital.
Visando compor um quadro comparativo, foram pesquisados os inventários de vários hôtels de voyageurs na base de dados do Serviço de Patrimônio da França e, dentre eles, foi recortado um conjunto dos últimos quartéis do século XIX e primeiro quartel do século XX na cidade de Cannes [Figura 3]. Alguns exemplares foram escolhidos para análise, como o Hotel Carlton [Figura 4], Hotel Gonnet et de la Reine, Hotel Majestic, Hotel Éden em Cap D’Ail, Hotel St. Maurice e outros. Essa escolha visou eleger um conjunto que apresentasse a mesma tipologia e aspectos morfológicos das representações ornamentais e do repertório do ecletismo de tendência clássica do objeto de estudo no Brasil, para verificar a possibilidade de conjugar uma interseção destes dois conjuntos, francês e carioca.
Destacaram-se prédios em cidades descritas como villégiatures de bord de mer, de tipologia balneária, predominantemente horizontais e voltadas para a paisagem e cuja distribuição em planta privilegia os espaços que promovam a interligação do interior com o exterior. Destacam-se então os mirantes, terraços e balcões, sacadas, loggias e varandas, pátios internos e pórticos cobertos. As linhas do desenho das fachadas se organizam em tramos, segundo sua distribuição interna associada à estrutura, numa trama articulável, que ainda se referencia na trama beaux arts, ortogonal e articulável, portanto permitindo um sem número de combinações para a criação de um determinado tipo.
As aberturas e vãos se voltam para a paisagem e para as circulações, permitindo a teatralização social do jogo do ver e ser visto para que o cliente usuário desses espaços realizasse a expectativa de vivenciar a experiência de estar, segundo Bernard Toulier “entre o prolongamento de sua vida de origem e seu antídoto”.[15]
HOTEL BALNEÁRIO
A construção do Hotel
A abertura da Avenida Central no Rio de Janeiro em 1906 havia sido consagrada como um grande sucesso, fosse por suas dimensões, características, “modernidade” e construções em estilo eclético ou pela ocupação essencialmente comercial da área. Há menção de que estes terrenos teriam se valorizado mais de trinta vezes em 20 anos [16]. Esta imagem alavancava a idéia de que novas áreas comerciais próximas ao centro da cidade seriam altamente rentáveis e cuja venda garantida seria ampliada se acrescida de terrenos planos e urbanizados. Para tanto, e sob esta alegação além da questão de higienização e aeraçõ do centro, foi enpreendido o desmonte do Morro do Castelo em área contígua à da Avenida Central.
Sendo o Morro do Castelo considerado o berço de criação da cidade, houve divergências e opiniões contrárias à idéia, mas nada deteve a determinação do poder executivo, municipal e federal, para que a grande empreitada fosse cumprida em tempo recorde, a tempo de construir neste local os pavilhões da Exposição do Centenário, em 1922. Foram feitas desapropriações, desde residências populares, empresas e oficinas além da demolição do marco da criação da cidade, por conta de empréstimos externos vultosos entre 1920 e 1921, gestão do Prefeito Carlos Sampaio e do Presidente Epitácio Pessoa.
Dentre outras tantas obras de porte, o desmonte do Morro e a criação da Esplanada do Castelo no centro da cidade foi a obra de maior destaque nessa gestão. Para a contenção do aterro proveniente do Morro um grande volume de pedras era necessário para a construção de uma extensa muralha, tendo sido determinado sua retirada, com explosivos, do Morro da Viúva no bairro do Flamengo. O transporte até o centro foi feito por mar. A retirada das pedras do Morro da Viúva consignou a abertura de uma Avenida de Contorno em torno da pedreira [Figura 5].
A construção do Hotel se deu no sopé do Morro da Viúva e, conforme afirma o Prefeito C. Sampaio, como conseqüência da extração de pedras para a muralha conjugada à questão da hospedagem na Capital durante os festejos do Centenário e também como parâmetro para a construção dos demais prédios na Avenida de Contorno, logo depois denominada Avenida Ruy Barbosa [Figura 5].
Para a construçao do Hotel, cuja obra havia sido vetada pelo Conselho Municipal da cidade, o Prefeito assinou seu De accordo nos desenhos da fachada do Hotel Sete de Setembro nos primeiros dias de novembro de 1921 [Figura 6], confirmando nessa construção, metas e um planejamento coordenado nas ações de preparação do evento do Centenário.
O prefeito se justificou a respeito dessa deliberação, alegando que a Capital não dispunha de hotéis e alojamentos de luxo para os visitantes da Exposição. Além disso, o Prefeito Sampaio declara que os terrenos resultantes das escavações ao longo da avenida, numa faixa “com profundidade variável de 35 a 40 metros” no Flamengo seriam vendidos posteriormente e o valor obtido usado para cobrir o custo das obras da própria Avenida de Contorno.
Em paralelo a essa iniciativa descobriu-se outras, particulares e incentivadas pelo governo, visando a construção de hotéis de luxo na cidade. Em todas as propostas havia uma recomendação em comum: os hotéis deveriam ter instalações balneárias. Confirma-se então a percepção e vontade política de consolidar uma outra imagem da cidade, litorânea e balneária num planejamento estratégico delineado nas obras de urbanização de novas áreas residenciais ao sul da Capital.
Por conta das imagens em conjugação às delarações de C. Sampaio, descobriu-se que o Hotel Sete de Setembro era constituído por no mínimo quatro blocos distintos, uma parcela destes construída sobre parte das oficinas desapropriadas do Comendador Jannuzzi, autor do projeto e das obras do Hotel, arquiteto e construtor italiano bastante respeitado na cidade. As instalações do Sete de Setembro, segundo Sampaio [17], ofereciam energia elétrica e de telefone em todos os 275 aposentos, além de barbeiro, salões, terraços e um Restaurante. O hotel contava ainda com cabines de banho sob o leito da Avenida de Contorno [Figura 1] e sua localização provilegiada no Morro da Viúva, fronteira ao Pão de Açúcar, lhe conferiam destaque ímpar na visão litorânea da cidade construída, além de perfeita adequaçao ao unicum paisagístico, recortado sobre a encosta do Morro.
O conjunto arquitetonico hoje pertencente a UFRJ é composto por apenas duas das quatro edificaçoes originais, aqui denominadas de Restaurante e Hotel.
Tipologia balneária, repertório e ornamentação eclética de tendência clássica
A tipologia de hotel balneário está presente nos prédios de forma inequívoca, no partido horizontalizado na percepção e conjugação de sua arquitetura na ambiencia litorânea. Sua implantação não prescinde da vista privilegiada, descortinada pelos compartimentos mais nobres e pelos aposentos luxuosos, terraços e zonas de passagem, como a loggia fronteira ao hotel, que protege e distinguem o hóspede.
Os prédios elevam-se acima do nível do meio fio por meio de escadarias em pedra do Hotel. Num primeiro momento, o olhar repousa e observa a disposição ordenada e simétrica dos inúmeros vãos de esquadrias do Hotel, dispostos num bloco alongado de três pavimentos e um mirante, no grande terraço do Hotel.
No Hotel [Figura 7], há equilíbrio entre cheios e vazios e há uma marcação do corpo central que faz o acesso principal da edificação a partir da escadaria e da loggia. Consoles sob os balcões apresentam focinhos de leão e guirlandas vegetais, balaustradas e parapeitos em mármore de Carrara.
No Restaurante [Figura 8], uma proporção quase quadrada, com um grande terraço e pequenos balcões. Neste prédio, um olhar crítico poderia enxergar uma prevalência dos vazios sobre os cheios por conta das enormes esquadrias em arco pleno no salao nobre mas, no todo acabam prevalecendo os panos das alvenarias com rusticaçoes ornamentadas por pilastras de capitel jonico em ordem colossal, em dois tramos simétricos.
O prédio do Restaurante, quase um terço do Hotel, tem quase mil metros quadrados e se destaca pelo luxo mais pomposo e um repertório de motivos variado tanto nas fachadas e também, internamente, nos salões. O destaque para este prédio se concentra na forma e volume da edificação, complementada pelo terraço e balaustrada, e em suas imponentes esquadrias, tanto em arco pleno como em verga reta nos balcões. Há simetria e equilíbrio nos dois tramos da composição da fachada principal, que apresenta dois pavimentos num corpo único com 16 metros de altura. Sem balaustrada de coroamento, a figura do retângulo fica reforçada conquanto contida em seu perímetro, suavizada pelas peanhas com palmas no acrotério [Figura 11].
Os elementos e as representaçoes ornamentais apresentam morfologia similar aqueles recortados em Cannes, com capitéis em voluta [Figura 9], focinhos de leão [Figura 10] peanhas com figuras [Figura 11], etc.
Verificou-se que os desenhos originais das fachadas foram elaborados em papel manteiga com tintas coloridas, representando os tipos de material a ser empregado nas fachadas, por cores [Figura 5].
Nos desenhos e também nas plantas dos prédios, percebe-se uma modulação rígida em inteiros, meios e frações, assim como alinhamentos precisos dos ornamentos nos desenhos nas fachadas e, também, na construção propriamente dita, denunciando a consciente exploração de uma trama ortogonal explícitamente beaux arts [Figura 12].
É então o partido ornamental da composição o responsável por doar movimento, sombras e contrastes ao prédio. De resultado discreto e austero, o movimento das fachadas se dá nas sutis diferenças de planos empregadas nos elementos arquitetônicos, na modenatura da fachada principal do hotel, que proporcionam os contrastes de luz e sombras, que são mais significativos nos terraços e na loggia, nas balaustradas, dos balcões apoiados em consoles e das lesenas das pilastras com capitéis jônicos [Figura 9].
CONCLUSÕES
Confirmou-se a ampliação da valoração do Hotel Sete de Setembro, insuflada por seu significado na história da cidade, em sintonia com a proposta de Loyer como a “[...] ambição de propor eixos de leitura que ultrapassem a classificação puramente estilística das formas para estabelecer um diálogo entre os fenômenos sociais ou econômicos e as mentalidades, onde a arquitetura é o reflexo privilegiado”[18]. Afirma-se então a existência de uma tipologia balneária na cidade do Rio de Janeiro representada em vários exemplares e atendendo a um planejamento urbano pragmático e objetivando a execução de hotéis balneários, em 1920/22.
As discrepâncias sobre a arquitetura eclética do antigo Hotel Sete de Setembro contidas na resenha do Guia da Arquitetura Eclética e na justificativa de seu tombamento não puderam se conjugar após as descobertas e revelações do trabalho. O monumento deveria se classificar como arquitetura de caráter eclético com tendência clássica, por conta de suas similaridades com outros monumentos ecléticos da arquitetura balneária da Côte D’Azur, Cannes.
Confirmou-se que o Hotel Sete de Setembro era inicialmente um conjunto arquitetônico maior, quase o dobro dos prédios que hoje pertencem à UFRJ.
Conquanto o Hotel Sete de Setembro não possa ser considerado o exemplar mais luxuoso, se comparado ao Copacabana Palace, sua ambientação, salões, aposentos e facilidades certamente o distinguiam como estabelecimento capaz de dar conta das expectativas de luxo no padrão das famílias de poder aquisitivo da época. Somando esse padrão à sua localização, considerou-se o conjunto apto a cumprir a missão de atuar na vida burguesa e ao mesmo tempo ser seu antídoto.
Enquanto as reavaliações críticas auxiliam a consolidar o legado do Ecletismo na Europa, incrementa-se a sensibilidade e interesse por esse tipo de patrimônio edificado na cidade do Rio de Janeiro. Sua revitalização inova, atendendo às recomendações prescritas na Carta de Veneza. A pesquisa sobre o Hotel Sete de Setembro inscreve-se entao no resgate para consolidar o Ecletismo arquitetônico como parte da identidade brasileira e carioca, memória e história da cidade.
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(*) Arquiteta, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
[1] REVISTA DA SEMANA - Festas. Rio de Janeiro: Ano XXIII no 29, 15 de Julho de 1922
[2] COELHO, Cecília Pecego. A Escola de Enfermagem Anna Nery Sua História Nossas Memórias. Rio de Janeiro: Editora Cultura Médica, 1985.
[3] HERMES, Maria Helena e FERRAZ, João. Projeto de Restauração e Uso do Hotel Sete de Setembro. Rio de Janeiro: 1999.
[4] HERMES, Maria Helena e CARVALHO, Regina. Cadernos de Esquadrias Prédio Principal. Projeto de Restauro RB 762 UFRJ. Rio de Janeiro, 2004.
[5] MOTTA, Lia. INEPAC, Ofício No 86. Parecer. Protocolo No 162/97. Rio de Janeiro: 17 abril 1997.
[6] HERMES, Maria Helena. O Hotel Sete de Setembro e a Arquitetura Balneária do Ecletismo Tardio no Rio de Janeiro. PPGAV/EBA/UFRJ. (Dissertação de mestrado em História e Crítica da Arte). Rio de Janeiro, 2007.
[7] CAMPOFIORITO, Ítalo. INEPAC, Memo No7/DPHA/83. Processo E-03 11357/83. Parecer sobre o tombamento dos imóveis da Casa do Estudante Universitário e da Escola Politécnica. Rio de Janeiro: 19 abril 1983.
[8] CZAJKOWSKY, Jorge (org.) Guia da Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000.
[9] ÉPRON, Jean-Pierre. Comprendre L’Écletisme. Paris: Éditions Norma, 1997.
[10] LOYER, François. Le siècle de L‘Industrie 1789-1914. Paris: Editions d’Art Albert Skira, 1983
[11] PATETTA, Luciano. Considerações sobre o Ecletismo na Europa. in FABRIS, Annateresa (org.) Ecletismo na arquitetura Brasileira. São Paulo: Editora da USP / Nobel, 1987.
[12] ARCHITECTURA NO BRASIL – FIGUEIREDO, Nestor de. A campanha pela architectura um dos obstáculos. Rio de Janeiro: Junho, Julho, 1922.
[13] ANNAES DO CONSELHO MUNICIPAL DISTRICTO FEDERAL DEZEMBRO DE 1922. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Brasil, 1923
[14] ARGAN, G. C. Projeto e destino. São Paulo: Editora Ática, 2004.
[15] TOULIER, Bernard. L’influence des guides touristiques dans la répresentation et la constructiona de l’espace balneaire (1850-1950). Exposé donne dans le cadre du colloque de l’université ParisVII-Diderot, 3-4 décembre 1998. Disponível em <http://www.culture.gouv.fr/culture/inventai/telechar/bt02.pdf>.
[16] JANNUZZI, Antonio, Escorço Histórico do Problema da construcção de casas populares da cidade do Rio de Janeiro. O progresso do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typografia do Jornal do Commercio, Rodrigues e C., 1927.
[17] SAMPAIO, Carlos. Administração Municipal do Governo do Presidente Epitácio. [s.]; s.n., 1923.
[18] LOYER, François. Le siècle de L‘Industrie 1789-1914. Paris: Editions d’Art Albert Skira, 1983.