Portal da antiga Academia Imperial de Belas Artes: A entrada do Neoclassicismo no Brasil [1]

Bernardo Domingos de Almeida

ALMEIDA, Bernardo Domingos de . Portal da antiga Academia Imperial de Belas Artes: A entrada do Neoclassicismo no Brasil. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 1, jan. 2008. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_portalaiba.htm>.

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INTRODUÇÃO

Tendo em consideração a que as Artes do Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, são indispensáveis à civilização dos povos e instrução pública de meus Vassalos, além do aumento e perfeição que podem dar aos objetos da Indústria, Física e História Natural: Hei por bem estabelecer, em benefício comum nesta Cidade e Corte do Rio de Janeiro, uma Academia que se denominará Real Academia de desenho Pintura, Escultura e Arquitetura Civil.

Decreto de 12 de outubro de 1820, assinado por EL Rei, D. João VI. [2]

Utilizando como objeto de estudos o Portal da antiga Academia Imperial de Belas Artes [Figura 1], construída pelo arquiteto francês, Grandjean de Montigny (1776 - 1850), integrante da Missão Francesa e professor de arquitetura civil na referida Academia - além de ter sido um dos membros da missão artística que mais tempo viveu no Brasil, tendo abraçado o país como sua segunda pátria - farei uma análise daquela que é tida como primeira obra neoclássica do Brasil (ou ao menos, do que restou dela), segundo a sua conturbada história de existência e os padrões do estilo.

Para tanto, terei por base o programa para as aulas de Arquitetura civil da Academia, encontrados no conjunto de decretos acerca desta, seus professores e aulas, compilados na Collecção das Leis do Império do Brasil de 1831, bem como definições do estilo segundo autoridades da época, como Winckelman. Como principais fontes históricas, me pauto nos escritos de Manuel de Araújo Porto-alegre (1806 - 1879), aluno e diretor da Academia, além de principal historiógrafo das artes no Brasil de sua época (se não o único) e, nas crônicas de Gonzaga-Duque (1863 - 1911), que além de ter sido figura ilustre no meio cultural da republica velha, registrou algumas das reformas que levaram à demolição da Academia, entre tantos outros prédios.

Com o intuito de organizar o trabalho, dividi este em três partes. São elas: Parte I: Breve Histórico, aonde este é apresentado; Parte II: Análise, quando o trabalho tomará a identidade aqui apresentada; Parte III: O Portal da AIBA atualmente, onde uma breve contextualização atual do portal é apresentada, tal qual sua relação para com o sítio escolhido para abrigá-lo, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

PARTE I: Breve Histórico

No século XIX, os ideais neoclássicos, propagados pelo esteta alemão Winckelman (1717 - 1768) no século anterior e consolidado pelos artistas republicanos, envolvidos com a revolução francesa e com o regime bonapartista, eram quase um consenso na Europa. No Brasil e na maioria das colônias ultramarinas, porém, um espírito Barroco se faz presente, ainda, bem de acordo com a mentalidade colonial aqui vigente.

Com a vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, resultando na transferência da capital do Reino para o Rio de Janeiro, a cidade teve de ser repensada. Os portos foram abertos, casa e igrejas foram reformadas e instituições foram criadas, em suma, tinha de ser criada aqui, em meio a uma cultura provinciana e colonialista, uma capital à altura das capitais européias. Assim, o então príncipe regente, D. João, contrata a chamada Missão Artística Francesa (que traria em seu corpo não só artistas, mas também cientistas [3]), que aporta no Rio de Janeiro no ano de 1816, a fim de estabelecer, aqui, uma Academia de Ciências, Artes e Ofícios.

Embora as aulas devessem ter começado a ser ministradas em locais públicos desde o ano em que os professores franceses chegaram [4], elas vieram a ser efetivadas apenas no ano de 1820 [5]. De acordo com Gonzaga-Duque, em seu “A Arte Brasileira, apenas Jean-Baptiste Debret (1768 - 1848), por iniciativa própria, teria lecionado suas aulas de desenho e pintura, já desde o ano de sua chegada, a “não pequeno número de alunos em um prédio particular” [6], provavelmente no seu atelier, no Catumbi, retratado pelo francês em suas aquarelas.

O prédio da Academia, por sua vez, demorou ainda mais a ser inaugurado, datando esta de 1826, sendo que a esta data o prédio ainda não estaria completo, posto que Araújo Porto-alegre, depois do Barão de Taunay [7], ainda pedia por maiores verbas aos fundos do Império, a fim de finalizar as obras do segundo andar da AIBA, bem como a obra de manutenção do restante, já decadente após 25 anos. Tal prédio é considerado o primeiro prédio neoclássico construído no Brasil, sendo o francês Grandjean de Montigny, considerado o responsável pela introdução do estilo no país (o que é uma verdade parcial, como veremos adiante).

O prédio, que se localizava na Rua do Ouvidor, foi demolido na década de 1930, estando a Academia alocada, desde 1908, onde hoje se encontra o Museu Nacional de Belas Artes - obra do arquiteto Morales de los Rios (1858 - 1928), sob o título de Escola Nacional de Belas Artes, após a proclamação da república em 1889 e que deu origem à atual Escola de Belas Artes da UFRJ. Do prédio original, restou apenas o fronte, que segundo dados do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, fora preservado e transportado para o parque nos anos 40 do séc. XX, por insistência do arquiteto e urbanista Lúcio Costa, então, diretor da ENBA.

Este caráter itinerante, não só da Academia, mas das instituições públicas de então, viria a preocupar Porto-alegre, que assumira o cargo de diretor da AIBA em 1851. Num documento feito a pedido de S.M.I., D. Pedro II, o discípulo de Debret ressente-se destas instituições do Império serem “inquilinos, que mudam de domicílio continuadamente[8] chamando atenção para o impacto que isto exerce sobre a visão destas por parte da população. Na época, Porto-alegre referia-se ao passado recente da AIBA, que ficara dez anos funcionando sem uma sede adequada, bem como ao espectro de uma nova mudança da Academia, que ao que tudo indica só saiu da hipótese meio século depois.

Tendo colocado acima a questão da atribuição de marco do neoclassicismo no Brasil, volto a falar também da atribuição de responsável pela introdução da arquitetura neoclássica no Brasil, dada ao arquiteto francês, que como já foi posto, são verdades parciais. Digo parciais, pois é inevitável reconhecer que a vinda da Missão Francesa foi um divisor de águas no que diz respeito ao estilo neoclássico no país, sendo inclusive um marco aceito de longa data. Mas há que se reconhecer, também, que antes mesmo da corte portuguesa fugir para o Brasil, já se viam em diversas construções brasileiras (principalmente nas igrejas projetadas pelo arquiteto italiano Giusepe Landi), muitas manifestações do neoclassicismo.

No Rio de Janeiro, Mestre Valentim já misturara elementos neoclássicos às suas obras, classificadas como rococó, mas que se sabe, também não são exatamente deste estilo, produzindo uma transição muito mais harmônica e integrada ao ambiente brasileiro que aquela instituída pela colônia Lebreton[9].

No ano em que veio para o Brasil, D. João (ainda príncipe regente e, por isso, ainda sem a classificação VI), encomenda do já citado Mestre Valentim, a fachada da Fábrica de Pólvora [Figura 2], construída na antiga sede da Fazenda Rodrigo de Freitas (atualmente também pertencente ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que teve início nas proximidades da fábrica de pólvora como um jardim de aclimatação) [10]. Tal construção, de 1808 e, portanto, anterior à chegada dos franceses, embora apresente ainda os adornos excessivos, característicos das construções do período, já é uma construção de caráter neoclássico, como se observa na sobriedade das colunas laterais ou no emblema cívico do Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves, que embora adornado com floreios, é uma típica presença da virtude patriótica, neoclássica por excelência.

Cabe aqui colocar, ainda, a relação histórica que o Jardim Botânico do Rio de Janeiro tem para com a Academia de Belas Artes, posto que foram contemporâneos (uma vez que o Jardim Botânico teve seu primeiro diretor nomeado no ano de 1824 e sua inauguração para o público, data de 1890 [11], anteriormente a esta data, era de acesso restrito à corte) e que seu diretor fora nomeado membro Honorário da Academia de Belas Artes [12], junto a outros funcionários ilustres e membros da corte, a fim de conferir à AIBA a nobreza necessária. São ambas as instituições, portanto, marcos do inicio do neoclassicismo no Brasil por intervenção de Sua Alteza Real (S.A.R) D. João VI.

Finalizando esta parte, num comentário mais crítico que histórico, arrisco dizer que o neoclassicismo no Brasil foi transplantado pela Missão Francesa, mas seu desenvolvimento já vinha se delineando desde antes, num processo mais orgânico de transição e que fora suprimido com a criação da Academia. Talvez por isso, não obtivemos, a exemplo do que ocorreu com o Barroco e o Rococó, um neoclassicismo adaptado ao ambiente colonial e sim um implante do neoclassicismo Europeu.

PARTE II: Análise

Segundo Winckelman, o único modo de seus contemporâneos tornarem-se grandes, seria imitando os antigos, particularmente os gregos [13]. Assim procedeu Grandjean de Montigny, quando projetou o prédio da Imperial Academia de Belas Artes, o que fica claro ao vermos o Portal de influência helênica.

Como de costume nas construções da época, foi empregado o granito carioca para a construção do prédio[14]. Nas laterais do portal de entrada, placas de mármore branco foram utilizadas, como que para acrescentar um ar racional, europeizado, a este material tropical. Anos depois, Porto-alegre defenderia o uso dos materiais nacionais na construção civil e na estatuária, que eram desprezados na época [15].

De acordo com a ementa das aulas particulares de Arquitetura, ministradas pelo próprio Grandjean, o curso apresentava três objetos de estudo distintos: o Plano, que consiste no estudo da composição da obra como um desenho, inevitavelmente simétrico, para os neoclássicos; a Elevação, cujo caráter é tirado das proporções, ligados à escolha das ordens arquitetônicas; e por fim, o Ornato, “que é tudo o que possa embelecer [grifo meu] por meio da escultura, tanto em gosto como em riqueza” [16]. Baseado nisto, começarei minha análise pelo plano, seguindo adiante na respectiva progressão.

No que diz respeito à simetria do portal [Figura 1, Figura 3 e Figura 4], podemos claramente dividi-lo de modo cartesiano em quatro, seccionadas ao meio do arco da passagem, na linha vertical e seccionadas acima do mesmo arco, na linha horizontal; onde direita se rebate à esquerda. Deste modo, encontramos três colunas de cada lado, na arcada superior, bem como dois pedestais, destinados a abrigar esculturas de Marc Ferrez (1788 - 1850), escultor da Missão. Na parte inferior do portal, muito mais rígida e pesada que a superior, o rebatimento simétrico também é perfeito, sendo possível subdividir esta parte em colunas verticais: duas exteriores, como que emoldurando o portal; e duas interiores, caracterizadas pelo arco de passagem, os ornamentos ao redor deste e as placas de mármore laterais. No frontão, que pertenceria, dentro desta secção cartesiana já apresentada, à parte superior, o rebatimento entre direita e esquerda é claro se pensarmos no modo como foram representadas as figuras que realizam seu ornamento.

Suas proporções são de acordo com a ordem jônica, o que é sugerido pela presença de seis colunas dessa ordem na parte superior da fachada. A um sexto de sua altura máxima, um imponente frontão decorado de acordo, coroa a construção. A julgar pela aquarela feita por Debret [Figura 3], o portal da Academia ficaria exatamente no centro da sua fachada, bem de acordo com os projetos neoclássicos. Além disso, a leveza aparente, conferida pela colunata da metade superior é rebatida nas colunatas que se seguiam aos lados do portal, explicando melhor a grande massa da metade inferior de acordo com os ideais neoclássicos de totalidade nas obras, mutilado após a demolição do restante do prédio.

Ao menos nesta fachada, os ornatos em terracota são creditados a Zèpherin Ferrez (1797 – 1851) [17], contratado como gravador de medalhas e professor de escultura de ornatos na Academia, mas exímio escultor de relevos de uma forma geral. Ao lado do arco, demarcando as ortogonais, encontram-se dois querubins [Figura 4], diferentes entre si, porém em simétrica oposição, desde a composição alegórica - portando os louros do conhecimento, até o gênero da figuras, uma feminina e outra masculina; entre eles um medalhão coroa o vértice do arco. Infelizmente, atualmente encontramos uma colméia de marimbondos neste medalhão, impedindo uma análise melhor de suas representações.

Como foi dito acima, a colunata abrigaria, originalmente, duas esculturas fixadas entre as colunas mais externas. Não fui capaz de localizar o paradeiro atual destas estátuas, o que me leva a crer que elas não resistiram ao tempo. A já citada aquarela de Debret representa o portal com as estátuas, mas o tamanho reduzido e a má qualidade da reprodução a que tive acesso não me permitiram saber de que se tratavam essas estátuas.

No Frontão, temos uma congruente composição piramidal, que culmina na figura guiando a biga. Abaixo dela, a biga divide o triângulo em dois, partindo dois cavalos para cada lado. Nos vértices, uma figura deitada de cada lado. Numa tentativa de interpretação da alegoria utilizada por Zèpherin, diria que a biga guiada seria a Academia, carro-chefe da nova concepção artística e de seu ensino no país, de mesmo modo, a figura que está guiando esta seria o homem racional, responsável por essa “evolução” na sociedade brasileira de então.

Das concepções teóricas e alegorias positivistas, até a realidade histórica da AIBA, havia um vão considerável. Como foi assinalado acima, a Academia durou toda a sua existência para se ver terminada, passando por obras de reforma e de anexação de edifícios, como foi o caso da pinacoteca, sugerida por Porto-alegre no documento já utilizado por mais de uma vez. O fato é que como bem reparou o diretor, neste mesmo documento, a Academia sempre foi relegada a últimos planos nos interesses do Império, que por conta do legado escravocrata sempre associou as atividades artísticas à uma função “menor”, da qual os escravos davam conta.

Deste modo, entre as figuras de destaque, do Império e depois, da república, nutria-se a imagem de que apenas aqueles que não poderiam bancar os estudos dos filhos no exterior é que investiriam nas escolas nacionais e, mesmo dentre estas, a AIBA era considerada de baixo escalão, já que para o seu ingresso bastava que o pretendente fosse apresentado à alfabetização.

Tendo sido, portanto, mais uma medida de aparências do que uma consideração de sua importância, a AIBA foi, desde o momento em que os membros da Missão Francesa aportaram no Brasil, uma sucessão de medidas provisórias e sem consistência ou propósito real, já que a propagação das belas artes foi muito dificultada pelas brigas internas, entre portugueses e franceses, num primeiro momento [18] e entre brasileiros e estrangeiros, depois [19], além de ter sido pouco aproveitada e valorizada pelo Império, sendo a instituição imperial que menor receita detinha [20].

PARTE III: O Portal da AIBA atualmente

Como dito antes, atualmente a fachada da antiga Academia repousa no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, aonde em conjunto com o Portal da, também antiga, Fábrica de Pólvora, e do próprio parque, encontramos algumas das mais antigas construções neoclássicas do país ainda existentes. Sabendo que destas, apenas o portal da Academia foi retirado de seu local de origem, é possível intuir que fora justamente esta reunião, o motivo que levou Lucio Costa a transportá-lo para o Jardim Botânico.

Para melhor entender isto, falemos novamente da história do parque. Como já mencionado, no intuito de trazer para o Brasil as especiarias do oriente, o Príncipe Regente D. João iniciou, em 1808 na antiga Fazenda Rodrigo de Freitas, um Jardim de Aclimatação. No mesmo ano e desta mesma Fazenda, o príncipe aproveitou também a sede, para a construção de uma fábrica de pólvora, para o suprimento das forças armadas[21]. Em 1824, foi nomeado o primeiro diretor do Jardim Botânico e no mesmo ano, ele já fora indicado membro Honorário da Academia Imperial de Belas Artes, junto a outros diretores de instituições do Império no país, como o Banco do Brasil, a fim de promover esta recém criada Academia.[22]

É sabido que na Missão Francesa vieram também botânicos, que de um modo ou de outro contribuíram para que o parque tenha tido desde sempre relações estritas com os franceses e a Academia aonde eram professores. O plano orgânico da AIBA previa, inclusive, o empréstimo de espécimes botânicos do jardim para utilização em estudos de observação e da flora diversa, lá presente.

Em informações obtidas junto a funcionários do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, observa-se que sua importância histórica, estilística e simbólica não é reconhecida, talvez por desconhecimento de seu papel como marco de uma era como capital de um Reino Unido e a seguir, de um Império.

A Academia é o símbolo do Racionalismo aplicado a um conhecimento e não por acaso, o academismo é uma característica do neoclassicismo, racionalista por definição.

O próprio Jardim Botânico, com suas colunatas floridas e vastas passagens por entre os canteiros é um Jardim neoclássico, embora elementos românticos variados possam ser vistos, como as pontes de concreto imitando troncos ou bambus, o que é facilmente compreendido devido às mudanças de pensamento que conduziram as reformas no parque desde a sua inauguração até os dias atuais. Vale lembrar, ainda, que durante o século XIX, era muito comum a existência de jardins organizados em seções, como forma de subjugar a natureza ao engenho humano. É esta proposta, pois, que se estabelece a um jardim botânico, o JBRJ incluso, que através de suas aléias largas e extensas, abriga seções separadas de acordo as classificações taxonômicas.

Em um Jardim neoclássico, as espécies são racionalmente dividas e classificadas, as vias são precisas e tudo leva a um centro conhecido, ou uma via principal. No Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ao entrarmos é precisamente isto o que vemos. Enquanto espécie tipicamente tropical, a Palmeira, com sua retidão de crescimento e riqueza de simetria é considerada símbolo do Racionalismo nos trópicos [23], por este motivo, as principais vias do Jardim Botânico são ladeadas pela Palmeira Imperial (que assim ficou conhecida graças a seu vasto uso pelo Império).

Sendo assim, encontramos na localização atual do Portal da antiga Academia Imperial de Belas Artes, uma verdadeira ode racionalista, aonde o portal, configurado como um Arco de Triunfo (Figura II), em uma imagem cenicamente afetada, de acordo, aliás com as alegorias neoclássicas, celebra o triunfo do racionalismo nos trópicos, afirmado pelas palmeiras que conduzem ao portal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo observado o valor histórico e estético desta fachada, enquanto resquício da primeira obra efetiva do arquiteto Grandjean de Montigny no Brasil [24], cabe ainda frisar o caráter um tanto irônico desta construção ter assumido, atualmente, as características da primeira incumbência de Grandjean no país, quando pouco após sua chegada fora encomendado um cenário glorioso para a chegada da futura imperatriz, D. Leopoldina. Grandjean, Debret e os irmãos Ferrez ergueram então, em pleno Paço (atual Praça XV de Novembro), um cenário com um templo de Atenas e um Arco de Triunfo semelhante ao que Napoleão mandara erguer em Paris, no qual Zépherin Ferrez trabalhou.

Nesta espécie de fusão ideológica entre as primeiras obras de Grandjean no país, o Portal da Academia Imperial de Belas Artes simboliza a passagem de entrada do estilo Neoclássico no Brasil, que salvo pouquíssimas exceções, entrara através de fórmulas quanto aos conceitos do plano, da elevação e do ornato e suas respectivas aplicações na arquitetura, pintura e escultura.

Tendo isto em mente, arrisco-me a dizer que o berço institucional do estilo no país está atualmente sitiado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, seja pelo parque em si, obra indubitavelmente neoclássica, seja pelo portal de mestre Valentim, num prenúncio do que poderia ser o neoclássico brasileiro sem a intervenção européia, ou, finalmente, seja pela presença atual do portal da AIBA, decretado marco do estilo no país.

BIBLIOGRAFIA

BANDEIRA, Júlio; XEXÉU, Pedro Martins Caldas; CONDURU, Roberto. A Missão Francesa. Rio de Janeiro, RJ: Editora Sextante Artes, 2003.

Porto-alegre, Manuel de Araújo. Apontamentos sobre os meios práticos de desenvolver o gosto e a necessidade das Belas Artes no Rio de Janeiro, feitos por ordem de Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro II, Imperador do Brasil, 1853; in: Revista Critica de Arte, nº 4, 1981. Associação Brasileira de Críticos de Arte.

GONZAGA-DUQUE, Luiz. A Arte Brasileira. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995.

GÊNIOS da Pintura – Neoclássicos, Românticos e Realistas. Editora Abril Cultural. São Paulo, 1984.

CIPINIUK, Alberto. A Estética da Academia de Belas Artes. Rio de Janeiro, RJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tese de Mestrado, 1985. Fonte: Biblioteca do Instituto de Artes.

________________. L'Origine de l'Académie des Beaux Arts de Rio de Janeiro. Bruxelas, Bélgica: Universite Libre de Bruxelles (U.L.B.), Tese de Doutorado, 1990. Fonte: Biblioteca do Instituto de Artes.

OUTRAS REFERÊNCIAS

Collecção das Leis do Império do Brazil de 1831 – IHGB

Biblioteca do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Aulas do professor Alberto Cipiniuk – UERJ

Internet, para pesquisa de imagens e dados biográficos.

Museu da Chácara do Céu, que detém as aquarelas de debret. Museus Castro Maya/ IPHAN/ MINC


[1] Trabalho originalmente feito para a disciplina História da Arte no Brasil II, ministrada pelo Professor Alberto Cipiniuk. Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Departamento de História e Teoria da Arte / Centro de Educação e Humanidades. Novembro de 2007.

[2] Colleção das Leis do Império do Brasil de 1831.

[3] BANDEIRA, Júlio; XEXÉU, Pedro Martins Caldas; CONDURU, Roberto.  A Missão Francesa. Editora Sextante Artes. RJ, 2003.

[4] De acordo com o Real Decreto de 12 de agosto de 1816

[5] De acordo com o Real Decreto de 23 de novembro de 1820

[6] GONZAGA-DUQUE, Luiz. A Arte Brasileira. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995. p.91.

[7] Félix-Emile Taunay (1795 - 1881), filho de Nicolas-Antoine Taunay (1755 - 1830), veio para o Rio de Janeiro com o pai e o irmão, Auguste-Marie Taunay (1768 - 1881), permanecendo aqui após a repatriação do primeiro. Foi pintor de paisagens, lecionando esta cadeira na AIBA, aonde foi, também, diretor, atuando no sentido de amenizar as brigas entre portugueses e franceses na Academia.

[8] Porto-alegre, Manuel de Araújo. Apontamentos sobre os meios práticos de desenvolver o gosto e a necessidade das Belas Artes no Rio de Janeiro, feitos por ordem de Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro II, Imperador do Brasil, 1853; in: Revista Critica de Arte, nº 4, 1981. Associação Brasileira de Críticos de Arte.

[9] Joachim Lebreton (1760 - 1819) foi o ‘líder’ da missão francesa, tendo sido o responsável pelas negociações com o Conde da Barca e pelos contratos com D. João VI. Por sua proeminência frente ao grupo, a missão francesa também é conhecida como colônia Lebreton.

[10] Dados do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

[11] Dados do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

[12] De acordo com o Plano Orgânico da Academia Imperial de Belas Artes, sugerido por seu corpo docente em 1824.

[13] Apud: GÊNIOS da pintura – Neoclássicos, Românticos e Realistas. Editora Abril Cultural. São Paulo, 1984. p.15.

[14] Segundo informação do Professor Alberto Cipiniuk

[15] Porto-alegre, Manuel de Araújo. Apontamentos sobre os meios práticos de desenvolver o gosto e a necessidade das Belas Artes no Rio de Janeiro, feitos por ordem de Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro II, Imperador do Brasil, 1853; in: Revista Critica de Arte, nº 4, 1981. Associação Brasileira de Críticos de Arte.

[16] Collecção das Leis do Império do Brasil de 1831.

[17] Dados do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

[18] Agravadas com a morte de Lebreton, em 1819, mas já vigente desde 1817, quando a diretoria da Academia passou às mãos do português Henrique José da Silva (1772 - 1834), resultando na supressão de grande parte dos franceses do corpo docente da Academia, segundo Debret. (GONZAGA-DUQUE: 1995. p.95)

[19] Após a proclamação da independência, um forte espírito xenófobo tomou conta do Rio de Janeiro, tendo sido alvo de desconfianças até mesmo S.M.I, D. Pedro I, por ser português de nascença.

[20] Porto-alegre, Manuel de Araújo. Apontamentos sobre os meios práticos de desenvolver o gosto e a necessidade das Belas Artes no Rio de Janeiro, feitos por ordem de Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro II, Imperador do Brasil, 1853; in: Revista Critica de Arte, nº 4, 1981. Associação Brasileira de Críticos de Arte.

[21] Dados do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

[22] De acordo com o Plano Orgânico da Academia Imperial de Belas Artes, sugerido por seu corpo docente em 1824.

[23] Segundo informação do Professor Alberto Cipiniuk

[24] Também marco da entrada do estilo no país e outra obra de Grandjean, é a atual casa França-Brasil, construída para se chamar Praça do Comércio, funcionava como uma alfândega e é dos poucos prédios de Grandjean que ainda restam atualmente, junto à casa que projetara para si na Gávea, hoje pertencente à PUC e abrigando a galeria de artes da universidade, o Solar Grandjean de Montigny. (BANDEIRA, XEXÉU e CONDURU: 2003)