Hospital da Caridade na Belém Imperial: caracterização e
construção de um modelo virtual
José
Cristhian da Silva Cabral * e Cybelle Salvador
Miranda **
CABRAL, José Cristhian da Silva; MIRANDA, Cybelle
Salvador. Hospital da Caridade na Belém Imperial: caracterização e construção
de um modelo virtual. 19&20,
Rio de Janeiro, v. XVII, n. 1-2, jan-dez 2022. https://doi.org/10.52913/19e20.xvii12.07
*
* *
1.
Ao estabelecer morada na cidade colonial de
Belém do Grão-Pará, Frei Caetano Brandão fundou, no fim do século XVIII, o
primeiro hospital de alvenaria do Pará e um dos primeiros locais de tratamento
terapêutico e acolhimento que a população adoecida da cidade teria acesso: o
Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, também conhecido como o Hospital da
Caridade de Belém do Pará. A história do hospital está atrelada à atuação e
influência político-religiosa das irmandades em solo paraense e o seu edifício,
em tipologia de sobrado português, resguardava a síntese das características da
arquitetura colonial lusitana e influências implícitas do partido arquitetônico
adotado pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis, a qual Frei Caetano
Brandão era ordenado. Após pertencer por anos à Companhia Nipônica, o edifício
foi apropriado pelo Exército Brasileiro até o ano de sua demolição, em 1978,
mesmo estando sob a proteção do tombamento como patrimônio cultural a nível
nacional. A sua perda representa o descaso e abandono do patrimônio histórico
de Belém do Pará.
2.
Consoante às pesquisas já realizadas na
temática da arquitetura hospitalar, o escopo deste artigo reside primariamente
no resgate da história do Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, cuja
bibliografia é escassa e necessita de maior compilação para preservação da
memória do hospital. O segundo momento é a análise dos elementos compositivos
adotados no partido arquitetônico do hospital, recriando em modelo virtual uma
réplica arquitetônica resultante dos processos de ampliação ou reforma que ele
passou durante os 113 anos (1878-1900) em que funcionou como uma edificação
hospitalar, e após sua demolição em 1978.[1] A pesquisa adotou o método qualitativo
com a pesquisa histórica da instituição e o levantamento dos aspectos de sua
arquitetura, tendo por meta a reconstrução virtual do edifício, utilizando como
base os registros iconográficos e os escritos de fontes primárias e
secundárias. O modelo virtual foi confeccionado por meio de softwares de
modelagem em três dimensões (3D) utilizados no campo da arquitetura e do
urbanismo, e servirá de registro para ações de educação patrimonial acerca do
patrimônio cultural da saúde.
Sobre a construção da pesquisa
3.
Este artigo é parte do projeto HOSPITALIS, que
trata da investigação global sobre a arquitetura hospitalar portuguesa entre os
séculos XV e XX, e se preocupa com a ampliação dos estudos avaliativos acerca
desta tipologia patrimonial devido às suas particularidades arquitetônicas e
redes de interações sociais que definem estes hospitais como atores históricos
relevantes.[2] Em continuidade ao trabalho de pesquisa
já realizado por Beatriz Trindade e apresentado no II Colóquio Internacional
de Arquitetura Assistencial de 2019, em Lisboa, Portugal, usa-se como base
a pesquisa de Beltrão, Miranda e Henrique (2011),[3]
norteadora da abordagem historiográfica, o que possibilitou construir um
diálogo cronológico dos acontecimentos que envolvem a concepção do objeto de
estudo, desde sua fundação ao momento de sua demolição, perpassando por
aspectos políticos,[4] religiosos[5]
e sociais,[6] que estão atrelados ao seu uso como
local de tratamento do corpo, do espírito e da sociedade.
4.
Foram realizadas pesquisas documentais na
Hemeroteca Digital Brasileira, no Arquivo Público do Pará, na Biblioteca do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, na Biblioteca
do Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi e na Hemeroteca da
Biblioteca Arthur Vianna, as quais possibilitaram expandir as fontes primárias
e secundárias para este estudo, revelando imagens e registros escritos não
utilizados anteriormente em outras bibliografias a respeito do hospital.
5.
O produto resultante deste compilado é a
maquete eletrônica do Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos que também possui
indicações de layout de acordo com as descrições bibliográficas
adquiridas no percurso da pesquisa,[7] apresentando medidas modulares para a
volumetria do edifício desenvolvido, obedecendo às diretrizes da Carta de
Londres[8] e buscando fontes de comparação entre
esta e outras arquiteturas históricas de caráter hospitalar no Brasil e no
mundo, dando continuidade às análises sobre a dinâmica do hospital no
desempenho de suas atividades assistenciais na cidade de Belém nos oitocentos.
Para confeccionar a reconstrução virtual do hospital em modelo arquitetônico em
três dimensões (3D) utilizou-se tecnologia de softwares de modelagem
arquitetônica em duas dimensões como o AutoCAD, e para a modelagem em
três dimensões o SketchUp e o ArchiCAD.
Arquitetura
hospitalar luso-brasileira nos alvores da Modernidade: o Hospital Bom Jesus dos
Pobres Enfermos de Belém do Pará
6.
Mais de um século após a fundação da cidade de
Belém, Dom Frei Caetano da Anunciação Brandão [Figura 1], o
responsável pela construção do Hospital da Caridade, se apresenta no Grão-Pará
em 20 de outubro de 1783:[9]
7.
Dom Frei Caetano Brandão nasceu na Comarca
de Estarreja, Portugal, […]. Estudou Teologia na Universidade de Coimbra já
reformada pelo Marquês de Pombal (1699-1782) e foi religioso da Ordem Terceira
da Penitência, ligada aos padres franciscanos. […] foi indicado bispo do
Grão-Pará por Dona Maria I (1734-1816) e confirmado por Pio VI (1717-1799), em
1782, e tendo governado a diocese até 1790. […] Em 1788, foi transferido para a
Sede Primacial de Braga, Portugal, onde faleceu a 15 de dezembro de 1805.[10]
8.
Voltaremos ao século XIII, quando a Ordem dos
Frades Menores, popularmente conhecida por Ordem dos Franciscanos, é fundada no
ano de 1209 em Assis, na Itália, e chega em Portugal entre os anos de 1214 e
1217[.11].
Em síntese, seus membros nada deveriam possuir, espelhando-se no fundador São
Francisco de Assis, obedecendo a votos de pobreza e vida extremamente simples,
de humildade, devoção e castidade.
9.
A chegada da ordem em solo brasileiro se deu no
século XVI, junto à frota de Pedro Álvares Cabral, estabelecendo-se de forma
oficial no território recém-descoberto no ano de 1584, a pedido do governador
da capitania de Pernambuco, fundando a Custódia de Santo Antônio do Brasil.[12]
Não há registros de conventos franciscanos fundados no Pará nesse período. Frei
Caetano Brandão, ao se deparar com o desamparo da população local, tomou para
si a obrigação de oferecer um local de acolhimento para tratamento do corpo e
da alma de seus fiéis, por ele adotados como rebanho:[13]
10.
[…] Vou participar a V.Exª. hum novo
arbítrio desentranhado do fundo da religião, e da humanidade em cuja execução
há dias que trabalho: olhei pª esta Cidade, vi o dilúvio de miserias, e pobreza
em que fluctuava hua grande parte dos seos habitantes morrendo muitos delles ao
desamparo por não haver hu azillo publico da necessidade. […] em fim fechando
os olhos as despesas imensas de hu estavelecimento desta natureza […] depois de
assinar em hu papel o meo nome com a quantia decem mil reis, rezolvi eu mesmo
pedir esmolla pelos moradores da Cidade. Com effeito Deus mostra que abençoa as
minhas intenções […] e já comprado por setecentos e concoenta mil reis hu sitio
o mais próprio pª hospital por ficar sobre o rio, e com algum principio do
Edificio. Espero receber outras porçoens avultadas não so de dinheiro, mas
também de pedra, cal, madeira, trabalhadores &ª, com o que julgo porei o
estabelecimento em figura de abranger ate cem enfermos.[14]
11.
O edifício foi erguido com auxílio de um
engenheiro desconhecido, colocado à disposição de Frei Caetano pelo Governador
da Província. Famílias abastadas adeptas das beneficências do bispo ofertaram
insumos e mão de obra durante o período de construção. Fundado em 1785,
finalmente o Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos foi inaugurado no dia 25 de
julho de 1787 [Figura
2]. Era um asilo dos necessitados e teria como função atender a todos
os “pobres desvalidos de sorte,” doentes e viajantes, além dos demais que
precisassem de auxílio médico - fossem eles ricos ou pobres -, como era
tradicionalmente comum nos hospitais dos setecentos, os “hospitais-asilos”:[15]
“[…] o objetivo do ‘hospital monástico’ [ou asilo] não era o tratamento de
doentes; era de oferecer ‘hospitalidade’ aos peregrinos sem abrigo, aos
inválidos, pobres e idosos, que recebiam acolhida e alimento, mas não
assistência médica no sentido moderno do termo.”[16]
12.
Inclui-se neste momento a Irmandade da Santa
Casa de Misericórdia do Pará. Em caráter oficial, a primeira delas foi fundada em
Lisboa, em 15 de agosto do ano de 1498, por intermédio da rainha D. Leonor,
regente temporária na ausência de D. Manuel I, e rapidamente se espalharam por
todos os locais de domínio europeu.[17] No Brasil, especificamente no caso de
Belém, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará foi fundada no ano de
1650, oficializada somente no ano de 1667[18]
por Dom Affonso VI de Portugal, com todas as isenções e privilégios usufruídos
por outras Misericórdias portuguesas. Até a chegada de Frei Caetano Brandão, a
irmandade estaria falida e praticamente inerte, seus membros sequer teriam
fôlego para atuar. Suas posses limitavam-se a uma edificação em taipa de pilão
e uma igreja ao lado, “localizados no lado oriental da rua da Trindade, entre
as ruas de Santo Antônio e dos Martyres,”[19]
que formaram por anos o “Largo da Misericórdia.”[20]
Um ano antes da conclusão do hospital, o clérigo comunica a sua comunidade que
fundará uma sociedade para recolhimento de esmolas de fiéis, sendo estes
escolhidos os primeiros a darem o exemplo, amparar a pobres enfermos,
instruí-los e oferecer-lhes alívio imediato.[21]
Nasceu assim a Nova Confraria da Caridade, plenamente funcional em junho de
1786. Por escolha da confraria, o seu patrono seria o “Bom Senhor Jesus dos
Pobres Enfermos.”
13.
Até a data de sua inauguração, a Confraria da
Caridade peregrinava de porta em porta pela cidade de Belém, naquela época
dividida em Cidade e Campina (atualmente os bairros da Cidade Velha e Campina,
respectivamente) para arrecadar esmolas que ampliaram os fundos para a
manutenção do espaço hospitalar. As doações que arrecadou das famílias mais
abastadas de Belém iriam além do dinheiro corrente, incluindo terrenos de
diversos tamanhos, variando de propriedades pequenas até mesmo a engenhos e
fazendas.[22]
14.
São desconhecidas em outras bibliografias as
razões pelas quais o bispo ignorou a presença da Misericórdia paraense.
Levanta-se o questionamento de que talvez, por motivos de dissonância entre a
Ordem Terceira franciscana e a confraria da Misericórdia, poderia haver a
intenção de fortalecimento, por suposição, da Ordem de São Francisco, sendo a
Confraria da Caridade diretamente associada a um bispo ordenado como
franciscano.
15.
Não seria estranho imaginar, diante de tais
circunstâncias, que houvesse competições entre as Ordens Terceiras em qualquer
lugar em que mais de uma estivesse instalada. Frei Caetano Brandão teria uma
visão mais clerical sobre a fraternidade que fundava, não optando por entregar
aos leigos que formavam as Misericórdias[23]
as posses que dispunha, premeditando, em hipótese, protecionismo.[24]
Este pensamento toma força ao observar os acontecimentos que sucederam o
retorno de Frei Caetano Brandão para Portugal no ano de 1890, quando, durante
esta década, diversas disputas políticas aconteceram entre as irmandades
presentes na cidade que lutavam para se apropriar de espaços para suas
congregações: “[…] a concorrência dos frades se deve contar como elemento
retardador da instituição, numa cidade infante, como era Belém, de pequena
população e de pobres cabedais.”[25]
16.
É necessário saber que as ordens terceiras,
como a Misericórdia portuguesa do século XVI, buscavam crescer em poder e
influência, estando sempre próximos à realeza. Seus integrantes eram vistos com
grande prestígio e sua atuação social possuiria segundas intenções políticas
afloradas. As misericórdias recebiam do reinado privilégios e contavam com a
participação de elites abastadas em seu corpo administrativo, o que lhes
conferia um nítido status social, criando para a Misericórdia um papel
dicotômico entre quem pedia - os pobres enfermos - e quem cedia - os influentes
com segundas intenções.[26]
17.
Entendido isto, ocorre uma grande dissensão
entre a Confraria da Caridade e a Irmandade da Misericórdia do Pará - o mesmo
jogo de interesses intrínseco às irmandades vindas da Europa -, resultando na
disputa de influências entre o sucessor de Frei Caetano, o sétimo bispo da
diocese de Belém, Frei Manuel de Almeida Carvalho, e sua disputa com o poder
público:
18.
Tendo o Bispo prohibido terminantemente
que o reverendo padre Agostinho Domingues de Cerqueira, désse contas ao juiz de
resíduos e capellas, da administração da confraria, julgou a auctoridade, por
sentença de 17 de Abril de 1807, a communicação que impuzera a D. Manuel de
Almeida Carvalho, ordenando a sua expulsão do hospital e o sequestro do
patrimônio deste.[27]
19.
A Irmandade da Misericórdia apelou ao governo
provincial que lhe fossem entregues as posses da Confraria da Caridade,
mediante o termo de aceitação e posse assinado em 18 de abril de 1807. O
edifício do hospital, as fazendas, a olaria e as casas, somados às quantias
correntes apropriadas então, reergueram a Santa Casa de Misericórdia do Pará da
penúria que viveu por longo tempo. Não tardou para que fosse apontada a falta
de responsabilidade financeira da instituição no ano de 1839.
Sob
“nova” administração
20.
João Antônio de Miranda, presidente da
província em 1840, em discurso na Assembleia Provincial informa:
21.
A simples inspecção vos revelará, que com
tantos fundos se tivessem sido mais felizes as suas administrações, não só faria
a Santa Casa face às suas despesas ordinárias, mais ainda teria meios para
avançar a outros fins egualmente misericordiosos e de incontestável caridade,
visto que não se resumem tão somente no curativo de doentes e as attribuições
de taes estabelecimentos, quando bem constituídos.[28]
22.
Em 1835, o edifício do hospital se encontrava
abandonado “por achar-se em ruínas,” voltando a funcionar pelas benfeitorias de
Miranda, que tratou de renovar a mesa diretora da Santa Casa no ano de 1839, em
virtude da lastimável situação em que se encontrava. O presidente teria sido o
responsável pela “reedificação do hospital,” providenciando possíveis
melhoramentos internos e sua reinauguração no ano posterior.[29]
23.
O período de abandono do hospital coincide com
o período de atuação da revolta da Cabanagem. Como o motivo da revolta era os
abusos históricos cometidos por portugueses e seus descendentes diretos,[30]
decerto os membros da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará estariam
sob a mira das milícias cabanas. Não seria estranho descobrir que muitos destes
fugiram ou foram perseguidos e mortos durante o levante cabano, que não mediu
esforço para poupar ninguém.
24.
A diretoria formada nos anos 1839-1840 trataria
de dar abertura para realização da venda dos bens que julgassem improdutivos. A
conversão dos seus terrenos em apólices de dívidas públicas daria fôlego às
pendências da Santa Casa, afastando-a da penúria mais uma vez. As pesquisas de
campo revelaram que os periódicos da época anunciavam as vendas em nome da
Santa Casa [e. g., Figura
3], e essa prática perdurou até o começo do século XX.
25.
A má administração tornou-se repetir em 1848 e
uma nova mesa diretora da Santa Casa foi eleita, encabeçada por Joaquim Pereira
Frutuoso Guimarães. As mudanças que ocorreram a partir do ato de 30 de setembro
de 1949 realinharam a Santa Casa de Misericórdia sob a direção de Frutuoso Guimarães
e sua equipe, resultando nos primeiros estatutos internos, vigentes até os anos
de 1900.
26.
O atendimento no Hospital da Caridade era
dividido em quatro públicos: os marítimos, os pensionistas, os pobres
e os escravos. Cada um desses grupos teve assistência diferenciada,
alguns pagando pelos próprios cuidados médicos; outros, como os pobres, tiveram
os custos das suas despesas pagas pela Misericórdia; os escravos particulares
tinham seus custos arcados pelos senhores que os encaminharam para o tratamento.
Havia, ainda,os que não estavam incluídos nesses grupos, como os estrangeiros e
os alienados. Para cada uma das demandas acima, havia um número de leitos
específicos. Dentro dessa demanda, havia os não pagantes e as dívidas destes
eram encaminhadas para pagamento pelo poder público.[31]
Face à
calamidade
27.
A epidemia de febre amarela se alastrou em 1850
ao chegar em Belém através da embarcação Póllux, vinda de Pernambuco,
fazendo mais de 12.000 vítimas entre janeiro e julho daquele ano.[32]
Ainda que os dados oficiais do governo provincial apontem 506 mortos, sabe-se
que o controle de mortalidade não era exato.
28.
A varíola já era presente em Belém desde o
século XVIII; porém, em 1851 surge um novo surto através da contaminação das
lâminas de pus vacínico trazidas da Província da Bahia no mesmo ano para
combate da doença, sendo que os primeiros vacinados foram os focos de contágio
da população. A epidemia durou de maio de 1851 a setembro de 1852, registrando
oficialmente 598 vítimas fatais.
29.
Em maio do ano de 1855, as primeiras vítimas de
cólera-morbus chegam em Belém na embarcação portuguesa Defensor. Os
médicos da época apontaram que seis a sete mil pessoas haviam sido afetadas
pela moléstia, e nos dois primeiros meses os mortos oficiais chegaram a 453.[33]
A epidemia se estendeu até o início do ano seguinte, ainda fazendo vítimas
fatais. Cada uma dessas infecções viu na Belém Imperial as condições sanitárias
e urbanas propícias para seu alastramento, somadas à ausência de conhecimento
específico para o combate médico.[34]
30.
O Hospital da Caridade e a Irmandade da
Misericórdia se viram na obrigação de ampliar seus esforços diante das
epidemias. As despesas que já eram altíssimas se elevaram a níveis
insustentáveis. A comunidade médica da época, ligada ou não ao hospital, já
condenava seu estado de serviço e o amontoado de enfermos que ali buscavam
tratamento. Não havia material de higiene para todos e as condições sanitárias
eram insalubres. Em 1853, criou-se uma comissão médica investigativa para
traçar um panorama das condições higiênicas da cidade, relacionando-o às causas
das moléstias intrinsecamente ligadas às condições climáticas da região. Apesar
de tais investigações, ainda se cria que estes eram fenômenos isolados.[35]
31.
Em 1854, o hospital começa uma série de reformas
que se estenderam por todos os espaços da edificação, pretendendo melhorar as
condições do edifício, mas isso logo se mostrou um problema para todos os
pacientes que foram remanejados para locais em piores condições. Acerca da
reforma, “[…] ela acabou por se estender por muito tempo, atravessando toda a
fase da epidemia de cólera e, ao invés de conter, acabou favorecendo as suas
péssimas condições sanitárias agravadas a cada nova epidemia.”[36]
32.
Em 1855, durante a crise de cólera, o local já
não tinha condições de abrigar pacientes, havendo necessidade de criar
enfermarias provisórias em outros locais da cidade, como a do segundo distrito
da Campina, e a de São Sebastião, instalada na Rua do Açougue, que, diante do
número de vítimas, atuou como unidade de tratamentos paliativos devido a
inúmeras dificuldades financeiras.[37] Os gastos das enfermarias estavam sob
responsabilidade da Província, que não cumpria o prometido. Por vezes, o
provedor da Santa Casa, Dr. Pereira Guimarães, e o Vice, Miguel Antônio Pinto
Guimarães não obtiveram retorno das solicitações dos recursos para atender as
demandas que estavam sete vezes acima do suportado pela enfermaria. A nota na Figura 4
testemunha a cobrança da Santa Casa ao governo ainda nos anos de 1890.
33.
Até o início da década de 1860, a Santa Casa de
Misericórdia esteve junto ao poder público na aplicação das medidas sanitárias
pela capital. A secularização dos serviços religiosos, mediante a intervenção
do Estado, alterou o caráter assistencialista para profilaxia de caráter
público, mudando a imagem insalubre que o hospital possuía durante as
epidemias, quando carregava o status de ameaça à saúde pública. Após o
falecimento do Provedor Antônio Lacerda Chermont, o Visconde de Arary, o
Vice-Provedor Dr. Joaquim Pedro Correia de Freitas assumiu a Santa Casa no
final da década de 1870.
34.
Segundo consta no relatório da Santa Casa de
Misericórdia de 1879, ao citar o Hospital da Caridade, havia a necessidade de
reformas emergenciais de ampliação vertical sob o mesmo estilo arquitetônico do
prédio original e reparos na edificação primária. A transcrição de Lina Maria
M. Oliveira[38] revela:
35.
A maior necessidade que constitue
actualmente este estabelecimento, é a de dotar-se o mesmo com maiores
accommodações, dando-se-lhe ao mesmo tempo mais livremente a lattitude.
36.
Disse no meu anterior relatorio que era
preciso se cogitarem os meios de se levar a effeito a maneira pela qual se
devia dar as necessarias proporções de aumento ao edificio.
37.
Attendendo-se, pois, a essa instante
medida, a Mesa Conjuncta, na sessão de 28 de Abril do anno findo, deliberou que
se comprasse o predio contiguo ao lado esquerdo ou do norte do hospital pela
quantia de 12:000:000 reis, nos termos da autorização concedida pela lei
provincial n.o 720 de 26 de Abril de 1872, solicitando-se previamente licença
do Governo Imperial, na fórma da legislação geral.
38.
[…] Vencidas, por conseguinte, esta
difficuldade, restar-nos-ha agora a maior, que é o commettimento das obras do
prolongamento do edificio do hospital, debaixo das mesmas fórmas
architectonicas do mesmo estabelecimento.[39]
39.
O retorno parcial de doenças como a varíola fez
movimentar as articulações políticas para mudar a situação do atendimento no
hospital. A Presidência da Província, em conformidade com a Assembleia
Legislativa, incluiu em seus orçamentos, no dia 9 de novembro de 1882, a
contratação e a busca de doze irmãs, vindas da Europa, para ocupar a gerência e
os cuidados do Hospital da Caridade. O contrato entre a Santa Casa e as Filhas
de Sant’Anna da Itália é firmado em 1883 e estas chegam ao Pará em 1884. Graças
às intervenções das Filhas de Sant’Anna, as condições de higiene e atendimento
prestados no hospital no ano de 1889 já eram notoriamente melhores; e
paulatinamente o serviço prestado por elas passou a ser auxiliar na boa morte.
Porém, com o avanço das exigências técnicas hospitalares do século XX, a atuação
das irmãs ordenadas foram diminuindo.
40.
O Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, ou
Hospital da Caridade, permaneceu em plena atividade até o dia 31 de julho de
1900, quando o serviço médico foi transferido para o edifício da Santa Casa de
Misericórdia Paraense, inaugurado no bairro do Umarizal em 1 de agosto do mesmo
ano [Figura 5].
Um
“ex-hospital”
41.
O antigo Hospital da Caridade esteve abandonado
pelo poder público até 1935, quando foi cedido para servir de sede da Companhia
Nipônica, estabelecida em Belém por imigrantes japoneses.[40]
Não há registros que citem mudanças no interior do prédio, mas é de praxe que
adequações e reformas fossem necessárias para seu reuso, sabido que o cais ao
fundo teria sido usado como base de atracação para chegada e partida de gêneros
comercializados pelos janponeses.
42.
No ano de 1957, o edifício do hospital foi
desapropriado pelo Ministério de Guerra através do Decreto nº 39.131, de 4 de
maio de 1956, destinando-o ao Estabelecimento de Subsistência da 8ª Região
Militar até 1978, quando foi demolido. Segundo consta nos registros do IPHAN,
ainda enquanto diretoria nacional, o órgão declarou o prédio do Hospital da
Caridade como Patrimônio Arquitetônico Nacional em 1964; porém, em 1978 o poder
público paraense optou pela demolição de parte do conjunto arquitetônico da Rua
Siqueira Mendes, bairro da Cidade Velha, área onde se encontrava o edifício [Figura 6]. Este
foi um ato de negligência das autoridades patrimoniais envolvidas na
preservação da construção, causando um desastroso fim para o primeiro hospital
em alvenaria da história da saúde do Pará.[41]
43.
O vazio espacial resultante das demolições
possibilitou, dezenove anos depois, a execução do projeto paisagístico do
Complexo Feliz Lusitânia, iniciado em 1997 e concluído em 2002 [Figura 7]. Este
projeto abrange o núcleo inicial da colonização de Belém, incluindo o Forte do
Presépio, a Casa das Onze Janelas (antigo Hospital Militar), a Igreja e Colégio
de Santo Alexandre, a Igreja da Sé de Belém, e o casario da Rua Padre
Champagnat e seu entorno.[42]
44.
O relatório de Fernando Marques,[43]
responsável pelas prospecções arqueológicas anteriores ao processo de reforma
do Complexo Feliz Lusitânia, indica que há resquícios da fundação original do
prédio do Hospital da Caridade [Figura 8], mesclados com os vestígios das fundações
mais recentes das reformas de requalificação do prédio para o uso militar após
1957: “[…] alguns segmentos de alicerces em pedra e cal, provavelmente do
antigo Hospital da Caridade (de fins do séc. XVIII), um dos quais com cerca de
20m de extensão x 60cm de espessura e quase 1m de profundidade (ver foto a
seguir). Conforme definido no Projeto, a construção do Espelho D’Água estará
prevista para o exato local deste alicerce.” Para as obras do referido espelho
d’água, o mesmo relatório conta que foram retirados 30 cm de altura da
superfície da fundação de cal e pedra.
Discussão
45.
A partir deste ponto, salienta-se que não é a
intenção desta pesquisa atribuir medidas reais ao edifício do Hospital da
Caridade. Vigilante às indicações estabelecidas pela Carta de Londres
para visualização computadorizada do Patrimônio Cultural,[44]
a atribuição de valores modulares é pertinente para uma melhor experimentação
em modelagem, sabendo que qualquer valor erroneamente atribuído à edificação,
mesmo em modelo virtual, na intenção de estabelecê-lo como verdadeiro ou padrão
no contexto que se insere, na ausência física in loco do objeto
averiguado, resultaria em claro atentado à memória patrimonial da arte e da
arquitetura, chamada de falso histórico.
46.
O mote das configurações arquitetônicas do
Hospital da Caridade a seguir está no “Ensaio Corográfico sobre a Província do
Pará,” escrito em 1833 por Antônio Ladislau Baena.[45]
Fachadas:
Frontal e Posterior
47.
Fez-se necessário somar os resultados das
pesquisas feitas em laboratório e em campo, orientadas pela Profª. Drª. Cybelle
Salvador Miranda às colaborações de Beatriz Trindade Lobato, bolsista de
extensão do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural-LAMEMO, orientada pelo
Prof. Dr. Ronaldo Marques de Carvalho que, anterior ao início deste estudo,
confeccionaram um protótipo volumétrico da fachada frontal - também em modelo
tridimensional do Hospital da Caridade,[46] baseado nas imagens do Acervo Digital do
IPHAN e nas descrições de Baena (1833) [Figura 9].
48.
O modelo elaborado anteriormente não pretendia
obedecer a dimensionamentos que o aproximasse da volumetria que o Hospital da
Caridade possuía enquanto existiu. Esta pesquisa optou pela adoção de medidas
modulares, múltiplas de 6, para dar início a reconstrução da fachada e do corpo
do edifício. Segundo observações do Prof. Dr. Ronaldo M. Carvalho, há simetria
horizontal e vertical nas medidas do edifício [Figura 10 e Figura 11].
49.
Adotados os valores simbólicos de 12 m para a
largura da fachada, e 3,5 m para a altura de cada pavimento do bloco frontal do
edifício, restariam 1,5 m para a altura da platibanda com pirâmide, totalizando
12 m verticais. O resultado na representação mostrada na Figura 12 utilizou
as medidas modulares e chegou em uma representação mais similar à Figura 10.
50.
As características da frontaria do Hospital de
Caridade eram de um sobrado,[47] em estilo colonial, contíguo a outras
edificações, sem afastamentos laterais ou frontal. O corpo frontal do edifício
apresentava três pavimentos [Figura 13]. O primeiro era composto por uma porta e quatro
portas-janela elevadas do nível da rua, com duas folhas e um gradil espaçados
de modo igual e com as mesmas dimensões.
51.
No segundo pavimento, havia cinco aberturas
para portas-janelas de púlpito gradeadas com guarda-corpo de ferro; cada
abertura com esquadrias em madeira com duas folhas de abrir, trabalhadas com
almofadas e vidro, encimadas por bandeira também de madeira e vidro, em arco
abatido, com moldura contornando o vão. Dois mastros de bandeira permaneceram
fixados no nível do piso deste pavimento, após e antes das aberturas de
esquadria das extremidades da edificação.
52.
O terceiro pavimento era composto por cinco
janelas de duas folhas de abrir, esquadria de madeira com vidro em cada folha,
com bandeira de mesmos materiais e dividida em três partes, também em arco
abatido, com verga e moldura similar às do pavimento inferior.
53.
O edifício apresentava uma cimalha em estilo clássico
contínua pela fachada, que separava o corpo da edificação da platibanda,
dividida em três partes aparentemente simétricas, cada uma com um losango em
relevo, sendo o central maior; centralizado acima deste último havia coroamento
em elevação triangular com bordas-cimalhas em alto-relevo e um triângulo em
relevo em seu interior; laterais a este, havia dois pináculos piramidais e um
acrotério com esfera centralizada no pico do corpo piramidal, ladeado por
estátuas. Nas extremidades da platibanda havia uma estatueta sobre pilaretes.
54.
A fachada posterior data do século XIX, por ser
subsequente com tipologia destoante do estilo frontal do edifício. Era coroada
por cimalha em estilo clássico; abaixo desta, em relevo e centralizado o ano
“1864” [Figura 14].
Cada um de seus pavimento distinguia-se por cimalhas; contavam com cinco vãos
em arco pleno, visualmente de tamanhos iguais e espaçamentos, com guarda-corpo
em madeira. Diferenciavam-se apenas o desenho das esquadrias de acordo com o
nível [Figura 15].
Não é possível identificar alguma esquadria nas aberturas do primeiro
pavimento, mas pode-se identificar uma moldura ao redor da abertura central. As
aberturas do segundo pavimento eram guardadas por um gradil de ferro externo
que protegia dois terços da altura do vão. As esquadrias eram portas-janelas em
madeira, de duas folhas, cuja parte superior aparenta ter sido em persianas de
madeira horizontais. A bandeira de porta acima, em arco pleno, aparenta ter o
formato em leque de quatro folhas. O terceiro pavimento não possuía gradil em
ferro nas aberturas, mas tinha guarda-corpo de madeira em ripas, e o padrão de
esquadria era igual ao do pavimento inferior, diferenciando no desenho da
bandeira de madeira, cuja moldura formava arcos que seccionam o vidro.
Divisões
internas
55.
As descrições de Antônio Ladislau Baena são
anteriores às reformas descritas e seguem a linha de um observador que passeia
pelo edifício de maneira metódica. Reconhece primeiramente as características
da fachada frontal e a ausência de qualquer ousadia estilística. Segue
elencando que o partido arquitetônico do Hospital da Caridade é composto por
três quadriláteros, o frontal e o posterior ligados por outro que mede ⅔
do terreno, restando ⅓ aberto para um pátio interno. Baena classifica o
Hospital da Caridade como um sobrado em virtude da configuração das “casas” -
compartimentos –, cuja frontaria do edifício é térreo mais um pavimento
superior e um compartimento sobre este; o corpo central é térreo, com duas
escadas de acesso para o pavimento superior nas extremidades e este último com
escada de acesso para o compartimento frontal; ao lado, no pátio aberto
interno, haveria uma rampa de acesso ao subsolo correspondente à forma do
quadrilátero posterior com vista para o Rio Guamá.
56.
O dito paralelogramo que seria o corpo central,
é recuado para uma das laterais do prédio; de acordo com o olhar do observador
que entra no hospital pela porta da esquerda, o recuo desta porção central da
edificação é para a direita, permitindo espaço para um vão para entrada de luz
e ar fresco na edificação. A foto da Figura 16 consta no acervo do LAMEMO como parte da
varanda interna do edifício. Apesar de não encontrarmos o autor para
referenciá-lo, a disposição dos elementos visíveis é concordante com as
descrições de Baena:
57.
No primeiro pavimento do quadrado da
espalda do edifício […] uma galeria, com pilares e balaústres de madeira, […] o
segundo é uma grande casa e galeria, para a qual guiam duas escadas largas
reunidas em um tabuleiro de sacada, uma que principia na contigüidade da
cancela da garrida fronteira à porta da entrada do hospital e a outra da parte
oposta.[48]
58.
Ao traçar uma linha imaginária entre o térreo e
o pavimento superior percebe-se com clareza a simetria do edifício,
especialmente se o rotacionarmos em 180º a partir do eixo horizontal da linha imaginada
[Figura 17].
Layouts
59.
Com base nas descrições de Baena, chegou-se ao
resultado mostrado na Figura
18: o acesso (1) ao piso térreo do da edificação à Rua Siqueira Mendes
era ao lado esquerdo, sinalizado pela placa de identificação do Hospital da
Caridade. Seguia pela circulação (2) adentro, onde uma cancela controlaria o
acesso à botica (3), que compreendia toda parte frontal, e dava acesso ao pátio
aberto interno (4); este era circundado por uma varanda de circulação coberta
(5), que dava acesso a uma sala usada como consultório (6), uma enfermaria
menor (7), uma sala usada como vestíbulo (8), duas escadas para o pavimento
superior em cada extremidade (9 e 10) (todos na extensão horizontal do corpo
central) e acabava no acesso a uma enfermaria maior (11) com vista para a Baía
do Guajará com latrina anexa (12), ocupando todo o espaço do corpo posterior.
60.
Consoante a descrição de Baena, o romance
naturalista de João Marques de Carvalho, Hortência, escrito em 1888,
contém uma narrativa sobre o cotidiano da cidade de Belém do Pará em fins do
século XIX e descreve a circulação interna do Hospital da Caridade, revelando
um caráter mais intimista a respeito do funcionamento do mesmo como um local de
tratamento público de saúde. Ressalta-se que esta descrição permite observar
supostos resultados das reformas de ampliação da edificação em meados do século
XIX:
61.
Afastou-se da janela, tomou ao longo
corredor, descendo, em seguida, a escada que conduzia ao pavimento térreo:
seguiu ainda por outro corredor e penetrou, afinal, em uma enfermaria à
direita.
62.
Era uma larga peça com várias portas de
comunicação para diferentes salas. As paredes, muito alvas e nuas, tinham sido
pintadas a cal recentemente. Seis camas simples, de ferro fundido,
perfilavam-se paralelas, com um apuro de limpeza meticuloso, porventura
exagerado. À direita de cada cabeceira, erguia-se uma pequena mesa, contendo
algumas vidros de medicamentos, outras aparelhos cirúrgicos, possuindo todas o
competente boletim médico, cheio do nome da enferma e do seu número de ordem, o
nome da moléstia diagnosticada, o do facultativo incumbido do seu tratamento, a
prescrição formularia, a dosagem dos remédios.[49]
63.
Somadas as referências, o layout do pavimento
térreo do Hospital da Caridade foi concebido em modelo 3D. Contudo, devido à
ausência de mais dados, a ampliação do pavimento térreo conforme as descrições
de Carvalho foi representado como um compartimento aberto (A).
64.
O subsolo foi representado sob a ótica de
Baena: a rampa (13) inserida no pátio interno e aberto (4) segue o acesso ao
cais de cantaria para a Baía do Guajará (14) e à cozinha (15), que daria para o
quarto reservado para os escravos (16). Supõe-se que as paredes do layout de
ampliação do subsolo tendem a ter as mesmas configurações do térreo (A).
65.
No primeiro pavimento, a escada consecutiva (9)
à entrada no térreo (1), dá acesso à varanda (17) e à escada (18) para a
enfermaria feminina (19) que é um sobrado que caracteriza o pavimento 2, e à
sala do consistório (20) com a casa do cofre (21) direto à enfermaria com altar
(22), que ocupa toda a extensão longitudinal do corpo central, também acessada
pela varanda (17) onde estaria a escada (10) para o térreo. No corpo posterior,
uma outra enfermaria (23) com latrina (24) seguia o layout do térreo. O
acréscimo do século XIX (B) foi representado como no pavimento térreo. A
repetição do padrão de distribuição da alvenaria interna do Hospital da
Caridade coincide por motivos construtivos pertinentes às limitações da
engenharia dos séculos XVIII e XIX.
66.
Após todo o processo de reconhecimento dos
ambientes internos, foi possível traçar o seguinte fluxograma do Hospital da
Caridade:
67.
A laje em cantaria cobriria o piso do pavimento
térreo somente pela varanda e seguia abaixo para o subsolo [Figura 19]. Este “cais
de cantaria” seria um espaço aberto que primariamente serviria como base para
atracação e recebimento de gêneros pelo acesso ao rio. Futuramente, este espaço
seria usado como base da ampliação do século XIX.
Outras
observações
68.
Segundo as descrições de Baena, o piso do
pavimento térreo era em cantaria e essa paginação poderia ter sido usada no
subsolo. Diferenciavam-se os espaços internos que tinham assoalho em madeira,[50]
por motivos estilísticos da arquitetura importada de Portugal. O piso do
corredor da galeria superior era revestido por ladrilhos, possivelmente para
combater intempéries locais.
69.
A enfermaria do pavimento superior era um cômodo
amplo, senão o maior, comportando 21 leitos distribuídos na tentativa de
otimizar o espaço interno. Possivelmente a cabeceira das camas estava encostada
paralelamente às paredes. Para oferecer certa privacidade aos pacientes, os
leitos eram separados por tapeçarias vindas da Ásia - uma prática pertinente ao
comércio indo-português: “Os luxuosos e coloridos tapetões […] decoravam e
revestiam chãos e paredes e contribuíam para a estruturação dos espaços
interiores da habitação, ajudando na divisão dos compartimentos e na criação de
novos espaços multifuncionais.”[51]
70.
Essa configuração de layout é encontrada também
na enfermaria do Real Convento de Mafra, em Portugal [Figura 20], cujos
leitos semelhantes a alcovas são paralelos às paredes, para que os doentes
estivessem voltados para o altar para que pudessem assistir à celebração da
missa.
71.
O desenho da Figura 21 é uma
representação autoral da enfermaria em perspectiva para se visualizar melhor o
cenário descrito por Baena. É possível observar a disposição dos leitos e a
divisão por tapeçarias, bem como um altar ao fundo, em estilo barroco, que
predominava na época da fundação do hospital.
72.
A enfermaria feminina no segundo pavimento
(sobrado) possuía uma pequena abertura esquadrilhada por gelosia[52]
[Figura 22],
para ter acesso visual às missas que ocorriam na enfermaria do pavimento
inferior.
73.
As latrinas de fácil escoamento, poderiam estar
separadas por alvenaria e anexas às enfermarias do bloco posterior do hospital,
similares aos modelos de latrinas públicas romanas [Figura 23a e 23b].
74.
O telhado do Hospital da Caridade em modelo
tridimensional [Figura
24] foi proposto a partir da Figura 6, Figura 14 e Figura 16 acima discutidas,
aliadas à imagem do Cartão Postal da Edicard Editora Cultural LTDA [Figura 25].
Influências
arquitetônicas
75.
A evolução dos ambientes de saúde evoluiu junto
à terminologia “hospital,” que deriva diretamente de “hospedaria,” ligando o
antigo uso dessas edificações com o uso atual: passar a noite sob cuidados. Da
Idade Média ao início da civilização moderna, o hospital possuía uma imagem
negativa, devido aos altíssimos índices de mortalidade.[53]
A arquitetura esteve diretamente ligada com a história dos hospitais. Nesse
período, estes espaços serviriam como um elemento repressor, afastando das
classes sociais dominantes da sociedade as pessoas infectadas, gerando
segregação e vigilância sobre os doentes. As moléstias eram consideradas como
um castigo divino, portanto o lugar de tratamento para elas se assemelhava a
templos. O cristianismo medieval repetiria a mesma solução mística das grandes
sociedades da Antiguidade, observando-se o mesmo comportamento em templos de
diversas crenças ao decorrer da história. O hospital nasce para caridade,
porém, com o aumento da demanda por cuidados “a função dos hospitais passa a
ter outra face.”[54]
76.
O partido arquitetônico do hospital de Frei
Caetano Brandão não obedecia a um sistema específico de espaços de cura
anteriores a ele. Por ser uma obra construída através de atos de caridade, a
possibilidade de se erguer uma grandiosa edificação era mínima; portanto, sua
tipologia não estaria próxima do sistema de nave e claustro do século XIII [Figura 26, esquerda],
mas compartilharia inicialmente em suas enfermarias os doentes de todos os
tipos, não fazendo dissensão de patologias. Também não apresentava o
prolongamento das alas de observação, como num sistema radial proveniente do
final da Idade Média [Figura
26, centro]. Mas, assim como este, configurava ao espaço interno da sua
maior enfermaria de modo que todos os leitos pudessem estar sob observação e
tivessem vistas para uma capela ou altar inserido no ambiente de cura para o
corpo e a alma. Como um casarão em estilo de sobrado português com subsolo,
térreo, pavimento superior e sobrado frontal não poderia ser um hospital
pavilhonar dos séculos XVIII e XIX [Figura 26, direita]; porém, nestes períodos as
adequações realizadas procuraram obedecer às normas higienistas estabelecidas
na capital durante e após as epidemias do século XIX em Belém do Pará.
77.
Somam-se a estas colocações alguns aspectos
influenciadores sobre o fundador do Hospital, Frei Caetano Brandão, cuja ordem
Franciscana possuía algumas diretrizes particulares sobre a arquitetura que
erigia, listadas na Tabela 1 abaixo. A obra de arquitetura franciscana
obedecia a algumas características inerentes ao espírito comportamental da
ordem, como pobreza e simplicidade, ligadas ao amparo religioso e convívio com
os cidadãos da vila ou cidade:
78.
Nesse sentido, […] segundo a regra básica
da arquitetura, adaptou-se sempre que possível ao clima, voltou-se para a
escolha adequada do local da construção, buscando a proximidade dos cursos d
́água, escolheu o isolamento do espaço rural na fase inicial, as elevações
do terreno, a inserção nos extremos da malha urbana. Esses edifícios não eram
construídos de uma só vez; o núcleo inicial era geralmente o claustro […]. Nos
primórdios da colonização, a tendência da arquitetura portuguesa na Colônia, do
século XVI à segunda metade do XVII, era o edifício em forma de caixa simples,
à moda do chamado “estilo chão” português, que tende a sobriedade determinada
pelo espírito da Contra-Reforma. […] simplicidade decorativa, segundo a
filosofia de pobreza da Ordem franciscana.[55]
Tabela 1: Tabela comparativa
entre as características da arquitetura franciscana e do Hospital da Caridade.
Autor: Cristhian Cabral, 2020
Conclusão
79.
Citando brevemente Manguel, na discussão sobre
“A imagem como memória," capítulo dedicado a Peter Eisenman, o autor traça
paralelos entre as perspectivas de memórias atribuídas a monumentos humanos
esquecidos na história. Seja um simples conjunto de pedras do deserto
empilhadas para homenagear a um morto anônimo, ou a estátua de um negro herói
de guerra argentino, histórias que com o passar do tempo estiveram perdidas,
inseridas no que ele chama de vácuo semiótico,[56]
possuem significado em algum momento da história. Sob essa perspectiva, Manguel
oferece a compreensão de que sobre este vazio também há um monumento para
aquilo que não existe mais, como um memento mori.[57]
80.
Assim como estes monumentos, o Hospital da Caridade
não existe mais, mas um dia ele foi sinônimo de cuidados à saúde em Belém do
Pará. Reconstruí-lo em modelagem tridimensional gráfica foi um desafio
desbravado com o auxílio de análises pertinentes à Arqueologia da Arquitetura:
81.
[…] métodos analíticos não-destrutivos […]
para o registro e interpretação objetivos de transformações físicas e materiais
[…] para a compreensão das alterações sinalizadas por múltiplos indícios que
servem a testemunhar a passagem do tempo nas paredes, estruturas e espaços
configurados, cuja interligação relaciona-se à sua tridimensionalidade.[58]
82.
Um mote arquitetônico, um acontecimento na
história da saúde de Belém do Pará nos Oitocentos, uma crônica fisicamente
destruída, imageticamente resgatada. Por muitos, esquecido; por outros,
descoberto. As tímidas características do Hospital Bom Jesus dos Pobres
Enfermos/Hospital da Caridade, consideradas arquitetonicamente insuficientes
para lograr a ele alguma pompa, se revelaram mais substanciais do que o
esperado ao aprofundarmos nossos estudos sobre Frei Caetano Brandão, sexto
Bispo da Diocese de Belém, e suas possíveis influências sobre o hospital.
83.
O edifício compartilhou uma ampla trajetória
histórica ao lado da Santa Casa de Misericórdia do Pará em circunstâncias
sociais, políticas, religiosas e administrativas, visto que sem o Hospital da
Caridade os rumos desta irmandade em solo paraense poderiam ser outros. O poder
público, que por anos contou com a assistência prestada pelo Hospital, infelizmente
não o assistiu quando este veio abaixo por motivos, talvez, negligentes:
84.
a compreensão total de uma forma será
tanto ou mais perfeita quanto mais se transforme em vivência, na medida em que
se identifiquem forma e observador, pois que um processo intelectual de pura
análise não é suficiente para a obtenção total do espírito de qualquer forma,
ainda que possa constituir um veículo de aproximação. Assim, podemos dizer que
as formas que surgem num determinado tempo carregam em si muito da história do
homem, obedecem a regras, funções, a lógicas que a priori podemos não
compreender, mas que se traduzem em manifestações singulares, cujos segredos
devemos desvendar. Se as formas se chocam, por desprestígio, que em geral vem
da falta de compreensão da sua lógica no tempo e no espaço, tudo perde o seu
verdadeiro sentido.[59]
85.
A máxima desta pesquisa foi compreender que
somente investigar para preencher lacunas na sua história não seria suficiente
para entender que o Hospital da Caridade, como um personagem na história da
saúde no Pará, era mais do que meramente um sobrado colonial de feições
triviais. O papel desta reconstrução virtual é, portanto, comprovar seu valor
histórico e arquitetônico, encarando sua arquitetura de múltiplas facetas
tipológicas, apontando as origens de sua criação de ponto de vista mais
abrangente que não ignora os condicionantes de seu fundador, Frei Caetano
Brandão.
86.
Faz-se necessário rememorar as origens da Santa
Casa de Misericórdia Paraense que através deste patrimônio sobreviveu a
inúmeras dificuldades financeiras, sociais, políticas e, por fim, afirmar seu
valor assistencial perante a história da saúde paraense, cuja historiografia
não poderá se abster de rememorar sempre que necessário do primeiro hospital em
alvenaria do Pará - fisicamente demolido, porém, revivido pelo poder da
memória, da pesquisa e da tecnologia.
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Santa Casa de Misericórdia, pelo provedor Joaquim Pedro Corrêa de Freitas
(1829-1884). Belém, 1879.
SÁ, Isabel dos Guimarães;
LOPES, Maria Antónia. História breve das misericórdias portuguesas:
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VILLELA, Ana Teresa
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Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP, 2015. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/954871
Acesso em 27 jun. 2020.
___________________________
*
José Cristhian é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da UFPA, bolsista de iniciação cientifica do
Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural.
**
Cybelle Salvador Miranda é arquiteta e Urbanista (UFPA, 1997), mestre em
Planejamento do Desenvolvimento (NAEA-UFPA, 2000), doutora em Antropologia
(UFPA, 2006). Professor associado III (FAU-UFPA/ PPGAU-UFPA). Coordena o
Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural da FAU-UFPA e o Programa de
Pós-graduação em Arquitetura e urbanismo (PPGAU/UFPA).
[1] MIRANDA, Cybelle
Salvador; BELTRÃO, Jane Felipe; HENRIQUE, Márcio Couto. Caminhos e ausências no
patrimônio da saúde em Belém, Pará. Amazônica: Revista de Antropologia,
Belém, v. 5, n. 2, p. 308-343, 2013. DOI:
http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v5i2.1496. Disponível em:
http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/11099. Acesso em:13 de fevereiro
de 2022. Pg. 316.
[2] Mais informações no
sítio: https://projecthospitalis.net/pt/#projeto
[3] MIRANDA, BELTRÃO, HENRIQUE,
op. cit.
[4] COSTA, Magda Nazaré
Pereira da. Caridade e saúde pública em tempos de epidemias: Belém
1850-1890. (Dissertação) Universidade Federal do Pará, Programa de
Pós-graduação em História Social da Amazônia (Aldrin Moura Figueiredo),
Belém/PA, 2006, 38-40.
[5] VIANNA, Arthur. Esboço
Histórico da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Revista Pará-Medico.
Pará. Ano I - No.7. p 153-160. Maio, Junho e Julho de
1901.
[6] Idem. A Santa Casa
da Misericórdia Paraense. Notícia Histórica 1650-1902. – 2. ed. - Belém:
Secretaria do Estado de Cultura, 1992 [1902].
[7] BAENA, Antônio Ladislau
Monteiro. Ensaio Corográfico sobre a Província do Pará. Brasília: Senado
Federal, Conselho Editorial, 2004, p. 196.
[8] DENARD, Hugh. Carta
de Londres: para a visualização computorizada do patrimônio cultural. Trad.
BOTELHO, Maria Leonor; MOITINHO DE ALMEIDA, Vera. versão 2.1, 2014. Disponível
em: http://www.londoncharter.org/fileadmin/templates/main/docs/london_charter_2_1_pt.pdf
Acesso em 4 jan. 2018.
[9] COSTA, op. cit., p. 60.
[10] PINTO, Jefferson de
Almeida. Dom Frei Caetano Brandão (1740-1805): historiografia, memória e ideias
políticas. in Anais do XVII
Encontro de História da Anpuh-Rio. 2016., p. 1.
[11] FERNANDES, Cybele Vidal
Neto. Considerações sobre o espaço na obra franciscana no Brasil. In:
FERREIRA-ALVES, Natália Marinho (org.). Os franciscanos no mundo português
III: o legado franciscano. Porto: CEPESE, 2013, p. 281.
[12] Idem, p. 283.
[13] COSTA, op. cit., p. 60.
[14] Trecho retirado do
Ofício de D. Frei Caetano Brandão, Bispo do Pará, a Martinho de Melo e Castro,
sobre a construção de um hospital. Coleção Manoel Barata, Lata 280, pasta 2,
documento 1. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil – Arquivo (IHGB).
Conservou-se a escrita original.
[15] COSTA, op. cit., p. 61.
[16] LEWINSOHN, Rachel. As
Três Epidemias: Lições do Passado. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003,
p. 67.
[17] SÁ, Isabel dos Guimarães;
LOPES, Maria Antónia. História breve das misericórdias portuguesas:
1498-2000. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008, p. 6.
[18] VIANNA, 1902, p. 16.
[19] Idem, p. 14.
[20] VIANNA, 1901, p. 154.
[21] Idem, p. 155.
[22] Idem, p. 157.
[23] As confrarias tinham
importância social, aliando religiosidade às práticas coletivas para criar um
sentimento coletivo de responsabilidade mútua entre alheios, tanto no meio
rural quanto nas cidades em que se instalavam - acelerando o processo de
crescimento das mesmas. Havia um misto entre os atuantes nesses espaços: uns
eclesiásticos, outros leigos. O mundo profano estava costurado ao sagrado
clerical.
[24] SÁ, LOPES, op. cit. p.
6.
[25] VIANNA, 1902, p. 17.
[26] SÁ, LOPES, op. cit. p.
39-40.
[27] VIANNA, 1901, p. 157.
[28] MIRANDA, João
Antônio de. Discurso de abertura da assembleia provincial do Pará. 1840,
pg. 33.
[29] VIANNA, op. cit., p.
158. Os enfermos de 1835 a 1840 eram tratados no edifício que atualmente
corresponde ao Colégio Salesiano de Nossa Senhora do Carmo, que funcionava à
época como hospital militar.
[30] RICCI, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade
revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Tempo,
Niterói, v. 11, n. 22, p. 5-30, 2007. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/10370
Acesso em:20 de maio de 2021.
[31] Idem, 74-75.
[32] Idem, p. 24.
[33] Idem, p. 29.
[34] Idem, p. 35-40.
[35] CABRAL, José Cristhian
da Silva; MIRANDA, Cybelle Salvador. Caridade em tempos de epidemia: O Hospital
Bom Jesus dos Pobres Enfermos em Belém. Blog LAMEMO, 2020. Disponível em: http://arquiteturaufpamemoria.blogspot.com/2020/03/caridade-em-tempos-de-epidemia-o.html
Acesso em 02 jul. 2020.
[36] COSTA, op. cit., p. 97.
[37] Idem, p. 96.
[38] Historiadora da Arte,
membro da equipe de pesquisa portuguesa do projeto HOSPITALIS.
[39] RELATÓRIO da
Provedoria da Santa Casa de Misericórdia, pelo provedor Joaquim Pedro Corrêa de
Freitas (1829-1884). Belém, 1879, p. 7-8.
[40] MIRANDA, Cybelle
Salvador et al. Santa Casa de Misericórdia e as políticas higienistas em Belém
do Pará no final do século XIX. História, Ciências, Saúde - Manguinhos.
Rio de Janeiro. v. 22. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/dntjFGNPbZ6QXZCZf77XsYP/?lang=pt
Acesso em 19 set. 2019.
[41] MIRANDA, CARVALHO,
LOBATO, 2020. Pg. 85-96.
[42] MIRANDA, Cybelle
Salvador. Da Almedina à Feliz Lusitânia: Personagens do Patrimônio. Amazônica
- Revista de Antropologia, [S.l.], v. 3, n. 2, p. 348-368, mar. 2012.
Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/view/772/1052
Acesso em: 26 jun. 2020.
[43] Arquivo Central do
IPHAN - Seção Belém – Complexo Feliz Lusitânia, Caixa 1, pasta 3. 2002. p. 337.
[44] Moitinho, Vera &
Madeira, João & Botelho, Maria & Dias, Ricardo. (2014). The London
Charter - “Carta de Londres. Para a Visualização Computorizada do Património
Cultural". Pg. 3-12.
[45] BAENA, op. cit. p. 196.
[46] MIRANDA, CARVALHO,
LOBATO, 2020, p. 85-96.
[47] CRUZ, Ernesto. As
Edificações de Belém: 1783-1911. – 1. ed. - Belém : Conselho Estadual de
Cultura.1971.
[48] BAENA, op. cit. p. 196.
[49] CARVALHO, João Marques
de. Hortência. Belém: Cejup/Secult, 1997, p. 175.
[50] BAENA, op. cit. p. 196.
[51] ANTUNES, Luís Frederico
Dias. A vida social das Colchas e outros bens indo-portugueses: seus usos e
valor para lá do comércio (séculos XVI-XVIII). An. mus. paul., São
Paulo, v. 26, e05d1, 2018, p. 19.
[52] Segundo Albenaz
(1997-1998, p. 289), “gelosia é o painel formado por treliças de madeira usado
para vedar vãos de janelas. Foi muito empregada em antigas edificações coloniais.
Em geral articula-se, girando em torno de eixo vertical. Algumas vezes ocupava
somente parte do vão da janela, associando-se à janela de guilhotina.”
[53] CARVALHO, Antonio Pedro
Alves de. Introdução à arquitetura hospitalar. Salvador: Quarteto;
FAUFBA, 2014, p. 12.
[54] Idem, p.14.
[55] FERNANDES, op. cit. p.
285.
[56] MANGUEL, Alberto. Lendo
Imagens: uma história de amor e ódio. Tradução: Rubens Figueiredo, Rosaura
Eichenberg e Cláudia Strauch. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p.
273-276.
[57] Segundo o Dicionário
Oxford, do Latim, significa, literalmente, “lembre-se que você irá
morrer." Termo usado pela filosofia estóica para observar o fim e a morte
como um processo de construção, passível de beleza quando se entende que a vida
e a existência têm limites e cada dia deve ser vivido da melhor forma possível.
[58] VILLELA, Ana Teresa
Cirigliano. Arqueologia
da Arquitetura (AA):
a estratificação tridimensional do tempo. SP, UNICAMP, 2015, p. 12.
[59] FERNANDES, op. cit. p.
288-289.