Hospital da Caridade na Belém Imperial: caracterização e construção de um modelo virtual

José Cristhian da Silva Cabral * e Cybelle Salvador Miranda **

CABRAL, José Cristhian da Silva; MIRANDA, Cybelle Salvador. Hospital da Caridade na Belém Imperial: caracterização e construção de um modelo virtual. 19&20, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 1-2, jan-dez 2022. https://doi.org/10.52913/19e20.xvii12.07

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1.      Ao estabelecer morada na cidade colonial de Belém do Grão-Pará, Frei Caetano Brandão fundou, no fim do século XVIII, o primeiro hospital de alvenaria do Pará e um dos primeiros locais de tratamento terapêutico e acolhimento que a população adoecida da cidade teria acesso: o Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, também conhecido como o Hospital da Caridade de Belém do Pará. A história do hospital está atrelada à atuação e influência político-religiosa das irmandades em solo paraense e o seu edifício, em tipologia de sobrado português, resguardava a síntese das características da arquitetura colonial lusitana e influências implícitas do partido arquitetônico adotado pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis, a qual Frei Caetano Brandão era ordenado. Após pertencer por anos à Companhia Nipônica, o edifício foi apropriado pelo Exército Brasileiro até o ano de sua demolição, em 1978, mesmo estando sob a proteção do tombamento como patrimônio cultural a nível nacional. A sua perda representa o descaso e abandono do patrimônio histórico de Belém do Pará.

2.      Consoante às pesquisas já realizadas na temática da arquitetura hospitalar, o escopo deste artigo reside primariamente no resgate da história do Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, cuja bibliografia é escassa e necessita de maior compilação para preservação da memória do hospital. O segundo momento é a análise dos elementos compositivos adotados no partido arquitetônico do hospital, recriando em modelo virtual uma réplica arquitetônica resultante dos processos de ampliação ou reforma que ele passou durante os 113 anos (1878-1900) em que funcionou como uma edificação hospitalar, e após sua demolição em 1978.[1] A pesquisa adotou o método qualitativo com a pesquisa histórica da instituição e o levantamento dos aspectos de sua arquitetura, tendo por meta a reconstrução virtual do edifício, utilizando como base os registros iconográficos e os escritos de fontes primárias e secundárias. O modelo virtual foi confeccionado por meio de softwares de modelagem em três dimensões (3D) utilizados no campo da arquitetura e do urbanismo, e servirá de registro para ações de educação patrimonial acerca do patrimônio cultural da saúde.

Sobre a construção da pesquisa

3.      Este artigo é parte do projeto HOSPITALIS, que trata da investigação global sobre a arquitetura hospitalar portuguesa entre os séculos XV e XX, e se preocupa com a ampliação dos estudos avaliativos acerca desta tipologia patrimonial devido às suas particularidades arquitetônicas e redes de interações sociais que definem estes hospitais como atores históricos relevantes.[2] Em continuidade ao trabalho de pesquisa já realizado por Beatriz Trindade e apresentado no II Colóquio Internacional de Arquitetura Assistencial de 2019, em Lisboa, Portugal, usa-se como base a pesquisa de Beltrão, Miranda e Henrique (2011),[3] norteadora da abordagem historiográfica, o que possibilitou construir um diálogo cronológico dos acontecimentos que envolvem a concepção do objeto de estudo, desde sua fundação ao momento de sua demolição, perpassando por aspectos políticos,[4] religiosos[5] e sociais,[6]  que estão atrelados ao seu uso como local de tratamento do corpo, do espírito e da sociedade.

4.      Foram realizadas pesquisas documentais na Hemeroteca Digital Brasileira, no Arquivo Público do Pará, na Biblioteca do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, na Biblioteca do Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi e na Hemeroteca da Biblioteca Arthur Vianna, as quais possibilitaram expandir as fontes primárias e secundárias para este estudo, revelando imagens e registros escritos não utilizados anteriormente em outras bibliografias a respeito do hospital.

5.      O produto resultante deste compilado é a maquete eletrônica do Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos que também possui indicações de layout de acordo com as descrições bibliográficas adquiridas no percurso da pesquisa,[7] apresentando medidas modulares para a volumetria do edifício desenvolvido, obedecendo às diretrizes da Carta de Londres[8] e buscando fontes de comparação entre esta e outras arquiteturas históricas de caráter hospitalar no Brasil e no mundo, dando continuidade às análises sobre a dinâmica do hospital no desempenho de suas atividades assistenciais na cidade de Belém nos oitocentos. Para confeccionar a reconstrução virtual do hospital em modelo arquitetônico em três dimensões (3D) utilizou-se tecnologia de softwares de modelagem arquitetônica em duas dimensões como o AutoCAD, e para a modelagem em três dimensões o SketchUp e o ArchiCAD.

Arquitetura hospitalar luso-brasileira nos alvores da Modernidade: o Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos de Belém do Pará

6.      Mais de um século após a fundação da cidade de Belém, Dom Frei Caetano da Anunciação Brandão [Figura 1], o responsável pela construção do Hospital da Caridade, se apresenta no Grão-Pará em 20 de outubro de 1783:[9]

7.                                    Dom Frei Caetano Brandão nasceu na Comarca de Estarreja, Portugal, […]. Estudou Teologia na Universidade de Coimbra já reformada pelo Marquês de Pombal (1699-1782) e foi religioso da Ordem Terceira da Penitência, ligada aos padres franciscanos. […] foi indicado bispo do Grão-Pará por Dona Maria I (1734-1816) e confirmado por Pio VI (1717-1799), em 1782, e tendo governado a diocese até 1790. […] Em 1788, foi transferido para a Sede Primacial de Braga, Portugal, onde faleceu a 15 de dezembro de 1805.[10]

8.      Voltaremos ao século XIII, quando a Ordem dos Frades Menores, popularmente conhecida por Ordem dos Franciscanos, é fundada no ano de 1209 em Assis, na Itália, e chega em Portugal entre os anos de 1214 e 1217[.11]. Em síntese, seus membros nada deveriam possuir, espelhando-se no fundador São Francisco de Assis, obedecendo a votos de pobreza e vida extremamente simples, de humildade, devoção e castidade.

9.      A chegada da ordem em solo brasileiro se deu no século XVI, junto à frota de Pedro Álvares Cabral, estabelecendo-se de forma oficial no território recém-descoberto no ano de 1584, a pedido do governador da capitania de Pernambuco, fundando a Custódia de Santo Antônio do Brasil.[12] Não há registros de conventos franciscanos fundados no Pará nesse período. Frei Caetano Brandão, ao se deparar com o desamparo da população local, tomou para si a obrigação de oferecer um local de acolhimento para tratamento do corpo e da alma de seus fiéis, por ele adotados como rebanho:[13]

10.                                  […] Vou participar a V.Exª. hum novo arbítrio desentranhado do fundo da religião, e da humanidade em cuja execução há dias que trabalho: olhei pª esta Cidade, vi o dilúvio de miserias, e pobreza em que fluctuava hua grande parte dos seos habitantes morrendo muitos delles ao desamparo por não haver hu azillo publico da necessidade. […] em fim fechando os olhos as despesas imensas de hu estavelecimento desta natureza […] depois de assinar em hu papel o meo nome com a quantia decem mil reis, rezolvi eu mesmo pedir esmolla pelos moradores da Cidade. Com effeito Deus mostra que abençoa as minhas intenções […] e já comprado por setecentos e concoenta mil reis hu sitio o mais próprio pª hospital por ficar sobre o rio, e com algum principio do Edificio. Espero receber outras porçoens avultadas não so de dinheiro, mas também de pedra, cal, madeira, trabalhadores &ª, com o que julgo porei o estabelecimento em figura de abranger ate cem enfermos.[14]

11.    O edifício foi erguido com auxílio de um engenheiro desconhecido, colocado à disposição de Frei Caetano pelo Governador da Província. Famílias abastadas adeptas das beneficências do bispo ofertaram insumos e mão de obra durante o período de construção. Fundado em 1785, finalmente o Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos foi inaugurado no dia 25 de julho de 1787 [Figura 2]. Era um asilo dos necessitados e teria como função atender a todos os “pobres desvalidos de sorte,” doentes e viajantes, além dos demais que precisassem de auxílio médico - fossem eles ricos ou pobres -, como era tradicionalmente comum nos hospitais dos setecentos, os “hospitais-asilos”:[15] “[…] o objetivo do ‘hospital monástico’ [ou asilo] não era o tratamento de doentes; era de oferecer ‘hospitalidade’ aos peregrinos sem abrigo, aos inválidos, pobres e idosos, que recebiam acolhida e alimento, mas não assistência médica no sentido moderno do termo.”[16]

12.    Inclui-se neste momento a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Em caráter oficial, a primeira delas foi fundada em Lisboa, em 15 de agosto do ano de 1498, por intermédio da rainha D. Leonor, regente temporária na ausência de D. Manuel I, e rapidamente se espalharam por todos os locais de domínio europeu.[17] No Brasil, especificamente no caso de Belém, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará foi fundada no ano de 1650, oficializada somente no ano de 1667[18] por Dom Affonso VI de Portugal, com todas as isenções e privilégios usufruídos por outras Misericórdias portuguesas. Até a chegada de Frei Caetano Brandão, a irmandade estaria falida e praticamente inerte, seus membros sequer teriam fôlego para atuar. Suas posses limitavam-se a uma edificação em taipa de pilão e uma igreja ao lado, “localizados no lado oriental da rua da Trindade, entre as ruas de Santo Antônio e dos Martyres,”[19] que formaram por anos o “Largo da Misericórdia.”[20] Um ano antes da conclusão do hospital, o clérigo comunica a sua comunidade que fundará uma sociedade para recolhimento de esmolas de fiéis, sendo estes escolhidos os primeiros a darem o exemplo, amparar a pobres enfermos, instruí-los e oferecer-lhes alívio imediato.[21] Nasceu assim a Nova Confraria da Caridade, plenamente funcional em junho de 1786. Por escolha da confraria, o seu patrono seria o “Bom Senhor Jesus dos Pobres Enfermos.”

13.    Até a data de sua inauguração, a Confraria da Caridade peregrinava de porta em porta pela cidade de Belém, naquela época dividida em Cidade e Campina (atualmente os bairros da Cidade Velha e Campina, respectivamente) para arrecadar esmolas que ampliaram os fundos para a manutenção do espaço hospitalar. As doações que arrecadou das famílias mais abastadas de Belém iriam além do dinheiro corrente, incluindo terrenos de diversos tamanhos, variando de propriedades pequenas até mesmo a engenhos e fazendas.[22]

14.    São desconhecidas em outras bibliografias as razões pelas quais o bispo ignorou a presença da Misericórdia paraense. Levanta-se o questionamento de que talvez, por motivos de dissonância entre a Ordem Terceira franciscana e a confraria da Misericórdia, poderia haver a intenção de fortalecimento, por suposição, da Ordem de São Francisco, sendo a Confraria da Caridade diretamente associada a um bispo ordenado como franciscano.

15.    Não seria estranho imaginar, diante de tais circunstâncias, que houvesse competições entre as Ordens Terceiras em qualquer lugar em que mais de uma estivesse instalada. Frei Caetano Brandão teria uma visão mais clerical sobre a fraternidade que fundava, não optando por entregar aos leigos que formavam as Misericórdias[23] as posses que dispunha, premeditando, em hipótese, protecionismo.[24] Este pensamento toma força ao observar os acontecimentos que sucederam o retorno de Frei Caetano Brandão para Portugal no ano de 1890, quando, durante esta década, diversas disputas políticas aconteceram entre as irmandades presentes na cidade que lutavam para se apropriar de espaços para suas congregações: “[…] a concorrência dos frades se deve contar como elemento retardador da instituição, numa cidade infante, como era Belém, de pequena população e de pobres cabedais.”[25]

16.    É necessário saber que as ordens terceiras, como a Misericórdia portuguesa do século XVI, buscavam crescer em poder e influência, estando sempre próximos à realeza. Seus integrantes eram vistos com grande prestígio e sua atuação social possuiria segundas intenções políticas afloradas. As misericórdias recebiam do reinado privilégios e contavam com a participação de elites abastadas em seu corpo administrativo, o que lhes conferia um nítido status social, criando para a Misericórdia um papel dicotômico entre quem pedia - os pobres enfermos - e quem cedia - os influentes com segundas intenções.[26]

17.    Entendido isto, ocorre uma grande dissensão entre a Confraria da Caridade e a Irmandade da Misericórdia do Pará - o mesmo jogo de interesses intrínseco às irmandades vindas da Europa -, resultando na disputa de influências entre o sucessor de Frei Caetano, o sétimo bispo da diocese de Belém, Frei Manuel de Almeida Carvalho, e sua disputa com o poder público:

18.                                  Tendo o Bispo prohibido terminantemente que o reverendo padre Agostinho Domingues de Cerqueira, désse contas ao juiz de resíduos e capellas, da administração da confraria, julgou a auctoridade, por sentença de 17 de Abril de 1807, a communicação que impuzera a D. Manuel de Almeida Carvalho, ordenando a sua expulsão do hospital e o sequestro do patrimônio deste.[27]

19.    A Irmandade da Misericórdia apelou ao governo provincial que lhe fossem entregues as posses da Confraria da Caridade, mediante o termo de aceitação e posse assinado em 18 de abril de 1807. O edifício do hospital, as fazendas, a olaria e as casas, somados às quantias correntes apropriadas então, reergueram a Santa Casa de Misericórdia do Pará da penúria que viveu por longo tempo. Não tardou para que fosse apontada a falta de responsabilidade financeira da instituição no ano de 1839.

Sob “nova” administração

20.    João Antônio de Miranda, presidente da província em 1840, em discurso na Assembleia Provincial informa:

21.                                  A simples inspecção vos revelará, que com tantos fundos se tivessem sido mais felizes as suas administrações, não só faria a Santa Casa face às suas despesas ordinárias, mais ainda teria meios para avançar a outros fins egualmente misericordiosos e de incontestável caridade, visto que não se resumem tão somente no curativo de doentes e as attribuições de taes estabelecimentos, quando bem constituídos.[28]

22.    Em 1835, o edifício do hospital se encontrava abandonado “por achar-se em ruínas,” voltando a funcionar pelas benfeitorias de Miranda, que tratou de renovar a mesa diretora da Santa Casa no ano de 1839, em virtude da lastimável situação em que se encontrava. O presidente teria sido o responsável pela “reedificação do hospital,” providenciando possíveis melhoramentos internos e sua reinauguração no ano posterior.[29]

23.    O período de abandono do hospital coincide com o período de atuação da revolta da Cabanagem. Como o motivo da revolta era os abusos históricos cometidos por portugueses e seus descendentes diretos,[30] decerto os membros da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará estariam sob a mira das milícias cabanas. Não seria estranho descobrir que muitos destes fugiram ou foram perseguidos e mortos durante o levante cabano, que não mediu esforço para poupar ninguém.

24.    A diretoria formada nos anos 1839-1840 trataria de dar abertura para realização da venda dos bens que julgassem improdutivos. A conversão dos seus terrenos em apólices de dívidas públicas daria fôlego às pendências da Santa Casa, afastando-a da penúria mais uma vez. As pesquisas de campo revelaram que os periódicos da época anunciavam as vendas em nome da Santa Casa [e. g., Figura 3], e essa prática perdurou até o começo do século XX.

25.    A má administração tornou-se repetir em 1848 e uma nova mesa diretora da Santa Casa foi eleita, encabeçada por Joaquim Pereira Frutuoso Guimarães. As mudanças que ocorreram a partir do ato de 30 de setembro de 1949 realinharam a Santa Casa de Misericórdia sob a direção de Frutuoso Guimarães e sua equipe, resultando nos primeiros estatutos internos, vigentes até os anos de 1900.

26.    O atendimento no Hospital da Caridade era dividido em quatro públicos: os marítimos, os pensionistas, os pobres e os escravos. Cada um desses grupos teve assistência diferenciada, alguns pagando pelos próprios cuidados médicos; outros, como os pobres, tiveram os custos das suas despesas pagas pela Misericórdia; os escravos particulares tinham seus custos arcados pelos senhores que os encaminharam para o tratamento. Havia, ainda,os que não estavam incluídos nesses grupos, como os estrangeiros e os alienados. Para cada uma das demandas acima, havia um número de leitos específicos. Dentro dessa demanda, havia os não pagantes e as dívidas destes eram encaminhadas para pagamento pelo poder público.[31]

Face à calamidade

27.    A epidemia de febre amarela se alastrou em 1850 ao chegar em Belém através da embarcação Póllux, vinda de Pernambuco, fazendo mais de 12.000 vítimas entre janeiro e julho daquele ano.[32] Ainda que os dados oficiais do governo provincial apontem 506 mortos, sabe-se que o controle de mortalidade não era exato.

28.    A varíola já era presente em Belém desde o século XVIII; porém, em 1851 surge um novo surto através da contaminação das lâminas de pus vacínico trazidas da Província da Bahia no mesmo ano para combate da doença, sendo que os primeiros vacinados foram os focos de contágio da população. A epidemia durou de maio de 1851 a setembro de 1852, registrando oficialmente 598 vítimas fatais.

29.    Em maio do ano de 1855, as primeiras vítimas de cólera-morbus chegam em Belém na embarcação portuguesa Defensor. Os médicos da época apontaram que seis a sete mil pessoas haviam sido afetadas pela moléstia, e nos dois primeiros meses os mortos oficiais chegaram a 453.[33] A epidemia se estendeu até o início do ano seguinte, ainda fazendo vítimas fatais. Cada uma dessas infecções viu na Belém Imperial as condições sanitárias e urbanas propícias para seu alastramento, somadas à ausência de conhecimento específico para o combate médico.[34]

30.    O Hospital da Caridade e a Irmandade da Misericórdia se viram na obrigação de ampliar seus esforços diante das epidemias. As despesas que já eram altíssimas se elevaram a níveis insustentáveis. A comunidade médica da época, ligada ou não ao hospital, já condenava seu estado de serviço e o amontoado de enfermos que ali buscavam tratamento. Não havia material de higiene para todos e as condições sanitárias eram insalubres. Em 1853, criou-se uma comissão médica investigativa para traçar um panorama das condições higiênicas da cidade, relacionando-o às causas das moléstias intrinsecamente ligadas às condições climáticas da região. Apesar de tais investigações, ainda se cria que estes eram fenômenos isolados.[35]

31.    Em 1854, o hospital começa uma série de reformas que se estenderam por todos os espaços da edificação, pretendendo melhorar as condições do edifício, mas isso logo se mostrou um problema para todos os pacientes que foram remanejados para locais em piores condições. Acerca da reforma, “[…] ela acabou por se estender por muito tempo, atravessando toda a fase da epidemia de cólera e, ao invés de conter, acabou favorecendo as suas péssimas condições sanitárias agravadas a cada nova epidemia.”[36]

32.    Em 1855, durante a crise de cólera, o local já não tinha condições de abrigar pacientes, havendo necessidade de criar enfermarias provisórias em outros locais da cidade, como a do segundo distrito da Campina, e a de São Sebastião, instalada na Rua do Açougue, que, diante do número de vítimas, atuou como unidade de tratamentos paliativos devido a inúmeras dificuldades financeiras.[37] Os gastos das enfermarias estavam sob responsabilidade da Província, que não cumpria o prometido. Por vezes, o provedor da Santa Casa, Dr. Pereira Guimarães, e o Vice, Miguel Antônio Pinto Guimarães não obtiveram retorno das solicitações dos recursos para atender as demandas que estavam sete vezes acima do suportado pela enfermaria. A nota na Figura 4 testemunha a cobrança da Santa Casa ao governo ainda nos anos de 1890.

33.    Até o início da década de 1860, a Santa Casa de Misericórdia esteve junto ao poder público na aplicação das medidas sanitárias pela capital. A secularização dos serviços religiosos, mediante a intervenção do Estado, alterou o caráter assistencialista para profilaxia de caráter público, mudando a imagem insalubre que o hospital possuía durante as epidemias, quando carregava o status de ameaça à saúde pública. Após o falecimento do Provedor Antônio Lacerda Chermont, o Visconde de Arary, o Vice-Provedor Dr. Joaquim Pedro Correia de Freitas assumiu a Santa Casa no final da década de 1870.

34.    Segundo consta no relatório da Santa Casa de Misericórdia de 1879, ao citar o Hospital da Caridade, havia a necessidade de reformas emergenciais de ampliação vertical sob o mesmo estilo arquitetônico do prédio original e reparos na edificação primária. A transcrição de Lina Maria M. Oliveira[38] revela:

35.                                  A maior necessidade que constitue actualmente este estabelecimento, é a de dotar-se o mesmo com maiores accommodações, dando-se-lhe ao mesmo tempo mais livremente a lattitude.

36.                                  Disse no meu anterior relatorio que era preciso se cogitarem os meios de se levar a effeito a maneira pela qual se devia dar as necessarias proporções de aumento ao edificio.

37.                                  Attendendo-se, pois, a essa instante medida, a Mesa Conjuncta, na sessão de 28 de Abril do anno findo, deliberou que se comprasse o predio contiguo ao lado esquerdo ou do norte do hospital pela quantia de 12:000:000 reis, nos termos da autorização concedida pela lei provincial n.o 720 de 26 de Abril de 1872, solicitando-se previamente licença do Governo Imperial, na fórma da legislação geral.

38.                                   […] Vencidas, por conseguinte, esta difficuldade, restar-nos-ha agora a maior, que é o commettimento das obras do prolongamento do edificio do hospital, debaixo das mesmas fórmas architectonicas do mesmo estabelecimento.[39]

39.    O retorno parcial de doenças como a varíola fez movimentar as articulações políticas para mudar a situação do atendimento no hospital. A Presidência da Província, em conformidade com a Assembleia Legislativa, incluiu em seus orçamentos, no dia 9 de novembro de 1882, a contratação e a busca de doze irmãs, vindas da Europa, para ocupar a gerência e os cuidados do Hospital da Caridade. O contrato entre a Santa Casa e as Filhas de Sant’Anna da Itália é firmado em 1883 e estas chegam ao Pará em 1884. Graças às intervenções das Filhas de Sant’Anna, as condições de higiene e atendimento prestados no hospital no ano de 1889 já eram notoriamente melhores; e paulatinamente o serviço prestado por elas passou a ser auxiliar na boa morte. Porém, com o avanço das exigências técnicas hospitalares do século XX, a atuação das irmãs ordenadas foram diminuindo.

40.    O Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, ou Hospital da Caridade, permaneceu em plena atividade até o dia 31 de julho de 1900, quando o serviço médico foi transferido para o edifício da Santa Casa de Misericórdia Paraense, inaugurado no bairro do Umarizal em 1 de agosto do mesmo ano [Figura 5].

Um “ex-hospital”

41.    O antigo Hospital da Caridade esteve abandonado pelo poder público até 1935, quando foi cedido para servir de sede da Companhia Nipônica, estabelecida em Belém por imigrantes japoneses.[40] Não há registros que citem mudanças no interior do prédio, mas é de praxe que adequações e reformas fossem necessárias para seu reuso, sabido que o cais ao fundo teria sido usado como base de atracação para chegada e partida de gêneros comercializados pelos janponeses.

42.    No ano de 1957, o edifício do hospital foi desapropriado pelo Ministério de Guerra através do Decreto nº 39.131, de 4 de maio de 1956, destinando-o ao Estabelecimento de Subsistência da 8ª Região Militar até 1978, quando foi demolido. Segundo consta nos registros do IPHAN, ainda enquanto diretoria nacional, o órgão declarou o prédio do Hospital da Caridade como Patrimônio Arquitetônico Nacional em 1964; porém, em 1978 o poder público paraense optou pela demolição de parte do conjunto arquitetônico da Rua Siqueira Mendes, bairro da Cidade Velha, área onde se encontrava o edifício [Figura 6]. Este foi um ato de negligência das autoridades patrimoniais envolvidas na preservação da construção, causando um desastroso fim para o primeiro hospital em alvenaria da história da saúde do Pará.[41]

43.    O vazio espacial resultante das demolições possibilitou, dezenove anos depois, a execução do projeto paisagístico do Complexo Feliz Lusitânia, iniciado em 1997 e concluído em 2002 [Figura 7]. Este projeto abrange o núcleo inicial da colonização de Belém, incluindo o Forte do Presépio, a Casa das Onze Janelas (antigo Hospital Militar), a Igreja e Colégio de Santo Alexandre, a Igreja da Sé de Belém, e o casario da Rua Padre Champagnat e seu entorno.[42]

44.    O relatório de Fernando Marques,[43] responsável pelas prospecções arqueológicas anteriores ao processo de reforma do Complexo Feliz Lusitânia, indica que há resquícios da fundação original do prédio do Hospital da Caridade [Figura 8], mesclados com os vestígios das fundações mais recentes das reformas de requalificação do prédio para o uso militar após 1957: “[…] alguns segmentos de alicerces em pedra e cal, provavelmente do antigo Hospital da Caridade (de fins do séc. XVIII), um dos quais com cerca de 20m de extensão x 60cm de espessura e quase 1m de profundidade (ver foto a seguir). Conforme definido no Projeto, a construção do Espelho D’Água estará prevista para o exato local deste alicerce.” Para as obras do referido espelho d’água, o mesmo relatório conta que foram retirados 30 cm de altura da superfície da fundação de cal e pedra.

Discussão

45.    A partir deste ponto, salienta-se que não é a intenção desta pesquisa atribuir medidas reais ao edifício do Hospital da Caridade. Vigilante às indicações estabelecidas pela Carta de Londres para visualização computadorizada do Patrimônio Cultural,[44] a atribuição de valores modulares é pertinente para uma melhor experimentação em modelagem, sabendo que qualquer valor erroneamente atribuído à edificação, mesmo em modelo virtual, na intenção de estabelecê-lo como verdadeiro ou padrão no contexto que se insere, na ausência física in loco do objeto averiguado, resultaria em claro atentado à memória patrimonial da arte e da arquitetura, chamada de falso histórico.

46.    O mote das configurações arquitetônicas do Hospital da Caridade a seguir está no “Ensaio Corográfico sobre a Província do Pará,” escrito em 1833 por Antônio Ladislau Baena.[45]

Fachadas: Frontal e Posterior

47.    Fez-se necessário somar os resultados das pesquisas feitas em laboratório e em campo, orientadas pela Profª. Drª. Cybelle Salvador Miranda às colaborações de Beatriz Trindade Lobato, bolsista de extensão do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural-LAMEMO, orientada pelo Prof. Dr. Ronaldo Marques de Carvalho que, anterior ao início deste estudo, confeccionaram um protótipo volumétrico da fachada frontal - também em modelo tridimensional do Hospital da Caridade,[46] baseado nas imagens do Acervo Digital do IPHAN e nas descrições de Baena (1833) [Figura 9].

48.    O modelo elaborado anteriormente não pretendia obedecer a dimensionamentos que o aproximasse da volumetria que o Hospital da Caridade possuía enquanto existiu. Esta pesquisa optou pela adoção de medidas modulares, múltiplas de 6, para dar início a reconstrução da fachada e do corpo do edifício. Segundo observações do Prof. Dr. Ronaldo M. Carvalho, há simetria horizontal e vertical nas medidas do edifício [Figura 10 e Figura 11].

49.    Adotados os valores simbólicos de 12 m para a largura da fachada, e 3,5 m para a altura de cada pavimento do bloco frontal do edifício, restariam 1,5 m para a altura da platibanda com pirâmide, totalizando 12 m verticais. O resultado na representação mostrada na Figura 12 utilizou as medidas modulares e chegou em uma representação mais similar à Figura 10.

50.    As características da frontaria do Hospital de Caridade eram de um sobrado,[47] em estilo colonial, contíguo a outras edificações, sem afastamentos laterais ou frontal. O corpo frontal do edifício apresentava três pavimentos [Figura 13]. O primeiro era composto por uma porta e quatro portas-janela elevadas do nível da rua, com duas folhas e um gradil espaçados de modo igual e com as mesmas dimensões.

51.    No segundo pavimento, havia cinco aberturas para portas-janelas de púlpito gradeadas com guarda-corpo de ferro; cada abertura com esquadrias em madeira com duas folhas de abrir, trabalhadas com almofadas e vidro, encimadas por bandeira também de madeira e vidro, em arco abatido, com moldura contornando o vão. Dois mastros de bandeira permaneceram fixados no nível do piso deste pavimento, após e antes das aberturas de esquadria das extremidades da edificação.

52.    O terceiro pavimento era composto por cinco janelas de duas folhas de abrir, esquadria de madeira com vidro em cada folha, com bandeira de mesmos materiais e dividida em três partes, também em arco abatido, com verga e moldura similar às do pavimento inferior.

53.    O edifício apresentava uma cimalha em estilo clássico contínua pela fachada, que separava o corpo da edificação da platibanda, dividida em três partes aparentemente simétricas, cada uma com um losango em relevo, sendo o central maior; centralizado acima deste último havia coroamento em elevação triangular com bordas-cimalhas em alto-relevo e um triângulo em relevo em seu interior; laterais a este, havia dois pináculos piramidais e um acrotério com esfera centralizada no pico do corpo piramidal, ladeado por estátuas. Nas extremidades da platibanda havia uma estatueta sobre pilaretes.

54.    A fachada posterior data do século XIX, por ser subsequente com tipologia destoante do estilo frontal do edifício. Era coroada por cimalha em estilo clássico; abaixo desta, em relevo e centralizado o ano “1864” [Figura 14]. Cada um de seus pavimento distinguia-se por cimalhas; contavam com cinco vãos em arco pleno, visualmente de tamanhos iguais e espaçamentos, com guarda-corpo em madeira. Diferenciavam-se apenas o desenho das esquadrias de acordo com o nível [Figura 15]. Não é possível identificar alguma esquadria nas aberturas do primeiro pavimento, mas pode-se identificar uma moldura ao redor da abertura central. As aberturas do segundo pavimento eram guardadas por um gradil de ferro externo que protegia dois terços da altura do vão. As esquadrias eram portas-janelas em madeira, de duas folhas, cuja parte superior aparenta ter sido em persianas de madeira horizontais. A bandeira de porta acima, em arco pleno, aparenta ter o formato em leque de quatro folhas. O terceiro pavimento não possuía gradil em ferro nas aberturas, mas tinha guarda-corpo de madeira em ripas, e o padrão de esquadria era igual ao do pavimento inferior, diferenciando no desenho da bandeira de madeira, cuja moldura formava arcos que seccionam o vidro.

Divisões internas

55.    As descrições de Antônio Ladislau Baena são anteriores às reformas descritas e seguem a linha de um observador que passeia pelo edifício de maneira metódica. Reconhece primeiramente as características da fachada frontal e a ausência de qualquer ousadia estilística. Segue elencando que o partido arquitetônico do Hospital da Caridade é composto por três quadriláteros, o frontal e o posterior ligados por outro que mede ⅔ do terreno, restando ⅓ aberto para um pátio interno. Baena classifica o Hospital da Caridade como um sobrado em virtude da configuração das “casas” - compartimentos –, cuja frontaria do edifício é térreo mais um pavimento superior e um compartimento sobre este; o corpo central é térreo, com duas escadas de acesso para o pavimento superior nas extremidades e este último com escada de acesso para o compartimento frontal; ao lado, no pátio aberto interno, haveria uma rampa de acesso ao subsolo correspondente à forma do quadrilátero posterior com vista para o Rio Guamá.

56.    O dito paralelogramo que seria o corpo central, é recuado para uma das laterais do prédio; de acordo com o olhar do observador que entra no hospital pela porta da esquerda, o recuo desta porção central da edificação é para a direita, permitindo espaço para um vão para entrada de luz e ar fresco na edificação. A foto da Figura 16 consta no acervo do LAMEMO como parte da varanda interna do edifício. Apesar de não encontrarmos o autor para referenciá-lo, a disposição dos elementos visíveis é concordante com as descrições de Baena:

57.                                  No primeiro pavimento do quadrado da espalda do edifício […] uma galeria, com pilares e balaústres de madeira, […] o segundo é uma grande casa e galeria, para a qual guiam duas escadas largas reunidas em um tabuleiro de sacada, uma que principia na contigüidade da cancela da garrida fronteira à porta da entrada do hospital e a outra da parte oposta.[48]

58.    Ao traçar uma linha imaginária entre o térreo e o pavimento superior percebe-se com clareza a simetria do edifício, especialmente se o rotacionarmos em 180º a partir do eixo horizontal da linha imaginada [Figura 17].

Layouts

59.    Com base nas descrições de Baena, chegou-se ao resultado mostrado na Figura 18: o acesso (1) ao piso térreo do da edificação à Rua Siqueira Mendes era ao lado esquerdo, sinalizado pela placa de identificação do Hospital da Caridade. Seguia pela circulação (2) adentro, onde uma cancela controlaria o acesso à botica (3), que compreendia toda parte frontal, e dava acesso ao pátio aberto interno (4); este era circundado por uma varanda de circulação coberta (5), que dava acesso a uma sala usada como consultório (6), uma enfermaria menor (7), uma sala usada como vestíbulo (8), duas escadas para o pavimento superior em cada extremidade (9 e 10) (todos na extensão horizontal do corpo central) e acabava no acesso a uma enfermaria maior (11) com vista para a Baía do Guajará com latrina anexa (12), ocupando todo o espaço do corpo posterior.

60.    Consoante a descrição de Baena, o romance naturalista de João Marques de Carvalho, Hortência, escrito em 1888, contém uma narrativa sobre o cotidiano da cidade de Belém do Pará em fins do século XIX e descreve a circulação interna do Hospital da Caridade, revelando um caráter mais intimista a respeito do funcionamento do mesmo como um local de tratamento público de saúde. Ressalta-se que esta descrição permite observar supostos resultados das reformas de ampliação da edificação em meados do século XIX:

61.                                  Afastou-se da janela, tomou ao longo corredor, descendo, em seguida, a escada que conduzia ao pavimento térreo: seguiu ainda por outro corredor e penetrou, afinal, em uma enfermaria à direita.

62.                                  Era uma larga peça com várias portas de comunicação para diferentes salas. As paredes, muito alvas e nuas, tinham sido pintadas a cal recentemente. Seis camas simples, de ferro fundido, perfilavam-se paralelas, com um apuro de limpeza meticuloso, porventura exagerado. À direita de cada cabeceira, erguia-se uma pequena mesa, contendo algumas vidros de medicamentos, outras aparelhos cirúrgicos, possuindo todas o competente boletim médico, cheio do nome da enferma e do seu número de ordem, o nome da moléstia diagnosticada, o do facultativo incumbido do seu tratamento, a prescrição formularia, a dosagem dos remédios.[49]

63.    Somadas as referências, o layout do pavimento térreo do Hospital da Caridade foi concebido em modelo 3D. Contudo, devido à ausência de mais dados, a ampliação do pavimento térreo conforme as descrições de Carvalho foi representado como um compartimento aberto (A).

64.    O subsolo foi representado sob a ótica de Baena: a rampa (13) inserida no pátio interno e aberto (4) segue o acesso ao cais de cantaria para a Baía do Guajará (14) e à cozinha (15), que daria para o quarto reservado para os escravos (16). Supõe-se que as paredes do layout de ampliação do subsolo tendem a ter as mesmas configurações do térreo (A).

65.    No primeiro pavimento, a escada consecutiva (9) à entrada no térreo (1), dá acesso à varanda (17) e à escada (18) para a enfermaria feminina (19) que é um sobrado que caracteriza o pavimento 2, e à sala do consistório (20) com a casa do cofre (21) direto à enfermaria com altar (22), que ocupa toda a extensão longitudinal do corpo central, também acessada pela varanda (17) onde estaria a escada (10) para o térreo. No corpo posterior, uma outra enfermaria (23) com latrina (24) seguia o layout do térreo. O acréscimo do século XIX (B) foi representado como no pavimento térreo. A repetição do padrão de distribuição da alvenaria interna do Hospital da Caridade coincide por motivos construtivos pertinentes às limitações da engenharia dos séculos XVIII e XIX.

66.    Após todo o processo de reconhecimento dos ambientes internos, foi possível traçar o seguinte fluxograma do Hospital da Caridade:

Linha do tempo

Descrição gerada automaticamente

67.    A laje em cantaria cobriria o piso do pavimento térreo somente pela varanda e seguia abaixo para o subsolo [Figura 19]. Este “cais de cantaria” seria um espaço aberto que primariamente serviria como base para atracação e recebimento de gêneros pelo acesso ao rio. Futuramente, este espaço seria usado como base da ampliação do século XIX.

Outras observações

68.    Segundo as descrições de Baena, o piso do pavimento térreo era em cantaria e essa paginação poderia ter sido usada no subsolo. Diferenciavam-se os espaços internos que tinham assoalho em madeira,[50] por motivos estilísticos da arquitetura importada de Portugal. O piso do corredor da galeria superior era revestido por ladrilhos, possivelmente para combater intempéries locais.

69.    A enfermaria do pavimento superior era um cômodo amplo, senão o maior, comportando 21 leitos distribuídos na tentativa de otimizar o espaço interno. Possivelmente a cabeceira das camas estava encostada paralelamente às paredes. Para oferecer certa privacidade aos pacientes, os leitos eram separados por tapeçarias vindas da Ásia - uma prática pertinente ao comércio indo-português: “Os luxuosos e coloridos tapetões […] decoravam e revestiam chãos e paredes e contribuíam para a estruturação dos espaços interiores da habitação, ajudando na divisão dos compartimentos e na criação de novos espaços multifuncionais.”[51]

70.    Essa configuração de layout é encontrada também na enfermaria do Real Convento de Mafra, em Portugal [Figura 20], cujos leitos semelhantes a alcovas são paralelos às paredes, para que os doentes estivessem voltados para o altar para que pudessem assistir à celebração da missa.

71.    O desenho da Figura 21 é uma representação autoral da enfermaria em perspectiva para se visualizar melhor o cenário descrito por Baena. É possível observar a disposição dos leitos e a divisão por tapeçarias, bem como um altar ao fundo, em estilo barroco, que predominava na época da fundação do hospital.

72.    A enfermaria feminina no segundo pavimento (sobrado) possuía uma pequena abertura esquadrilhada por gelosia[52] [Figura 22], para ter acesso visual às missas que ocorriam na enfermaria do pavimento inferior.

73.    As latrinas de fácil escoamento, poderiam estar separadas por alvenaria e anexas às enfermarias do bloco posterior do hospital, similares aos modelos de latrinas públicas romanas [Figura 23a e 23b].  

74.    O telhado do Hospital da Caridade em modelo tridimensional  [Figura 24] foi proposto a partir da Figura 6, Figura 14 e Figura 16 acima discutidas, aliadas à imagem do Cartão Postal da Edicard Editora Cultural LTDA  [Figura 25].

Influências arquitetônicas

75.    A evolução dos ambientes de saúde evoluiu junto à terminologia “hospital,” que deriva diretamente de “hospedaria,” ligando o antigo uso dessas edificações com o uso atual: passar a noite sob cuidados. Da Idade Média ao início da civilização moderna, o hospital possuía uma imagem negativa, devido aos altíssimos índices de mortalidade.[53] A arquitetura esteve diretamente ligada com a história dos hospitais. Nesse período, estes espaços serviriam como um elemento repressor, afastando das classes sociais dominantes da sociedade as pessoas infectadas, gerando segregação e vigilância sobre os doentes. As moléstias eram consideradas como um castigo divino, portanto o lugar de tratamento para elas se assemelhava a templos. O cristianismo medieval repetiria a mesma solução mística das grandes sociedades da Antiguidade, observando-se o mesmo comportamento em templos de diversas crenças ao decorrer da história. O hospital nasce para caridade, porém, com o aumento da demanda por cuidados “a função dos hospitais passa a ter outra face.”[54]

76.    O partido arquitetônico do hospital de Frei Caetano Brandão não obedecia a um sistema específico de espaços de cura anteriores a ele. Por ser uma obra construída através de atos de caridade, a possibilidade de se erguer uma grandiosa edificação era mínima; portanto, sua tipologia não estaria próxima do sistema de nave e claustro do século XIII [Figura 26, esquerda], mas compartilharia inicialmente em suas enfermarias os doentes de todos os tipos, não fazendo dissensão de patologias. Também não apresentava o prolongamento das alas de observação, como num sistema radial proveniente do final da Idade Média [Figura 26, centro]. Mas, assim como este, configurava ao espaço interno da sua maior enfermaria de modo que todos os leitos pudessem estar sob observação e tivessem vistas para uma capela ou altar inserido no ambiente de cura para o corpo e a alma. Como um casarão em estilo de sobrado português com subsolo, térreo, pavimento superior e sobrado frontal não poderia ser um hospital pavilhonar dos séculos XVIII e XIX [Figura 26, direita]; porém, nestes períodos as adequações realizadas procuraram obedecer às normas higienistas estabelecidas na capital durante e após as epidemias do século XIX em Belém do Pará.

77.    Somam-se a estas colocações alguns aspectos influenciadores sobre o fundador do Hospital, Frei Caetano Brandão, cuja ordem Franciscana possuía algumas diretrizes particulares sobre a arquitetura que erigia, listadas na Tabela 1 abaixo. A obra de arquitetura franciscana obedecia a algumas características inerentes ao espírito comportamental da ordem, como pobreza e simplicidade, ligadas ao amparo religioso e convívio com os cidadãos da vila ou cidade:

78.                                  Nesse sentido, […] segundo a regra básica da arquitetura, adaptou-se sempre que possível ao clima, voltou-se para a escolha adequada do local da construção, buscando a proximidade dos cursos d ́água, escolheu o isolamento do espaço rural na fase inicial, as elevações do terreno, a inserção nos extremos da malha urbana. Esses edifícios não eram construídos de uma só vez; o núcleo inicial era geralmente o claustro […]. Nos primórdios da colonização, a tendência da arquitetura portuguesa na Colônia, do século XVI à segunda metade do XVII, era o edifício em forma de caixa simples, à moda do chamado “estilo chão” português, que tende a sobriedade determinada pelo espírito da Contra-Reforma. […] simplicidade decorativa, segundo a filosofia de pobreza da Ordem franciscana.[55]

Tabela

Descrição gerada automaticamente

Tabela 1: Tabela comparativa entre as características da arquitetura franciscana e do Hospital da Caridade.

Autor: Cristhian Cabral, 2020

Conclusão

79.    Citando brevemente Manguel, na discussão sobre “A imagem como memória," capítulo dedicado a Peter Eisenman, o autor traça paralelos entre as perspectivas de memórias atribuídas a monumentos humanos esquecidos na história. Seja um simples conjunto de pedras do deserto empilhadas para homenagear a um morto anônimo, ou a estátua de um negro herói de guerra argentino, histórias que com o passar do tempo estiveram perdidas, inseridas no que ele chama de vácuo semiótico,[56] possuem significado em algum momento da história. Sob essa perspectiva, Manguel oferece a compreensão de que sobre este vazio também há um monumento para aquilo que não existe mais, como um memento mori.[57]

80.    Assim como estes monumentos, o Hospital da Caridade não existe mais, mas um dia ele foi sinônimo de cuidados à saúde em Belém do Pará. Reconstruí-lo em modelagem tridimensional gráfica foi um desafio desbravado com o auxílio de análises pertinentes à Arqueologia da Arquitetura:

81.                                  […] métodos analíticos não-destrutivos […] para o registro e interpretação objetivos de transformações físicas e materiais […] para a compreensão das alterações sinalizadas por múltiplos indícios que servem a testemunhar a passagem do tempo nas paredes, estruturas e espaços configurados, cuja interligação relaciona-se à sua tridimensionalidade.[58]

82.    Um mote arquitetônico, um acontecimento na história da saúde de Belém do Pará nos Oitocentos, uma crônica fisicamente destruída, imageticamente resgatada. Por muitos, esquecido; por outros, descoberto. As tímidas características do Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos/Hospital da Caridade, consideradas arquitetonicamente insuficientes para lograr a ele alguma pompa, se revelaram mais substanciais do que o esperado ao aprofundarmos nossos estudos sobre Frei Caetano Brandão, sexto Bispo da Diocese de Belém, e suas possíveis influências sobre o hospital.

83.    O edifício compartilhou uma ampla trajetória histórica ao lado da Santa Casa de Misericórdia do Pará em circunstâncias sociais, políticas, religiosas e administrativas, visto que sem o Hospital da Caridade os rumos desta irmandade em solo paraense poderiam ser outros. O poder público, que por anos contou com a assistência prestada pelo Hospital, infelizmente não o assistiu quando este veio abaixo por motivos, talvez, negligentes:

84.                                  a compreensão total de uma forma será tanto ou mais perfeita quanto mais se transforme em vivência, na medida em que se identifiquem forma e observador, pois que um processo intelectual de pura análise não é suficiente para a obtenção total do espírito de qualquer forma, ainda que possa constituir um veículo de aproximação. Assim, podemos dizer que as formas que surgem num determinado tempo carregam em si muito da história do homem, obedecem a regras, funções, a lógicas que a priori podemos não compreender, mas que se traduzem em manifestações singulares, cujos segredos devemos desvendar. Se as formas se chocam, por desprestígio, que em geral vem da falta de compreensão da sua lógica no tempo e no espaço, tudo perde o seu verdadeiro sentido.[59]

85.    A máxima desta pesquisa foi compreender que somente investigar para preencher lacunas na sua história não seria suficiente para entender que o Hospital da Caridade, como um personagem na história da saúde no Pará, era mais do que meramente um sobrado colonial de feições triviais. O papel desta reconstrução virtual é, portanto, comprovar seu valor histórico e arquitetônico, encarando sua arquitetura de múltiplas facetas tipológicas, apontando as origens de sua criação de ponto de vista mais abrangente que não ignora os condicionantes de seu fundador, Frei Caetano Brandão.

86.    Faz-se necessário rememorar as origens da Santa Casa de Misericórdia Paraense que através deste patrimônio sobreviveu a inúmeras dificuldades financeiras, sociais, políticas e, por fim, afirmar seu valor assistencial perante a história da saúde paraense, cuja historiografia não poderá se abster de rememorar sempre que necessário do primeiro hospital em alvenaria do Pará - fisicamente demolido, porém, revivido pelo poder da memória, da pesquisa e da tecnologia.

Referências

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___________________________

* José Cristhian é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, bolsista de iniciação cientifica do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural.

** Cybelle Salvador Miranda é arquiteta e Urbanista (UFPA, 1997), mestre em Planejamento do Desenvolvimento (NAEA-UFPA, 2000), doutora em Antropologia (UFPA, 2006). Professor associado III (FAU-UFPA/ PPGAU-UFPA). Coordena o Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural da FAU-UFPA e o Programa de Pós-graduação em Arquitetura e urbanismo (PPGAU/UFPA).

[1] MIRANDA, Cybelle Salvador; BELTRÃO, Jane Felipe; HENRIQUE, Márcio Couto. Caminhos e ausências no patrimônio da saúde em Belém, Pará. Amazônica: Revista de Antropologia, Belém, v. 5, n. 2, p. 308-343, 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v5i2.1496. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/11099. Acesso em:13 de fevereiro de 2022. Pg. 316.

[2] Mais informações no sítio: https://projecthospitalis.net/pt/#projeto

[3] MIRANDA, BELTRÃO, HENRIQUE, op. cit.

[4] COSTA, Magda Nazaré Pereira da. Caridade e saúde pública em tempos de epidemias: Belém 1850-1890. (Dissertação) Universidade Federal do Pará, Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia (Aldrin Moura Figueiredo), Belém/PA, 2006, 38-40.

[5] VIANNA, Arthur. Esboço Histórico da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Revista Pará-Medico. Pará. Ano I - No.7. p 153-160. Maio, Junho e Julho de 1901.    

[6] Idem. A Santa Casa da Misericórdia Paraense. Notícia Histórica 1650-1902. – 2. ed. - Belém: Secretaria do Estado de Cultura, 1992 [1902].

[7] BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio Corográfico sobre a Província do Pará. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004, p. 196.

[8] DENARD, Hugh. Carta de Londres: para a visualização computorizada do patrimônio cultural. Trad. BOTELHO, Maria Leonor; MOITINHO DE ALMEIDA, Vera. versão 2.1, 2014. Disponível em: http://www.londoncharter.org/fileadmin/templates/main/docs/london_charter_2_1_pt.pdf Acesso em 4 jan. 2018.

[9] COSTA, op. cit., p. 60.

[10] PINTO, Jefferson de Almeida. Dom Frei Caetano Brandão (1740-1805): historiografia, memória e ideias políticas.  in Anais do XVII Encontro de História da Anpuh-Rio. 2016., p. 1.

[11] FERNANDES, Cybele Vidal Neto. Considerações sobre o espaço na obra franciscana no Brasil. In: FERREIRA-ALVES, Natália Marinho (org.). Os franciscanos no mundo português III: o legado franciscano. Porto: CEPESE, 2013, p. 281.

[12] Idem, p. 283.

[13] COSTA, op. cit., p. 60.

[14] Trecho retirado do Ofício de D. Frei Caetano Brandão, Bispo do Pará, a Martinho de Melo e Castro, sobre a construção de um hospital. Coleção Manoel Barata, Lata 280, pasta 2, documento 1. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil – Arquivo (IHGB). Conservou-se a escrita original.

[15] COSTA, op. cit., p. 61.

[16] LEWINSOHN, Rachel. As Três Epidemias: Lições do Passado. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003, p. 67.

[17] SÁ, Isabel dos Guimarães; LOPES, Maria Antónia. História breve das misericórdias portuguesas: 1498-2000. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008, p. 6.

[18] VIANNA, 1902, p. 16.

[19] Idem, p. 14.

[20] VIANNA, 1901, p. 154.

[21] Idem, p. 155.

[22] Idem, p. 157.

[23] As confrarias tinham importância social, aliando religiosidade às práticas coletivas para criar um sentimento coletivo de responsabilidade mútua entre alheios, tanto no meio rural quanto nas cidades em que se instalavam - acelerando o processo de crescimento das mesmas. Havia um misto entre os atuantes nesses espaços: uns eclesiásticos, outros leigos. O mundo profano estava costurado ao sagrado clerical.

[24] SÁ, LOPES, op. cit. p. 6.

[25] VIANNA, 1902, p. 17.

[26] SÁ, LOPES, op. cit. p. 39-40.

[27] VIANNA, 1901, p. 157.

[28]  MIRANDA, João Antônio de. Discurso de abertura da assembleia provincial do Pará. 1840, pg. 33.

[29] VIANNA, op. cit., p. 158. Os enfermos de 1835 a 1840 eram tratados no edifício que atualmente corresponde ao Colégio Salesiano de Nossa Senhora do Carmo, que funcionava à época como hospital militar.

[30] RICCI, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Tempo, Niterói, v. 11, n. 22, p. 5-30, 2007. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/10370 Acesso em:20 de maio de 2021.

[31] Idem, 74-75.

[32] Idem, p. 24.

[33] Idem, p. 29.

[34] Idem, p. 35-40.

[35] CABRAL, José Cristhian da Silva; MIRANDA, Cybelle Salvador. Caridade em tempos de epidemia: O Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos em Belém. Blog LAMEMO,  2020. Disponível em: http://arquiteturaufpamemoria.blogspot.com/2020/03/caridade-em-tempos-de-epidemia-o.html Acesso em 02 jul. 2020.

[36] COSTA, op. cit., p. 97.

[37] Idem, p. 96.

[38] Historiadora da Arte, membro da equipe de pesquisa portuguesa do projeto HOSPITALIS.

[39] RELATÓRIO da Provedoria da Santa Casa de Misericórdia, pelo provedor Joaquim Pedro Corrêa de Freitas (1829-1884). Belém, 1879, p. 7-8.

[40] MIRANDA, Cybelle Salvador et al. Santa Casa de Misericórdia e as políticas higienistas em Belém do Pará no final do século XIX. História, Ciências, Saúde - Manguinhos. Rio de Janeiro. v. 22. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/dntjFGNPbZ6QXZCZf77XsYP/?lang=pt Acesso em 19 set. 2019.

[41] MIRANDA, CARVALHO, LOBATO, 2020. Pg. 85-96.

[42] MIRANDA, Cybelle Salvador. Da Almedina à Feliz Lusitânia: Personagens do Patrimônio. Amazônica - Revista de Antropologia, [S.l.], v. 3, n. 2, p. 348-368, mar. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/view/772/1052 Acesso em: 26 jun. 2020.

[43] Arquivo Central do IPHAN - Seção Belém – Complexo Feliz Lusitânia, Caixa 1, pasta 3. 2002. p. 337.

[44] Moitinho, Vera & Madeira, João & Botelho, Maria & Dias, Ricardo. (2014). The London Charter - “Carta de Londres. Para a Visualização Computorizada do Património Cultural". Pg. 3-12.

[45] BAENA, op. cit. p. 196.

[46] MIRANDA, CARVALHO, LOBATO, 2020, p. 85-96.

[47] CRUZ, Ernesto. As Edificações de Belém: 1783-1911. – 1. ed. - Belém : Conselho Estadual de Cultura.1971.

[48] BAENA, op. cit. p. 196.

[49] CARVALHO, João Marques de. Hortência. Belém: Cejup/Secult, 1997, p. 175.

[50] BAENA, op. cit. p. 196.

[51] ANTUNES, Luís Frederico Dias. A vida social das Colchas e outros bens indo-portugueses: seus usos e valor para lá do comércio (séculos XVI-XVIII). An. mus. paul.,  São Paulo,  v. 26,  e05d1, 2018, p. 19.

[52] Segundo Albenaz (1997-1998, p. 289), “gelosia é o painel formado por treliças de madeira usado para vedar vãos de janelas. Foi muito empregada em antigas edificações coloniais. Em geral articula-se, girando em torno de eixo vertical. Algumas vezes ocupava somente parte do vão da janela, associando-se à janela de guilhotina.”

[53] CARVALHO, Antonio Pedro Alves de. Introdução à arquitetura hospitalar. Salvador: Quarteto; FAUFBA, 2014, p. 12.

[54]  Idem, p.14.

[55] FERNANDES, op. cit. p. 285.

[56] MANGUEL, Alberto. Lendo Imagens: uma história de amor e ódio. Tradução: Rubens Figueiredo, Rosaura Eichenberg e Cláudia Strauch. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 273-276.

[57] Segundo o Dicionário Oxford, do Latim, significa, literalmente, “lembre-se que você irá morrer." Termo usado pela filosofia estóica para observar o fim e a morte como um processo de construção, passível de beleza quando se entende que a vida e a existência têm limites e cada dia deve ser vivido da melhor forma possível.

[58] VILLELA, Ana Teresa Cirigliano. Arqueologia da Arquitetura (AA): a estratificação tridimensional do tempo. SP, UNICAMP, 2015, p. 12.

[59] FERNANDES, op. cit. p. 288-289.