Um Sotaque Disfarçado: A recepção de referências americanas no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes

Fernando Atique *

ATIQUE, Fernando. Um Sotaque Disfarçado: A recepção de referências americanas no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 2, abr. 2008. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_atique.htm>.

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Curiosamente, pode-se dizer que foi com a chegada, em 1816, de um navio de bandeira norte-americana, chamado Calpe, que se preparou o terreno para a criação da primeira escola de arquitetura, no Brasil. Este navio trouxe ao Rio de Janeiro artistas que ficariam conhecidos como membros da Missão Artística Francesa. Alguns desses artistas se envolveram, dez anos mais tarde, na constituição da Academia Imperial de Belas Artes, na mesma cidade, dando origem ao primeiro curso oficial de arquitetura do país.

A Academia Imperial de Belas Artes passou a ministrar o curso de arquitetura em 1827, ano em que seu funcionamento foi oficialmente autorizado. Este ensino tinha como um dos lentes principais Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, arquiteto laureado pela École de Beaux- Arts de Paris, em 1799, e ganhador do Grand-Prix de Rome, um dos mais altos reconhecimentos artísticos para a sociedade francesa de fins do século XVIII e início do XIX (CONDURU, 2003: 143).

O que vários autores sustentam é que, durante o Período Imperial, a repercussão da escola e a qualidade do trabalho de seus formandos eram deficientes, pois a instituição não abordava, especificamente, aspectos de base tecnológica na formação dos alunos. Com isso, priorizava-se uma formação mais artística, a qual se dava de forma conjunta com os candidatos a escultores, gravuristas e pintores, até o terceiro ano do curso, quando, então, os arquitetos eram submetidos a aulas de Pequenas e Grandes Composições para obtenção do título específico (SOUSA, 2001: 60). De fato, a carreira arquitetônica não atraía muita atenção do público brasileiro apto a procurar um curso superior. Alberto Souza apresenta algumas razões para a pouca repercussão dessa formação, ainda nos primeiros anos da Academia, e comenta que, em vinte e três anos ininterruptos de atuação docente, Montigny preparou somente treze arquitetos, na fase que se seguiu à instalação do curso, e três, nos últimos anos de sua vida (SOUSA, 2001: 57).[1] Uma das causas dessa pouca atração de alunos era o descrédito alcançado pela Academia, que era julgada, socialmente, por educar arquitetos incapazes de construírem o que desenhavam.

Sabe-se que com a Proclamação da República o curso sofreu alteração significativa recebendo, inclusive, no começo do século XX, uma nova sede, construída na Avenida Central. Também sob a República, a denominação da Academia Imperial foi alterada para Escola Nacional de Belas Artes – ENBA -, e a separação dos cursos artísticos (pintura, desenho, escultura) do curso “aplicado” (arquitetura) se tornou mais nítida, chegando a estipular exame admissional específico para a carreira arquitetônica. Todavia, a ENBA continuou conhecida como formadora de “arquitetos-artistas”.

Após o período republicano notou-se que havia por parte dos docentes e administradores dessa escola, uma atenção significativa pelo universo norte-americano de publicações. Sabe-se, por exemplo, que Adolfo Morales de los Rios,[2] em concurso para provimento do cargo de professor de estereotomia na ENBA, em 1897, explicitou a necessidade de se adotar o modelo de ensino superior da Stanford University, nos Estados Unidos. Embora possa soar estranho que uma escola que foi criada e mantida, pelo menos durante seus primeiros anos, vinculada ao modelo das Écoles de Beaux-Arts, procurasse referenciais estadunidenses para suas classes, deve-se ter em mente quão diversa foi a trajetória da ENBA ao longo de toda a sua existência. Uma explicação para tal ação deve-se ao fato de muitos docentes terem buscado qualificação profissional no estrangeiro, sobretudo na Europa. Mas, como se nota, também as publicações norte-americanas favoreceram esse aumento de repertório. Mais uma vez, deve-se apontar que Morales de los Rios era leitor e articulista, nos primeiros anos do século XX, do periódico The American Architect and Building News.

O significado do interesse de docentes, como Morales de los Rios, pelos Estados Unidos, expressa que a ENBA passou a abrigar profissionais de origem social bem diversa daquela dos pintores e escultores dos períodos anteriores. Com a mudança do perfil dos docentes, houve a necessidade de se ampliar as fontes repertoriais para a produção e para o pensamento arquitetônico. Como a aquisição de livros em inglês era, em certo sentido, fácil, no Rio de Janeiro, ainda no século XIX, por conta dos diversos acordos comerciais com a Grã-Bretanha, a descoberta do mundo editorial norte-americano, após a década de 1870, também não causa nenhum espanto. Por meio de livrarias e das casas exportadoras, como a Nathanael Sands, facilmente se conseguia publicações que dirigiam o olhar dos intelectuais e dos acadêmicos para os Estados Unidos.

Com o prenúncio de alteração do perfil dos docentes após os primeiros anos da década de 1900, também o dos alunos de arquitetura da ENBA se alterou, atraindo filhos da elite econômica e intelectual para o curso de Arquitetura, enquanto as demais carreiras oferecidas pela escola ainda recebiam membros dos extratos mais pobres da República, tal qual na época imperial (DURAND, 1989). Se, neste período, o arquiteto encontrava campo crescente para suas obras na sociedade, sobretudo na construção de palacetes, edifícios comerciais e institucionais, na administração da ENBA ocorria o mesmo.

De fato, na ENBA, predominou, até por volta dos anos 1920, a matriz européia. Contudo, isto não significa que não houvesse, desde os tempos de Adolfo Morales de los Rios, nos primeiros anos de República, material norte-americano na instituição. A pesquisa revelou que, em 1897, já havia o livro de Henry A. Reed, intitulado Topographical Drawing and Sketching, Including Applications of Photography, publicado em New York por John Willey & Sons. Este era livro de referência no cenário estadunidense de estudos topográficos. Dos primeiros anos do século XX foram localizados o livro de Russell Sturgis, de nome A Dictionary of Architecture and Building: biographical, historical, and descriptive by and many Architects, Painters, Engineers, and other expert writers, American and Foreign, publicado em New York pela MacMillan, em 1901.

Com relação às revistas voltadas à arquitetura foram localizados exemplares da Architectural Record, editada em Boston, desde 1876, primeiramente sob o nome The American Architect and Architecture e, depois de 1910, já com esta designação. O acervo desta revista na biblioteca da antiga ENBA iniciou-se em 1912, no número 31, e está completo até os dias de hoje. A Architectural Record foi porta-voz dos estilos historicistas e do modernismo, dedicando reportagens inteiras ao movimento de construção de edifícios dentro do repertório do Mission Style. Em 1922, por exemplo, o periódico de janeiro trouxe reportagem sobre a residência J. P. Jefferson, em Montecito, California, projetada pelo arquiteto Reginald D. Johnston, de feições tipicamente missões (ARCHITECTURAL RECORD, Jan, 1922: 8-15). O número de julho dedicou 21 páginas para abordar os projetos recentes do escritório de Marston & Van Pelt, atuante no sul da California, e mostrou 4 projetos completos vinculados ao Mission Style (ARCHITECTURAL RECORD, Jul, 1922: 17-38). Em outubro, foram publicadas mais sete residências concebidas dentro do mesmo princípio arquitetônico (ARCHITECTURAL RECORD, 1922, Oct: 318 – 340), para citar apenas um ano da revista, além dos precedentes e, principalmente, dos sucessivos, nos quais esta temática foi abundante.

Além da Architectural Record, localizaram-se números da revista Architectural Digest, no entanto, sem volumes seqüenciais. A edição mais antiga remonta a 1920. Esta revista é publicada, até os dias de hoje, mesclando reportagens sociais com projetos de arquitetura. A Architectural Digest, produzida, desde 1914, em Los Angeles, pela California Knapp Communications Corporation, também abordou projetos de formas hispânicas, em diversos números, ao longo dos anos.

Junto dessas revistas estão os livros técnicos estadunidenses, estes, sim, mais numerosos. Extremamente importante é a presença dos já citados livros de Paul Harbeson, professor na University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, no acervo da ENBA: The Study of Architectural Design, with Special Reference to the Program of the Beaux-Arts institute of Design, publicado em New York pela Pencil Points, em 1927, e Winning Designs, 1904-1927, Paris Prize in Architecture, editado pela mesma companhia, em 1928, no qual são expostos projetos criados dentro das regras “beauxartianas”, mas com várias referências hispânicas, aos moldes do Pan-American Union Building, de Paul Cret e Albert Kelsey, de 1907 (ATIQUE, 2007).

Embora os livros de Harbeson sejam importantes, não são comparáveis aos produzidos por Rexford Newcomb, o principal divulgador da história e dos edifícios criados dentro do vocabulário hispânico, nos Estados Unidos. Na ENBA foi possível encontrar volumes do Spanish House for America. Este livro, publicado pela editora J. B. Lippincott, da Philadelphia, foi muito popular no Brasil, nos anos 1920 e 1930, e foi, sem sombra de dúvida, uma das principais referências para o projeto de edificações dentro dos princípios coloniais hispano-americanos, em todo o continente.[3] Sua presença na biblioteca da instituição revela o porquê de muitos projetos realizados pelos egressos da ENBA mostrarem um apurado senso compositivo e de detalhamento. Crê-se, todavia, que o rigor projetual dos alunos foi também alcançado pela consulta a outro título importante, o Architectural Details of Southern Spain: One Hundred Measured Drawings, One Hundred and Thirteen Photographs, trabalho de Thomas Gibson e Gerstle Mack, publicado, em New York, em 1928, que apresenta um verdadeiro arsenal de modelos para detalhamento da arquitetura missões. Na mesma linha, localizou-se outro livro, de nome Measured Drawings of Early American Furniture, da lavra de Burl N. Osburn, de 1926, que trazia, dentre muitos desenhos ligados a outros estilos arquitetônicos, referências ao mobiliário de caráter hispânico.

Outro título digno de nota, encontrado no acervo da ENBA, é American Public Buildings of Today, de 1931, escrito por Randolph Sexton, que mostra quase uma centena de projetos executados dentro dos referentes hispano-americanos de escolas, hospitais, creches, além de outros programas de edifícios institucionais.

Se havia fontes para apreensão da arquitetura missões, dentro da ENBA, não se deve deixar passar, despercebidamente, os projetos publicados por alunos e ex-alunos da instituição, no órgão oficial de seu grêmio: a Revista de Arquitetura da ENBA. Fundada em 1934, por Levi Autran e Paulo Motta, e dirigida por Sebastião de Almeida, a revista surgiu após a passagem de Lucio Costa pela diretoria da Instituição. Entretanto, mesmo contando com colaboradores ligados ao modernismo, como Álvaro Vital Brazil e Affonso Eduardo Reidy, foi possível identificar muitas reportagens sobre a temática da arquitetura neocolonial. Por vezes, foi possível encontrar projetos vinculados à arquitetura missões trazidos a público em propagandas de escritórios de arquitetura, mas, também, como artigos da própria revista. Na edição de número 11, de maio de 1935, o escritório Galo, Barata e Fonseca publicou uma proposta de residência assobradada que misturava as referências hispânicas de forma bem livre, mostrando uma das variantes do neocolonial praticado no Rio de Janeiro. (REVISTA DE ARQUITETURA DA ENBA, 1935, n.11, mai: 10-12).[4]

Com relação aos textos nos quais a defesa do neocolonial era praticada, há um de autoria de Adolfo Morales de los Rios Filho,[5] de nome “Arquitetura não é Standard, publicado em março de 1935, que comenta abertamente o desenvolvimento da arquitetura nos Estados Unidos. Para ele, a arquitetura predominante na costa leste, calcada no modelo do arranha-céu, não era tão proeminente na costa oeste, pelo fato de “o espírito espanhol e luzitano” não ter desaparecido de seus antigos territórios, como “os sobrenomes ilustres e a heraldica recordam aos presentes. Mas, para além desta constatação, um tanto quanto simplória, Rios Filho agrega suas considerações arquitetônicas, dizendo que “onde abundam os edifícios das ‘Missões’ espanholas dos Seculos XVII e XVIII, verdadeiros nucleos arquitetônicos – a arquitetura é outra. ‘El rancho’, ‘la casona’, ‘el solar’, são os tipos representativos dessa arquitetura néo-colonial norte-americana” (REVISTA DE ARQUITETURA DA ENBA, 1935, n.9, mar: 11).

A conclusão deste autor se baseava no fato de que o desenvolvimento “dessa arquitetura hoje denominada ‘Mission Style’ ou ‘Mediterranean Style’” se pautava pelo entendimento de que “Arquitetura não é Standard, já que “ela sempre deverá corresponder ao material, aos usos e costumes, aos fatores mesológicos, ás condições econômicas e á mão de obra” (REVISTA DE ARQUITETURA DA ENBA, 1935, n.9, mar: 11).

Pelo exposto, nota-se que o debate acerca das proposições norte-americanas de entendimento do lugar, de desenvolvimento de uma arquitetura que trabalhasse a questão das heranças culturais encontrou abrigo dentro da ENBA. Cabe, então, abrir espaço para abordar de que forma houve a transmissão dessas referências entre professores e alunos, e entre os antigos alunos e a sociedade. Para tanto, torna-se importante a transcrição de trechos da obra Arquitetura no Brasil: depoimentos, do arquiteto Abelardo Reidy de Souza. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, em 1932, Souza acompanhou todo o processo de mudança acontecido com a chegada, à direção da Escola, de Lucio Costa, que manteve o corpo docente tradicional lecionando nos últimos anos do curso, enquanto implantou cadeiras novas nos anos iniciais, voltados à valorização técnico-construtiva, ministradas por professores afinados com o ideário moderno. Tentando demonstrar sua vinculação à matriz modernista, Abelardo de Souza expôs o ambiente de ensino-aprendizado dentro da ENBA, de maneira depreciativa, mas importante de ser analisado:

Antes dos anos trinta, a arquitetura brasileira era uma constante cópia de vários estilos que imperavam na época, vindos todos de outras terras. Para a arquitetura residencial, que era o que mais se fazia, copiava-se o ‘espanhol’; com seus avarandados em arcos, suas janelas protegidas por grades de ferro retorcido formando desenhos os mais variados, seus pátios internos pavimentados com lages de pedra e um poço no meio, geralmente, sem água. Copiava-se, também, o ‘mexicano’, um espanhol transportado para o Brasil via Hollywood, sem passar pelo México. [...] Todos esses estilos, menos o nosso ‘colonial’, chegavam por aqui por meio de revistas ou livros de arquitetura. Duas revistas que eram, na época, muito difundidas entre os estudantes, [...] eram a Mi Casita, que se não nos enganamos, era de origem Argentina e uma outra, bem brasileira, feita por um então aluno da ENBA, seu proprietário, seu editor, seu redator, autor da maioria dos projetos apresentados e, também, seu distribuidora (SOUZA, 1978: 15-17).

Souza se referia à popular Architectura: Mensário de Arte, preparada por Moacyr Fraga [Figura 1]. Este aluno lançou o primeiro número da revista em 8 de junho de 1929, trazendo, já na capa, um projeto com elementos missiones. Apesar de apresentar algumas referências ao que Paulo Santos chamou de “casinhas em pan-de-bois”, o carro-chefe da publicação foram as casas de arquitetura vinculada ao Mission Style. Durante aproximadamente um ano – a revista desapareceu precocemente – Fraga projetou muitos edifícios residenciais dentro das referências missões. Seu objetivo era atrair clientes para si próprio e para seus colegas da ENBA, muito embora ainda fosse um graduando.

ENBA parece não ter se oposto à revista, uma vez que vários projetos produzidos em suas classes foram divulgados pela publicação que, por sinal, sempre colocava subtítulos indicativos da condição de alunos dos colaboradores do periódico. Logo em seu número 1 foi publicado o exercício destinado a sondar o repertório mobilizado na execução de uma “Casa para Milionário. O projeto desenvolvido pelo aluno Gerson Pompeu Pinheiro, batizado de “Pinturesco Colonial”, era uma típica solução de arquitetura neocolonial onde ficava explícita a fusão dos estilemas luso-brasileiros com os hispânicos (ARCHITECTURA: MENSÁRIO DE ARTE, 1929, n.1: 21). No mesmo número também foi exibido o projeto realizado por Pinheiro em conjunto com Affonso Eduardo Reidy, para outra residência de um milionário [Figura 2]. Neste projeto, a fusão dos elementos hispânicos se dava em menor grau com os de fundo luso-brasileiro, apesar de a implantação ser tipicamente baseada nos princípios emanados das lições “beauxartianas” francesas (ARCHITECTURA: MENSÁRIO DE ARTE, 1929, n.1: 28).

Abelardo de Souza expôs, mesmo que de maneira combativa, não só a disponibilidade de encontrar livros e revistas que mostravam a arquitetura espanhola, californiana, missioneira, enfim, “colonial”, dentro da ENBA, como o fato de que os docentes da casa sabiam e aceitavam os modelos neocoloniais advindos dos Estados Unidos. Este treinamento em sala de aula era completado, entretanto, pelas atividades de estágio, processadas em importantes escritórios do cenário carioca de então. É importante informar, neste sentido, que a familiaridade de Abelardo de Souza com as questões atreladas à difusão do Mission Style, no Rio de Janeiro, deve-se, principalmente, ao fato de ele ter sido estagiário do escritório de Edgard Vianna e de Raphael Galvão, em princípio dos anos 1930. Estes dois arquitetos, que, nesse período, trabalhavam juntos, empreenderam muitas obras dentro da imagética hispânica [6] (CONSTANTINO, 2004: 44).

A revista Architectura no Brasil, em 1925, também publicou projetos realizados pelos ex-alunos da ENBA expostos no Salão de Belas Artes daquele ano. Um que chama muito a atenção é o do arquiteto Attilio Correia Lima, que expôs o projeto de uma residência vazada dentro dos princípios volumétricos e ornamentais do missões [Figura 3]. Projetos semelhantes também foram expostos por Paulo Antunes Ribeiro e por Raphael Galvão, todos para residências missões (ARCHITECTURA NO BRASIL, 1925, n.25: 27 - 28). Em vários números dessa publicação seriam verificados projetos neocoloniais, mas, talvez pelo fato de ser um periódico mais ligado às entidades de classe do Rio de Janeiro, onde estavam os mentores do Movimento Neocolonial, foi difícil encontrar as variantes hispânicas em suas páginas.

Embora a Escola Nacional de Belas Artes tenha sido taxada de “arcaica”, “equivocada,atrasada, por várias gerações de arquitetos, ela foi, de fato, uma escola com repertório internacional, afinada com as discussões em processo em todo o continente americano. Defende-se a tese de que mais do que enxergar a ENBA como uma escola pró-ecletismo ela foi, especialmente nas décadas de 1920 e 1930, uma instituição que soube se comunicar com suas congêneres de norte a sul das Américas e que teve um projeto de ensino arquitetônico [Figura 4]. Assim, pode-se dizer que ela foi uma Escola “Internacional” de Belas Artes.

Referências Bibliográficas

ATIQUE, Fernando. Arquitetando a “Boa Vizinhança”: a sociedade urbana do Brasil e a recepção do mundo norte-americano. (Tese de Doutorado). São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2007.

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* Arquiteto e urbanista, Mestre em História da Arquitetura e Doutor em História e Fundamentos Sociais da Arquitetura e do Urbanismo, todos os títulos obtidos na USP. Docente e Pesquisador da Universidade São Francisco, campus Itatiba / SP, desde 2003.

[1] Após a morte do mestre francês, em 1850, a Academia foi conduzida pelo professor Job Justino d’Alcântara, um dos primeiros arquitetos por ele formados (SOUSA, 2001: 54).

[2] Adolfo Morales de los Rios nasceu na Espanha em 1858, onde também se formou arquiteto. Radicou-se no Brasil, no ano de 1890. Extremamente produtivo, Morales de los Rios teve uma atuação ímpar no meio intelectual carioca, tornando-se, inclusive, professor da ENBA, nos últimos anos do século XIX, possivelmente com a referida tese citada por Carlos Comas, em 1896. Teve ativo escritório, o qual, dentre várias obras, projetou a sede da ENBA na Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, local onde, atualmente, funciona o Museu Nacional de Belas Artes. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1928. Seu Filho, Adolfo Morales de los Rios Filho também foi arquiteto e docente na ENBA.

[3] Logo no início desta pesquisa de doutoramento, em 2003, foi possível adquirir, num sebo especializado em arquitetura, em São Paulo, um exemplar desse livro, que pertencera ao escritório carioca MM Roberto, o que mostra como os arquitetos egressos da ENBA tinham ciência das publicações estadunidenses.

[4] No número 13, publicado em julho de 1935, era possível ver outro projeto da mesma Galo, Barata e Fonseca, dentro da linguagem arquitetônica do missões.

[5] Morales de los Rios Filho era espanhol, assim como seu pai. Matriculou-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, por volta de 1910. Em 1914, formou-se engenheiro-arquiteto pela ENBA.

[6] Edgard Vianna, graduado na University of Pennsylvania teve, pelo menos, dois sócios ao longo de sua curta trajetória profissional. Morto em 1936, no auge de sua produção, ele foi associado, em momentos não-precisados, mas não concomitantemente, de Roberto Lacombe e de Raphael Galvão, entre 1920 e 1936.